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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
          claro que voar para o Brasil seria morte certa, seu caso exigia cuidados
          máximos e cirurgia. No dia seguinte o grupo seguiu viagem, ficando
          uma acompanhante por 2 dias, para ajudar nas primeiras providên-
          cias. Após isto fiquei só, com meu parco inglês que, por força das
          circunstâncias, foi-se ampliando. Após mais dois dias no hotel, pro-
          videnciei um apartamento perto do hospital, por sorte com vistas be-
          líssimas, onde me encontro no momento. Do Brasil veio meu irmão
          Roberto para ajudar.
               A situação extremamente aflitiva nos colocou em contato direto
          e diário com um povo, do qual pouco ou quase nada sabíamos. Foram
          muitas as surpresas, muito deverei eu escrever para narrar. No entanto
          cabe pouco neste primeiro relato devido sua forma de artigo. O que
          não posso adiar é o relato do nosso contato com o maior hospital da
          região, e com um grande cirurgião cardíaco, o Dr. Denis Nenadić. À
          primeira vista nosso olhar cheio de inquietação criava estranhamentos
          que aos poucos foram sendo substituídos por admiração e confiança.
          Ao dar entrada no hospital, informamos à administração sobre a exis-
          tência de um seguro de saúde em viagem, mas ao mesmo tempo nos
          colocamos à disposição para qualquer depósito em dinheiro ou cartão
          de crédito. Não se perturbaram. Isto ficaria para depois. Interessaram-
          se, sim, pelos cuidados urgentes com a paciente, que durante dias e
          dias em repouso e observação fazia exames de toda espécie, incessan-
          temente. As Embaixadas da Croácia no Brasil e do Brasil na Croácia,
          assim  que  foram  informadas,  manifestaram  apoio,  recomendando-
          nos. Assim, devido à gravidade do caso, a cirurgia foi indicada para
          esse cirurgião de referência na área, cujo contato pessoal nos encheu
          de confiança e otimismo. O hospital gigantesco parece uma pequena
          cidade, tal é o movimento e circulação de pessoas. Descobrimos aí
          uma medicina socializada. Após doze dias de internação e dezenas de
          exames e procedimentos preparatórios, a minha irmã submeteu-se a
          cirurgia de implante de duas pontes de safena e sua recuperação tem
          sido maravilhosa. Conhecemos uma realidade que jamais pensávamos
          existir por estes lados e nestes tempos de capitalismo e desumanismo
          exacerbados.

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