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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
          Cachorro “quentando” sol, sino da igreja badalando amanheceres, fi-
          éis caminhando para os cultos, meninos jogando bolas de pano e se
          lavando em repuxos, donos de vendas vendendo e tomando notas.
          Ainda mais: cowboys jogando damas, velhas vitrolas tocando Oh Su-
          zana, as portas dos bares num abre e fecha de nunca terminar. Que
          saudades de um passado bonito e gostoso tão e tão distante do pis-
          ca-piscar e dos barulhos da vida moderna! Comparando passado e
          presente, acredito que é por isso que Itacambira é um lugar que vale
          a pena, que o ir lá e apreciar tudo tem a maior razão para quem gosta
          da vida e do viver. Itacambira é o retrato do passado com moldura do
          presente: linda, charmosa, colorida, quase inocente. Um paraíso para
          quem sabe ouvir e imaginar, ver e sentir. 

               De uma coisa eu sei: lá em Itacambira, Gabriel Garcia Marquez
          jamais conseguiria escrever Cem Anos de Solidão. Do alto dos mais
          de mil metros acima do nível do mar, não há restrições de vistas e de
          pensamentos. É como se fosse o topo do mundo, lá fora e lá longe
          toda a beleza de existências, todos os azuis das serras e dos morros de
          velho e novo Testamentos. Itacambira tem figuras interessantíssimas
          de pedras, tudo desenhado para uma destinação histórica, sem gênese
          nem apocalipse. É tudo ou muito mais de um proporcionar de fan-
          tástica experiência no cotidiano e no sempre. Falar de Itacambira - só
          Deus sabe - é um modo de saborear frases e dedos de prosa, repicar
          vivências mais que verossímeis, longe e perto do quase normal, do
          incrível e do mágico. Mil e um, dois e três mil, muitos momentos de
          amor!

               Se fosse eu em vez de Dário Cotrim, o autor da história e das
          estórias de Itacambira - quem sabe muito mais poeta que historiador
          - escreveria tudo diferente, tendo e vivendo sonhos personalíssimos
          para explicar o mundo de encantos. Por meio de imagens, maior parte
          delas mais do que poéticas, tentaria encontrar uma perfeição inte-
          riorana ainda maior do que a natureza é capaz de criar ou construir.
          Meu trabalho seria produzir frases, desenhar ideias, sonhar todos os

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