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curricilo
 
 

 

Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros

Fundado em 27 de Dezembro de 2006

VOLUME VII

MONTES CLAROS
MINAS GERAIS – BRASIL
2010


COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007


Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Jornalista LUIS RIBEIRO
Dr. WANDERLINO ARRUDA


DIRETORIA 2010- 2011

PRESIDENTE DE HONRA Dr. LUIZ DE PAULA FERREIRA
PRESIDENTE Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
1º VICE - PRESIDENTE Dr. WANDERLINO ARRUDA
2º VICE - PRESIDENTE Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
DIRETORA EXECUTIVA ROBERTO CARLOS M. SANTIAGO
DIRETOR-SECRETÁRIO Dr. PETRÔNIO BRAZ
DIRETOR-SECRETÁRIO ADJUNTO Profa. MARTA VERÔNICA V. LEITE
DIRETOR DE FINANÇAS Coronel LÁZARO FRANCISCO SENA
DIRETOR DE FINANÇAS ADJUNTO Profa. KARLA CELENE CAMPOS
DIRETORA DE PROTOCOLO Dra. MARIA DA GLÓRIA C. MAMELUQUE
DIRETORA CULTURAL Profa. FELICIDADE PATROCÍNIO
DIRETORA DE BIBLIOTECA Profa. RUTH TUPINAMBÁ GRAÇA
DIRETORA DE MUSEU Profa. MARIA LUÍZA SILVEIRA TELLES
DIRETOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS Jornalista REGINAURO R. DA SILVA
DIRETORIA DE JORNALISMO Jornalista BENEDITO DE PAULA SAID
DIRETORA DE CURSOS Profa. MARIA GERALDA DE SENA SOUZA

CONSELHO CONSULTIVO

Dr. JOSÉ GERALDO DE FREITAS DRUMOND
Dr. WALDYR DE SENA BATISTA
Profa. YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA

COMISSÃO DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA

Prof. IVO DAS CHAGAS
Profa. ANETE MARÍLIA PEREIRA
Profa. MARIA APARECIDA COSTA


COMISSÃO DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA

Profa. MARTA VERÔNICA VASCONCELOS LEITE
Prof. CÉSAR HENRIQUE DE QUEIROZ PORTO
Profa. FELICIDADE PATROCÍNIO

COMISSÃO DE ANTROPOLOGIA, ETNOGRAFIA
E SOCIOLOGIA

Prof. GY REIS GOMES BRITO
Profa. CLÁUDIA REGINA ALMEIDA

COMISSÃO DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIO
S

Jornalista MAGNOS DENNER MEDEIROS
Profa. MIRIAM CARVALHO
Dra. FELICIDADE VASCONCELOS TUPINAMBÁ
Profa. ZORAIDE GUERRA DAVID
Dr. WANDERLINO ARRUDA
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

COMISSÃO DA REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO

Dr. PETRÔNIO BRAZ - coordenador
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. ITAMAURY TELLES DE OLIVEIRA
Dr. WANDERLINO ARRUDA
Prof. JUVENAL CALDEIRA DURÃES
Profa. MARTA VERÔNICA VASCONCELOS LEITE
Jornalista LUIS CARLOS NOVAES


COMISSÃO REVISORA DA REVISTA

Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Coronel LÁZARO FRANCISCO SENA
Dr. WANDERLINO ARRUDA


LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC

CD
Sócios
Patronos
01
Dr José Santos Rameta Alpheu Gonçalves de Quadros
02
Escritora Milene A. Coutinho Maurício Alfredo de Souza Coutinho
03
Padre Antônio Alvimar Souza Antônio Augusto Teixeira
04
Professora Claúdia Regina Almeida Antônio Augusto Veloso (Desemb.)
05
Profª Yvonne de Oliveira Silveira Antônio Ferreira de Oliveira
06
Prof Marcos Fábio Martins Oliveira Antônio Gonçalves Chaves
07
Professora Maria Aparecida Costa Antônio Gonçalves Figueira
08
Professora Anete Marilia Pereira Antônio Jorge
09
Professora Isabel Rebelo de Paula Antônio Lafetá Rebelo
10
Professora Maria Florinda Ramos Pina Antônio Loureiro Ramos
11
Jornalista Reginauro Rodrigues da Silva Ary Oliveira
12
Dr Antônio Augusto Pereira Moura Antônio Teixeira de Carvalho
13
Dr Cesar Henrique Queiroz Porto Ângelo Soares Neto
14
Professora Karla Celene Campos Arthur Jardim Castro Gomes
15
Jornalista Magnus Denner Medeiros Ataliba Machado
16
Dr Waldir de Senna Batista Athos Braga
17
Profa. Marta Verônica Vasconcelos Leite Auguste de Saint Hillaire
18
Dr Petrônio Braz Brasiliano Braz
19
Dr Luiz de Paula Ferreira Caio Mário Lafetá
20
Professora Felicidade Patrocínio Camilo Prates
21
Profa.Terezinha Gomes Pires Cândido Canela
22
VAGA Carlos Gomes da Mota
23
Historiador Hélio de Morais Carlos José Versiani
24
Dr João Carlos Rodrigues Oliveira Celestino Soares da Cruz
25
Dr Ronaldo José de Almentida Corbiniano R Aquino
26
Profa. Maria Rejane Rodrigues Ruas Colares Cyro dos Anjos
27
Professora Regina Maria Barroca Peres Dalva Dias de Paula
28
Escritora Amelina Chaves Darcy Ribeiro
29
Professora Filomena Luciene Cordeiro Demóstenes Rockert
30
VAGA Dona Tirbutina
31
Professora Clarice Sarmento Dulce Sarmento
32
Dr Edgar Antunes Pereira Edgar Martins Pereira
33
Dr Wanderlino Arruda Enéas Mineiro de Souza
34
Profa. Geralda Magela de Sena e Souza Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
35
Dr. Antônio Ferreira Cabral Ezequiel Pereira
36
Dra. Felicidade Vasconcelos Tupinambá Felicidade Perpétua Tupinambá
37
VAGA Francisco Barbosa Cursino
38
Professora Maria Inês Silveira Carlos Francisco Sá
39
Professor Ivo das Chagas Gentil Gonzaga
40
Drª Maria da Glória Caxito Mameluque Georgino Jorge de Souza
41
Dr Reinine Simões de Souza Geraldo Athayde
42
Professora Maria Luiza Silveira Teles Geraldo Tito da Silveira
43
Professor Benedito de Paula Said Godofredo Guedes
44
Hist. Roberto Carlos Morais Santiago Heloisa V. dos Anjos Sarmento
45
Jornalista Angelina de Oliveira Antunes Henrique Oliva Brasil
46
Professora Eliane Maria F Ribeiro Herbert de Souza – Betinho
47
Jornalista Paulo César Narciso Soares Hermenegildo Chaves
48
Professora Raquel Veloso de Mendonça Hermes Augusto de Paula
49
Dra. Maria Fernanda M. Brito Ramos Irmã Beata
50
VAGA Jair Oliveira
51
Dr José Carlos Vale de Lima João Alencar Athayde
52
Profa. Maria Isabel M. F. Sobreira João Chaves
53
Dr João Carlos M. Sobreira de Carvalho João Batista de Paula
54
Adnauer Denarte Dávila João José Alves
55
Cel. Lázaro Francisco Sena João Luiz de Almeida
56
Escritor João Aroldo Pereira João Luiz Lafetá
57
Jornalista Luiz Carlos Novaes João Novaes Avelins
58
VAGA João Souto
59
Jornalista Luiz Ribeiro dos Santos João Vale Maurício
60
VAGA Jorge Tadeu Guimarães
61
Jornalista Girleno Alencar Soares José Alves de Macedo
62
Profº José Geraldo de Freitas Drumond José Esteves Rodrigues
63
Historiador Pedro de Oliveira José Gomes Machado
64
Professora Palmyra Santos Oliveira José Gomes de Oliveira
65
Dra. Maria de Lourdes Chaves José Gonçalves de Ulhôa
66
Arqueólogo Fabiano Lopes de Paula José Lopes de Carvalho
67
Dr Elias Siuffi José Monteiro Fonseca
68
Professora Rejane Meireles Amaral José Nunes Mourão
69
Cordelista Josecé Alves dos Santos José (Juca) Rodrigues Prates Júnior
70
Jornalista Márcia Sá José Tomaz Oliveira
71
VAGA Júlio César de Melo Franco
72
Jornalista Theodomiro Paulino Correa Lazinho Pimenta
73
Dra. Maria das Mercês Paixão Guedes Lilia Câmara
74
Professor Laurindo Mekie Pereira Luiz Milton Prates
75
VAGA Manoel Ambrósio
76
VAGA Manoel Esteves
77
Profª Maria Jacy de Oliveira Ribeiro Mário Ribeiro da Silveira
78
Jornalista Américo Martins Filho Mário Versiani Veloso
79
Professora Maria José Colares Moreira Mauro de Araújo Moreira
80
Jornalista Hélio Machado Miguel Braga
81
Prof. Juvenal Caldeira Durães Nathércio França
82
Dr Haroldo Lívio de Oliveira Nelson Viana
83
Historiador Paulo Costa Newton Caetano d’Angelis
84
Dr Itamaury Telles de Oliveira Newton Prates
85
VAGA Armênio Veloso
86
Professora Zoraide Guerra David Patrício Guerra
87
Profa. Marta Edith Sayago M Marques Pedro Martins de Sant’Anna
88
Professora Miriam Carvalho Plínio Ribeiro dos Santos
89
Jornalista Rosângela Silveira Robson Costa
90
Hostoriador José Henrique Brandão Romeu Barcelos Costa
91
Dr Wesley Caldeira Sebastião Sobreira Carvalho
92
Professor Roberto Pinto Fonseca Sebastião Tupinambá
93
Dr Dário Teixeira Cotrim Simeão Ribeiro Pires
94
Dr Luiz Pires Filho Teófilo Ribeiro Filho
95
VAGA Terezinha Vasquez
96
Professora Ruth Tupinambá Graça Tobias Leal Tupinambá
97
Professor Gy Reis Gomes Brito Urbino Vianna
98
VAGA Virgilio Abreu de Paula
99
VAGA Waldemar Versiani dos Anjos
100
Professora Maria Clara Lage Vieira Wan-dick Dumont

Sócios Correspondentes

Dr.André Kohene Caetité -BA
Prof. Regente Armênio Graça Filho Rio de Janeiro- RJ
Dr. Ático Vilas-Boas da Mota Macaúbas - BA
Dr. Augusto José Vieira Neto Belo Horizonte - MG
Dr. Avay Miranda Brasilia - DF
Jornalista Carlos Lindenberg Spínola Castro Belo Horizonte - MG
Escritora Carmem Netto Victória Belo Horizonte - MG
Historiadora Célia do Nascimento Coutinho Belo Horizonte - MG
Historiador Daniel Antunes Júnior Espinosas - MG
Dr. Enock Sacramento
São Paulo - SP
Dr. Fernando Antônio Xavier Brandão Belo Horizonte MG
Dr. Eustáquio Wagnar Guimarães Gomes Belo Horizonte - MG
Escritor Flávio Henrique Ferreira Pinto Belo Horizonte - MG
Jornalista Geraldo Henriques (Riky Tereze) New York - USA
Prof. Herbet Sardinha Pinto Belo Horizonte - MG
Jornalista Jeremias Macário Vitória da Conquista - BA
Jornalista João Martins Guanambi - BA
Dr. Jorge Lasmar Belo Horizonte MG
Prof. José Eustáquio Machado Coelho Belo Horizonte MG
Prof. Dr. Jorge Ponciano Ribeiro Brasília - DF
Dr. Marco Aurélio Baggio Belo Horizonte MG
Profa. Dra. Maria da Consolação M. Figueiredo Cowen London - England
Prof. Moisés Vieira Neto Várzea da Palma - MG
Jornalista Paulo César Oliveira Belo Horizonte - MG
Jornalista Paulo César Oliveira Belo Horizonte - MG
Escritor Reynaldo Veloso Souto Belo Horizonte - MG
Prof.Thiago Carvalho Makiyama Gunma-Ken - Japão
Prof. Wellington Caldeira Gomes Belo Horizonte - MG
Historiador Zanoni Eustáquio Roque Neves
Belo Horizonte - MG

NOTAS DOS COORDENADORES DA EDIÇÃO

............A ordem de publicação dos trabalhos dos sócios efetivos obedeceu à seqüência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos sócios correspondentes; A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados; A revisão dos disquetes originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.


FINS DO IHGMC

Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade a promoção de estudos e a difusão de conhecimentos de história, geografia e ciências afins, do município de Montes Claros e da região Norte de Minas, assim como o fomento da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural.

APRESENTAÇÃO

“Todos sabem fazer história - mas só os grandes sabem escrevê-la.”
(Oscar Wilde)

............O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros está lançando agora o sétimo volume da sua Revista. É um trabalho custoso e gratificante. Entretanto, com a compreensão e a boa vontade de todos é que estamos conseguindo realizar essa importante tarefa, a de publicar uma revista – histórico e geográfico - e cada seis meses. É a história de Montes Claros e região que está sendo escrita para a posteridade. Por um lado, resgatamos fatos históricos de nossa terra, e, por outro, registramos os novos fatos, complementando assim o que Antônio Augusto Veloso, Urbino Viana, Nelson Viana, Hermes de Paula, Brasiliano Braz, Arthur Jardim de Castro Gomes, Henrique de Oliva Brasil, Simeão Ribeiro, Olyntho Silveira e João Vale Maurício escreveram no passado. Montes Claros é uma cidade feliz. Disso não há dúvida. Pois muitos de seus filhos ainda estão escrevendo a sua história. História de lutas e de glorias. Temos consciência que é um trabalho pouco reconhecido por “uns” mas que, de futuro, “outros” estarão sendo beneficiados com as fotos e os fatos aqui publicados. Tanto nos trabalhos escolares como nas pesquisas de historiadores que certamente continuarão com a incumbência de registras os fatos históricos e nossa terra.

Dário Teixeira Cotrim
Presidente do IHGMC


HOMENAGENS


Historiador João Botelho Neto

Cônego Adherbal Murta de Almeida

Poeta Reivaldo Canela

Escritor
Olyntho da Silveira

Necésio de Morais

 

EPITÁFIO

Para um túmulo de amigo

“A morte vem de manso, em dia incerto
e fecha os olhos dos que têm mais sono...”.

(Alphonsus de Guimaraens – ossa mea, I.)

 


 

Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros
Fundado em 27 de Dezembro de 2006

 


MEMÓRIA DE MONTES CLAROS

Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

............Tudo começou no largo da Igreja da Matriz. Assim, numa certa manhã, onde o silêncio reinava com absoluta soberania, chegava para cá a tropa do valente preador de índios, o jovem Antônio Gonçalves Figueira com centenas de nativos aprisionados e uma quantidade considerável do gado vacum, para se instalar às margens de um pequeno rio por onde escorriam as suas águas cristalinas. Em vista disso e, por alvará de doze de abril de 1707 foi concedido ao jovem Figueira uma Carta de Sesmarias aonde ele veio criar a fazenda dos montes mais belos e mais claros dos gerais, depois de uma frustrada experiência com os investimentos malfeitos na propriedade do Brejo Grande.

............Esta propriedade do Brejo Grande ficava às margens do rio Peixe Bravo, por onde passava a primitiva Estrada Real que ligava a vetusta vila de Grão Mogol à antiga fazenda de Tranqueiras, na Chapada Diamantina. Aqui, na passagem das formigas de cima fora montado um ponto de pouso onde os destemidos vaqueiros pudessem aliviar o cansaço das intermináveis jornadas de tanger o gado. Durante algum tempo os agregados de Figueira recebiam e despachavam o gado para o abate na zona de mineração do arraial do Tijuco. Houve uma época em que os negócios andavam muito bem e por isso necessário se fez abrir outra estrada, desta vez para a região do rio dos meninos indígenas (Pitangui) na sétima vila do ouro das gerais, onde a distribuição do boi de corte direcionava lucratividade acima da média desejada. Com a invasão dos currais de gado, pelos intrépidos baianos, no vale do rio São Francisco, o jovem Figueira praticamente veio à falência. Depois, como não viesse o resultado imediato de tamanho esforço, ele foi perdendo o entusiasmo com os seus negócios, retornando-se em seguida para a Vila de Santos, na província de São Paulo, onde exerceu ali o cargo de conselheiro municipal. Pouco a pouco a doença o afligia e por isso nunca mais Figueira retornou aos montes claros de sua adolescência perdida.

............Ficou como se vê a estrada para Pitangui conhecida pelo nome de Estrada das Boiadas. Em pouco tempo iniciava-se às suas margens um pequeno aglomerado de casas residenciais que recebeu o nome de Cruzeiro. Eram algumas dezenas de casinhas de sapê, e todas elas tendo a parte frontal pintadas com o barro da tabatinga e alguns quintais com cercas enjambradas. Neste pequeno povoado existia uma vetusta capelinha onde o padre Teotônio Gomes de Azevedo dizia missa todos os domingos e também nos dias santificados. Cruzeiro ficava muito próximo à antiga sede da fazenda dos Montes Claros. Devido a uma peste de varíola, que dizimou mais da metade da população daquele pequeno povoado, inclusive vitimando o padre Teotônio Gomes de Azevedo, vigário que cuidava das almas ali existentes, o povoado entrou em estado de perecimento. Os sobreviventes foram fincar suas moradas nas adjacências da nova sede da fazenda já de propriedade do alferes José Lopes de Carvalho. Antes, porém, o seu proprietário já havia solicitado uma licença para a imediata construção de outra pequena capela (esta iniciada em 18 de junho de 1769) e, posteriormente autorizava aos seus servos a construção da nova sede (que foi por muito tempo a morada de dona Eva Bárbara Teixeira da Carvalho).


Primeira casa de Montes Claros, construída por José Lopes de Carvalho,
em 1768 e foi morada de Dona Eva Bárbara Teixeira da Carvalho.


Largo da Matriz em dia de festa religiosa.

............Por esse tempo, nascia a vila de Formigas do centro nervoso da fazenda dos Montes Claros de Lopes de Carvalho. E isto se concretizou posteriormente com a assinatura da lei de 13 de outubro de 1831, por Francisco de Lima e Silva, tornando este município independente do distrito de Serro. Não houve nenhuma comemoração neste importante momento, apenas reuniões políticas para assim definir os rumos dos acontecimentos. Um sem números de pessoas, as mais influentes com o poder político e social, manifestava com o intuito de organizar as papeladas que deveriam sacramentar de uma vez por todas a autonomia da vila. A vila de Montes Claros de Formigas iniciava ali os seus primeiros passos. Ainda não eram passos firmes, mas já era o bastante para obter vida própria. Na véspera do dia 13, no proscênio da Praça da Matriz e nos canteiros das sinuosas e empoeiradas ruazinhas, morriam tristemente flores amarelecidas à medida que outras iam nascendo viçosas e coloridas, para saudar um novo tempo. Um tempo de um novo sonho!

............Um ano e três dias depois, exatamente na data de 16 de outubro de 1832, era instalado festivamente o município de Montes Claros de Formigas, com Câmara Municipal, Cadeia Pública e o nefasto Pelourinho que imputava respeito e medo. A primeira Câmara Municipal de Montes Claros de Formigas era composta pelos seguintes vereadores: José Pinheiro Neves (presidente) Lourenço Vieira de Azevedo Coutinho, Luis de Araújo Abreu, Antônio Xavier de Mendonça, Francisco Vaz Mourão e Joaquim José Marques. Neste dia a folia tomou conta das poucas ruas do vilarejo, fogos de artifícios estouravam pelos ares e os coloridos balões subiam aos céus para saudar o novo amanhecer. Era a vila de Montes Claros de Formigas uma filha nobre que trazia no seio o vigor da juventude. A sua alma de menina-moça desmanchava em felicidades com o primeiro albor do dia seguinte e também à esperança que envolvia as pessoas sem mágoas e sem contestação. Nas comemorações das Bodas de Prata, por determinação da Lei provincial de número 802, de três de julho de 1857, o se nhor Joaquim Delfino Ribeiro da Cruz, oficial da Ordem da Rosa e vice-presidente da província de Minas Gerais, presenteava a vila com o seguinte artigo: “Fica elevada a categoria de Cidade a vila de Montes Claros de Formigas coma a denominação de Cidade de Montes Claros”. Um século depois foi comemorado o seu Centenário. Naquela ocasião, por solicitação do prefeito municipal, todas as casas da zona urbana foram repintadas a cal virgem com bisnaga ‘xadrez’ de cores diferenciadas o que levou o poeta Luiz de Paula Ferreira a compor uma linda canção, vejamos:

Montes Claros, vovó centenária
tu estás tão bonita de vestido novo
vê tuas ruas, vê tuas igrejas
olha só a alegria do povo!
Eu relembro teu nobre passado
de lutas e glórias e tantas belezas,
teu luar, tuas serenatas
e o labor de teus filhos criando riquezas.

............ Este ano foi comemorado o sesquicentenário em que a vila de Montes Claros de Formigas se transformou na Cidade de Montes Claros, e por isso é justo o prolongamento das pesquisas sobre as origens de nossa terra. Pensando assim, os acadêmicos do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros estão com a incumbência de resgatar fatos novos para a preservação da memória de nossa terra.


CANHÃO DE GUERRA

Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

............A história é uma ciência fascinante em todos os sentidos. Ela nos proporciona entretenimentos e o conhecimento do antes, sem prejuízo para os projetos do futuro. Nota-se que nela a pesquisa e a garimpagem nos arquivos e nas gavetas são ferramentas indispensáveis para a construção das narrativas pertinentes aos fatos desejados pelo historiador. É preciso muita paciência, determinação, abelhudice e discernimento nas buscas das preciosas raridades contidas nos velhos baús e nas prateleiras das bibliotecas e dos arquivos públicos. A história é um segmento do conhecimento repleno de controvérsias. Estudar e pesquisar são, entre outras coisas, as palavras de ordem para uma boa e proveitosa construção histórica.

............Sendo assim, este intróito se torna necessário para que possamos explicar, com segurança, as indagações que temos recebido a respeito do canhão de guerra, que foi doado para o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, pela família do Dr. Simeão Ribeiro Pires. Qual mesmo foi a origem dessa peça do nosso antiquário? O que disse o Dr. Simeão Ribeiro Pires e o que disse José Geraldo de Mendonça a respeito dele? Para que possamos dirimir essas dúvidas, devemos, antes de mais nada, ir aos fatos documentados nos livros: Raízes de Minas, de Simeão Ribeiro Pires e Grão Mogol, de Jorge Lasmar e Terezinha Vasques.

............O historiador José Geraldo de Mendonça, em informação direcionada ao nosso confrade, Dr. Jorge Lasmar, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, disse-lhe que o canhão de guerra, de posse do Dr. Simeão Ribeiro Pires, foi encontrado na gruta do “Quebra Coco”, em Grão Mogol. Nessa mesma linha de raciocínio, o historiador Manuel Esteves, no seu livro “Grão Mogol” assevera que a gruta aqui citada fica a doze quilômetros da cidade de Grão Mogol e “rezam as tradições locais, que ela [a gruta de Quebra Coco], encerra, escondida em um dos seus recantos, valiosíssimo tesouro, representado por uma coleção de diamantes do mais subido valor”.

............No livro Grão Mogol, de Jorge Lasmar e Terezinha Vasques, página 50, nós encontramos a seguinte afirmativa: “desta gruta, o historiador [José Geraldo Mendonça] trouxe um canhão que foi doado a Simeão Ribeiro Pires, ilustre cidadão de Montes Claros, autor do excelente livro Raízes de Minas”. Pois bem, nos escritos do doutor Simeão não há nenhum registro sobre a doação do referido canhão. Mas, no seu livro “Raízes de Minas”, página 37, está ali identificado como sendo o “Canhão - vindo de Penedo, das lutas contra os holandeses, que foi artilhado pelo façanhudo NECO, nas barrancas do alto São Francisco, pelos idos de 1879”. Não obstante encontrarmos, nas palavras do confrade Jorge Lasmar, crédito sobre as anotações de José Geraldo Mendonça, em relação ao canhão, vale-nos dizer que entendemos de forma totalmente diferenciada.

