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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
              da’, os primeiros povoadores regulares, pouco importa, a história não
              lhes guardou os nomes e se perderam no anonimato, vítimas, talvez,
              mais das trevas que obscureceriam o tempo em que viveram”, tam-
              bém é correto conclamar que não se deve desmerecer ou ignorar os
              parcos registros relativos a Domingues.
                    Quer queiram, quer não, a história registra, ainda que tropega-
              mente, o sertanista proveniente dos lados de Itacambira povoando a
              Fazenda dos Montes Claros. Se por aqui ficou ou foi embora depois,
              ou se também foi vitimado ou não pela varíola, se em Formigas dei-
              xou ou não descendentes, pouco importa.

                    Ora, um simples fragmento de mandíbula descoberto há dois
              anos na região de Ledi-Geraru, na Etiópia, datado em 2,8 milhões
              de anos, levou a comunidade científica a proclamar imediatamente
              tratar-se do mais antigo resto do indivíduo Homo, ou seja, o Homo
              habilis, que inaugurou na Terra a nossa linhagem.
                    Se a comunidade paleoantropológica internacional mostrou-se
              tão efusiva ao revelar o achado de um quase desprezível fragmento de
              mandíbula do nosso primeiro ancestral, não há como ser desmerecida
              a presença do sertanista paulista Miguel Domingues e seus seguido-
              res na Fazenda dos Montes Claros, após derrotados em conflito pela
              extração de ouro em Itacambira, fato que originou em sua ocupação
              para redundar, tempos depois, na atual cidade de Montes Claros.

                    Com efeito, e lançada por terra a tese de precedência arguida
              por Urbino Vianna em favor de Figueira, o pouco conhecido Miguel
              Domingues – por assim dizer, bem menos desprezível do que a man-
              díbula do primeiro homem descoberta na Etiópia, posto que Homo
              sapiens como todos nós – foi quem fundou Montes Claros.

                    É o que se pode afiançar mormente compulsando a tradição
              oral colhida pelo incontestável Saint-Hilaire, o que faz delinear o per-
              missivo para o resgate de uma parcela, ainda que ínfima, da nossa
              memória histórica. E esta é, por assim dizer, nula quanto a enumerar

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