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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
               Saint-Hilaire esteve em Formigas, por aqueles tempos mesmo,
          o que foi uma felicidade tremenda para a perpetuação da verdadeira
          história. Em sua passagem pelo lugar, teve contatos diretos com a fon-
          te, ou seja, pessoas já centenárias que acompanharam as desventuras
          de Domingues e também descendentes dos que já tinham partido.
          Em outras palavras, esse que provavelmente foi o maior naturalista
          europeu do seu tempo, de uma integridade a toda prova, dotado de
          um senso de observação dos mais acurados e fidedignos no anotar
          tudo o que via ou ouvia para fazer constar em suas obras incandescen-
          tes de saber, colheu a tradição oral em sua plenitude. Daí que, com a
          segurança do sábio criterioso em suas anotações eivadas pela verossi-
          milhança, como não poderia ter sido diferente, buscou informações
          acerca da origem de Formigas e outros povoados, atendo-se mais a
          Itacambira, sobre fauna, flora, antropologia, sociologia, produção do
          salitre (importante fonte de renda no sertão), etc.
               O naturalista chegou a Formigas no primeiro domingo do mês,
          3 de agosto de 1817, presenciando uma procissão religiosa logo na
          chegada. Escreveu que “o nome de Sertão ou Deserto não designa
          uma divisão política de território”, mas sim “uma divisão vaga e con-
          vencional determinada pela natureza peculiar do território e, princi-
          palmente, pela escassez de população.”

               Registrou, em certo momento, que os habitantes de Formigas
          não tinham boa reputação no tocante à probidade, escrevendo que
          “antes que eu chegasse tinham-me aconselhado por toda a parte a que
          não deixasse meus animais de carga na proximidade das casas, para
          que não corressem o risco de serem roubados”, sendo que “quase ao
          entrar na povoação o meu arrieiro, Silva, disse bem alto que eu viajava
          com um passaporte do Rei, e que, se meus animais fossem roubados,
          não haveria perdão para os ladrões.” Concluiu dizendo-se decepcio-
          nado porque “ninguém tocou nos burros; vários pequenos objetos,
          porém, nos foram subtraídos, o que até então não nos acontecera em
          lugar nenhum.”   

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