............Há uma possibilidade de que Francisco Sabino Vieira, que terminou os seus dias na Fazenda Jacobina, no sertão de Canudos, ter levado este canhão até Penedo. Isso, tempos depois da invasão dos holandeses no nordeste brasileiro. O assunto não se esgota aqui. Teremos que pesquisar muito para que possamos entender melhor e com mais clareza o aparecimento deste canhão no Norte de Minas. Voltaremos ao assunto.


Canhão de Guerra do IHGMC doado pela família de Simeão Ribeiro Pires.


DOIS CONSTRUTORES DO FUTURO

Fabiano Lopes de Paula
Cadeira N. 66
Patrono: José Lopes de Carvalho

............O nosso conterrâneo Sr. Chiquinho Guimarães, ou nada menos que o montesclarense, Francisco José Guimarâes, o grande arquiteto, mais do que das construções e dos projetos, da própria vida. Embora já falecido, ele não passou. Suas obras estão a testemunhar toda a sua dedicação no trabalho e a história que ele construiu se faz visível no reconhecimento dos moradores de Montes Claros. Voltando à frase do grande mestre da língua e parodiando-a, pode-se dizer que esse homem, saído do sertão, a subverte porque ele foi, de verdade, um grande arquiteto sem nunca ter freqüentado os bancos da escola com essa finalidade. Deixou sinais de sua genialidade, mesmo após quase 69 anos de sua morte.

............Líder da arte de produzir tijolos, da carpintaria, do cimento armado, líder político e social e líder de uma família de 14 filhos. Apesar de ter falecido novo ainda, aos 55 anos, sua história é de um gigante vitorioso. A partir do esforço, da vontade, da simplicidade e do exemplo da persistência, colaborou, sem o saber acadêmico, com a história do crescimento, da cultura, da vida político-social, econômica, educacional e da saúde de Montes Claros com sua caminhada.

............É da autoria de Lao-Tsé, importante filósofo e pensador da China antiga, a frase: ”Para alcançar conhecimento, adicione coisas todo dia. Para alcançar sabedoria, elimine coisas todo dia”. A trajetória de Chiquinho Guimarães é um reflexo desses dizeres. Com tantos atributos, acrescentou à sua memória sua veia para a política, seu exemplo de vida e de trabalho, faceta que se consolidou com sua liderança junto à classe operária, como reorganizador do União Operária e Patriótica, instituição de cunho social e, inclusive, com sua eleição para a Câmara de Vereadores. Além disso, foi membro ativo de várias outras organizações. Apesar de suas grandes realizações e pelo respeito que adquiriu da sociedade, desvestiu-se da vaidade e da ambição de poder pelos seus feitos. Os louros da glória? Encontram-se na concretude de suas realizações que atravessou o século XX e produz efeitos no XXI.

............Gênio surgido no século XIX (1886), vislumbrou, além de seu tempo, os sinais da modernidade. Àquela época, já dera um toque de sofisticação, de vanguarda e de bom gosto as suas construções. Seu senso estético apurado passeou pelo gosto neocolonial: as antigas residências de Nozinho Colares e outras de grande porte, bem como pelo eclético: o grupo escolar Gonçalves Chaves, as também antigas residências de Dr. João Pimenta de Carvalho e de Francisco Ribeiro, onde, por muitos anos, funcionou o colégio Imaculada Conceição e parte do conjunto que circundava o mercado municipal.

............A catedral Nossa Senhora Aparecida é outra obra marcante desse grande artista tal é o senso estético de suas linhas traçadas no estilo neogótico. Com sua capacidade criadora, venceu o desafio de desenvolver o projeto da planta, arquitetado pelo Cônego Jerônimo Lambin, numa atividade que se considera árdua assim como é o fazer a obra poética, na visão de Olavo Bilac que, no afã de retratar o Belo em seu texto, diz que o poeta “(...) trabalha e teima e lima e sofre e sua!” , mas que na obra final se disfarce o emprego do esforço e não se mostre na fábrica o suplicio do mestre. Assim é a imponente catedral, este monumento de alta inspiração criadora lhe exigiu dedicação, incansável


1º - Catedral de Montes Claros - Estilo neogótico.
2º - Conservatório Lorenzo - Fernandez - Estilo art decó.
3º - Residência do Sr. Domingos Lopes - Estilo art decó.


1 -Milinardo Gomes dos Santos, Di Gomes e Geraldinha Gomes
2 - Francisco José Guimarães

tenacidade, que agora encanta pela imagem, pura, sóbria sem lembrar ao povo as agruras do trabalho e os andaimes do edifício e justifica: ”Porque a Arte pura, inimiga do artifício, é a força e a graça na simplicidade.” É claro que o nosso mestre não conviveu com o grande vate, mas foi, sem dúvida, seu grande interlocutor.

............O Art Déco, estilo lançado na França em 1925, caracterizado pelo rigor geométrico de suas linhas, além de formas aerodinâmicas, inspiradas nas máquinas e navios, se entremostra nos detalhes de muitas das fachadas de suas obras. O hotel São José, o antigo Clube Montes Claros, hoje o Conservatório e várias residências, como a de seu amigo Domingos Lopes, dentre outras, são exemplos desse arrojo para a época que se encontram no
cenário urbano de Montes Claros, como marcas identidárias de seu talento.

............Por tudo isso é sempre momento de reverenciar seu nome. Um homem dessa qualidade, com carisma inigualável, indescritível e responsável por grandes realizações, foi, ao mesmo tempo, avançado e discreto; empreendedor, criativo, progressista e compenetrado por sua fé católica e espírito voltado para o bem comum. Para ele, não havia barreiras intransponíveis; além das construções, tinha suas convicções políticas, era fiel à filosofia governista de Getúlio Vargas a quem considerava um grande estadista. Sua grande escola foi a do trabalho, da experiência, da busca constante pelo melhor para a sua família e para a sociedade de Montes Claros.

............Foi, na verdade, um autodidata pelas suas realizações. Personagem fascinante, de um exemplo de vida inacreditavelmente grandioso, representou um estilo de vida marcante, pelo cumprimento do dever, pelos serviços prestados, Outros líderes virão, com sua personalidade, visão, filosofia de vida, mas nenhum empanará o brilho do saudoso Francisco José Guimarães, pois cada ser é único e irrepetível. Sua história foi feita com alma, daí o fato de sua memória se impor e não se deixar apagar na poeira do tempo.


MILINARDO GOMES DOS SANTOS - UMA AUTÊNTICO CONTINUADOR

............Natural de Coração de Jesus, MG., ainda menino, passou a residir em Montes Claros. Filho de família simples, afeiçoada ao trabalho, de bom relacionamento e dotada da capacidade de conquistar as pessoas pelo sentimento de bondade.

............Discípulo do Mestre Chiquinho, quando, sob sua orientação, iniciou seu ofício na construção da Catedral de Nossa Senhora Aparecida, participou da construção da R.F.F.S.A, juntamente com seu irmão, Juventino Gomes, a convite dos engenheiros Dr. Valadares Roquete, Dr. Novais e Dr. Zimbord.

............Construíram o trecho entre Montes Claros e Monte Azul e concluíram as estações Orion, Capitão Enéas (antiga Burarama), Dr. Valadares (Janaúva), Caçarema e Mato Verde. Essa construção serviu a todo norte de Minas com transporte de baixo custo. Dentre as suas muitas construções, tem-se no interior a escola de Grão Mogol; outro de seus feitos foi, nos idos de 1940, a construção da saudosa União Operária e Patriótica de Montes Claros da qual foi um dos líderes e por diversas vezes presidente. A União Operária era um reduto para reuniões da construção civil, reuniões ordinárias aos domingos, onde a classe debatia suas questões políticas, realizavam cursos de especialização, bailes familiares, reuniões sociais, práticas esportivas e outras atividades de assistência aos associados. Num período ainda em que nem se mencionava a existência de sindicatos, a classe operária da época era dotada de grande representatividade.

............Seguidor do Mestre Chiquinho, Milinardo foi, com seu dinamismo e visão de futuro, um brilhante autodidata não só na engenhosidade do projeto, do cálculo, da arquitetura, sem, na verdade, nunca ter se habilitado formalmente para essa função que exige, além de conhecimento, gosto e, sobretudo, o dom da arte, que, no seu caso, era natural. Ele reunia todos esses atributos, na simplicidade como sempre foi sua vida.

............Mestre Chiquinho e Milinardo fazem parte da história de Montes Claros e, como dois construtores do futuro, não podem ficar esquecidos, pois seus feitos foram o ponto de partida para as melhorias que recebem a cidade até os dias de hoje. Esquecê-los seria fechar os olhos para o passado e sem o passado é impossível continuar a caminhada e direcionar os feitos pósteres. Montes Claros já assumia feitos da modernidade com essas raras personalidades que, sem interesses políticos e sociais, pavimentaram seus empreendimentos de projeção política, de feitos sociais e por que não dizer culturais? Se os gostos se apuravam, as melhorias na cidade aumentavam, a arte se fazia visível nas construções, os operários começaram a conhecer seus direitos?

............Os dois, Milinardo Gomes e Francisco José Guimarães, foram praticamente os responsáveis pela existência de todas as casas, mansões e prédios de até três andares que formavam o centro urbano da cidade.

............Lembrar e reverenciar pessoas e fatos é um dever de todos, pois não há vida, nem história sem passado. Diz F. Dostoiewiski “Se queres ser universal, canta a tua terra” e cantar essas personalidades fenomenais é cantar Montes Claros, pois eles foram, antes de exímios profissionais, dois amantes da terra.


YARA TUPYNAMBÁ

Felicidade Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates

............Cognominada “a primeira dama da arte mineira” Yara Tupynambá nos surpreende pelo gigantismo da sua obra. Talvez seja a artista que pintou o maior número de painéis no Brasil. Buscando conhecer as particularidades da sua personalidade, chegamos ao significado do seu nome, em dicionário de língua Tupis. Yara; “aquela que se sobrepõe e se supera”. Expressão que se tornou real. Superar-se, é o que ela faz, a cada dia, a cada passo, a cada gesto, a cada projeto. Com os pés no chão de Minas a nutrir-se de suas raízes, suas tradições, cultura, mas com os olhos no mundo, vem construindo
um acervo artístico que a identifica com o seu tempo.

............É que, arte para Yara é dever, é sal, é história. A história das Minas e dos Gerais, figura no seu desenho perfeito, animado por colorido especial. Suas obras estão nas mansões, nas casas simples e médias, nas galerias, nos museus, nos grandes edifícios, nos espaços públicos, ruas, praças, igrejas, universidades. E são poéticas, afrontantes, místicas e fortes. Suas mãos ambidestras deram vida a várias matérias inertes: telas, papéis, tecidos, paredes, concreto, madeira, cerâmicas e outras. E assim ela elevou o nome da sua cidade, Montes Claros.

YARA TUPYNAMBÁ SE FAZ

............Sua história começa há muitas décadas atrás, na viagem de um tropeiro viajante nas estradas da Bahia, quando este acolhe em seus braços uma índia guerreira desgarrada da tribo dos Tupinambás. Fêz-se o casal, do casal três filhos.

............Morre nas epidemias brancas (varíola), ainda jovem, a índia guerreira e o cavaleiro andante a homenageia no nome dos filhos: Tupynambá. Um deles avô de Yara.

............Dando continuidade ao processo miscigenatório brasileiro, nasce em Montes Claros-MG Yara Tupynambá, neta de avô europeu (espanhol) e mãe de descendência indígena brasileira. A fusão das etnias, por certo será um dos componentes responsáveis pela universalidade expressiva da artista Yara, pois, enquanto os seus pés firmes fincam raízes profundas no solo das “Minas Gerais” bem brasileiras e seu coração bombeia a seiva da cultura do seu povo e da sua ancestralidade, os seus olhos perscrutam o mundo.

............Na infância, Yara percorreu cidades, morou em casas grandes, casas típicas mineiras, iguais aquelas, que pinta em suas telas. Yara menina rodopiou e deu risadas em quintais imensos, cheios de arvores onde subia para olhar mais longe. Liberdade, pés descalços, alegria. Yara desde a infância desafiou as distancias. Seguia a linha férrea que seu pai engenheiro plantava, andava quilômetros e quilômetros, as vezes reflexiva, buscando talvez, descobrir os limites do horizonte.

............Foi aluna travessa, mas inteligente. Na escola já pintava os cartazes, desenhava os convites. Mais tarde, entre criança e adolescente, Yara conhece em Itaúna (onde morou) o ex-professor de universidade alemã, Padre Oscar Bitner que aportara no Brasil fugindo da guerra. Era culto, tinha uma vasta biblioteca, gostava de falar da Europa, dos seus costumes, da sua arte. Yara ficou fascinada. Tornou-se sua ouvinte assídua e folheava com curiosidade e entusiasmo os seus livros. Desta forma conheceu muito cedo a História das Artes, através de um legítimo professor universitário
europeu.1

............Aos dezessete anos, na década de cinqüenta, com sede de arte, Yara aporta em Belo Horizonte para estudar. Ingressa na Escola Guignard que já formara numa primeira geração nomes como: Maria Helena Andrés, Amilcar de Castro, Farnese e outros. Fêz-se colega de Álvaro Apocalipse, Jarbas Juarez Antunes e outros. Conviveu com Chanina e Wilde Lacerda. A escola foi um impacto. Yara emocionada conta que nunca se esquece da primeira aula de desenho com o Mestre Guignard no Parque Municipal, quando ele mostrou de maneira clara a linguagem diferente entre uma árvore e outra. Foi com Guignard que aprendeu a importância do olhar e do desenho. Foi na disciplina, no treino deste olhar que a artista aprendeu a acuidade de reproduzir.2 Como aluna brilhante viveu na escola um período glorioso. Graças a sua dedicação à arte, passa de aluna à amiga zelosa e companheira de batalha do mestre, tornando-se uma das discípulas da sua predileção. E este a estimulava, abria horizontes, despertava-a para a pesquisa dos grandes pintores. Alberto da Veiga Guignard era ameno, afável, cavalheiro, amava a escola e os alunos, um
grande mestre, todos sabem. Suas aulas fugiam da metodologia convencional e sempre continham grandes doses de entusiasmo. Sob a sua orientação, durante três anos, Yara desenhava e pintava diariamente; o parque, naturezas mortas e a figura humana.

YARA E A GRAVURA

............Yara descobre a xilogravura. Faz gravações com Misabel Pedrosa, depois continua gravando sozinha até 1957. Em 1959 vai para a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e passa a estudar com o grande mestre da gravura brasileira Oswald Goeldi. Yara já possuía um estilo próprio, mesmo assim foi com Goeldi que aprendeu a importância do entalhe, passando a valorizar a madeira como o elemento mais importante da xilogravura. Descobre a importância das texturas, o valor do corte, libertando-se das margens da madeira. Foi na gravura que Yara aprendeu a imprimir na matéria inerte a dramaticidade da vida e foi Goeldi que a ensinou o espírito da síntese. Yara diz ter aprendido arte como se deve aprender. Primeiro a fazer os objetos como tais, depois simplificá-los e após anos de trabalho a distorcê-los.3 Ligada à natureza, procura sempre expressar o que sente, diante do que vê: - o brotar da planta, a vida subterrânea do solo, suas raízes, as saúvas da terra, o nascer e o por do sol. Para transmitir tudo isto, fez-se figurativa, buscando a compreensão de si e do mundo, na poeira distante dos mitos e nas imagens de infância. Diz o filósofo da arte Moacyr Laterza, que Yara aprendeu “a decifração da aparência simples das coisas, imposta por Guignard a seus discípulos”. A gravura deu a ela, muitas alegrias além dos vários prêmios em salões e projeção na esfera nacional e internacional.

............Apesar de todo este sucesso Yara, em diálogo informal, citou-nos algumas dificuldades geradas por preconceitos no início da sua carreira, como: - a incompreensão de uma mulher que se interessava em fazer arte ao invés de aprender corte e costura, a concepção de que todo artista era boêmio e depravado, a dificuldade de se sustentar exclusivamente deste ofício e a ausência de galerias e falta de incentivo por parte das autoridades dificultando o contato com o público. Por tudo isto, Yara brinca e faz metáfora ao dizer que “o artista tem que ser artista” para viver, principalmente a mulher artista que já carregar alguma glória.

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1 - Entrevista Yara - Programa “Gente” - Vídeo gravação: 13/06/2000. Rede Horizonte - Produção: Wanderley Timóteo.
2 - GIRAN, Helenice. Op. cit. Pg. 72.
3 - Id. Ibid. Pg. 73.
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PINTURA

............Na década de 70 Yara passa a se dedicar mais a pintura inclusive a pintura muralista. Sobre esta passagem, ela diz literalmente:


Yara Tupinambá

“O meu encontro com a cor, corresponde ao encontro
com o meu EU. Arte é oxigênio para mim, então a cor é
vital, porque corresponde aos anseios e idéias que expresso
com a ajuda delas. Meu trabalho sou eu mesma.”

............Aqui, abrimos um parênteses para analisar o contexto filosófico-artistico, espaço-temporal deste momento de Yara. A primeira fase da arte mineira se caracteriza pelo Barroco e esta artista surge na segunda fase, a do movimento de modernização, cuja analise do filósofo Moacyr Laterza diz: “a meta era alinhar-se com o espírito de modernidade e o desafio maior foi reconhecer que o sentido interior do mundo é enigmaticamente apreendido através do EU do artista”.

............Sabendo a artista das suas raízes barrocas, passa a estudar obsessivamente a obra dos mineiros do tempo colonial, assim, alcança a força expressionista que a inspirou. Por outro lado ainda com base no expressionismo barroco, a artista consegue alcançar o sincretismo típico do nosso povo, ligando a religiosidade ao sentimento social de solidariedade que o leva a participar dos dramas de sua terra e de seu povo.4 Acalentada no seio de Minas e bebendo nessa fonte, deixa, fortemente registrada em sua obra, a luta que se trava entre o que pertence as “minas” e o que provém dos “gerais”, os gerais de sua terra natal, Montes Claros. “Mais do que antes, Yara assume o saibro, a caliça, a terra, as saúvas da terra, a solidão e os cactos da terra. Yara recupera (para si e para nós) alguns avos de esperança”.5

............O fato de ser originária dos sertões, assim como o contato com as minas de Vila Rica e as demais cidades do ciclo do ouro vão determinar os temas que a levam a uma figuração entre o dramático e o poético, o real e o onírico entre o histórico e o individual, consubstanciadas tanto nas obras de pequeno, como de grande porte.

............Uma característica forte do seu trabalho é a historicidade. Observamos que grande parte da sua obra são documentos artísticos, onde permeiam uma temática intencionalmente aplicada dos motivos históricos e sociais. Para esta artista, arte é produto social. Reconhece que a criação parte do estímulo do meio ambiente, tornando-se impensável fora do quadro social que a produz, ao mesmo tempo em que é impossível sem o indivíduo. De maneira figurativa ou abstrata é certo que refletirá o pensamento e a problemática do século que a determinar.

............Diante desta reflexão Yara se obriga a estudar e pesquisar diariamente, renovando suas vivências. Reflete “O homem deve ser o grande tema de todo artista”. A partir de então, preocupa-se em fazer um trabalho mais dirigido ao povo e este deverá conter uma mensagem educativa.

............Surgem os murais onde encontraremos a força das “Minas” e a poesia dos “Gerais” que habitam nesta montes-clarense. A ampliação do espaço suporte, o poder do concreto e da cor, a natureza dos elementos que doma sob as minúsculas mãos traduzem “sagesse, demonstrando a força de que é capaz a dimensão humana e a força das figuras retratadas que surgem desta dimensão. Yara busca na história brasileira, mais especificamente na mineira os momentos mais significativos. A artista sabe que “é natureza”.6 Por isto toda a sua obra mostra a pulsação do coração humano no tempo.

............Lateralmente aos quadros para ambientes interiores, surgem os grandes painéis para espaços públicos. Só em Belo Horizonte já são mais de 80, ao todo, mais de 90 painéis. Na impossibilidade de registrar todo o seu acervo, citaremos como exemplo o painel da Reitoria da UFMG que se constitui de uma síntese iconográfica da história da Inconfidência Mineira e que a artista considera como a grande obra da sua mocidade.

............Yara demonstra capacidade de recriação constante. Não só cria representativamente os fatos significativos, mas versa sobre a obra de outros artistas, como é o caso da poesia de Antônio Gonzaga através da série “Liras” e através da série “Drumonianos” inspirada na poesia referencial a Minas, do grande poeta brasileiro Carlos Drumond de Andrade.Uma série de sua autoria fala sobre a obra, “A Mesa” de Drumond. Hoje, ela enriquece o Memorial Carlos Drumond de Andrade construído em Itabira fruto de um projeto arquitetônico de Oscar Niemayer. Nada há de estranho neste conluio. O artista é livre para estabelecer relações entre as coisas e aquilo que elas significam. Lembra-nos Moacyr Laterza que as coisas existem duas vezes: como coisas e como sinal. Para o artista, o aspecto significativo das coisas refulge mais, por isto se impõe com primazia. É no refulgir da coisa sinal, que tudo o mais é visto medido e valorizado pelo poeta. A esse respeito disse Portinari: “A poesia é uma espécie de aura mágica que pode iluminar um poema,um quadro, um gesto, um momento”.

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4 - Id. Ibid. Pg. 68.
5 - Id. Ibid. Pg. 68.
6 - MARITAIN, Jacques. A Intuição Criadora. A poesia, o homem e as coisas.
Trad. Laterza, Moacyr. Laterza, Léia. Belo Horizonte. Ed. PUC Minas. 1999.

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CONTEMPLANDO A ARTE DE YARA

............Em suas diversas fases criativas, coloridas ou não, através da mágica da sua prancha ou dos seus pincéis, Yara nos transporta às montanhas, aos campos e jardins, aos casarões, às ruas estreitas e curvas, à lua e ao sol do sertão, aos braços abertos dos tropeiros e à esperança das moças nas janelas. Faz-nos sentir o vento no rosto, o cheiro da terra, a beleza da flor. Vemos nas suas figuras históricas, a integração do real com o mundo onírico, a afirmação da raça, dos costumes, do povo, unidos a um fragmento de sonho.

............Observação: Os temas históricos encontram-se mais condensados nos Grandes Murais. Como exemplo, todo o caminho histórico percorrido por Minas até a atualidade. Muitas reservas florestais pintadas por Yara foram extintas ou existem em uma mínima porcentagem, portanto, essas séries especificas, podem também se destinar a preservação das imagens que um dia aqueles locais foram.

............Sua obra foi analisada por importantes nomes da crítica nacional, apresenta-se na maior parte numa forma figurativa muito particular com um colorido inusitado e esfusiante. Nas últimas séries ela começa a geometrizar o seu figurativo, eliminando curvas e sintetizando o desenho. Esta mudança acrescenta beleza à sua obra.

YARA ARTISTA E EDUCADORA

............Tão logo terminou seu curso, Yara passou a lecionar arte nas faculdades de Belo Horizonte. Destaca-se o seu trabalho na UFMG, em sua Escola de Belas Artes cujo corpo docente era constituído de 23 professores: duas mulheres e vinte e um homens. No ano de 1966 Yara foi eleita por unanimidade para a direção desta Escola. É considerada a melhor professora de gravura de sua época. Como professora mostrou-se (de acordo com o depoimento de alunos) comunicativa, aberta, personalidade forte, sempre pronta para qualquer batalha. Grande incentivadora dos alunos, exigente e extremamente generosa. Jamais omitiu ensinamentos, dividiu com os alunos tudo que sabia, o que lhe rendeu muita admiração e respeito. Registram seus alunos, que a sua dedicação e garra na escola e para a escola, ficaram gravadas nas suas obras que hoje ali estão (mural, painéis, quadros)e na memória e coração de quem com ela convive.

ALGUMAS PREMIAÇÕES

............Aos olhos do mundo não passou despercebido o empenho dessa arte e principalmente aos olhos do seu povo que buscou formas de homenageá-la. Yara foi incluída em numerosos livros de arte. Dentre eles, destacamos o livro de arte de sua autoria, com variados textos da crítica especializada, com fotos magistrais de boa parte da sua obra, feitas por Sylvio Coutinho.

