Page 76 - VIVENDO E APRENDENDO
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SÃO JOÃO DO PARAÍSO









                s casas do doutor Osório e a nossa, assim como a farmácia
                e a loja, ficavam na parte mais alta da praça, bem em frente
         Aao mercado grandão e bonito. Ao lado da farmácia, ficava o

          consultório médico, todas as janelas de vidro, um luxo para a época,
          porque todas as outras da futura cidade eram de madeira, folhas du-
          plas, com trava e ferrolho. Minhas lembranças de menino, acredito
          aos três anos, vêm de meu pai ajudando doutor Osório em um en-
          canamento de perna de um tropeiro que havia caído e quebrado um
          osso num buraco de enxurrada na rua do cemitério, entre a esquina
          de Américo e a loja do meu padrinho Antônio Pena. Tanto o médico

          como meu pai vestiam roupas brancas, naquele momento um pouco
          respingadas de sangue. Sei que a higiene era bem cuidada, porque
          meu pai levou foi muito tempo para lavar as mãos numa bacia esmal-
          tada, cheia de água quente que minha mãe fervera. Como era dia de
          sábado, o barulhão da feira não deixava ouvir os gemidos do pobre
          sofredor, que teve endireitada a perna com pedaços de ripa e imobi-
          lização com arames. Não entendi por que, mas antes de despedi-lo,
          doutor Osório deu nele uma injeção, para mim com olhos de meni-
          no, do tamanho de um cano de foguete. Meu pai saiu feliz da vida,

          porque ajudara o compadre médico, que ele admirava e gostava de
          prestar ajuda. O jovem Osório Adrião da Rocha, de família rica, saiu


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