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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
                    Sobre a origem e mesmo tipos e costumes da população de
              Formigas e outros povoados próximos, chamados por ele de sertão
              oriental, em nenhum momento fazendo menção a Antônio Gonçal-
              ves Figueira e mesmo a José Lopes de Carvalho, deixou consignado
              (Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, Editora da
              Universidade de São Paulo/Livraria Itatiaia Editora Ltda., Belo Hori-
              zonte, edição de 1975, pág. 308):
                    “Segundo me disseram, os primitivos habitantes do Sertão
              oriental foram paulistas que fugiram depois da derrota do Rio das
              Mortes. Encontraram a região habitada por tribos indígenas; exter-
              minaram-nas, e alguns se misturaram com seus fracos restos. Explo-
              radores de ouro, desiludidos das esperanças concebidas, ficaram, sem
              dúvida, também, no Sertão, para não terem a fadiga de voltar sobre
              seus passos. Enfim, estou persuadido de que essa região deserta fre-
              quentemente serviu de asilo a criminosos perseguidos pela justiça.”
              (...). “Aliás, não é nunca para roubar que se assassina; é para dar largas
              ao ódio, à vingança e aos ciúmes. A população atual do Sertão é quase
              toda ela composta de homens de cor. Não havia, por ocasião de mi-
              nha viagem, senão dois homens brancos na povoação de Contendas”
              (atual Brasília de Minas) “e não vi mais que um único durante os
              quatro dias que passei na Coração de Jesus.”

                    Em nota de rodapé o botânico francês esclareceu também: “É
              bem claro que essa tradição não se pode referir a toda a extensão do
              Sertão; pois que, segundo Southey (Hist. Do Braz., vol. III, pág. 84),
              o combate de Rio das Mortes aconteceu em 1708, e Pizarro, após
              dizer expressamente que o distrito de Itacambira foi descoberto em
              1698  por  diversos  paulistas,  cujo  capitão  se  chamava  Miguel  Do-
              mingos, acrescenta que se comunicou a existência das minas desse
              distrito, em 1707, ao governador da Bahia, Luís Cesar de Menezes.
              Ver-se-á, mesmo, adiante que eu considero o velho Fernão Dias Paes
              como o primeiro a levantar um estabelecimento em Itacambira, e esta
              fundação pode datar de 1670, mas tudo parece indicar que não teve
              o menor prosseguimento.”   

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