............O reconhecimento do seu trabalho efetivou-se também através de honrarias, medalhas e prêmios de participações. Citamos aqui parte desta premiação: II Prêmio de Escultura no Salão de Belo Horizonte, I Prêmio gravura no XVI Salão de Belo Horizonte, I Prêmio de desenho TV Itacolomi entre artistas mineiros, I Prêmio de ilustração – Diário de Notícias, II Prêmio de desenho no Salão de Pernambuco, I Prêmio de gravura no II Salão de Trabalho, Medalha de ouro no Salão do Paraná, Prêmio “Aquisição” no Salão de Porto Alegre, Prêmio Especial “Pascoal Carlos Magno” no Salão do Pequeno Quadro, Palma de Ouro pelo destaque artístico no Palácio das Artes, Menção Especial no Salão do Paraná com a equipe Estandarte, I Prêmio de gravura com a equipe Estandarte no IV Salão de Arte Contemporânea de Belo Horizonte.

............Algumas honrarias: Comenda da Inconfidência Mineira do Governo de Minas Gerais, Medalha da Ordem do Mérito Legislativo da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, Palma de Ouro da Fundação Clóvis Salgado,, Grande Medalha de Ouro Santos Dumont, concedida pelo Governo de Minas, Medalha de Ouro concedida pela Agremiação amigas da Cultura de Montes claros, Cidadã Honorária das cidades de Mariana, Belo Horizonte e Ouro Preto.

O INSTITUTO YARA TUPYNAMBÁ

............Trata-se da realização de um sonho desta guerreira que sempre esteve antenada com os problemas sociais deste vasto e belo, ao mesmo tempo deficitário país. O seu tempo que antes era todo para os pincéis, Yara passa a dividir com ações que Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros 37 visam a melhoria da condição humana. Atendendo aos objetivos de promoção das artes e ofícios, através de cursos de qualificação social e profissional criou em 1987 e está em pleno funcionamento o com sede na Rua Espírito Santo numero 1481, centro de Belo Horizonte, o Instituto Yara Tupinambá. Através desta instituição, promove parcerias com órgãos governamentais, visando qualificar trabalhadores nas áreas do Artesanato, Confecção, Construção Civil, Informática, Agronomia, Gastronomia, com muitas especialidades dentro destas áreas, formando, as vezes, mais de 5000 alunos por ano e promovendo a inclusão social, e isto se estende a diversos municípios mineiros.

YARA, SIMBOLO VIVO DE GRANDEZA

............Yara, não se nega à vida, ao espaço e ao labor, a ela, predestinados. A um só tempo valente e frágil, rebelde e doce, dinâmica e infatigável, desde cedo determinou a luta. Na busca daquilo que ama e em que acredita enriqueceu espaços vazios e estruturou sua fortaleza com as pedras encontradas pelo caminho. E o povo a reconhece, Minas, Brasil, o mundo. Yara não se limita. Caminha na história, tem história e é história. Mesmo com todo este sucesso, não se deixou deslumbrar levianamente, confirma-se como pessoa em processo e é muito sensível. Gosta de outras artes também, por ex: a dança, a escultura, a cerâmica, a poesia e literatura. Tem o dom da palavra. Por onde passa, é presença contagiante.

............Yara tem entre 50 e mais de 500 anos, já que seu sangue indígena habitava o Brasil antes do seu descobrimento. Sua obra é o resultado laborioso de uma consciência operária, uma obra que contem em si uma virtualidade estética plena de valores humanos. Yara, hoje, mora em Belo Horizonte, numa casa deliciosa no Bairro Vila Paris e continua produzindo muito, nota-se em seu trabalho contemporâneo, (últimas exposições, já no séc.XXI) uma tendência à abstração, através da geometrização do seu figurativo, porém sem se descartar deste. Engajada social e politicamente continua dedicando-se intensamente à defesa dos artesãos mineiros e lecionando em cursos de História da Arte. Defende a função social da arte. Defende o artista como o porta-voz do povo, aquele que toca o coração do povo, que leva a este povo a alegria de ver a criação.

............Por tudo isso e mais Yara enche de orgulho a nós, seus conterrâneos montes-clarenses.

............Como vimos, faz-se de grandeza esses mitos das artes plásticas montes-clarenses que aqui apresentamos nos volumes V, (Raimundo Colares), VI, Konstantin Christoff e agora Yara Tupynambá. Necessário se faz registrar as suas trajetórias brilhantes, para o conhecimento e reconhecimento das gerações futuras.


HISTÓRIA REPETIDA
Num dia da Pátria

Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa
Cadeira N. 34
Patrono: Eva Bárbara Teixeira de Carvalho

7 DE SETEMBRO

............Era 7 de setembro e eu descia pela rua Dr. Veloso quase chegando a Praça da Matriz, quando ouvi gemidos abafados. Olhei ao redor e nada vi. Apurei os ouvidos. Por trás dos tapumes à minha direita, já na esquina da praça, um som dolente, sofriido se fazia ouvir debilmente.

............Atentei para o que os meus olhos abismados então viam. Diante deles, por trás dos tapumes a nossa história está agonizando.

............E era um Dia da Pátria!!!

............Foi tanta indignação e dor que venho repartir com você.

............Quem sabe, você pode fazer pela memória da nossa Montes Claros muito mais do que apenas partilhar sua indignação, como eu.


Solar da família Prates Oliveira


POR QUE CERCARAM O CASARÃO DA PRAÇA?

Compraram o Casarão dos Oliveiras!
Será restaurado o Casarão da praça!

Quando a notícia
cintilou nos jornais
vibrou-me tronco e raízes.
Era a salvação!!

Pensei a vida continuada
na arquitetura
na história contada pelos telhados
pelas sacadas de parapeitos bordados
pela jabuticabeira renovada
em flores e frutos a cada estação
pelo chafariz com seu leão jorrando água pela boca.

Vi luzes em festa
brilhando no interior
e derramando-se em sons e cores
pelas janelas.
Vi passos soando no assoalho
conduzindo aprendizes
de cultura e civilização.

Vi soberano
convivendo com as diferenças do tempo
um sobrevivente
um imponente baluarte:
o Casarão da Praça.

Mas não foi a salvação!!!
Por que cercaram o Casarão da Praça?!
Para calar o protesto público?
Esconder a vergonha do descompromisso
a perfídia de maléfico interesse?
Por que cercaram o Casarão da Praça?!

Para sufocar suas queixas, seus lamentos
a cada chaga
que se abre e sangra
pelas paredes centenárias?

Por que cercaram o Casarão da Praça?!
Para que o despencar silencioso
da beleza
que a tantos encantou
desnudando sua intimidade
desfazendo seus contornos
clamando respeito, amparo, consideração
fossem abafados
pelos tapumes pincelados
de enganosas intenções?

Não foi a salvação.

Foi a condenação!!!

Cercado. Escondido. Camuflado
desfaz-se pouco a pouco
e leva consigo a nossa história!

Cercaram o casarão!...

Mais um tempo
e nem os tapumes estarão lá
para contar a história
dos homens sem memória
que habitaram um dia
naqueles montes claros.

Cercaram... Condenaram à morte solitária
o Casarão da Praça!
Como todos os que o antecederam...

Ninguém vê.
Tornou-se míope nosso olhar.
Até os jornais se calaram...


O Fundador de Jornais

Haroldo Lívio
Cadeira N. 82
Patrono: Nelson Viana

............Ele deve ter lido jornal, pela primeira vez em sua vida, na escola de seu avô materno, dos Cavalcanti de Alagoas, onde foi alfabetizado e encaminhado para o universo das letras e dos números. Lá no ermo onde nasceu, Campo Redondo, nos Gerais de São Felipe, imperava a lei do mais forte, e ele aprendeu, muito cedo, a lutar contra a adversidade que o destino coloca no caminho de quem quer crescer e subir na vida. Foi, desde pequenino, prestando atenção no mundo que o rodeava, nas pessoas, nos animais, na natureza madrasta. Dessa observação, nasceu o sonho de alterar o rumo traçado para sua caminhada na vida. Teria de ser, inevitavelmente, fazendeiro, proprietário de vastas extensões de terras, onde engordaria o gado e exerceria o domínio senhorial, sucedendo ao avô Teodoro do Condado e ao pai Adelino, que derrubaram a mata e semearam o capim colonião.

Décio Gonçalves de Queiroz, que chegou ao marco dos oitenta anos, no dia 21 ............de novembro passado, ao completar dezoito anos de idade, em 1948, tomou a decisão heróica de mudar o rumo traçado para sua sina, de ser fazendeiro nos Gerais de São Felipe. Mudou-se para a cidade, para aprender mais do que pôde ensinar o avô nordestino e adquirir instrução para exercer o mister do jornalismo. Desde o momento em que se matriculou na primeira série ginasial, no Instituto Norte-Mineiro de Educação, do Dr. João Luiz de Almeida, ele decretou que seu futuro era ser jornalista, fundador de jornais, como realmente procedeu, e deixou para trás os campos natais, das invernadas, dos cantos de aboio, das cavalgadas debaixo do sol e da chuva.

............Procurou espaço mais amplo para realização de seu projeto pessoal e pegou o trem para São Paulo, querendo recuperar o tempo da juventude que passou fora dos bancos escolares, no batente da produção rural, levando sua transferência para o Colégio Independência. Lá chegando, viu que o colégio não tinha jornal, como imaginou que tivesse, e cuidou de fundar seu primeiro jornaleco, O Independente. Estava ungido e sacramentado jornalista. Podia até se considerar colega de Assis Chateaubriand, sendo fundador e proprietário de um órgão de imprensa, que fatalmente deve ter expirado por falta de anunciantes. Em seguida, teve a grande oportunidade de adquirir tirocínio profissional, no período em que trabalhou na redação das Folhas, na Paulicéia.

............A maré baixa o trouxe de novo para o nosso meio e para o seio da família, num momento em que sua presença era indispensável no lar paterno, em face da perda do chefe. Aqui instalado, junto da mãe, dona Adelina, e dos irmãos, retomou os estudos, no curso científico, e fundou o segundo jornal de sua vida, a Tribuna do Estudante, onde o conheci e publiquei minha primeira matéria assinada. (Muita ousadia para um “foca”). Era 1956. Preciso dizer que o quinzenário faliu e obtivemos asilo - eu, ele e Lúcio Benquerer - no O Jornal de Montes Claros, do jornalista Oswaldo Antunes, onde já encontramos Waldyr Senna Batista na reportagem política. Sempre fundando e, às vezes, afundando, por culpa dos anunciantes, Décio participou, no ano de 1960, da fundação da Revista Encontro, que preencheu uma fase gloriosa da história de nossa imprensa e circulou durante quase dez anos. Em 196l, salvo engano, ele se associou ao talentoso Júlio César de Melo Franco para dotarem a cidade de mais um órgão de primeira linha, o Diário de Montes Claros, ao qual dedicou os melhores anos de sua vida e consolidou seu conceito de jornalista sério e comprometido com o bem público.

............É claro que se realizou como pessoa, principalmente se casando com sua querida Chichica e constituindo bela família. Concederam a mim e à minha esposa, Maria do Carmo, a honra de levar à pia batismal o pequenino Cláudio. Daí para frente é o repouso do guerreiro, que deu por cumprida sua missão de fundador de jornais e retornou ao ponto de partida, no campo, e hoje repete as vidas de Teodoro do Condado e Adelino, na labuta da cria, recria e engorda de bovinos, na comarca do Brejo das Almas, com o entusiasmo de quem, finalmente, descobriu sua verdadeira vocação: o pastoreio do gado. Ora veja, o confrade e compadre voltou a ser boiadeiro e está por demais felicíssimo!


Décio Gonçalves de Queiroz


ESBOÇO DE KONSTANTIN

Haroldo Lívio
Cadeira N. 82
Patrono: Nelson Viana

............O romancista Santos Moraes, crítico literário do Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, e detentor do Prêmio Machado de Assis, conferido pela Academia Brasileira de Letras, mostrou a Herman Lima, autor da História da Caricatura no Brasil, alguns desenhos do nosso artista Konstantin, publicados na Revista Encontro. O historiador gostou imensamente do traço de Konstantin e pediu ao romancista que conseguisse na fonte, quer dizer, no ateliê do caricaturista, em Montes Claros, exemplares de outros trabalhos assinados por K. Ch., para publicação no próximo volume de sua obra, que é considerada a enciclopédia da caricatura.

............Pouco tempo depois, numa bacalhoada de Sexta-Feira Santa, em 1964, na casa de Santos Moraes, fui incumbido por ele de conseguir de Konstantin os trabalhos solicitados pelo historiador carioca. Retornando, transmiti o pedido ao grande caricaturista, que se mostrou sensibilizado com a atenção despertada por suas criações, principalmente por ter sido reconhecido por um historiador de renome nacional, e respondeu-me que iria providenciar o envio dos desenhos solicitados. Caiu, porém, no esquecimento.

............Até ontem, não tive notícia de que a encomenda tenha chegado às mãos de Herman Lima. Já se passaram quase dez anos.

............Konstantin Christoff é assim mesmo. Poderia, se quisesse, ser um artista de fama internacional, pois o que não lhe falta é imaginação fecunda, gosto apurado e muito fogo para suas traquinices de caricaturista, quando dá tudo de sua criatividade no trato de tons, de imagens e de formas, despertando emoções adormecidas e provocando risos. Por mal dos pecados é um artista de venetas. Quando se pensa que ele vai fazer um montão de charges para a revista, ele sai de circulação e vai operar em outro ramo; no bico-de-pena, no carvão, na aquarela, ou então se transvia pelo labirinto da escultura. Faz a sandália do tropeiro para o trevo do aeroporto, modela sua mansão, esculpe a mater dolorosa para o monumento à Irmã Beata. Espírito irrequieto, indócil, devia se chamar Inkonstantin, no que tange às artes.

............Porque, quanto ao homem de bem e médico virtuoso que exemplarmente é, o próprio povo de Montes Claros é testemunha de sua perseverança. Muito antes de gozar de sua amizade, no convívio da confraria da revista, já admirava sua personalidade singular. Minha geração de ginasianos do extinto Colégio Diocesano o via com olhos de secreta inveja, como modelo do jovem humilde que soube romper barreiras na luta pela vida e vencer com a flama de um campeão olímpico. Invejávamos sua peculiaridade de pessoa diferente das pessoas comuns. A carreira de médico jovem e vitorioso na arte de curar. O seu estilo de vida. A cidadania de jardineiro búlgaro, que lhe dava um ar de aventureiro. O seu carro conversível, que era o único da cidade. Os cães de raças exóticas. O cachimbo de raiz de roseira sempre fumegante e exalando o aroma do tabaco importado. De todos os detalhes de sua personalidade fora de série, o que mais excitava nossa imaginação juvenil era o murmúrio de que ele desfrutava da primazia de ser o único fotógrafo amador da cidade que focalizava o nu artístico. Sua câmera documentava, para a posteridade, a beleza plástica das cortesãs daquela época, os primórdios da década de 1950. O moço era um árbitro do bem viver. E assim foi, pintando, rabiscando caricaturas, fotografando, filmando, salvando vidas com o bisturi, que foi mudando com a idade.

............Viu-se, aos poucos, transformado; feito bom burguês, casado, com família nas costas, de pijama e chinelos, completamente domesticado. Para encerrar o fenômeno de sua desmitificação, acabou, solenemente, recebendo o título de cidadão brasileiro naturalizado.


Konstantin Christoff


AO MESTRE KONSTA, COM CARINHO

Itamaury Teles de Oliveira
Cadeira N. 84
Patrono: Newton Prates

............Montes Claros chorou, no início da tarde do dia 21 de março de 2011, a perda de um dos seus filhos adotivos mais ilustres. Após vários meses internado na Santa Casa de Misericórdia da cidade, faleceu o mais montes-clarense dos búlgaros, o médico e artista plástico Konstantin Christoff, aos 87 anos.

............Nascido em Strajitza, na Bulgária, no dia 18 de junho de 1923, filho de Chisto Raeff e dona Russa Christova, fez o curso primário em sua terra natal, e o secundário no Ginásio Municipal em Montes Claros. Diplomou-se em Medicina pela Universidade de Minas Gerais (atual UFMG), em 1948, e durante muitos anos chefiou o serviço de cirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Montes Claros. Grande figura humana, nunca cobrava dos pobres, nem dos amigos, como me revelou uma pessoa da família. Integrou a equipe que criou, na década de 70, a primeira Faculdade de Medicina da cidade, da qual se tornou professor e onde desenvolveu técnicas próprias no campo da cirurgia, divulgando-as em revistas e congressos médicos.

............Ainda durante seu curso de medicina, em Belo Horizonte, começou a desenvolver dom que se manifestara na sua infância: a habilidade para o desenho e para a pintura. Como apoteose de uma atividade artística de mais de sessenta anos, suas séries de auto-retratos e da monumental e ambiciosa Via-Sacra, pela originalidade e por imprimir visão inovadora do conhecido acontecimento cristão, consagraram-no como um dos mais importantes artistas brasileiros. As duas séries foram mostradas em vários museus brasileiros e depois reunidas em livros (“Konstantin” e “Via-Sacra”).

............Já ouvira falar do médico Konstantin muito antes de conhecê- lo pessoalmente, no início da década de 70, quando me mudei para Montes Claros, e o via sempre ao volante de carros diferentes, cabelos longos e com o indefectível cachimbo preso aos dentes. Quando menino, em Porteirinha, vi muitos conterrâneos saírem de lá para serem operados por ele. Era artista também com o bisturi, tendo sido um dos precursores da cirurgia plástica em Minas Gerais.

............Estreitei amizade com o Mestre Konsta em meados da década de 80, quando voltei a morar em Montes Claros, após uns tempos em Belo Horizonte e Brasília. Ele me visitava sempre no Banco do Brasil, mas o assunto nunca girava em torno de cifrões. Era puramente artístico. Sabia que eu gostava de fotografia - como gosto, até hoje - e queria que eu fizesse uma exposição das minhas fotos no Centro Cultural. Relutei sempre, dizendo serem minhas fotografias produção de um reles amador.

............Numa dessas visitas, em 20 de junho de 1987, quando levou para mim, de presente, um livro autografado com as mais belas fotos dos melhores fotógrafos da famosa revista LIFE, notou que eu estava diferente, meio pálido, transpirando muito, com as mãos úmidas. Preocupado, perguntou-me se eu estava passando bem. Disse-lhe que não. Quis saber o porquê. Disse-lhe que estava à espera de uma equipe de televisão, que viria entrevistar-me
sobre crédito agrícola. Estava apreensivo com a repercussão da crítica sobre o meu desempenho na minha primeira entrevista te levisiva. Foi aí que ele, com sabedoria, falou-me algo que mudou completamente o meu comportamento: - Preocupado por que, Itamaury? Gerente do Banco do Brasil, aqui, é só você. Ninguém melhor do que você para falar das coisas do Banco. O repórter, muitas vezes, não sabe nem como fazer uma pergunta apropriada
a você. Se fosse comigo, não. Sou médico e teria mais de duzentos colegas em Montes Claros para avaliar o que digo. Não é o seu caso. Fique tranquilo.

............Foi assim que, seguindo a orientação do Konsta, passei a dar entrevistas de forma absolutamente tranquila. Podia não ter muito conteúdo, mas jamais aparentei estar nervoso à frente das câmeras.


Konstantin Christoff gostava de receber os amigos em seu ateliê
para uma prosa inteligente.

............Noutra oportunidade, disse-me estar pintando uma tela para presentear o Banco do Brasil. Quis saber se eu a exporia, no primeiro andar da agência, onde o povão se aglomerava em frente a mais de 30 guichês de caixa. Dei minha palavra a ele. Poucos Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros 52 dias depois, chega à agência trazendo uma imensa tela, retratando montanhas mineiras e campos verdejantes. Aquela paisagem era um colírio para os olhos cansados de produtores rurais, que laboravam a terra bruta e de vegetação seca norte-mineira.

............Com reformas na agência Centro do BB em Montes Claros, em decorrência do processo de automação bancária, a famosa tela do Konstantin Christoff adorna agora a Superintendência Regional, no terceiro andar do mesmo prédio. A vi por lá, faz pouco tempo, e relembrei-me do velho Konsta e do carinho que ele tinha por nós.


Konstantin em seu ateliê,
vendo-se ao alto o auto-retrato que ele dedicou a mim.

............Em minha casa, tenho a honra de ter duas telas dele. Uma, adquiri ainda na década de 80, em exposição feita por ele no Automóvel Clube. A outra, da série de auto-retratos, ela se pintou “transformado em bicho por D. Lolo Goiana com suas mandingas”. No verso, a dedicatória: “PARA ITAMAURY COM AMIZADE. Konstantin 28.III.05”. Na época, fazia para mim a capa do meu primeiro livro, o “Urubu de gravata e outras crônicas”, que muito enriqueceu o meu trabalho e foi alvo de grandes elogios da crítica.

............Numa outra oportunidade, pude comprovar ser o Konstantin um homem visionário, de ideias quiméricas e grandiosas, que pensava à frente do nosso tempo. Quando me mudei para Belo Horizonte, em 1991, para assumir nova agência na Capital, o Mestre Konsta novamente veio estar comigo. E o que vou revelar dá bem a dimensão da sua prodigiosa inteligência, da sua capacidade singular para fazer leitura de cenários futuros: sugeriu-me que, nas horas vagas, não perdesse tempo e procurasse estudar o mandarim, a língua falada pelos chineses. E concluiu: - eles vão dominar o mundo...

............Vinte anos depois, quase realizado seu vaticínio - a China já ameaça os EUA como primeira economia mundial -, Konsta parte para o oriente eterno, após uma vida inteira como caridoso ateu, e poucos meses depois de haver sido batizado cristão...

............Deixou uma lacuna impreenchível na cultura montes-clarense.


COISAS DO PASSADO III

Juvenal Caldeira Durães
Cadeira N. 81
Patrono: Nathércio França

............Nas minhas leituras, encontro frases que merecem atenção e até um pouco de reflexão. Uma afirma que: o melhor lugar, as melhores pessoas e os melhores tempos de nossas vidas são aqueles em que vivemos no presente. Outra diz: o que passou, passou e hoje é o nosso dia ou então: o ontem já não existe, o amanhã ainda virá e o presente é o momento real em que vivemos. Concordo plenamente com essas e outras assertivas semelhantes, porém, não posso esquecer de um passado longínquo e saudoso, cujas lembranças ainda navegam na minha mente.

............A década de trinta foi a época mais sedutora e de encantos de minha doce infância. Tempos alegres e felizes em que passei ao lado de minha família, agregados e vizinhos, na nossa inesquecível fazenda “Cantinho”, hoje encampada pelo 55º Batalhão de Infantaria do Exército.

............Ali, eu vivi até aos onze anos de idade. Fiz quase tudo que uma criança do campo poderia fazer. Minhas irmãs descartavam os carretéis após usar as linhas neles enroladas, para bordar suasbelas e enfeitadas toalhas. Eu aproveitava as rodas dos carretéis maiores na fabricação de pequeninos carrinhos para meu divertimento.

............Após as fortes chuvas de verão, eu saía puxando aquelas engenhocas por cordões sobre as pequenas pontes que eu construía em cima dos regos das enxurradas que corriam nos arredores do terreiro.

............Aquela invenção de criança despertou em mim a vontade de ser “guiero” de carros de bois, não como se fosse um guião na frente de uma procissão ou de tropas romanas conduzindo estandarte, mas como criança entusiasmada e prosa com varinha polida postada nos ombros, na frente dos bois que puxavam o carro de lenha, para manter acesos os fogões das casas da cidade de Montes Claros.

............Entrávamos na cidade com alarde e orgulho, percorrendo as principais ruas, pacatas e sem calçamentos, para vender a nossa mercadoria. O carro, com os cocãos acochados ao eixo, cantava música de toada monótona, mas que servia de arauto, anunciando a nossa passagem e atraindo a atenção dos fregueses desapercebidos. Falar sobre lenha, parece brincadeira e até motivo de gracejos, dado a sua insignificância na atualidade. Mas, no passado, era material importante e o combustível que sustentava a sobrevivência das famílias. Sem aquele produto, aparentemente simples, a vida era impossível.

............No livro, “Breve história do Mundo” cujo nome de autor não me lembro mais, conta-nos que a lenha foi grande preocupação durante o crescimento da população européia, dado a sua importância como elemento primordial e único combustível da época para as cozinhas e aquecimento nos rigorosos invernos.
Para manter os fogões em funcionamento e as casas aquecidas com lareiras, eles desmatavam as suas poucas florestas para tirar a lenha e consequentemente, formar pastos para manter bois e
cavalos para puxar as carroças, único meio de transporte na condução daquele produto, para manutenção das aldeias, que deram origens às grandes e belas cidades atuais.

