Page 62 - REVISTA DO IHGMC
P. 62

Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
          aqui não tinha parente a quem procurar.  Durante o longo período de
          viagem, que durara cerca de 15 dias, recebera a assistência ocasional
          do padrinho, que descia da primeira classe à terceira, em que o meni-
          no Jayme viajava, para trazer-lhe uma fruta ou outro quitute.
               Os passageiros daquele navio, que chegara ao porto do Rio de
          Janeiro, nos longínquos 1900, não puderam desembarcar. Pelas terras
          brasileiras ocorria um surto de febre amarela, impondo aos imigrantes
          recém- chegados uma espécie de quarentena. Esses passageiros foram,
          então, embarcados em trem e enviados a Uberaba; essa foi a primeira
          terra brasileira em que Jayme Rebello verdadeiramente pisou, visto
          que a chegada ao Rio de Janeiro constituíra-se apenas uma rápida
          passagem.

               Era somente um menino que cruzara os mares, vindo aportar
          num país desconhecido. Veio sem posses e sem família. Na sua baga-
          gem, apenas uma carta de recomendação e a determinação de ferro,
          que seria a sua marca mais definitiva.
               Entre 1881 e 1991, mais de 1,5 milhão de pessoas imigraram de
          Portugal para o Brasil. Estudos genéticos confirmam a forte influência
          racial portuguesa nos brasileiros. De acordo com uma pesquisa, pelo
          menos metade de todos os cromossomos Y da população brasileira é
          oriunda de portugueses.

               Em 1906, por exemplo, viviam 133.393 portugueses na cidade
          do Rio de Janeiro, compondo 16% da população. Ainda hoje, o Rio
          de Janeiro é considerada a “maior cidade portuguesa” fora de Portugal.

               Para além dos frios dados estatísticos, procuro um rapazote de
          cerca dos seus 19 anos, vivendo e trabalhando em terras fluminenses.
          Por essa época, Jayme Rebello empregara-se na casa comercial Gomes
          de Castro & Cia, do ramo de armarinhos e ferragens, onde, certamen-
          te devido à escassez de recursos, também residia. À noite, frequentava
          a escola, sequioso de adquirir conhecimentos para ganhar o mundo.

               Começara pelo posto mais humilde, mas fora gradativamente
          conquistando espaço, angariando aos poucos a confiança dos patrões
                                       - 62 -
   57   58   59   60   61   62   63   64   65   66   67