Page 70 - DEUSA DAS LETRAS
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Dário Teixeira Cotrim (Org.)


               A então professora de Literatura Portuguesa sorriu e dese-
          jou-me sorte. Anos depois, precisamente em 1984 – a seu con-
          vite – tomei posse da Cadeira 36 daquela egrégia Academia. Era
          a glória do menino órfão de pai e pobre de todas as providências
          materiais.

               O tempo passou e já não sou mais o mesmo sonhador.
          Aprendi que a vida somente ensina caminhos para quem tem
          pernas e força no caminhar. Aprendi, no exemplo da mestra ma-
          ravilhosa, que a dignidade e a honradez precisam ser binômio
          natural no traçado sinuoso, fértil, mas finito de nossa quase im-
          provável existência.
               Minha mãe, a primeira, partiu para a eternidade de minha
          memória. Com ela, o aprendizado básico e necessário ao bom
          conduzir-se com urbanidade e honradez. Além, é claro, do ali-
          mento escasso e das noites insones, motivadas pela fome, forja
          de minha têmpera e do orgulho de me ter tornado melhor.
               Yvonne Silveira centenária: eis nossa homenagem. E que
          ela nos brinde com aulas de saúde, lucidez, dignidade, amor à
          vida e vaidade, pelos próximos cem. Qual Narciso a mirar sua
          beleza nas águas plácidas e cristalinas, para se comprazer. E mais,
          para se renovar a cada nova imagem refletida no firmamento do
          seu amor ao belo e à convicção de que a silhueta poderá, um
          dia, desaparecer, mas JAMAIS a gloriosa mensagem contida na
          eternidade do que é digno, honrado, belo e bom.













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