............Com o aumento da população, aumentava o desmatamento e as pastagens para manter o crescimento da manada de bois e cavalos, em detrimentos ao cultivo de produtos agrícolas imprescindíveis à alimentação dos habitantes das aldeias e do campo. As matas em processo de devastação, as melhores terras cobertas de pastos para o gado e, com a redução paulatina das áreas férteis para os plantios de cereais, tudo indicava que iria faltar alimentos para atender o crescimento da população. Esse estado de coisas criava ansiedade e inquietação ao povo e com razão. Pois, se não desmatasse, não produziria lenha; se não usasse parte da terra com pastagem, não teria bois e cavalos para o transporte de lenha e, sem a lenha viria o caos. Na verdade, o povo não teria os fogões produzindo alimentos cozidos para a alimentação e, além disso, não teria as lareiras acesas para debelar o frio intenso no inverno congelador, o que poderia levar à morte aquele povo indefeso.

............Todavia, há sempre uma saída. Quando Deus fecha uma porta, Ele abre uma janela. É o que ouvimos dizer. Na historia da Matemática aprendemos que as grandes descobertas aparecem, quase sempre, nos momentos de dificuldades prementes e, quando todas as portas estão fechando, a Ciência abre uma outra no fundo do corredor para nos socorrer, principalmente, nos períodos conflitantes de guerras, de catástrofes, de pandemias, de momentos difíceis e turbulentos da humanidade.

............Nessa linha de pensamento, acima colocado, a descoberta do carvão mineral veio, em boa hora, na Europa para substituir o então escasso produto das florestas e salvar o povo da fome e do frio rigoroso, quando a lenha já estava chegando ao fim e sem solução para o problema. Depois, a eletricidade, o óleo diesel e outros recursos alternativos vieram, aos poucos, para o conforto e comodidade daquele povo e, de todos nós.

............Deus fez o Universo e todas as coisas dentro de uma perfeita harmonia e perfeição. Não era, portanto, nas soluções das coisas imprescindíveis à sobrevivência dos seres humanos, Sua mais importante criação que, Ele iria falhar com toda onipotência.

............No Brasil não foi tão diferente, apesar das condições diversas das povoações milenares européias. Na minha comunidade, por exemplo, a lenha era também, para nós, o único combustível existente na década de trinta. Hoje um material de pouca necessidade para o uso doméstico, todavia naquela época, era elemento fundamental na vida da população. Era um combustível doméstico imprescindível e único disponível para fomentar as cozinhas da comunidade. O gás era desconhecido entre nós, como também, o carvão, os óleos mineral e vegetal.

............As grandes matas das fazendas vizinhas e circundantes eram derrubadas sistematicamente para manter o processo de regeneração natural das árvores tombadas e utilizadas como combustível caseiro. Depois de secas e cortadas em tamanhos apropriados para os fogões eram transportadas para a cidade em carro de bois. Porém, nem todas as árvores dariam lenha de boa qualidade. As preferidas eram: o angico, o tinguizeiro, a cagaiteira, a mutambeira, a periquiteira, o murici, a pindaíba e outras, também com nomes singulares e regionais.

............Os bois seguiam procedimento sistemático, que merece atenção. Quando o carreiro começava seus preparativos, os animais, por iniciativa própria e com o intento de colaborar, juntavam-se dois a dois, isto é, formando as “juntas” habituais, para receberem as cangas e em seguidas entrarem em suas devidas
posições para serem atrelados ao carro. Então, depois de tudo pronto, o carreiro Juca dava a ordem, “ ei boi” e o carro começava a mover-se e tomar o rumo à cidade, com naturalidade.

............As juntas eram formadas da seguinte maneira: Na frente (ou na guia), -Suplente e Fidaldo- e a segunda junta do cabeçalho (ou coice), -Benfeito e Letrado- Aqueles animais obedeciam rigorosamente às ordens e faziam parte de nossa sobrevivência. Ainda hoje, sinto saudade daqueles companheiros de infância, que apesar de irracionais, eram-nos úteis e fiéis.

............Ali, naquele lugar sagrado, aconteciam também, coisas que chocavam a minha sensibilidade. Certo dia, acordei bem cedo com uma movimentação diferente dos empregados e familiares ao redor do boi chamado de “redondo”, descartado dos serviços carreiros. O animal, amarrado num mourão por uma corda, estava na frente do seu carrasco, Matias, empregado de confiança do meu pai, que com um facão de ponta afiado na mão, aplicou no pobre animal um golpe certeiro no pescoço. O boizinho, manso e “raposo” (cor cinza), com o susto da fisgada inopinada, quebrou a corda e saiu girando em círculo e esvaindo-se em sangue. Passou perto do carreiro “Juca”, que presenciava a cena e lambeu suas calças na altura do joelho direito como sinal de despedida. Continuou o giro para lamber o sal contido no cocho ao lado, enquanto o sangue jorrava com mais intensamente, até o seu tombo de morte. Foi um dia pesado.

............Nas terras férteis, as áreas derrubadas e queimadas eram preparadas e aproveitadas para o plantio de roças no período chuvoso de fim de ano. Antes desses preparativos, tiravam-se a lenha das árvores tombadas, murchas e sapecadas pelo fogo, para depois proceder o cultivo dos cereais, tais como: milho, feijão e verduras. O arroz era plantado nos brejos e a cana nos baixios. O campo era densamente povoado, produtivo e alegre. Homens, mulheres, jovens e crianças viviam do trabalho, obedientes, ordeiros, com simplicidade e vida sadia.

............Na véspera de cada dia, enchíamos o carro de lenha e deixávamos pronto para sair cedo no dia seguinte com destino à cidade, para vendê-la por melhor preço, que variava de dez a treze mil réis. Com esse dinheiro, comprávamos algumas encomendadas feitas pela minha mãe, como: café, sal, fósforo, querosene e outras bugigangas. A fazenda produzia quase tudo que necessitávamos e não havia necessidade de comprar muitas coisas.

............O resto do dinheiro era entregue ao meu pai. Também, tínhamos o nosso quinhão com a “lenha de banda” ou, “caixa 2”, comum nos nossos dias. Eu e o carreiro fazíamos dois feixes de lenha e amarrávamos dos lados “de fora” do carro para vender às pessoas de pouco poder aquisitivo na entrada da cidade, hoje bairro do Cintra. Cada feixe era vendido por um mil réis, para nossos gastos pessoais. Eu ficava com um mil réis e ele com o outro. Comprávamos doces, balas, pães e outras guloseimas. Era uma farra agradável e inesquecível. São tempos saudosos e de aprendizagem. Aprendi muito com essas aventuras e travessuras que conto minuciosamente no livro “Experiências de uma Vida”.


HOMENAGEM A KONSTANTIN:
O DOCE SABOR DA STEVIA
E O CANIVETE SUÍÇO

Karla Celene Campos
Cadeira N. 14
Patrono: Arthur Jardim Castro Gomes

............Um dia, numa entrevista num programa local de televisão, perguntaram ao grande mestre, médico e artista plástico Konstantin Christoff qual seria, para ele, o conceito de felicidade. Sorrindo como um menino, confessou que a felicidade para ele estava nas pequenas coisas.

............Sua resposta despertou sorrisos em mim, uma vez que vi confirmado, nas palavras experientes daquela admirável figura, o meu próprio conceito de felicidade.

............Para meu encantamento, acrescentou:

............“- Outro dia, vi escrito na embalagem de um adoçante que ele era feito de uma tal stevia. Que diabo é isso? Sabia que era uma planta, mas não a conhecia. Uma semana depois, andando pelo mercado central de Belo Horizonte, vi a tal folha de stevia. Roubei um pedacinho, levei à boca, mastiguei-a e... docinha, docinha... Rapaz, eu quase morri de tanta felicidade ao mascar aquela folhinha já quase seca...”

Continuou:

- “Noutro dia, ganhei de um amigo um canivete suíço... Olha, foram uns cinco dias da mais pura felicidade...”

............Não consegui escapar. Senti-me imediatamente seduzida pela espontaneidade do entrevistado, pela magia que vazava de sua figura de mago.

............Como consequência desse paraíso tão próximo, as palavras começaram a fechar um círculo à minha volta, apertando o cerco, gritando, exigindo que eu traduzisse, em versos, aquelas confissões... Transformá-las em poesia... E o poema saiu num rompante:

............Busquei / Mundo afora / A Dona Felicidade. / Mundo afora busquei / Pessoas que me dissessem onde mora / A tal Dona Felicidade. / Procurei por todo canto - / Aqui dentro / Lá fora / Num crescente de querer essa joia. / Busquei como louco, / Porque eu mereço / Conhecer-lhe o endereço! / Onde mora / Essa senhora?... / Dona Felicidade, / Onde mora?

............Até que um dia encontrei / Num mercado, / Um senhor que auscultava a Vida e a Arte / No cheiro das coisas / No cheiro de povo / No burburinho revelador da alma dos homens. / Ele então me falou / Que “a Felicidade está por toda parte./ Onde o simples habita e se faz sagrado../ Que a Felicidade está no cheiro da terra/ No doce sabor de uma folha de stevia / Numa banca de mercado.”

............Espalhando sorrisos pelas barbas brancas / Falou também que “a Felicidade / Está no homem que se faz menino,/ Na magia de quem se entrega / A compor um hino, / A pintar um quadro.../ Enganam-se os homens que pensam / Que Felicidade não é nada disso.../ Porque Felicidade / É como presente de amigo, / Presente que pode ser.../ Um simples canivete suíço.”


A BANDA DE MÚSICA DO 10º BATALHÃO

Lázaro Francisco Sena
Cadeira N. 4
Antônio Augusto Veloso (Desem)

............Para se falar sobre banda de música em nossa cidade, é bom fazer referência à Euterpe Montes-Clarense, criada por Da. Eva Bárbara Teixeira de Carvalho em 1857, cuja primeira apresentação em público aconteceu a 3 de julho daquele ano, durante os festejos de elevação da vila de Formigas à cidade de Montes Claros.

............Cem anos depois, em 1957, o Dr. Hermes de Paula, em sua monumental obra “Montes Claros, sua História, sua Gente e seus Costumes”, afirmou sobre a Euterpe: “A banda está bem organizada, com 25 figuras, instrumental todo novo e um diapasão único, com cadeiras e estantes portáteis individuais, dois uniformes, sendo um de gala.” E ainda: “A Euterpe Montes-Clarense está legalmente constituída, com estatutos registrados, e é amparada por uma diretoria externa sob a presidência do Sr. Hildeberto de Freitas.”

............Todavia, mesmo com o otimismo de nosso venerável historiador, a partir de 1957 não se tem mais notícias da Euterpe, a não ser do encerramento de suas atividades, ao completar um século de belas apresentações. É voz corrente dos mais antigos que ela teria sido absorvida pela nascente banda de música do 10º Batalhão - instalado em Montes Claros a 28 de julho de 1956 -, com aproveitamento de grande parte de seus integrantes, inclusive o regente Nadir Antônio da Cunha. Nada mais equivocado. É certo que o saudoso Sub-Tenente Nadir, ainda civil e muito jovem, assumiu a regência da Euterpe em Montes Claros, onde permaneceu até 1951, quando ingressou na Polícia Militar, em Belo Horizonte. Consta em seus registros pessoais que, em 1957, aquela banda estava inativa, e que teria sido reorganizada para os festejos comemorativos do centenário da cidade, com a sua participação. Conclui-se pois que, após esse evento, a banda se desfez e Montes Claros adotou aquela que veio a ser a sua substituta, sob os auspícios do 10º Batalhão da Polícia Militar.


Banda Euterpe Montes-Clarense, vendo-se, à esquerda, o jovem regente Nadir Antônio da Cunha, ao lado do ex-regente Augusto Teixeira de Carvalho.

............No programa das festividades comemorativas do primeiro aniversário de instalação do 10º Batalhão em Montes Claros, a 28 de julho de 1957, consta o toque de uma alvorada pela banda de corneteiros da Unidade, sem fazer referência a qualquer banda de música. Somente ao final daquele ano, sob o comando do então Major José Geraldo de Oliveira, foram adotadas providências efetivas para a criação da banda, como a transferência do Sargento Nadir Antônio da Cunha, do 6º Batalhão em Governador Valadares, para o 10° Batalhão, com a missão específica de ser o seu organizador e regente, aproveitando-se a sua experiência anterior com a Euterpe Montes-Clarense, além de ser possuidor de vários cursos de formação musical e de regência.

............Tomando a banda de corneteiros como embrião, o Sargento Nadir arregimentou voluntários aprendizes entre os Recrutas e constituiu a sua escola de formação musical em três turnos: pela manhã, instrução militar; à tarde, teoria musical; à noite, prática instrumental. O esforço empreendido na preparação dos músicos foi premiado com a aquisição, na cidade de São Paulo, de instrumental novo e completo para a Banda, compreendendo: 1 requinta, 6 clarinetas, 5 saxofones, 3 trompetes, 1 bugle,, 4 trombones, 3 trompas, 2 bombardinos, 1 bombo, 1 par de pratos, 1 tambor repique e 1 tambor surdo, além de uma bateria para “jazz band”. À época, em 17-07-58, foi designada uma comissão, sob a presidência do Major Maestro Sebastião Viana, da Orquestra Sinfônica da Polícia Militar, e integrada pelo Capitão Mário Simões Soares de Souza e pelo Tenente Agostinho Geraldo de Melo, ambos do 10º Batalhão, para examinar e emitir parecer sobre o material recebido, constatando-se que estava certo em quantidade e espécie, era novo e estava perfeito, servindo pois para o fim a que se destinava. Poucos dias depois, a 28 de julho de 1958, a Banda já se fazia presente nas solenidades comemorativas do segundo aniversário do Batalhão, inclusive com a apresentação de uma retreta, à noite, na Praça Coronel Ribeiro. Essa foi, sem dúvida, a primeira apresentação pública da Banda de Música do 10º Batalhão.


Banda de Música do 10º Batalhão, com uniforme de campanha, em sua
primeira constituição, destacando-se, em primeiro plano, o regente Sargento
Nadir Antônio da Cunha.

............Antes da vigência da Constituição do Brasil de l967, os Batalhões de Polícia tinham organização, características e procedimentos essencialmente militares, sendo portanto indispensável que possuíssem a sua própria banda de música, não só para abrilhantar as constantes solenidades cívico-militares, mas também para ser fator de integração comunitária com a população civil de sua circunscrição. Não era difícil, portanto, manter uma banda de música em cada Unidade, pois grande parte da tropa era aquartelada e disponível para os treinamentos específicos para sua principal missão constitucional. Mas foi pela Constituição de 1969 que se consolidou de vez a competência exclusiva da Polícia Militar para a execução do policiamento ostensivo fardado, tornando-se necessário que todo o seu efetivo fosse para o trabalho de rua. Daí que nenhuma banda foi mais criada, chegando-se ao ponto de extinguir algumas delas, em Belo Horizonte.

............A Banda de Música do 10º Batalhão, ao longo dos seus cinqüenta e três anos de criação e atividades, vem cumprindo fielmente a sua missão, não apenas na execução de hinos, canções e dobrados em solenidades cívico-militares, com a tropa do Batalhão ou junto a outras Unidades - até mesmo com o 55º Batalhão de Infantaria de Exército -, mas também em solenidades e festividades diversas em Montes Claros e região, tais como: festas de formatura em escolas, eventos festivos de modo geral, inclusive aniversários, concertos musicais, alvoradas, retretas em praça pública, festividades religiosas e folclóricas, dentre outras. Nos poucos intervalos em que não está empenhada em qualquer uma dessas atividades, a Banda cumpre uma rotina diária no quartel, que compreende ensaios gerais, de bancadas e estudos individuais e manutenção do instrumental, além da prática de educação física e treinamento técnico-profissional de segurança pública, pois, embora os seus integrantes tenham por base essencial a formação musical específica, mantêm-se como reserva para o serviço operacional, não sendo raras as vezes em que são empregados no policiamento ostensivo, para cumprir tarefas próprias dos seus postos e graduações. Aliás, o próprio uniforme do policial-militar músico não traz qualquer distintivo que o faça diferente de seus companheiros que trabalham no policiamento. Dessa forma, precisam estar aptos para o exercício da atividade básica da Polícia Militar, sempre que houver uma situação emergencial.


Banda de Música atual do 10º Batalhão, durante ensaio geral em sua sala
própria, sob a regência do Capitão Jomar de Sousa Santos, seu penúltimo
regente.

............As bandas militares, quando em treinamentos ou solenidades de tropa, adotam a formação em três ou em quatro colunas, dependendo do número de integrantes e instrumentos de que dispuser. A atual Banda do 10º Batalhão, sob a regência interina do Sub Tenente Roberto da Silva Dias, compõe-se de 25 policiais-militares, todos possuidores de cursos de formação musical e cursos específicos para as bancadas de instrumentos e para a graduação na carreira profissional,.assim distribuídos:

Trompete:
- 1º Sgt Luciano Xavier dos Santos,
- 3º Sgt Wilson Araújo Rodrigues,
- Sd Wanderson Silva Brito;

Clarineta:
- 1º Sgt Walace Alves Costa,
- 1º Sgt Josias da Silva Freitas,
- 2º Sgt Hebert Lenísio Costa,
- Cb Hudson José de Souza,
- Cb Geovanne Ribeiro de Souza,
- Cb Abmael Duarte,
- Sd Hernando Dias Guimarães Saraiva;

Sax Tenor:
- Sub Tem Jackson Moreira Duarte,
- 1º Sgt Carlos Alberto Vieira;

Sax Alto:
- 2º Sgt Ideílson Meireles Barbosa;

Sax Horn:
- 3º Sgt Ildenízio Meireles Barbosa;

Trombone:
- 1º Sgt Ricardo de Jesus Alves,
- Cb Washington Martins de Oliveira,
- Cb Marlen Porto Souza;

Bombardino:
- 3º Sgt Cláudio Ricardo Alves,
- 3º Sgt Brasilino de Jesus Alves;

Tuba:
- Cb Ronaldo Alves,
- Cb Wesley Ferreira Santos;

Percussão:
- 1º Sgt Antônio Márcio Reis do Nascimento,
- 1º Sgt Wellington Soares da Silva,
- 2º Sgt Eli Alves de Castro,
- Sd Aloísio Dourado Gomes.

............A história de uma banda de música se faz no dia-a-dia de suas apresentações, quer seja nos desfiles militares, quer seja nas festas de formatura, nas retretas e nos concertos, ou mesmo na comemoração de qualquer data festiva. São eventos incontáveis que vão se acumulando e se perdendo na inexorabilidade do tempo. Mas a Banda do 10º Batalhão teve os seus momentos singulares de sucesso que precisam ficar explicitamente registrados, para conhecimento e reverência da posteridade.

............O primeiro grande momento da Banda aconteceu na cidade de Pedra Azul-MG, sob a regência do Sgt Nadir, pouco tempo após a sua criação, quando foi homenageada pelos governadores de Minas e da Bahia, pela brilhante apresentação musical, com garbo e disciplina, durante os festejos de aniversário de emancipação política daquele município.

............Em abril de 1964, durante a permanência do 10º Batalhão em Brasília-DF, face ao movimento revolucionário que impediu a implantação do regime comunista no Brasil, sob a inspiração do governo cubano de Fidel Castro, a serviço da extinta e ditatorial

............União Soviética, a Banda de Música foi convidada pela TV Nacional, para apresentar uma retreta, em homenagem ao quarto aniversário de fundação daquela Capital. Ainda em Brasília, a 15 de abril daquele ano, a Banda participou das solenidades de posse do primeiro presidente do regime revolucionário, General Umberto de Alencar Castelo Branco - eleito pelo Congresso Nacional -, integrada com as Bandas do 12º Regimento de Infantaria de Belo Horizonte e da Guarda Presidencial de Brasília, participando também do desfile das tropas revolucionárias, em continência ao Presidente recém-empossado.

............O momento maior da Banda de Música do 10º Batalhão, até os dias atuais, talvez tenha sido a sua participação, em 1971, no programa Mineiros Frente a Frente, promovido pela TV Itacolomi, quando, representando a cidade de Montes Claros em final eletrizante com a Banda do 8º Batalhão de Lavras-MG, conquistou o primeiro lugar na competição, com reflexos positivos em todas as regiões do Estado. A música apresentada e vencedora foi a peça clássica Cavalaria Ligeira, de Franz Von Suppé, sob a regência do Sub Tenente Rivadálver de Oliveira.


Banda do 10º Batalhão na década de 1970, sob a regência do Sub Ten. Rivadálver
de Oliveira, durante a passagem de comando do Ten. Cel. Cícero
Magalhães para o Ten. Cel. Smith Valentino.

............A cidade de Montes Claros, nos últimos tempos, viveu um crescimento vertiginoso para os padrões regionais, exigindo também um aumento proporcional nos órgãos policiais. Dessa forma, o 10º Batalhão, que à época da criação da Banda, era a única e necessária unidade da Polícia Militar responsável pelo policiamento ostensivo, hoje divide essa responsabilidade com o 50º Batalhão, além de sediar também o Comando Regional, em nível superior, e outras unidades especializadas e de apoio, para o fiel cumprimento de sua missão específica. Mas a Banda, pelo menos por algum bom tempo e na consciência da nossa gente, continuará exclusiva do 10º Batalhão, mesmo porque, por uma questão logística, permanece ali instalada e escrevendo a sua história, através da leitura e interpretação das mais belas partituras musicais de seu rico acervo.


A CÉLEBRE JUSTIÇA DA VILA RISONHA
DE SÃO ROMÃO

Maria da Glória Caxito Mameluque
Cadeira N. 40
Patrono: Georgino Jorge de Souza

............Um dos capítulos do livro “De Vila Risonha a São Romão - história, tradições e lendas”, é dedicado à Justiça de São Romão. E uma das referências citadas é um texto do escritor Simeão Ribeiro Pires, no livro “Serra Geral - diamantes, garimpeiros e escravos”:

............“O arraial denominado Manga, Santo Antônio da Manga, São Romão ou Vila Risonha de São Romão surgiu nos primórdios do Séc. XVIII.

............Em 1720 implantou-se na povoação formada no local, já com muitos vizinhos, o Julgado do Rio São Francisco. Esclarecemos que Julgado tem a significação de sede da Justiça. Em São Romão era composta por dois juízes ordinários com alçada no civil, no crime e nos órfãos; um tabelião e um escrivão de órfãos e das execuções; inquiridor, contador e distribuidor; meirinho do Julgado e seu escrivão; meirinho do campo, também com seu escrivão. Todos eles providos pela Junta da Fazenda Real.

............Ela se tornou célebre e profundamente temida. Apenas pelo apanhado rápido das leituras, vamos citar casos explicativos, e por demais curiosos.

............Creio ter sido de Augusto Saint-Hilaire a narração do seguinte fato:

............Adentrara Saint-Hilaire por um dos recônditos da floresta do rio São Francisco, para herborizar, quando encontrou em lugar bem distante de São Romão, morando em uma tosca cabana, um solitário cidadão privado de todo o conforto e sem vizinhos.

............- Por que mora aqui? Perguntou Saint-Hilaire.

............- Estou correndo da justiça de São Romão - respondeu o homem, tremendo de medo ao ser interrogado.

............- Cometeste algum crime?

............- Não cometi crime algum. Estou correndo de medo da Justiça de São Romão. Ela persegue os inocentes de modo atroz.

............O engenheiro e escritor Geraldo Rocha (In O Rio São Francisco -págs. 242, 3 e 4) dá algumas narrativas da célebre Justiça da Vila Risonha de São Romão. Narra ele que a Justiça constituia uma das pragas almejadas aos inimigos pelos ribeirinhos do São Francisco. Acreditamos que a corrupção da aparelhagem judiciária daquela localidade tinha sido um dos fatores do seu aniquilamento.

............Correm de boca em boca. Por todo o vale do rio, anedotas desopilantes sobre a capacidade desmedida da Justiça de São Romão.

............Narra casos: Havia outrora um abastado fazendeiro, morador dentro de tal jurisdição e os juízes - em causa comum com os serventuários do Foro, que ardiam em desejos de fazerem-lhe de qualquer modo o inventário...

