Page 67 - VIVENDO E APRENDENDO
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WANDERLINO ARRUDA

               de mamona, passava tudo com o ferro de brasas, soprado de tempo
               em tempo. A verdadeira festa era fazer as rendas, quando ela batia os
               bilros uns nos outros, como se fosse uma dança mágica, enquanto

               cantava músicas da igreja. Claro, que a meninada ficava toda ao re-
               dor, acompanhando e admirando tanta habilidade. Um encanto quase
               divino e inesquecível!

                     Silvina sabia também muitas histórias de reis e rainhas, prín-
               cipes e princesas, capitães valentes que defendiam os palácios com
               espadas e bengalas, todos vestidos com muitos enfeites, engalana-
               dos para dar mais força e autoridade. Os banquetes, nos palácios,
               eram sempre com carne de caças ou peixes que vinham de longe,
               um mar tão distante que ela nem sabia onde ficava.

                     As maiores autoridades eram sempre os bispos e cardeais,
               cada qual mais cheio de pompa, de forma a representar Deus Nosso
               Senhor e impor mais fé e disciplina. Em verdade, Silvina consciente

               da própria humildade e de muito respeito religioso, não tinha qualquer
               dúvida de não ir diretamente para o céu e ver São Pedro guardando a
               porta, deixando entrar só as almas boas. Dizia ela que nem precisava
               passar para o lado de dentro, bastando só ficar atrás da porta, vendo
               os anjos cantarem e os santos rezando terços e rosários. Lá de vez
               em quando, uma alma boa e caridosa passaria pela peneira fina de
               São Pedro. No céu, a reza era a água e o alimento de todos, fosse dia
               ou fosse noite.

                     Todos os filhos da casa consideravam ter duas mães, a que
               permitiu a vida, Dona Anália, e a que conservava a vida com o maior

               carinho, Silvina Melana. Dona Anália sempre presente, quase uma
               santa; Silvina, uma santa de verdade, com todos os direitos e privilé-

                                                                            67
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