............Eis que, numa tarde, estava o velho e opulento à janela da casa de sua fazenda, quando, ao longe, avistou numerosa caval gada empoeirando toda a estrada e que se dirigia exatamente para a sua propriedade. Os recém chegados foram cordialmente saudados pelo fazendeiro e convidados a descerem de suas montarias. Mas a apresentação dos chegantes foi pronta e firme:

............- Somos a Justiça de São Romão!

............Tais palavras soaram como um tiro de canhão violento. A palidez tomou conta do morador, de sua família e de seus agregados.

............- Mas, vieram a que? - balbuciou o fazendeiro.

............- Tivemos notícia na Vila de que o senhor havia falecido e, prontamente, para estas situações, aqui estamos para fazer, com o devido zelo, o seu inventário.

............- Mas, minha Nossa Senhora, estou vivo e com boa saúde. Tal notícia é profundamente falsa, como todos os senhores podem notar.

............- Para nós tal argumento é secundário - retrucou o Juiz, um volumoso mulato grosso, quase sem pescoço.

............E sem mais aceitação de argumentos e comprovações no contraditório, baixou ali, frente a todos, seu veredicto final.

............- A Justiça de São Romão já se abalou nos conformes para esta diligência e ninguém, ninguém mesmo, poderá deter a Justiça de São Romão!

............E assim, narra a história, fizeram em vida o inventário do infeliz fazendeiro, com todos os detalhes dos seus bens, que legalmente passou a ser um morto vivo... deixando viúva e, mais, a ficar de mãos vazias no mundo dos viventes...

............Ainda é Geraldo Rocha que conta um outro caso bastante sugestivo da Justiça de São Romão:

............Os malvados Juízes do julgado de São Romão não se contentavam apenas em escorchar os moradores ribeirinhos. Assim aconteceu quando o Governo Imperial resolveu recolher os velhos patacões de cobre, ao tempo chamados de xem-xem, conforme denominação popular. Era, em termos de economia pública, um saneamento da moeda, pois o cobre de oitenta réis seria recunhado para quarenta réis.

............Pela sua privilegiada posição geográfica ao tempo da intensa navegação do Rio São Francisco, São Romão foi escolhida para ser a sede do recolhimento de todo o cobre na vasta região, e que, depois, por embarcações descendo o rio, seria levado para a cidade de Cachoeira, na Província da Bahia.

............Desnecessário dizer que a Justiça de São Romão, com toda a presteza, não perdeu tempo em recolher os velhos patacões, colocando-os em grandes pipas, costuradas em couro de boi pelas bordas, formando grandes e pesados surrões. Até que um dia, pelo volume assombroso dos recolhimentos, resolveram embarcá- los. Sem medir esforços, também a Justiça, antecipadamente mandara construir um grande ajoujo ( espécie de embarcação formada por duas ou três canoas emparelhadas) e deram-lhe o pomposo nome de Montanha. E quando a Montanha já estava cheia ao máximo dos surrões de cobre, foi posta a navegar para o porto de Cachoeira.

............Mas, no noticiário da época aconteceu uma grande tragédia, um grande imprevisto, uma desgraceira danada. Exatamente bem no meio do Rio São Francisco, em um ponto conhecido de todos como o mais profundo, a embarcação naufragou, sem que se conseguisse salvar coisa alguma, além da tripulação. A célebre malta de piratas da Justiça havia enchido, secretamente, todos os surrões de areia e pedra, ficando com todas as moedas para o seu próprio uso.

............Além dos fatos já narrados, centenas de outros ainda correntes pelas margens do São Francisco foram apenas lendários? Em maior investigação, documentada para validade de assuntos sérios, fizemos várias pesquisas, destacadamente em Revistas do Arquivo Público Mineiro. Assim documentadamente podemos afirmar:

............Pelo alvará régio de 1798, foi criada a Vila de Paracatu e, pelo mesmo alvará, também foi criado o cargo de Juiz de Fora, para o qual foi nomeado o doutor Gregório de Morais Navarro. Aboliu-se, com tal criação, o famoso Julgado de São Romão. Mas, da sua própria sede partiram vozes solicitando a manutenção de sua Justiça, em requerimentos datados de 1805:

............Os peticionários salientavam:

............. Gravíssimos prejuízos nos bens e negócios dos moradores;

............. Razões da distância em que passaria a ficar a Justiça em Paracatu, pois os moradores do Arraial ficariam longe cinquenta léguas. E os moradores de fora, oitenta léguas. Os confinantes com São Romão, na distância de cem léguas;

............. As exorbitantes despesas;

............. Dificuldades em utilizar os pleitos, pois notórias eram as deficiências na condução das testemunhas;

............. Sérias dificuldades para as causas dos órfãos, cujos patrimônios seriam dissipados, principalmente os de reduzidos valores;

............Por tais motivos, finalmente, as perdas dos feitos.

............O Juiz de Fora de Paracatu, chamado a opinar sobre o mérito dos requerentes, visando a volta do Julgado de São Romão, traz os seguintes argumentos que aqui vão resumidos.

............As razões da abolição do Julgado foram devidas:

............. À pequenez do Arraial;

............. Às injustiças e violências praticadas pelos juízes leigos, completamente ignorantes da matéria, em decisões que não se podem reparar ou corrigir;

............. Aos corregedores da Comarca que nunca iam ali;

............. À falta de homens habilitados para servirem à Justiça.

............Foram constatadas várias irregularidades na inspecção:

............- Houve um juiz leigo que, em um dia, devassou e inquiriu testemunhas no arraial de São Romão. No dia seguinte fez o mesmo no Brejo do Salgado, distante trinta léguas. No dia subseqüente, outra vez deu audiência em São Romão.

............Juízes que só admitiam o livramento de criminosos de morte, julgando-os livres, sem ao menos apelarem por parte da Justiça.

............- Os bens dos órfãos, defuntos, ausentes, capelas e irmandades eram considerados patrimônio dos juízes e escrivães, sendo que a maioria já havia morrido ou fugido, sem deixar com que indenizar os gravíssimos e incalculáveis prejuízos que causaram.

............- Solicitava ainda, que fosse bem examinada a conduta do juiz leigo, João Bernardes da Costa, que não sabia ler nem escrever e apenas desenhava o nome. Ao ser convidado a restituir cinqüenta mil réis que havia levado quando ali serviu de juiz, e porque apareceram outras pessoas cultas para o trabalho desta natureza, fugiu para a Bahia.

............- Deveria ser examinada a conduta do antigo Juiz leigo, Antônio Rodrigues Pereira, que ministrava a muitos e receava, com razão, que mandassem fazer um seqüestro geral em todos os seus bens, como indenização.

............E mais:

............No Município de São Romão, não há, presentemente, homem algum capaz de servir de Juiz.

............E finalmente: Pelas péssimas experiências de juízes ordinários e leigos, é bem melhor deixar como está, pois quase no total as decisões são ditadas pelo ódio e pela afeição.

............Melhor, bem melhor, criar Juízes de Fora, pois os Sertões de São Romão são quase desertos.

............Diante do exposto, podemos, tranqüilamente concluir: a Justiça do Julgado de São Romão... também chamada de Vila Risonha, foi uma farsa que durou muitos anos.”

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(Pires, 2001, pág. 279 a 284)
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TEREZINHA VASQUEZ

Marilene Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasquez

............A gente não escolhe nascer em uma família, em uma cidade, em um país, e nesta coincidência da vida, feita através de um propósito, que foge ao nosso entendimento, o meu patrono foi uma escolha deste tipo, seu nome: Terezinha Vasques.

............Recebi a indicação, cadeira nº 95, e indaguei-me? Quem será? Como um filho não questiona a sua escolha, sinto-me feliz por tê-la como patrono e procurarei honrá-la, conhecer a sua obra... Qual o seu propósito? É ser reconhecida?Desenvolver a capacidade de aprender sempre? Saber que não sabe? Ser humilde? Enfrentar o medo da mudança? Ser capaz de inspirar pessoas? Projetos e situações? Esta busca eu procurei fazer, conhecendo a sua obra, através do seu livro “Grão Mogol”, junto com o escritor Jorge Lasmar, porque através dele, tomei conhecimento do seu pensamento!

............Terei que distinguir o que é urgente do que é mais importante, para traçar o perfil de Terezinha Vasques, professora, escritora, mãe, esposa, amiga e nada melhor do que o relato de sua filha Cecília Beatriz Vasques, que num desabafo, lutava pela vida da mãe, como pude constatar, num depoimento de um pedido de oração...

............Juntando fragmentos procurarei ser fiel à sua imagem, conhecerei a sua vida e procurarei retratá-la... Distinguirei o que é essencial e enxergarei o outro, não como estranho, mas como alguém próximo...

............Terezinha Vasquez nasceu em Grão Mogol, cidade no Norte do Estado de Minas Gerais, zona de Itacambira. Seus Pais: Washington Barbosa de Araújo e Maria Nunes Carvalho. Filhos: Maria do Socorro, Cecília Beatriz, Bernadette, Ronaldo e Geraldo Flávio.

............É a eterna professora que sempre ensinou com alegria e esperança Atenta à boa filosofia da Educação, soube harmonizar as melhores técnicas da pedagogia para ensinar, aceitando “ o novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo”. Aprendeu que o “critério de recusa ao velho não é apenas cronológico”, que preserva sua validade ou que encarna uma tradição, ou marca presença no tempo e continua novo.

............Lecionou no Instituto de Educação de Minas Gerais em todos os graus. Especialista em Educação, tendo-se aposentado como professora da Faculdade de Educação da Universidade de Minas gerais. Bacharel em Direito pelas faculdades Milton Campos. Advogada, Coordenadora da Área de pedagogia empresarial do CEPEMG ( Centro Estadual de Pesquisas Educacional de Minas Gerais).

............Coautora do Livro Grão Mogol, juntamente com Jorge Lasmar, juntos preservam o passado de Grão Mogol, para o conhecimento de futuras gerações.

............A extração do diamante, o Distrito Diamantino, Itacambira e o Arraial da Serra pertencem a História das Minas Gerais e não podem ficar nas paginas de livros esquecidos ou empoeirados nas bibliotecas.

............A Estrada Real é uma realidade. Existe fundamento histórico para incluir Grão Mogol no seu trajeto. Terezinha Vasquez e Jorge Lasmar fizeram levantamentos históricos e genealógicos buscando assinalar as condições turísticas, tanto comerciais e culturais, para oferecer a oportunidade de conhecer melhor o Estado e o próprio Brasil.

............De vez em quando não entendemos nada, o porquê das coisas e elas nos levam ao encontro de outras pessoas, que com sua presença silenciosa, nos faz sentir, sem palavras, como, estamos acompanhados, e é assim que me sinto ao tê-la Terezinha Vasquez, como patrono, nesta escolha providencial, alguém que gostou da Arte, da Cultura, que lutou pelos valores eternos, que foi fiel à sua família, a sua religião, aos seus ideais e foi querida pelos seus...

............Não poderia ser agraciada com melhor escolha, e hoje presto a minha homenagem a você Terezinha Vasques, como patrono da cadeira 95 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

............As palavras às vezes são pequenas demais para atingirem o nosso coração e exprimir com exatidão os nossos pensamentos e é por isso que a sua procura, a sua colocação torna-se uma tarefa difícil, quando gostaríamos de falar com a alma, com um sentimento verdadeiro...

............Terezinha, falar de você, da sua missão, da sua vida, dos seus valores, só posso dizer do seu amor, da sua fé, da sua coragem, do seu trabalho, que consegui compreender através do depoimento de sua filha Cecília.

 

Saudade sim, tristeza não

............A todos que hoje aqui comparecem para este momento de prece, movidos pelo mesmo sentimento, todo o nosso carinho e gratidão.

............A saudade será por certo, simplesmente momentos de terna espera, porque a VIDA É eterna.

............Que a fé no Amor Infinito e na Misericórdia Divina nos fortaleça sempre, e que toda essa nossa saudade não se vista nunca de tristeza.

............Que o mesmo céu que se abriu para que ela ainda mais se iluminasse, esteja velando sempre por sobre os nossos caminhos, consolando-nos e enviando-nos sinais e bênçãos, iluminando-nos com entendimento e resignação.

............Acalentando-nos com Perpétuos Socorros de nossa Mãe celestial em nossos momentos de fraqueza e dúvida.

............Perfumando-nos como as delicadas pétalas das tão escolhidas rosas, da sua tão amada Santa Terezinha; que a fazia assim na fé, cada dia mais bela e radiante, como os jardins multicoloridos dos céus e da terra, nesta plena, eterna e incansável primavera celestial, onde agora estás certamente rodeada de muitas flores, como sempre gostou, e se fez estar.

............Pelo poder do imenso Amor e Fé em Deus de nosso amantíssimo São Geraldo, que sempre a corou de graça, confiança, simplicidade, e alegria, sabendo-a talvez sua mais fiel mensageira de sorrisos e esperanças tão próprios de Deus.

............Pela inquebrantável força do Rosário, que a levava todos os dias, um pouco mais para pertinho de Deus sob a doçura do olhar de Nossa Senhora de Fátima.

............E por dom e carisma de sua própria bondade e caridade, inegavelmente hoje você desliza inefável, acolhida sob o manto de sua querida e inseparável mãe, Nossa Santa Senhora Aparecida, (como a tantos você mesma acolheu e consolou incansavelmente enquanto por aqui esteve) percorrendo luminosa, abençoada, coroada por sua fé e inocência inabaláveis, caminhos para nós ainda desconhecidos, mas dos quais estejamos sempre certos você soube como poucos, mostrar a sublime direção.

............Esteja em plena paz, mãe, irmã, avó, tia, cunhada, sogra, colega, professora, amiga, vizinha, conhecida, querida, sem deixar nunca este seu jeito de silenciosa coragem, de contida meditação nas orações, de festiva anfitriã ou convidada, de comunicativa agitação em eventos e trabalhos, nossa loira e bonita menina de Grão Mogol.

............Inesquecivelmente linda, doce, delicada, sensível e cheia de Graça para todos nós, muitas indizíveis felicidades por todo o sempre é o que lhe desejamos de coração ainda em recuperação.

............Esteja para sempre guardada e guardando-nos carinhosa, nos Sagrados Corações de Jesus e Maria, de todo o mal, inveja e desamor.

............Por tudo e por todos, o nosso muito obrigada pela oportunidade feliz que Deus nos concedeu, de poder tê-la tido adornando de entusiasmo vivo nossa convivência nesta vida.

............Por seus olhos, seus sorrisos, sua presença, seus passos abrindo nossos caminhos. Seja infinitamente feliz junto aos nossos saudosos que já partiram, e que por fim, reencontra.

............Siga na Paz de Cristo!

............Juntando seu canto ao de sua inseparável “Corte Celestial “, cuja Santidade vislumbrava já e ainda nesta terra com humilde convicção, e que tanto amou e a tantos fez amar espalhando suas devoções.

............Continuaremos a amá-la na lembrança permanentemente intacta ,e na esperança do glorioso dia, escolhido por Deus, para nosso feliz reencontro.

............Paz, Amor e Bem !

............Beijos muitíssimos saudosos de todos nós, inesquecível mãe, inesquecível Té.

............Terezinha Vasques

............... e não se esqueça de os repartir com tia Maria, que talvez tenha partido um pouquinho antes para enfim poder, pela primeira vez, agradecida preparar a sua recepção em sua nova morada.

“Particularmente não creio ser a morte vontade de Deus , mas resigno-me na fé da verdade de que ainda não chegamos aos tempos da total perfeição da Nova Jerusalém aqui na terra . Aceitar é o que nos cabe , nos deve , nos coloca ao lado do Pai , mesmo sem a total compreensão ainda. Só Deus sabe o porquê de todas as coisas e é na inabalável confiança nele que me consolo”

............Cecília Beatriz Vasques - Belo Horizonte/MG. - 01/11/2005

............Procurei, não em uma palavra fria, mas no meu coração, na minha alma, algo que pudesse expressar a minha gratidão, a minha admiração, o meu reconhecimento, por ter lutado por valores eternos, que ficassem perpetuados, após a sua vida, e encontrei a sua fé. Fé em Deus, fé em Maria, fé aos santos que a ajudaram a realizar os seus sonhos em um mundo carente de devoção, tão materialista, e pobre de sentimentos nobres...

............Terezinha Vasques, a sua bandeira, foi a amizade, a solidariedade, a educação, a paz, o predomínio dos valores eternos aos valores efêmeros. O homem que está a procura de um bem maior, alguém com que possa contar, nas horas difíceis e incertas, naquele que busca uma maior compreensão do seu verdadeiro papel no mundo, encontrou em você um porto seguro.

............A nossa parte material passa, você encontrou o equilíbrio, na parte espiritual, que é imortal... Deus, na sua infinita misericórdia, precisava de você e agora entre as estrelas, no meio dos astros, constelações, entre os planetas, em outra galáxia, brilha como uma estrela maior, como um farol, longe de guerras, maremotos, terremotos, tsunamis, radiações, crimes, disputas pelo poder, em um mundo finito, que esqueceu-se de Deus!...


O TURISMO E O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓ-
GICO: Uma Possibilidade de Desenvolvimento
Sustentável.

Marta Verônica Vasconcelos Leite
Cadeira N. 17
Patrono: Auguste de Saint Hillaire

RESUMO

Thiago Pereira2

............O artigo busca abordar o patrimônio arqueológico e a atividade turística como possibilidade de desenvolvimento sustentável para comunidades e seus visitantes.O turismo, no caso pode funcionar como motivador para manutenção da identidade local através da preservação dos seus bens patrimoniais, sendo uma das grandes alternativas econômicas para os núcleos urbanos do norte de Minas Gerais, possuidores destes acervos culturais.

Palavras-Chaves: Patrimônio arqueológico - Preservação- Turismo - Desenvolvimento Sustentável.

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1 - Professora Mestre da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES e orientadora do trabalho.
2 - Acadêmico de História pela Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES e bolsista ICV - Iniciação Cientifica Voluntária UNIMONTES.
E-mail: thiagog144@hotmail.com

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INTRODUÇÃO

............O que é e como estudar a Pré-história? Necessário se faz pesquisar os sítios arqueológicos, tanto os ameaçados de destruição como os bem preservados. A região norte do estado de Minas Gerais foi tomada como exemplificação, para exposição das considerações gerais a respeito do patrimônio pré-histórico, a partir da metodologia de Micro-história com seus procedimentos. O pesquisar se dá desde as grandes prospecções a perguntas iniciais: como o sítio pré-histórico se formou? Como pintavam as paredes? O que comiam seus habitantes? Que caminhos percorreram até aqui? São exemplos de perguntas que movem as pesquisas.

............Para o estudo do passado, é necessário o acesso a ele, e no caso do passado pré-histórico, necessita se basicamente dos vestígios materiais e tem sido grande a destruição do patrimônio arqueológico, os sambaquis que tem servido de matéria-prima para diversas obras da construção civil, agricultura ou sítios abandonados pelo poder público.

............O futuro dos sítios arqueológicos pré-históricos da região norte mineira e de todo o país depende do envolvimento da comunidade na valorização deste passado como parte da própria história. Essa atitude é fundamental para a preservação do bem patrimonial, por fortalecer a noção de pertencimento do indivíduo, de ser parte de algo maior, o coletivo. Alguns conceitos serão necessários para a compreensão do desafio dos estudos e a possibilidade do turismo planejado para contribuição de sua preservação, geração de recursos e bem-estar dos moradores do seu entorno ou mesmo dos turistas que o visitam.

1. BRASIL RUPESTRE: Possibilidades para o Turismo

............De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), turismo pode ser definido como deslocamento e atividades que as pessoas realizam durante as suas viagens com permanências em lugares que não são os que moram; motivadas pelo lazer, eventos, compras e outros. Vários são os motivos que movem as pessoas a fazer turismo: busca de lazer, descanso, resgate de suas raízes, contato com a natureza, curiosidade por culturas diferentes, compras, participação em eventos e congressos, práticas esportivas como Olimpíadas, copas do mundo e crenças e fé.(referência)

............O turista visita os atrativos e tem a necessidade de alimentação, hospedagem, transportes, realizar compras, presentes. Como exemplificação, se o turista se hospeda no hotel, este tem a necessidade de comprar o pão, o leite na padaria para servir o café da manhã; as carnes no açougue e estes geram impostos que podem ser aplicados para o bem estar da comunidade (melhorias de praças, parques, saúde e educação), gerando melhorias tanto para os moradores quanto para os visitantes. Turismo arqueológico pré-histórico é o conjunto de atividades desenvolvidas no meio de lugares denominados de sítios pré-históricos, promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade, desde que cercado de cuidados e embasado por um trabalho de educação patrimonial.

2. PRÉ-HISTÓRIA: Conceitos, Sítios e referências

............A começar pela denominação empregada aos povos que habitavam o território do atual Brasil, é necessário conceituar o período da Pré-história. Para Vainfas (2007), a história indígena é composta por enganos e incompreensões como o vocabulário construído no Ocidente para a identificação desses povos. A palavra “índio”, que é consagrada na atualidade, deriva do equívoco de Cristovão Colombo, que acreditava ter chegado às Índias, ou seja, empregou-se o termo “índio” para designar uma infinidade de grupos étnicos com diversos troncos linguisticos. A necessidade de considerações como estas, ocorre por trata-se da Pré-história e o emprego das divisões territoriais que foram construídas posteriormente, com a chegada dos portugueses no Brasil em 1500 e demais europeus por toda a América.

............Os conceitos de Pré-história na Europa e na América diferem, sendo que na Europa o conceito é definido como referência ao período da história humana, anterior à escrita, ou seja, do aparecimento do homem aos primeiros ideogramas cerca de 3.500 a.C. Para Funari e Noelli (2006), na América, generalizou-se o termo como todo o período anterior a 1492, porque os europeus chamaram sua presença de história e reservaram ao período anterior, o termo Pré-história, apesar de que, atualmente, sabe-se que povos como os Maias, da região do atual México e América Central, possuíam espécie de escrita, bem elaborada e os incas, que desenvolveram um sistema de cordas para o registro de eventos, os denominados quipos.

............Apesar dessas considerações, generalizou-se o uso do termo Pré-história, o qual se é empregado de forma crítica e para sistematização dos estudos do período que antecede aos europeus e utilizando, inclusive relatos de viajantes e suas crônicas para apontamentos dos povos encontrados nos “descobrimentos”. Quando se busca conhecer as sociedades indígenas desaparecidas, quase não se dispõe de textos escritos da forma que é concebida atualmente, nem de métodos antropológicos e sociológicos, como a observação. Dependendo, dos vestígios materiais deixados por estes povos, porque as sociedades ameríndias que sobreviveram à atualidade são reduzidas e se modificaram demasiadamente, para adequação ao território brasileiro.

............No século XIX, a América do Sul era uma região pouco conhecida do mundo e muitos viajantes europeus estiveram em terras brasileiras como Von Martius e Auguste Saint-Hiliare, Charles Darwin. Além de que, ocorreram os primeiros estudos dos vestígios arqueológicos. O naturalista dinamarquês Peter Lund, realizou pesquisas na região de Lagoa Santa, Minas Gerais em 1843, onde foram encontrados em uma série de grutas, restos humanos junto a animais extintos. O dinamarquês convocou o desenhista e pintor norueguês Andreas Brandt para registrar suas pesquisas e escavações. Em 21 de abril de 1843, a mesma data que há 343 anos antes, o escrivão Pero Vaz de Caminha relatara ao rei de Portugal sobre a terra “descoberta”. Peter Lund descobriu os ossos fossilizados de homens pré-históricos. Nas publicações, o naturalista desde aquela época, demonstrou a preocupação de preservar os sítios arqueológicos. Pelo seu legado é considerado o pai da Paleontologia e da Arqueologia brasileiras, deixou seus bens em testamento para o filho adotivo e seus empregados, mas seu maior legado ficou doado à ciência: mais de 40 livros e inúmeros trabalhos de caráter cientifico sobre a fauna e flora brasileira.


Os estudos de Peter Lund registrado pelo pintor Andreas Brandt, século XIX.
Fonte: Prefeitura de Lagoa Santa - MG
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............Algumas outras pesquisas aconteceram ao longo do século XIX, somente para encontrar objetos. Apenas na segunda metade do século XX, com a arqueologia implantada no país, inicialmente sob orientação de pesquisadores e estudiosos da França e dos Estados Unidos da América entre os anos de 1950 a 1960, e posteriormente, com programas independentes realizados por pioneiros formados por esses mestres estrangeiros é que ocorreram significativos avanços. Na década de 1960, o Projeto Nacional de Pesquisa Arqueológica (PRONAPA), buscou elaborar um quadro preliminar da Pré-História dos estados litorâneos, indo do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, a partir de sondagens rápidas e prospecções. As principais “tradições” atuais foram identificadas a partir deste trabalho e continuam sendo reconhecidas. (referência)


Quadro (mapa) com as principais tradições rupestres do país. Fonte: GASPAR,
Madur. A arte rupestre no Brasil.(data)

............Houve um crescimento dos pesquisadores a partir dos anos 1980, e atualmente a maior parte das pesquisas são de equipes brasileiras, apesar de que ainda há regiões que não possuem pesquisadores. Nos anos 1980 houve ainda um significativo avanço: a criação da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB).

2.1. A Contribuição da Antropologia para conhecimento e estudos da pré-história na região norte do estado de Minas Gerais.

............O homem primitivo no Norte de Minas deixou seus registros no que se denominam pinturas ou inscrições rupestres - designações mais populares, presentes por vários municípios da região, nos painéis têm figuras sem maiores mistérios como outras mais complexas. De acordo com o arqueólogo André Prous citado por Campos (1983, p, 48) a maioria das sinalizações rupestres norte mineiras tem ente 4 a 6 mil anos a.C. Abordando temas como a caça de animais reproduzidos nas superfícies das rochas, armadilhas, os chamados jequis; animais como veados, onças, tatus, cutias, jacarés e aves. Os peixes ocupam lugar importante na temática geral próximo aos rios. As figuras antropomorfas - representações humanas, geralmente possuem traços lineares; motivos geométricos (linhas retas, horizontais, verticais e paralelas, interrompidas ou quebradas, simples ou duplas). Há também círculos, simples ou concêntricos, espirais, retângulos e triângulos, os motivos astronômicos.

............Segundo o antropólogo Costa (1997), a região que atualmente é compreendida como o norte de Minas, no período de ocupação e povoamento do território pelos bandeirantes era habitada por nações indígenas Tapuias e Caiapós, que possuíam sua própria cultura, vivendo da caça, pesca, coletas e cultivos de algumas espécies vegetais. No século XVIII, em confrontos com os integrantes das bandeiras, foram mortos, escravizados ou expulsos da região. O antropólogo afirma ainda que baianos e paulistas capitaneados pelos bandeirantes Matias Cardoso e Fernão Dias Paes Leme demandaram para o norte de Minas na busca de pedras preciosas e aprisionamentos de indígenas, o que tornou possível o estabelecimento do homem branco com a ocupação do território a partir de três formas diferenciadas: as constituições de grandes fazendas dedicadas à criação do gado, a mineração em localidades como Grão-Mogol e Jequitaí, e em muitos destes lugares, ocorreu as duas formas juntas. A população que circulava por esta região foi gradualmente exterminada ou banida, porém seus registros e de povos ainda mais antigos, permanecem em toda a região.

3. JUSTIFICATIVA DE PROTEÇÃO E GESTÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO: Considerações da 9ª Assembléia Geral de Lausanne, 1990.

............De acordo com a carta internacional de Lasanne, Suíça em 1990, é de fundamental importância para toda a humanidade o conhecimento das origens e desenvolvimento das sociedades humanas, por possibilitar o reconhecimento das nossas raízes culturais e sociais. O patrimônio arqueológico seria um testemunho essencial das atividades humanas do passado, o que implica na sua preservação e gestão, permitindo a arqueólogos, historiadores, geógrafos e outros estudiosos se posicionarem em benefício das gerações atuais e as vindouras.

............A proteção deste patrimônio não pode se dá exclusivamente de técnicas da arqueologia, mas em uma base mais ampla do conhecimento e de competências profissionais e científicas. O patrimônio arqueológico pré-histórico é uma riqueza cultural frágil e não renovável e sua política de proteção deve ser articulada com o planejamento econômico, da cultura e do meio ambiente em níveis nacional, regional e local, a criação de reservas arqueológicas é uma possibilidade.

............A participação da comunidade deve ser integrante da política de conservação, sendo essencial o acesso ao conhecimento deste patrimônio, o que de acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHAN/MG), (2008), são quatro as etapas da educação patrimonial, esta integrante da política de proteção: a observação, o registro, a pesquisa e a apropriação.

............A proteção do patrimônio arqueológico constitui em uma obrigação moral para cada indivíduo, mas também é uma responsabilidade do poder público, que deve ser expressa em uma legislação que garanta fundos suficientes para financiamento de programas eficientes, garantindo sua conservação a partir das necessidades históricas e das tradições de cada país.

4. NORTE DE MINAS GERAIS: Sugestão para a prática de Turismo Sustentável.

............A cultura é o conjunto de modos de agir, costumes e valores de um grupo social. A cultura de um povo mostra seu modo de vida e expressões como danças, saberes, ritos, literatura. Para Aranha (1993), são os modos de agir, os costumes, as belezas e ritos, culinárias, celebrações, as danças e tradições. Existe a possibilidade da vinculação de uma cidade com a preservação do patrimônio cultural, entendendo a cidade como fórum privilegiado de decisões e planejamento local, o turismo é percebido como uma das significantes alternativas para viabilizar o desenvolvimento local.

............A atividade turística possibilita a troca do conhecimento, porque seus praticantes viajam para conhecer os diferentes modos de vida, além de intercâmbios de valores. Uma preocupação com o turismo é que o mesmo altere os modos de vida e o patrimônio cultural, o que para a historiadora francesa Choay (2001) deve ser pensado de forma planejada. A autora aponta efeitos negativos do turismo empregado de forma desarticulada em cidades italianas como Florença e Veneza, além de exemplificar a cidade antiga de Kyoto, capital do Japão, que se degrada a cada dia e o caso do Egito, onde foi necessário fechar os túmulos do Vale dos Reis. O turismo deve ser pensado como conseqüência de um planejamento e articulação dos muitos setores da sociedade, necessitando ser entendido como turismo para o desenvolvimento sustentável.

............O conceito de desenvolvimento sustentável foi originado na década de 1960 e 1970, no modelo de Ignacy Sachs, voltado para o fomento das potencialidades sociais, sendo estas econômicas ou não, de cada país ou região e ultrapassando questões naturais, para o alcance de questões sociais. Para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), desenvolvimento sustentável se dá na utilização dos recursos naturais para fins sociais, de modo a garantir as necessidades das gerações atuais, sem prejudicar as futuras, objetivando pontos como: integração e conservação da natureza e desenvolvimento, satisfazer as necessidades humanas fundamentais e respeitar a diversidade cultural.

............O que ainda de acordo com o IBAMA (2008), o conceito pode ser vago, e gerar controvérsias já que um ponto seria a satisfação das necessidades fundamentais, e, por exemplo, a economia seria uma destas necessidades, que traria um impasse, entre o padrão vigente e uma nova proposta de desenvolvimento, mas que seria natural do próprio ser humano, possuidor de sua dicotomia. Na atualidade o conceito de desenvolvimento sustentável compreende à múltiplas óticas e demonstra o debate ecológico cada vez mais presente, dentre elas, a sustentabilidade cultural que busca o respeito a diferentes formações culturais como as indígenas da Pré-história, propondo não conflito dos vestígios destas sociedades, mas soluções do seu potencial. (referência)

............O objetivo destas considerações neste trabalho é o uso da educação como instrumento de fomento e diálogo com a comunidade do entorno ou inserida nos limites de sítios das cidades norte mineiras, para que a população obtenha uma situação em que a sustentabilidade das condições gerais de vida, auxilie na preservação, minimizando as pressões sobre o patrimônio arqueológico que quase sempre o é, arqueológico e natural e em muitas vezes, paleontológico. Para se pensar na realidade do patrimônio arqueológico no Brasil, tem-se que considerar a educação, que é um aprimoramento do homem naquilo que pode ser aprendido e recriado de diferentes formas, de acordo com a necessidade de uma sociedade.

4.1 Jequitaí - MG

............O estado de Minas Gerais possui uma federação de circuitos turísticos para incentivar o conhecimento da sua história, seus atrativos e os próprios circuitos turísticos definidos nas regiões do estado. A cidade de Jequitaí está localizada na região norte, a 93 km da cidade de Montes Claros, pólo regional e a 415 km de Belo Horizonte, MG, é servida pela rodovia federal BR 365. A cidade é uma das 08 que integram o circuito turístico Serra do Cabral.


Quadro com o mapa do Circuito Turístico Mineiro Serra do Cabral.
Fonte: FECITUR - Federação dos Circuitos Turísticos do Estado de Minas Gerais.

............Com vegetação típica do cerrado e significativa quantidade de pinturas rupestres, pode atrair botânicos, historiadores, arqueólogos e naturalistas amadores de todo o país. São mais de dez sítios catalogados no sistema de gerenciamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).


Representação de zoomorfo na Lapa Pintada de Jequitaí - MG.
Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2008.

............Jequitaí pode utilizar seus recursos naturais no entorno da Lapa Pintada, que já são conhecidos pelos seus moradores, para atrair turistas de outras regiões. Mas é necessário, estruturas como placas de sinalizações, melhorias na estrada que leva ao rio, porque parte dela próximo a Lapa Pintada não é pavimentada, o que torna empecilho em tempos de chuvas ou mesmo pela poeira.


Grupo de amigos às margens do rio Jequitaí. Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2008.

............Ao longo do rio Jequitaí, tem-se paisagens propícias para fotografias ou mesmo o chamado turismo de contemplação, trechos do rio para banho e caminhadas.


Paisagem do entorno do sítio arqueológico da Lapa Pintada, Jequitaí - MG. Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2010.


Moradores de Jequitaí - MG em banho no rio. Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago
Pereira, 2008.

............Por estes motivos, deve-se ter um conjunto amplo e organizado de procedimentos desde o trabalho com a educação patrimonial, a pesquisas arqueológicas e um trabalho de divulgação do patrimônio arqueológico, culminando na preservação destes bens portadores de valores que dão sentido a identidade da comunidade local.


Grupo de amigos às margens do rio Jequitaí.
Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2008.

4.2 - Capitão Enéas - MG

............O município de Capitão Enéas está localizado no norte do estado, a 66 km da cidade de Montes Claros - MG e a 492 km de Belo Horizonte, MG, é servido pela rodovia federal BR 122.


A cidade possui vias largas, o que pode ser facilitador para visitantes. Fonte:
Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2009.

............Integra o circuito turístico Sertão Gerais, o que a torna de fácil acesso, por ser próxima a Montes Claros, cidade pólo que é servida de serviços fundamentais para o turismo como aeroporto e rede hoteleira. Capitão Enéas possui significativo patrimônio arqueológico.


Quadro com o mapa do Circuito Turístico Sertão Gerais. Fonte: FECITUR - Federação dos Circuitos Turísticos do Estado de Minas Gerais.

............Pode-se investir nas potencialidades do seu patrimônio natural e cultural, necessitando melhorias nas estradas que levam ao distrito de Santana da Serra, com suas importantes figuras rupestres e demais vestígios materiais possíveis de existirem.


Trecho da estrada para o distrito de Santana da Serra, Capitão Enéas - MG.
Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2009.

............O município necessita investir em ações de educação patrimonial para que seus moradores conheçam seu acervo arqueológico e seja ao lado do poder público, seu guardião.


Gruta do Mercado, no distrito de Santa da Serra, Capitão Enéas - MG. Fonte:
Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2009.

............Segundo Campos (1983), desde a década de 1980, o descaso com o acervo arqueológico de Capitão Enéas - MG tem permitido a depredação e o desaparecimento de precioso material para estudos do norte de Minas.


Representação de antropomorfo e zoomorfo na Gruta do Mercado de Capitão
Enéas - MG. Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2009.

............Em visita às grutas, em 13 de junho de 1979, o naturalista amador encontrou pedaços de cerâmica espalhados pelo chão, que necessitariam de análises e pesquisas. Naquela época, havia uma escada improvisada na Lapa de Santo Antônio, sítio arqueológico que junto com a Gruta do Mercado, estão localizados em terras particulares. Em visita técnica de 2009 de alunos do curso de Publicidade das Faculdades Pitágoras de Montes Claros - FIPMOC e aluno do curso de História da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, constatou-se a mesma realidade descrita por Campos (1983), uma escada improvisada, para visualização das pinturas rupestres na parte superior do paredão da Lapa de Santo Antônio, o que também possibilita o vandalismo. Para divulgação deste patrimônio, será necessário estruturar os sítios para visitação, bem como, articulação entre o poder público local com os proprietários da fazenda para receber os visitantes, além, de cursos para guias e equipamento de segurança.


Grupo da visita técnica a convite da administração municipal. Fonte: Arquivo
Pessoal de Thiago Pereira, 2009.

............A equipe da visita técnica sob orientação das professoras Marta Verônica Vasconcelos Leite e Maria de Lourdes Maia, desenvolveu uma pesquisa de opinião pública, em que se constatou um desconhecimento por parte da população de seu patrimônio arqueológico, embora quase todos os entrevistados demonstrassem já ter ouvido falar sobre a existência deste acervo cultural no município. A cidade de Capitão Enéas - MG possui todas estas possibilidades, havendo investimentos, melhorias na qualidade de vida da população local naturalmente atrairão visitantes, trazendo um desenvolvimento articulado com a preservação dos bens citados, portadores de referências à essa gente.


Gruta de Santo Antônio, na mesma propriedade que se encontra a Gruta do
Mercado, distrito de Santana da Serra, Capitão Enéas - MG. Fonte: Arquivo
Pessoal de Thiago Pereira, 2009.

1.4 - O TURISMO ARTICULADO: Alternativa de viabilizar o desenvolvimento local.

............Para Simão (2001), o papel da preservação do patrimônio cultural, que inclui o arqueológico, extrapola nos dias atuais, os limites da história e da memória, por cumprir papel econômico e social, ou seja, pesquisar sobre a preservação cultural e compreender esses estudos, implica em esvendar as características culturais, mas também avaliar possibilidades de ampliação do leque das atividades econômicas dos municípios possuidores de acervos culturais.

............É possível vincular a vitalidade da cidade com a preservação do patrimônio cultural, nesta perspectiva o turismo é visto como fonte e alternativa para viabilizar o desenvolvimento local. O crescimento do turismo e das indústrias ligadas ao lazer tem reforçado as cidades como pólos de compras e cultura, tornando uma base consolidada para o resgate do passado, estruturas para melhorias e qualidade de vida.

............Este entendimento se dá na própria atividade turística como motivadora da manutenção da identidade local e dos bens patrimoniais portadores destes valores.

............Com o objetivo de referenciar as pesquisas somadas ao desenvolvimento sustentável, foi escolhido o trabalho da Fundação do Museu do Homem Americano (FUMDHAM) no Parque Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, PI, considerado exemplo e precursor da proteção cultural e arqueológica internacional, como modelo de preservação incansável e bem sucedida, que ao longo dos últimos 35 anos vem sendo estudados pela equipe da arqueóloga Niède Guidon; que obteve reconhecimento da importância dos sítios que pertencem aos povos pioneiros que há milênios habitaram a região de São Raimundo Nonato - PI, a ponto de ser tombado pelo Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas (UNESCO) em 1991, como patrimônio da humanidade; em nível nacional como Parque da Serra da Capivara que ocupa uma área de 214 km. Considerado o parque nacional detentor da melhor infra-estrutura de toda a América do Sul.

............O trabalho de inclusão social realizada pela mesma equipe da arqueóloga Niède Guidon, onde os moradores da região assumem parte da responsabilidade de manutenção do parque turístico que tem capacidade de atrair 3 milhões de pessoas ao ano, gerando assim riqueza e qualidade de vida para a população
local se dá através da FUMDHAM, criada no ano de 1986, como entidade cientifica, filantrópica, sociedade civil, sem fins lucrativos e de utilidade pública.

............Recentemente, a pesquisadora recebeu a medalha comemorativa do 60º aniversário da UNESCO, pelas mãos do presidente da instituição, Francesco Bandarin em Joanesburgo, África do Sul, pelo trabalho de divulgação e preservação do patrimônio cultural representado pela arte rupestre brasileira, especialmente da Serra da Capivara.

............A região norte do estado de Minas Gerais pode aprender com esta iniciativa bem sucedida no sudeste do Piauí e tornar-se área consolidada de pesquisas e do turismo arqueológico do estado e do país. Uma conquista recente destes estudos na região, foi a inauguração da primeira etapa das obras do parque estadual da Lapa Grande, que de acordo com o Instituto Estadual de Florestas - IEF, foi criado em 2004 pelo decreto estadual de número 44.204 com área de aproximadamente 7.000 hectares em Montes Claros - MG, tendo como objetivos, a proteção e a conservação do complexo de grutas e abrigos da área delimitada do parque, abrigando extenso patrimônio natural e arqueológico, formado por grutas com destaque para a Lapa de mesmo nome do parque com aproximadamente 2,2 km de extensão.

............A administração é feita em parceria com a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) como já ocorre no Parque estadual do Rola-Moça, que abriga os mananciais que abastecem a região do Barreiro, em Belo Horizonte - MG. A unidade é uma das mais importantes para a conservação do patrimônio natural, arqueológico, cultural e histórico de Minas Gerais, abrigando cerca de 50 grutas e 47 sítios rupestres, além de reunir diversidade de espécies da fauna e da flora, e possuir mananciais e nascentes como a do rio Pai João que é responsável por 40% do abastecimento da população de Montes Claros - MG.

............As ações e administração do parque têm dentre seus parceiros, a Universidade Estadual de Montes Claros,(UNIMONTES), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Secretaria municipal de educação de Montes Claros - MG. Inicialmente o parque receberá visitas que já estão em fase de agendamento prévio tendo como prioridade a educação ambiental, que deverá contar com a participação de estudantes, professores, pesquisadores e demais interessados. As visitas deverão ter grupos de 10 a 30 integrantes, e como primeiras medidas: foi elaborado e iniciado um projeto pedagógico pelo departamento de Geo-ciências da UNIMONTES oferecido por sistema on line para professores de 10 escolas municipais próximas ao parque. A carga horária prevista é de 180 horas/aulas, divididas em seis módulos, sendo que 03 já foram ministrados.

............Os temas variam de “Gestão ambiental”, “Biodiversidade” a “Usos das tecnologias de informação”, tendo noções de informática e “Resgate histórico”, até março de 2011, serão ministrados os outros 03 restantes, dentre eles “Espeleologia e Arqueologia”, o que de acordo com a gerente do parque, Aneliza Almeida Miranda Mello, o projeto trará resultados multiplicadores. Todos estes avanços no parque estadual da Lapa Grande servirão como incentivo as outras cidades da região, possuidoras de patrimônios semelhantes, por Montes Claros ser pólo da região, poderá servir de modelo para articulação de desenvolvimento sustentável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

............Os resultados preliminares de pesquisa sobre o patrimônio arqueológico regional, a partir da Micro-história que definiu Jequitaí como exemplificação demonstra que a região norte de Minas Gerais possui grande potencialidade para os estudos arqueológicos, com áreas conhecidas a nível internacional como o Parque nacional Vale do Peruaçu, mas também por áreas não tão conhecidas e necessitadas de políticas públicas efetivas como Jequitaí e Capitão Enéas, não esquecendo que a UNIMONTES, a UFMG e a Universidade de São Paulo (USP) têm desempenhado estudos significativos na região, necessitando ainda da conscientização das administrações municipais para esses importantes acervos.

............Os sítios pré-históricos do norte de Minas fazem parte do patrimônio cultural do país, integram à identidade dos diferentes povos que compõem a sociedade brasileira, percebe-se a necessidade de novos estudos e pesquisas, articulados à proposta de educação patrimonial, porque não basta sistematizar estudos restritos a academia como abordam as diretrizes da carta de Lausane, 1990, deve-se extrapolar as técnicas da arqueologia, articulando pesquisas com a comunidade e assim, servir ao social. A proposta da pesquisa sobre o patrimônio arqueológico regional é uma pesquisa acadêmica, o que de acordo com Maria Clara Migliacio, diretora do centro nacional de Arqueologia do IPHAN, apenas 10% das pesquisas arqueológicas e pré-históricas no Brasil, é de motivação acadêmica, enquanto os 90% restantes, representam projetos da chamada Arqueologia de contrato, necessária para se evitar perdas nas construções de rodovias e barragens, portanto ainda estamos longe do ideal.

............Essa pesquisa acadêmica trabalha com a possibilidade de estudo regional, podendo ser este um projeto piloto para outras cidades norte mineiras como Jequitaí e Capitão Enéas.

............Não esquecendo as diferenças de realidades dos municípios e suas diversidades culturais, possuidores de sítios de valores arqueológicos do período da Pré-história, mas nem sempre conscientes do valor que esses acervos significam para sua própria história.


REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.

BESSA, Altamiro Mol. Preservação do Patrimônio Cultural: nossas casas e cidades, uma herança para o futuro! Belo Horizonte: CREA-MG, 2004.

BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA; Secretaria de estado de Turismo do Paraná. Cartilha de Orientação: Turismo. Curitiba: Secretaria de estado de Turismo, 2006.

BRASIL, IBAMA; Superintendência do Rio de Janeiro. Educação ambiental e gestão participativa em unidades de conservação. 3ªed. Rio de Janeiro: IBAMA/NEA, 2008.

CAMPOS, Leonardo Álvares da Silva. O homem na Pré-História do Norte de Minas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1983.

Carta de Lausanne sobre a protecção do patrimônio arqueológico (1990). Lisboa: ICOMOS, 2006.

CHOAY, Françoise. Alegoria do Patrimônio. Tradução de Luciano Vieira Machado. São Paulo: Editora Estação Liberdade Ltda. Título Original: L’allegórie Du Patrimoine. 2006.

COSTA, João Batista de Almeida. Cultura Sertaneja: A conjugação de Lógicas Diferenciadas. In: Trabalho, Cultura e Sociedade no Norte/Nordeste de Minas. Considerações a partir das Ciências Sociais. Montes Claros: Best Comunicação e Markenting, 1997. p. 77 - 95.

FRANÇA, Júnia Lessa. Manual para Normatização e Publicações Técnico-Científicas. 8ª ed. Belo Horizonte: ed. UFMG, 2007.

FUNARI, Pedro Paulo; NOELLI, Francisco Silva. Pré-história do Brasil. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2006.

FUNDAÇÃO MUSEU DO HOMEM AMERICANO. Disponível em http://www.fumdham.org.br. Acessado em 29 de maio, 2010.

GASPAR, Madur. A arte rupestre no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 2003.

HETZEL, Bia. Pré-História do Brasil. Barueri: Manati, 2007.

IEF - Instituto Estadual de Floresta. Disponível em http:// www.ief.mg.gov.br. Acessado em 05 de jan. 2011.

IEPHA/MG. Diretrizes para a Proteção do Patrimônio Cultural.
Belo Horizonte: IEPHA/MG, 2008.

Prefeitura de Lagoa Santa - MG. Disponível em http://www. lagoasanta.mg.gov.br/historialund.php. Acessado em 18 de Set. 2010.

REVISTA da FEICITUR - Federação dos Circuitos Turísticos do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: FEICITUR, ed. 01 de mar. 2010.

SIMÃO, Maria Cristina Rocha. Preservação do Patrimônio cultural em cidades. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2001. VAINFAS, Ronaldo. História Indígena: 500 anos de despovoamento. In: Brasil 500 Anos de Povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 35 - 59.

UNIMONTES - Universidade Estadual de Montes Claros. Disponível em http://www.unimontes.


DOUTOR COUTINHO

Milene Coutinho Maurício
Cadeira N. 02
Patrono: Alfredo de Souza Coutinho

............À semelhança daquelas pessoas que se comprazem no revirar seu passado, reviro o meu. Fatos e gente, tanta vez entrelaçados, aquelas imagens do ontem trazido para agora, digo e aceito que o quadro é um respiradouro para o espírito, cansado ou não. Olhe o farol.

............Tempo de escola, vejam bem o quadro... aquela meninada! Meu chefe, coincidentemente um homem que nos aperta as mãos e sorri para nos fazer crescer. Desta vez, eu procurava uma pessoa de presença realmente muito marcante e precisei de ajuda para desenhá-la. Encontrei sua filha Milene, que me liberou seus préstimos e a quem devo agradecer pela ajuda clara para eu registrar um pouco sobre meu grande mestre.

Luís Veloso

............Era esta a simplificação para o nome do nosso diretor Alfredo de Souza Coutinho. Ele, um raro somatório de boas qualidades, aliadas a uma invejável modéstia; na escola dirigida, o reflexo de muito esforço, de competência e amor à causa.

............Aqui, estou falando de um educandário chamado Ginásio Municipal de Montes Claros e da pessoa que lhe gerenciou as estradas, durante meus quatro anos de estudante no primeiro ciclo secundário, este uma figura didática de reconhecido valor. Mas vieram as modas e o belo instrumento foi abolido em favor de outras denominações para alternativas diferentes. Contudo, reconheço que 1945 -1946 -1947 e 1948 marcaram-me uma respeitosa convivência, sobremaneira construtiva, ao lado e à sombra de alguém devotado ao trabalho que abraçara: educar, formar cidadanias.

............Filho do casal Augusto de Souza Coutinho e Júlia de Freitas Guimarães Coutinho, o menino Alfredo nasceu na antiga Vila Rica em 26 de maio de 1896. Aos dois anos, acompanhou a família em mudança para Belo Horizonte, tendo, aí, feito o curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e secundário no Colégio Estadual. Em 1919, doutorou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais.

............Veio de longe para Montes Claros. Considerados os equipamentos para transporte disponíveis naquelas épocas, englobando-se as “estradas de rodagem”, as distâncias cresciam em significado. De Belo Horizonte a Montes Claros, viagem de trem, mundo civilizado com locomotiva a vapor, dezenove horas de paciência. Mas o doutor andou um pouco mais de chão e voltou para ficar.

............Primeiro, em 1920, foi nomeado Promotor de Justiça para Rio Pardo de Minas, onde exerceu o cargo pelo período de dois anos, tendo ocorrido sua transferência para Montes Claros. Nesta cidade, continuou no posto por mais um ano, quando decidiu por abrir um escritório de advocacia.

............Aqui, enamorou-se da terra e de uma donzela, casou-se, constituiu família e firmou caminho profissional e político.

............Em 25 de julho de 1925, uniu-se, em matrimônio, com Maria Antonieta Ribeiro Nascimento, daí originando-se a plêiade formada pelos filhos: Célia do Nascimento Coutinho, Maria Luiza Coutinho, Milena Antonieta Coutinho, Antônio Augusto Coutinho, Alfredo de Souza Coutinho Filho e Fernando Rodrigo de Souza Coutinho.

............No mundo político, foi vereador, Presidente da Câmara e Chefe do Executivo Municipal no governo Antonio Carlos.

............Em 3 de maio de 1928, juntava-se à Câmara Municipal, na posição de mais votado entre os vereadores. E, percorrendo seu currículo de atividades, um registro importante informa que o Dr. Alfredo Coutinho coordenou as atividades situacionistas locais, durante um dos episódios mais significativos em futuras e não muito distantes adequações institucionais brasileiras: a Revolução de 30. Embora partidário da Aliança Liberal, parte não vitoriosa do embate, sua postura nobre e firme conseguiu que, fato consumado, alguns revolucionários exaltados deixassem de praticar atitudes menos civilizadas.

............Em 1939, recebeu convite da Mitra Diocesana para soerguer e dirigir o primeiro estabelecimento de ensino secundário do Norte de Minas, o Ginásio Municipal de Montes Claros, prestes a fechar-se naquela ocasião. Recuperou a instituição e, por 11 anos, foi seu diretor.

............Homem de atividades múltiplas, ocupou diferentes cargos de relevo em Montes Claros:

............Foi um dos fundadores e Presidente do Clube Montes Claros, em 1928. Elaborou os estatutos desse clube.

............Foi Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Montes Claros e da II Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil.

............Presidente da Liga de Futebol e Fundador/Presidente do “União Esporte Clube”.

............Vice-Presidente do diretório do Partido Progressista. Durante sete anos, foi professor da Escola Normal Oficial de Montes Claros, onde lecionava Português, Francês e Literatura Brasileira.

............É Patrono da academia Montesclarense de Letras, cadeira número 8, que já esteve ocupada por seu genro João Valle Mauricio.

............É nome de Avenida em Montes Claros.

............É nome de Escola Municipal em Montes Claros.

............De sua atividade como prefeito (1928 a 1931), ficaram marcos consagrados como :

............- Criação de várias escolas municipais.

............- Ereção de estátua em homenagem a Francisco Sá.

............Em 1954, foi Chefe de Gabinete do então prefeito Enéas Mineiro de Souza.

............A advocacia foi seu exercício durante muitos anos e nunca perdeu uma causa.

***

............Como dirigente máximo do Ginásio Municipal, mestre Coutinho ofereceu oportunidade para que a Sociedade viesse a conhecer sadios procedimentos de administração, ausentes daquelas tecnocracias parcas em seu contexto de fertilidade, porém arrogantes nos cacoetes de apresentação ao público usuário. Às Boas-vindas do primeiro contato seguia-se um tratamento civilizado e respeitoso para alunos, pais de alunos, professores e serventuários.

............Pontualidade era questão de honra e não somente encontradiça no Diretor e na Secretaria, mas em todo o conjunto educativo. Não faltava professor na sala de aula, porque o próprio Dr. Coutinho se apresentava como substituto eventual naquelas matérias que lhe eram afins. Quando Dona Joaninha, professora de Inglês, teve de se afastar por contingências, imediatamente lá estava o padre Gilberto a cobrir-lhe as faltas definitivas.

............Aos domingos pela manhã, num hábito sistemático, lá estava o Dr. Coutinho no pátio do Ginásio a enfileirar grupo de alunos para uma caminhada até a missa na Igreja do Rosário. Ida e volta, disciplinadamente.

............Também o sábado não ficava de fora, cabendo-lhe um ritual de grande significado: o Grêmio Lítero-Esportivo. Às nove horas, o salão já estava arrumado e pronto para o exercício intelectual da estudantada. Poemas eram declamados e peças oratórias eram ouvidas para o realçar de algum acontecimento novo mais importante, ou datas históricas. O 13 de maio guardava sua folhinha marcada.

............Era mais trabalho para o diretor, que se encarregava de gerenciar o esquema de cada encontro, didaticamente auscultando as indicações da plateia, inclusive na indicação de nomes para desenvolverem papéis na sessão vindoura. Nomear a mesa diretora do Grêmio foi, durante alguns anos, não digamos um privilégio, senão um dever de quem supervisionava todo o esquema. E, aí, mais uma grandeza humana e educadora do Dr. Coutinho.
Vale contar.

............No início de 1948, os alunos do Ginásio deixaram crepitar a intenção de, excluído qualquer gesto de rebeldia, assumirem a gerência global do Grêmio, inclusive escolhendo os componentes da mesa diretora. Nosso amigo professor recebeu a idéia, digeriu-a com carinho e, através daquelas nuvens cor de rosa, enxergou mais uma abertura para liberar seu potencial formador de cidadania.

............Um sucesso! Anônimo como convém aos nobres de alma.

............Rigoroso na ética disciplinar, Dr. Coutinho tinha filho adotivo em cada um de seus alunos. Zelava por todos os ginasianos e não escondia cuidados. Pelas meninas, então... Pois aconteceu que uma delas, ao caminhar na varanda assoalhada do prédio e olhar para baixo, saiu gritando e fazendo denúncia gravíssima: lá embaixo, havia alguém de cara virada p’ra cima e, naturalmente, querendo ver o que não devia. Resultou dessa aventura um memorando muito bem escrito, no qual o rapaz ficava punido com uma suspensão de 15 dias.

............O rapazola tomou o trem para Bocaiuva, foi-se embora para cumprir a temporada, porém o coração e o cérebro do Dr. Coutinho combinaram um arranjo e, bem mais cedo do que constava na sentença, mandaram o aviso: Pode voltar.

***

............Além da linguagem bem nutrida quando estava conversando e da escorreita frase escrita em seus documentos, nosso diretor também passeava com liberdade franca pelo versejar. Aliás, tais predicados costumam aflorar robustos nas pessoas nutridas em Rui Barbosa, Machado de Assis, Castro Alves e vizinhanças afins.

............Vamos a um exemplo.

GINASIANO

Alfredo S. Coutinho

Ama a Deus sobre todas as coisas.
-- Estima teu mestre e respeita a autoridade
Dentro da justiça.
-- Sê amigo do próximo e de todos os colegas:
Terá sempre um cumprimento cordial para
Eles e para os teus professores.
--Esforça-te por ser um perfeito cavalheiro:
No traje, nas atitudes, nos gestos e na
Linguagem, dentro e fora do ginásio.
-- Respeita os direitos alheios e terás
Respeitados os teus.
-- Não fujas à responsabilidade dos teus atos
E nunca te acovardes.
-- Não depredes a propriedade alheia:
Trata-a com o mesmo respeito com que
Tratas os teus próprios interesses.
-- Ama a liberdade e procura gozá-la
Dentro da ordem e da disciplina.

 

............Aí, pequena amostra de carinho do mestre aos seus alunos, filhos adotivos.

***

............A conclusão do meu período ginasial em 1948 coincidiu com o encerramento das atividades do Ginásio Municipal. Transferi-me para Belo Horizonte a fim de continuar estudos e eu não pude ou não soube evitar que as mudanças cumprissem seu trivial papel no distanciamento de pessoas com bom relacionamento mútuo.

............Por sua vez, o ponto final do Ginásio mostrou clareiras abertas nos campos advocatício e político para Dr. Coutinho. Prestou serviços à comunidade nas lides profissionais e chegou a posição importante na administração municipal.

............Depois de sessenta anos de uma vida íntegra e exemplar, faleceu em Belo Horizonte, no dia 17 de setembro de 1956.

***

............Bom exemplo não dá cansaço e este relato vai acabar andando mais um pouco. O caso de agora ocorreu fora das lides escolares, está bem ligado ao lado profissional, mas tem lá o seu cheirinho educativo. Acontecia de Montes Claros, em final dos anos quarenta, ter duas casas de ensino cujos alunos ouviam ruídos de que os diretores, ambos advogados, não se alinhavam bem. Verdade ou não, assim era o clima, muito embora completamente pacífico.

............Dr. João Luiz de Almeida, diretor do Instituto Norte Mineiro de Educação, era advogado defensor de um cidadão para atuar num júri de data marcada. A época do episódio, meio nebulosa para mim, foi nas proximidades de 1947, mais tardar 1948, meu derradeiro ano de morar em Montes Claros. Do contrário, eu não seria assistente.

............Parecia trivial, porque se tratava de um embate judicial em que a defesa de alguém estava entregue a um profissional respeitado no assunto. Contudo, as expectativas vestiam indumentária diversa. Alguma lacuna deveria existir lá pelo lado oficial da Justiça, que estava a requerer um promotor “de ocasião”, cujo encargo recaiu sobre o Dr. Coutinho. Formado esse quadro, curiosos e interessados alunos/torcedores de um lado e outro marcaram presença na hora do julgamento. Espera ansiosa. Tão logo o juiz considerou-se apetrechado para iniciar a sessão, a palavra foi dada ao Dr. Coutinho e este, sem teatro nem trejeitos, abriu a documentação, leu algumas partes e deixou bem claro não haver encontrado motivos para pedir a condenação.

............Em silêncio, o mundo se enriqueceu de grandeza.


A menina Clarice

Miriam Carvalho
Cadeira N. 88
Patrono: Plínio Ribeiro dos Santos

............Escrever como se fala, eis a tarefa que se coloca a escritora, a querida Maria Jacy Ribeiro, autora do texto literário-infantil Clara, Clarice, Clarinha. Captando realidades do repertorio folclórico, em especial do Norte de Minas, numa comunicação sensível e direta, a autora acaba entrando para o mundo da poesia onde as regras são ditadas pela projeção do encantatório e uso das modalidades folclóricas: a parlenda, a cantiga de roda, ciranda, adivinha, como decifração de um enigma, as travessuras verbais das aves, representando a lenga-lenga da voz dos bichos, a referência aos catopés, marujos, caboclinho e pastorinhas. O livro compõe-se de uma sucessão de elementos das produções orais e populares.

............Clara, Clarice, Clarinha é uma simbiose feita de colagens, citações, referências das quais fazem parte as matrizes textuais em diálogo. Uma das mais conhecidas é aquela que vem dos contos de fada “Era uma vez uma menina...” Expressão que indica por onde começar, imprimindo, desde o inicio da narrativa, (o nascimento de Clarinha), a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso.

............O livro é, por assim dizer, uma proposta de fusão, marcado pelo encantamento da tradição popular, pela riqueza de imagens e jogos sentidos existentes na poesia que vem do povo. E Maria Jacy quer mostrar como os traços da cultura popular na narrativa interagem, simultaneamente, num intercâmbio de palavras reiteradas sob forma de refrões. Um exemplo:

“Amanhã ela vem!”
“Amanhã ela vem!”

............E a percepção da escritora, voltada para essa realidade, nos remete ao fascinante jogo de imagens, apontando para as variedades sonoras das palavras, das rimas, dos estribilhos, das quadras, tudo que é tradicionalmente cultivado pelo povo e que serve para expressar a alma infantil.

“Você gosta de mim, ó Clarice
Eu também gosto de você, ó Clarice
Vou pedir ao seu pai, ó Clarice,
Pra casar com você, ó Clarice...”

............Criando uma personagem singularmente marcada pela docilidade, a autora cria um elo de cumplicidade de dentro e fora do livro com todos aqueles que se sentem naturalmente à vontade no mundo da infância. Assim, ela lança mão da personagem Clarice que se define mais pelos atributos do que pelas ações e vem, às vezes, evocada por outras vozes sob forma de refrão:

“Amanhã ela vem!
Amanhã ela vem!”

............Lembrando Carlos Drummond de Andrade, Vai Carlos ser gauche na vida, a personagem Clarice é apontada para o oposto da situação - Ser gauche na vida: Vai, Clarice ser ternura na vida. Esta qualidade básica - ternura - define o título do livro, elaborado a partir da tríade: Clara - Clarice - Clarinha. O nome sob uma cadência rítmica cumpre dentro do livro a função de representar a imagem de admiração pelas coisas contidas no folclore. É Clarice, com uma mãozinha fofa apontando:

- “Cadê o toucinho que eu botei aqui”
- “Gato comeu”

Mais adiante, reforça a interpretação analógica de ser luz - “E cadê a luz que eu coloquei aqui?”. Brincando com o ato de escrever, a autora recorre às adivinhações, parlendas e às cantigas de roda, num resgate da poesia oralizante de velha tradição popular. E participando do mundo de Clarice, os seres da natureza, sob formas da onomatopéia, criam no texto tonalidades rítmica e de fácil memorização, imprimindo na narrativa marcas de imagens folclóricas.

Assim o sabiá implorava:

“Volte logo, Clarice
Volte logo, Clarice.
Eu estou tão triste
Eu estou tão triste”
“Fogo acabô
Tudo acabô
Tudo acabô
E o cocá
Tô fraco
Tô fraco
Tô fraco
Tô fraco
E o sofrê
Sofrê, prá que?
Sofrê, prá que?”

............Já se afirmou que enfrentar a oralidade é pôr em crise os tradicionais discursos literários. É imaginar um novo modo de narrar e de escrever. Narrar no mesmo tom e compasso do viver-escreviver de tal forma que não haja mais distância entre quem narra, o que narra e quem lê. Esta sintonia, a escritora alcançou pela sua contínua experiência em reciclagem, molecando na Fazenda Cabeça Torta em Pedra Azul, aprendendo a movimentar o jogo das palavras. “Nessa fluidez, da matéria imaginativa, a ilustração de Claudio Martins aponta para novos contextos verbo-visuais, entre o olho que vê e o que lê, imprevisíveis ao leitor.” E agora, meus amigos, fiquemos com as brincadeiras rimadas, exultemos com o temperamento poético de Clarice, e deixemos dar razão à criança que nos revela a ciranda da infância, ou cantemos como os seresteiros, entregando-nos de corpo e alma às encantações da linguagem da escritora, estrela-amante de Montes Claros, Maria Jacy Ribeiro.


ANÁLISE DE COMPORTAMENTO
EM “TUTAMEIA”

Petrônio Braz
Cadeira Nº 18
Patrono: Brasiliano Braz

............Busca-se aqui uma análise psicoliterária das motivações de um conto da última obra do imortal Guimarães Rosa, o grande Viator, o criador de uma linguagem de laboratório, como quer Peregrino Júnior, “com a sábia utilização da extraordinária capacidade de conhecer idiomas que detinha, mas também na sua estrutura íntima de criador da estru¬tura da ficção brasileira”. Olhando, como disse Levy Carneiro, “o manto diáfano da fantasia”, que ele viveu e escreveu “com profundo sentimento de solidariedade humana” ou “trabalhando a palavra até o sacrifício”, como afirmou Afonso Arinos, inovando sem destruir, em absoluto contraste com Mário de Andrade.

............Com Guimarães Rosa o Brasil deixou de ser uma província cultural no sentido spengleriano como acerta¬damente sustenta Assis Brasil. Muito se tem de debruçar sobre a obra de Guimarães Rosa, como afirmou Austregésilo de Athayde no seu discurso de adeus ao imortal dos imortais, “para a percepção da genialidade que dele transluz, no vigor das intuições viris que perpassam por tantas páginas de SAGARANA a TUTAMEIA com enigmas propostos à curiosidade e ciência das gerações”.

............Não será só em TUTAMEIA, de Guimarães Rosa, nem em NOITE, de Érico Veríssimo, que os enigmas se apresentam vivos a exigir propostas à curiosidade e ciência das gerações. Apesar da crise por que passa a literatura brasileira, depois de Guimarães Rosa, como atesta Assis Brasil, muitas são as obras literárias dignas de lugar de destaque no conceito da geração presente.

............Literatura enquanto arte é pouco razão e muita fantasia, mas fantasia do imaginário em busca do real. É da divagação pura e simples que nasce a dinâmica da imaginação, onde o real e o imaginário convivem de forma convergente como fatores determinantes da criação literária. Dentro dessa conceituação genérica toda literatura de ficção será uma psicoliteratura, sem que seja necessário extrair-se da exegese do seu conteúdo deduções freudianas. Da obra de Augusto dos Anjos se escreveria um trata¬do
psíquico-exegético e o fundo psicológico se assenta no acervo de Machado de Assis, voltado para a pessoa, tendo o espírito como condutor do comportamento humano. Todo texto literário, como quer Irene Sampaio, advém da dinâmica criadora, que se instala na intimidade psíquica do autor.

............Qualquer leitor bem avisado pode adentrar através da observação introspectiva de um personagem, fruto da criação de um autor, explicações para seu comportamento e, através dele, do comportamento do próprio autor, sem necessidade de buscar em Descartes, Leibniz ou Spinoza o socorro da metafísica, colocando-se no absoluto para deduzir daí o comportamento humano.

............Em toda obra literária, como quer Freud, está presente uma relação entre o autor e o seu próprio devaneio, pois a alma humana, dizia Leibniz, como produto desen-volvido de inúmeros elementos, é o espelho do mundo.

............Na primeira leitura de TUTAMEIA, preocupado com o enredo, escapou-me a percepção dos fatores de comportamento dos habitantes de “Barra da Vaca” ante a presença de Jeremoavo. Das quarenta histórias de TUTAMEIA destaquei “Barra da Vaca” para o presente trabalho, que ouso dar à luz da publicidade.

Sucedeu então vir o grande sujeito entrando no lugar, capiau de muito longínquo: tirado à arreata o cavalo raposo, que mancara, apontava de noroeste, pisando o arenoso. Seus bigodes ou a rustiquez - roupa parda, botinões de couro de anta, chapéu toda a aba - causavam riso e susto. Tomou fôlego, feito burro entesa orelhas, ao avistar um fiapo de povo mais a rua, imponente invenção humana. Tinha vergonha de frente e de perfil, todo mundo viu, devia também alentar internas desordens no espírito. Sem jeito de acabar de chegar, se escorou a uma porta, desusado forasteiro. Requeria, pagados, comida e pouso, com frases pálidas, se discerniu por nome Jeremoavo. Mesmo lá a Domenha, da pensão, o velho deu à aldrava. Desalongou-se, porém, e - de tal sorte que dos lados dobrava em losango as coxas e pernas de gafanhoto - se amoleceu, sem serenar os olhos.

............Era, pela descrição, Jeremoavo (nome por ele colhido provavelmente em Euclides da Cunha: Jeremoabo) um indivíduo alto (sucedeu então vir o grande sujeito), de pernas longas (pernas de gafanhoto), de onde se pressupõe possuía, como componente do corpo, braços longos. Pelas ca¬racterísticas descritas pelo autor-narrador e, segundo Kretschmer, dentro de sua teoria tipológica do comportamento humano, que o Autor necessariamente conhecia por sua condição de médico e pela invejável cultura geral, indicado ficou que era Jeremoavo taciturno e pouco comunicativo, de comportamento tímido e insociável, incluindo-se no tipo ectomorfo de Sheldon, de personalidade introvertida. Protegido pela sugestão do prestígio ou da influência que um ou mais elementos exercem sobre o comportamento social, Jeremoavo foi sendo aceito pela comunidade.

Representando homem de bem e posses, quando por mais não fora, a ele razão era devida. Se’o Vanvães disse, determinou. Visitaramno.

............A hipótese levantada de ser Jeremoavo um jagunço de Antônio Dó, nascida por acaso, de comentário indefinido, como estímulo ou impulso promove uma agitação coletiva excitando emoções variadas como fenômeno consciente e dinâmico dos motivos que, por seu turno, excita o sur¬gimento de uma frustração social.

............Sem donde se saber, teve-se aí sobre ele a notícia. Era bravo jagunço! Um famoso, perigoso. Alguém disse. Se estarreceu a Barra da Vaca, fria, ficada sem conselho. Somente alto e forte, seria um jerê, par de Antônio Dó, homem de peleja. Encolhido modorroso, agora, mas desfadigando podendo-se desmarcar, em qualquer repêlo, tufava. Se’o Vanvães disse a Seo Astórgio, que a Seô Abril, que a Seô Cordeiro, que a seu Cipuca: - “Que fazer!? - nessas novas ocasiões. Se assentou que, por ora mais o honrassem.

............Uma excitação sobre outra desenvolvida conduz à fantasia coletiva da imaginação de ser Jeremoavo um jagunço bravo e famoso, conclusão que lhe dava a condição de homem perigoso. O prestígio, decorrente da hipótese, estabeleceu uma forçada facilitação social para sua perma¬nência na Barra da Vaca, sob custódia.

............Se’o Vanvães, dada a mão, levou-o a conhecer a Barra da Vaca - o rio era largo, defronte - povoação desguardada, no desbravio. Seo Astérgio convido-o. Esti¬mou a boa respondência, por agrado e por respeito.

............A frustração, como processo de interação, antecedeu à hostilidade, num crescendo. Sua permanência provocava suspeita.

............Não aluía dali, porque patrulho espião, que esperava bando de outros, para estrepolirem.

............O estado psíquico, pela narrativa de flagrante, nasce com a própria naturalidade do conto, onde os estados mentais se multiplicam a cada instante. Aqui se confirma o conceito de emoção emitido por Woodworth como um estado de agitação do organismo, nascido de um impulso consciente, que leva a uma atitude definida. Sua perma¬nência incomodava, mas continuava a receber obséquios, pois nada tinham conscientemente contra ele. Não existiam motivos reais, mas de forma inconsciente, e Freud afirmou que os motivos são quase sempre inconscientes, confa¬bularam um modo de se livrarem dele.

E aquela aldeiazinha produziu uma ideia.

............A hostilidade não levou a uma brutal agressão, mas a prevalência do comportamento social determinado por impulsões inativas, como quer McDougall, ou por reflexos prepotentes se ficarmos com Allport, definiu a supremacia do instinto de conservação sobre a razão. Em evidência “a primeira lei da natureza”, que levou à rejeição, um dos seis mais importantes reflexos prepotentes identificados por Allport, produzindo a inconformidade com a presença do intruso. Negligenciada a consciência, como querem os behavioristas, o comportamento dos habitantes de Barra da Vaca foi instintivo, por motivo inconsciente, conduzido pela necessidade coletiva de autodefesa.

............Ocorre, então, como disse Afonso Arinos, “o frêmito coletivo e trágico da vida heroica”.

............De pescaria, à rede, furupa, a festa, assaz cachaças, com honra o chamaram, enganaram-lhe o juízo. Jeremoavo, vai, foi. O rio era um sol de paraíso. Tão certo. Tão bêbado, depois, logo do outro lado o deixaram, debaixo de sombra. Tinham passado também, quietíssimo, o cavalo raposo.

............Fazendo-o bêbado, inconsciente, transportaram-no para a margem oposta do rio, com esmerado cuidado, prenhe de precauções para evitar represálias. Deixaram-no protegido pela sombra de uma árvore qualquer tendo ao lado o cavalo e seus pertences. De hóspede, transformou-se Jeremoavo em intruso indesejável, à bala recebido se voltasse.

............Lá, os homens todos, até o de dentro armados, três dias vigiaram, em cerca e trincheira! Voltasse, e não seria ele mais confuso hóspede, mas um diabo esperado, o matavam. Veio, não.

............Vencidos os reflexos ou os impulsos inativos, foram chamados à realidade.

............Dispersou-se o povo, pacífico. Se riam, uns dos outros, do medo geral do graúdo estúrdio Jeremoavo. Do qual ou da Domenha sincera caçoavam. Tinham graça e saudades dele.

............Ausente o forasteiro, por uma percepção emotiva consciente do fato excitante, a expressão corporal do riso sucedeu à alegria. O Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras, Volume 2, editado pelo IBGE em 2009, apresentando a literatura da região dos Currais do São Francisco em Minas Gerais, observa que o sertão, especialmente o sertão do Norte de Minas, “está retratado em obras clássicas da literatura nacional. Talvez a mais clássica delas - Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa - seja também a mais emblemática dessa região”.


ENCONTRO CADAVÉRICO

Reginauro Silva
Cadeira N. 11
Patrono: Ari Oliveira

............Ontem, encontrei-me com meu cadáver. Sério. Lívido. Compenetrado. Excessivamente gelado. Digo isto porque nada me impressiona mais no meu cadáver do que sua extrema frieza. Nem mesmo a rigidez...

............Encontrei meu cadáver num corredor público. Quer dizer, um encontro mórbido num cenário macabro. Como sempre, meu cadáver chegou assim sem cerimônias, estendeu a mão e ficou lá, cara de paisagem, esperando que eu o imitasse. Vagarosamente, disse-lhe oi, fitei seus olhos de imagem e ofereci-lhe as pontas dos dedos. Tudo sem pressa, no compasso da lerdeza circundante.

............Vultos passavam ao largo e não davam conta de nossa presença naquele corredor burocrático. A sensação invisível é de que não acrescentávamos nada à pasmaceira ambiental, assim como aqueles fantasmas também nada agregavam à nossa insensatez. Éramos dois insossos flutuando num mar de isopores. Eu e meu cadáver.

Projetava-se no horizonte o fim das vontades;
O fim das querências;
O fim das liberdades;
O fim das carências.
Lia-se no semblante sem alma do meu cadáver a falta de ação;
A falta de atenção;
A falta de tesão;
O excesso de ilusão.
Entre mim e meu cadáver imperava o amor que se foi;
A paixão que passou;
O beijo que marcou;
O gozo que miou...
Sorvíamos, eu e meu cadáver, o gosto amargo do fel;
O torpor da anestesia ambivalente;
O silêncio da madrugada indormida;
O murmúrio do jazigo revisitado.
Algumas lições tiradas do encontro entre mim e meu cadáver:
Não se pode tentar o imponderável;
Não se enxuga gelo no molhado;
Não se derrete toalha no sorvete;
Não se constrói sobre pilares de nada.

............Pensava tudo isso enquanto meu cadáver fitava o horizonte como se contemplasse a desconstrução da constituição. Como se descomesse a epiderme espiralada do castelo ambíguo da depressão acasalada.

............Por mais que assim sugerisse, eu não conseguia de toda forma embalar-me pela suavidade disforme daquele cadáver prostrado naquela esquina administrativa, como se nem cadáver fosse. Como se fosse uma coisa. Recusava-me, assim, a destruir minhas partes como se imerso numa repentina serpentina de células e neurônios congelados em massa de ectoplasmas.

............Meu cadáver, va-ga-ro-sa-men-te, começou a adentrar o mundo depressivo da aridez endêmica em que se transformara, mas eu relutava em seguir-lhe os passos, por mais convincentes que fossem seus desargumentos. Num quase inaudível sussurrar, soletrou então meu cadáver que estava indo embora.

............E se despediu sem maiores cerimônias.


HISTÓRICO DOS MUNICÍPIOS
DO NORTE DE MINAS

Roberto Pinto da Fonseca
Cadeira N. 92
Patrono: Sebastião Tupinambá

INTRODUÇÃO

............O desenvolvimento demográfico de Minas Gerais se deu a partir das regiões mineradoras de ouro e diamante. Em 1720, quando as Minas Gerais dos Cataguás foi elevada à categoria de capitania, desmembrando-se de São Paulo, já existiam no estado sete vilas: Mariana, Ouro Preto, Sabará, São João Del Rei, Serro, Pitangui e São José Del Rei (Tiradentes).

............A evolução populacional e administrativa do estado se processou, sobretudo, a partir desses centros, estabelecendo novos pontos de fixação populacional em regiões diversas do estado.

............Para se ter uma ideia da rápida expansão demográfica de Minas, na época da Independência existiam apenas 15 municípios. Em 1889, com a Proclamação da República, eram 111. Em l940 o estado contava com 288 municípios; em 1943, esse número subiu para 316. Em l948 eram 388 municípios e, em l953, existiam 485 cidades. Atualmente o estado é formado por 853 municípios.

............Para se compreender melhor esse processo de crescimento, apresentaremos uma série da formação histórica das cidades que compõem o norte de Minas, ressaltando suas antigas denominações. Adiantamos que esta série terá continuidade nas próximas edições da revista do IHGMC.

CURATO DE MACAÚBAS


Igreja Senhor do Bonfim

............No início do século XVIII, entre os anos de 1710 e 1720, as terras férteis localizadas entre os rios Jequitaí e Macaúbas começaram a ser ocupadas por agricultores e pequenos fazendeiros, oriundos de regiões vizinhas, em busca de novos espaços para expansão de suas atividades econômicas.

............Outro fator importante que contribuiu para o incremento da povoação tem caráter religioso - aspecto que ainda reflete fortemente na população. Naquela época, surgiu no povoado uma imagem do Senhor do Bonfim e, como ninguém soubesse explicar o aparecimento da imagem, passaram a atribuir ao fato um caráter miraculoso. Para o povoado, então, afluíram muitos devotos, o que fez com que o lugar passasse a ser alvo de culto.

............Para a fundação da cidade de Bocaiuva, o marco fundamental consistiu na doação de terras, por parte do fazendeiro Faustino Leite Pereira e sua esposa Antônia Leite, para a construção da igreja em homenagem ao Senhor do Bonfim. Inicialmente, a localidade denominava-se “Curato de Macaúbas” - curato significa povoação comandada por um cura ou vigário. Posteriormente, foi chamada Freguesia do Senhor do Bonfim.

............Em 1873, o Curato foi elevado à categoria de Vila, passando a se chamar Vila do Jequitaí. Em 14 de julho de 1888, passou à cidade, com a atual denominação. Alguns estudiosos apontam a escolha do nome Bocaiuva em homenagem ao abolicionista Quintino Bocaiuva.

............Em 1947 a cidade tornou-se notícia em escala mundial e alvo da atenção da comunidade científica: foi o único local no mundo de onde se poderia melhor observar e estudar o eclipse solar ocorrido naquele ano.

CURRALINHO


Estação da Central do Brasil - Curralinho.

............A origem da povoação se deve aos tropeiros que, no século XIX, atravessavam a região, descendo principalmente da Bahia para o Rio de Janeiro. Devido ao estabelecimento de pequenos currais e roças para abastecerem essas tropas, a povoação passa a se chamar Curralinho.

............Em 14 de setembro de 1891, o distrito foi criado com sede na povoação de Pilar, depois transferido para a povoação de Curralinho, em 1911. Já a partir de 1906, a comunidade se desenvolvia bastante com a chegada da Estrada de Ferro Central do Brasil, cujos trilhos avançavam para o extremo norte do Estado.

............O nome da cidade de Corinto, em substituição a Curralinho, foi escolha do vigário local, em homenagem a famosa cidade grega.

............Em 7 de setembro de 1923, foi promulgada a lei estadual que criava o município de Corinto, desmembrando-o de Curvelo. O município foi instalado em 20 de julho de l924, englobando as localidades de Andrequicé, Nossa Senhora da Glória, Contria e Santo Hipólito.

FAZENDA DO RIACHÃO


Av. Engenheiro Belford

............As terras da fazenda do Riachão, propriedade da família dos Teixeira de Toledo, deram origem à cidade de Buenópolis, quando, em 1912, chegaram àquelas paragens do Alto São Francisco os trilhos da Estrada de Ferro Central do Brasil, onde estabeleceu a 11ª. Residência. Para lá afluiu grande número de ferroviários e familiares. O nome Buenópolis foi dado em homenagem ao Dr. Júlio Bueno Brandão, governador do Estado, quando da inauguração da Estação da Estrada de Ferro.

............Em 19 de maio de 1927, a povoação foi elevada à categoria de distrito, pertencendo a Diamantina. Em 17 de dezembro de 1938, tornou-se município.

SANTO ANTÔNIO DA ESTRADA


Igreja Matriz de S. Geraldo

............O núcleo gerador de Curvelo foi uma pequena capela, que por volta de 1700 era referência para tropeiros e viajantes que trafegavam sobretudo entre os sertões baianos, Rio de Janeiro, São Paulo e o centro de Minas. Um dos primeiros residentes na localidade foi o padre Antônio Ávila Curvelo, oriundo da localidade de Morrinhos, atual Matias Cardoso, onde exercia a função de vigário. Esse personagem notabilizou-se no cenário político, com embates inclusive com o poderoso Conde de Assumar, em 1718.

............Em 1720 foi criada a freguesia, passando a denominar-se Santo Antônio de Curvelo. Em 13 de outubro de 1831 foi elevada à condição de vila e, em 30 de julho de l832, foi estabelecida a primeira câmara. Curvelo pertenceu a diversas comarcas: Rio das Velhas, até 1833; Serro do Frio, até l840; novamente à de Rio das Velhas, até 1870 e finalmente à comarca de Pitangui, até 1872.

............Em 15 de novembro de 1875, foi elevada à categoria de cidade. A divisão administrativa do município, em 1911, integrava os distritos de Almas, Lagoa, Morro da Garça, Silva Jardim, Piedade do Bagre, Andrequicé, Traíras, Ponte do Paraúna, Ipiranga e Cedro.

ARRAIAL DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


Vista parcial

............O bandeirante Fernão Dias Paes Lemes foi pioneiro ao chegar à região do município de Coração de Jesus, estabelecendo as bases do povoado. Por volta de 1777, foi concedida a Antônio José da Costa a primeira sesmaria. Este, juntamente com Francisco Ferreira Leal, doou terras para a capela do povoado, já denominado Arraial do Sagrado Coração de Jesus. Em seu livro “Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas”, Sant-Hilaire relata que em 1792 foi erguida uma ermida em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus.

............Os primeiros habitantes foram pessoas que fugiam das margens paludosas do Rio S. Francisco, a procura de terras mais salubres. A partir de 1832, além da criação de bovinos, o povoado teve um razoável surto econômico com a exploração da borracha.

............Em 1832, a povoação já era sede de distrito. A 30 de agosto de 1911, foi criado o município de Inconfidência, tendo como sede o povoado de Santíssimo Coração de Jesus. A 20 de setembro de 1925, a sede do Município de Inconfidência passa a cidade, recebendo o nome de Coração de Jesus, conforme lei estadual de 20 de setembro de 1928. Em 1933, Ibiaí e Jequitaí encontram-se incorporados à Coração de Jesus, sendo que Jequitaí se emancipa em 1948. Em 1958 estão incorporados à Coração de Jesus os distritos de: Ibiaí, Alvação, Lagoa dos Patos, São Geraldo, São João da Lagoa, São João do Pacuí e São Joaquim.

ARRAIAL DAS FORMIGAS

............A origem de Montes Claros se remete aos bandeirantes quando, a 13 de junho de 1553, parte de Porto Seguro a expedição Espinosa-Navarro, sendo a primeira a penetrar no sertão norte-mineiro, habitado então pelas tribos Tapuias e Anaiós. No entanto, somente com a expedição de Fernão Dias Paes Leme, que buscava esmeraldas na “Serra Resplandecente”, é que os sertões da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro começaram a ser conquistados. Antônio Gonçalves Figueira, fundador de Montes Claros, era integrante da bandeira de Matias Cardoso, que, por sua vez, era adjunto de Fernão Dias.

............No início do século XVIII, após algum tempo residindo em Ituaçu, na Bahia, onde administrava propriedades dedicada ao plantio da cana-de-açúcar, Gonçalves Figueira parte novamente em busca de metais e pedras preciosas, estabelecendo no vale do Rio São Francisco as fazendas Jaíba, Olhos D´Água e Montes Claros, estando a última localizada às margens do Rio Verde Grande, próxima a montes calcários, sendo talvez esta a razão do topônimo local.


Praça Dr.Chaves - Igreja Matriz

............Em 12 de abril de 1707, foi concedida por alvará uma sesmaria a Antônio Gonçalves Figueira, constituindo a fazenda Montes Claros. Com o emprego de mão-de-obra indígena e escrava, iniciou-se o cultivo da terra e a criação de gado. Com o desenvolvimento dos primeiros núcleos de população, fundou-se o povoado de Cruzeiro, que foi devastado pela varíola por volta de 1808. Os refugiados do surto da doença se estabeleceram no Arraial de Formiga, o segundo povoamento, que com o rápido aumento populacional e ponto referencial de tropeiros passou a se desenvolver rapidamente.

............Em 13 de outubro de 1831, por decreto imperial, a povoação de Formiga é elevada à categoria de vila e instalada a 16 de outubro de 1832, com a denominação de Vila de Montes Claros de Formiga. A 3 de julho de l857, a vila passa à categoria de cidade, com o nome de Montes Claros, que contava com uma população estimada em 2000 habitantes. Em 1830, a comunidade já contava com uma escola; em 1834, com um juiz de direito, o Dr. Jerônimo Máximo de Oliveira e, em 1884, publica o pioneiro jornal “O Correio do Norte”. Em l879, foi criada a Escola Normal. O processo de industrialização se inicia em 1882, com a inauguração da fábrica de tecidos do Cedro. O Mercado Municipal teve suas portas abertas em 3 de setembro de 1899, beleza arquitetônica que se localizava no Largo de Cima, atual praça Dr. Carlos Versiani, em homenagem ao primeiro médico da cidade, que se estabeleceu na cidade em 1847. A Santa Casa foi fundada em 1871.

............Conforme a divisão territorial vigente em 1954, o município de Montes Claros era constituído pelos distritos de Mirabela, Miralta, Patis, Santa Rosa de Lima, São João da Vereda e São Pedro da Garça.

SÃO JOAQUIM DA PORTEIRINHA


Praça da Bandeira

............A cidade de Porteirinha surgiu como referência e pouso para os viajantes e tropeiros que percorriam a região vindos da Bahia, de outros pontos do Nordeste e do Sul do Brasil. A estrada de acesso, em determinado trecho da clareira, se assemelhava a uma porteira - daí a origem do nome.

............Além dos viajantes, os primeiros habitantes que se fixaram na região em princípios do século XVIII, como todos os exploradores da época, vieram em busca de ouro. Com a decadência do metal, passaram a dedicar-se à lavoura, com emprego de mão-de-obra escrava. Os primeiros proprietários possuíam suas terras em lugares chamados Serra Branca e Gorutuba. Ao aglomerado principal deu-se o nome de São Joaquim da Porteirinha.

............Outra versão sobre a formação da comunidade é a de que habitantes da localidade de Nossa Senhora da Conceição de Jatobá foram os primeiros a formarem o povoado de São Joaquim da Porteirinha.

............Em 22 de setembro de 1921, a sede do distrito de Jatobá transferiu-se para o povoado de São Joaquim. Conforme a divisão administrativa do Estado, e de acordo com a lei estadual de 07 de dezembro der 1923, o povoado pertencia ao município de Grão Mogol.

............O município de Porteirinha foi criado em 17 de dezembro de 1938, formado por 3 distritos: a sede, Riacho dos Machados e Gorutuba. Em 1943 é incorporado o distrito de Serranópolis. O Censo de 1950 apontava uma população de 27.081 habitantes.

SANTO ANTÔNIO DE SALINAS

............Foi o bandeirante Antônio Luís dos Passos um dos primeiros desbravadores da região de Salinas. Vindo dos sertões baianos em busca de riquezas, encontrou grandes jazidas de sal, produto ainda de difícil exploração e de elevado preço.

............Com essa descoberta, inicia-se o processo de povoamento da região. Faustina Fernandes Pessoa, grande proprietária rural, doa terras para que seja erguida uma capela em homenagem a Santo Antônio. Os exploradores das jazidas de sal constroem, então, suas casas em volta da capela. Desenvolve-se, assim, o povoado de Santo Antônio de Salinas, ligado a Rio Pardo de Minas.


Av. Oswaldo Cruz

............Em 16 de maio de 1855, criou-se a freguesia de Santo Antônio de Salinas, emancipando-se de Rio Pardo de Minas em 18 de dezembro de 1880. Com a decadência das minas de sal, a economia da região se volta para a agricultura e a pecuária, sendo Vicente Ferreira Costa um dos pioneiros, que muito contribuiu para o desenvolvimento regional. A instalação do município ocorreu em 19 de janeiro de 1883, e, finalmente em 4 de outubro de 1887, a sede municipal recebe foros de cidade. Em 1911, a divisão administrativa engloba 4 distritos: Salinas, Amparo do Sítio, Águas Vermelhas e Santa Cruz de Salinas, sendo que o distrito de Taiobeiras é incorporado em 1923, emancipando-se em 1953.

VILA RISONHA DE SÃO ROMÃO


Av. Quintino Vargas

............O Tráfego fluvial do rio São Francisco se tornou uma das mais importantes vias de comunicação com a Bahia, sobretudo com a descoberta das minas de ouro no interior das Gerais. O “caminho dos currais” passa, então, a ser alvo de interesses e proibições da coroa portuguesa, que ainda não tinha uma administração efetiva na região. Buscando minimizar os efeitos nefastos aos os seus cofres em função do contrabando de ouro, dos escravos fugidos, do livre comércio, dos foragidos da justiça, dos constantes assaltos a caravanas, dos índios, a coroa resolve intensificar o controle regional. Para a tarefa de policiar e controlar a região, foi destacado Januário Cardoso, sobrinho de Matias Cardoso.

............Visando a pacificar e conquistar uma ilha que dividia o rio em dois braços, foi destacado Manoel Francisco de Toledo, guiado pelo português Manoel Pires Maciel. Após violentos combates, os índios Caiapós, que habitavam a ilha, foram derrotados e exterminados. Essa primeira vitória pelo controle da área ocorreu no dia 23 de outubro de 1719, dia de São Romão, nome que passa a denominar a ilha conquistada e o povoado.

............O povoamento foi palco do primeiro movimento de revolta contra as autoridades portuguesas, que extorquiam as economias da população com os altos tributos cobrados. Em 1736, surge uma série de revoltas que ficaram conhecidas como “os motins do sertão do São Francisco”, que foram duramente repreendidas pelas autoridades portuguesas, prendendo as lideranças e dominando o arraial de São Romão. Os revoltosos planejavam depor o governador de Minas, Martinho de Mendonça, marchando contra a capital, Vila Rica. As lideranças sertanejas não tiveram as glórias póstumas dos inconfidentes, mas os nomes de Dona Maria da Cruz, André Gonçalves Figueira, Pedro Cardoso e Domingos do Prado e Oliveira serão lembrados.

............A 13 de outubro de 1831, o arraial foi elevado à categoria de vila, denominando-se Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São Romão, um nome contraditório com o seu passado de lutas. Em 1871, a sede da vila de São Romão foi transferida para a das Pedras dos Angicos (São Francisco). O município foi criado em 7 de setembro de 1923, sendo instalado em 3 de março de 1924, englobando Arinos, Formoso e Capão Redondo. Em 1955 é, elevado à Comarca de Primeira Instância, sendo reinstalada pelo Poder Judiciário em 1986.

GORUTUBA


Praça Dr. Rochert

............Conforme a tradição, os primeiros habitantes da região eram mestiços, de origem tapuia e negra. Ao povoarem o Vale do Rio Gorutuba, ficaram conhecidos como gorutubanos.

............Em 1872, se estabelece na região Francisco Barbosa, que com a família ocupa a fazenda Gameleira, denominação que também foi empregada para a povoação. Até o ano de 1933, a atual cidade de Janaúba era um simples povoado, formado basicamente por residências rurais e conhecido na região como Gorutuba.

............Outros proprietários se estabeleceram e foram importantes para o desenvolvimento local, como Américo Soares de Oliveira, Antônio Catulé, Mozart Mendes e Santos Mendes, que doou terras para a formação do povoado.

............Em 1939, foi erguida a capela do Senhor Bom Jesus. Com a chegada da Estrada de Ferro Central do Brasil em 1943, acelerou-se o desenvolvimento do povoado, sobretudo com o estabelecimento de operários que trabalhavam na construção da ferrovia, que seguia em direção à Bahia.

............Em 31 de dezembro de 1943, a povoação foi elevada à categoria de distrito, recebendo o nome de Janaúba. O engenheiro Dr. Demóstenes Rochert, responsável pela construção da estrada de ferro de Montes Claros a Espinosa, muito influenciou para a emancipação do município, que finalmente foi criado a 27 de dezembro de 1948 e instalado em 01 de janeiro de 1949, desmembrando-se de Francisco Sá.

SERRA DE SANTO ANTÔNIO DO ITACAMBIRUÇU

............A primeira expedição que adentrou, em l553, o atual território de Grão Mogol foi chefiada por Francisco Bruzza Espinosa. Em 1674, foi a vez de Fernão Dias, que em busca de esmeraldas percorreu a região, onde fundou o arraial de Itacambira. Em 1781, foi descoberto diamantes na Serra do Grão Mogol.

............Por esse tempo, partiu do arraial do Tijuco (Diamantina) uma expedição em direção a Serra do Itacambiruçu, com a fina lidade de descobrir as riquezas em diamantes que ali se calculavam existir. Toda essa movimentação provocou a atração de aventureiros para a região. Com o aumento do fluxo de pessoas, formou-se o povoado da Serra de Santo Antônio do Itacambiruçu, posteriormente arraial da Serra de Grão Mogol, região pertencente ao município de Montes Claros.


Vista da cidade

............Diz-se que o lugar também já se chamou “Grande Amargor”, devido às lutas sangrentas, com grande número de mortos, ocorridas entre os garimpeiros e as forças portuguesas encarregadas de controlar e fiscalizar essa rica região mineradora.

............Antes mesmo de sua elevação a distrito, foi o povoado elevado à categoria de vila em 1840, constituindo-se junto com os distritos de Serra de Grão Mogol, Santo Antônio do Gorutuba e São José do Gorutuba. A criação do município deu-se em 1849, sendo a sede municipal elevada à categoria de cidade em 1858.

............Em 1911, alterou-se a constituição do município, que passou a integrar-se dos distritos de Grão Mogol, São José do Gorutuba, Itacambira, Santo Antônio do Gorutuba, Extrema, Riacho dos Machados e Jatobá. Em 1923, desmembrou-se o distrito de Santo Antônio do Gorutuba para dar formação ao novo município de Brejo das Almas, atual Francisco Sá. Em 1938, perde para o recém-criado município de Porteirinha o distrito com essa denominação e também os de Gorutuba e Riacho dos Machados, passando a compor-se com o distritos de Cristália, Santo André e Itacambira. Em 1943, estabelece-se o distrito de Botumirim, com sede no povoado de Serrinha e terras desmembradas dos distritos de Cristália e Itacambira. Também se alterou para Catuni o nome do distrito de Santo André.

............Grão Mogol é uma velha cidade formada pelos garimpeiros que outrora revolviam o cascalho de seus córregos e ribeiros a procura de diamantes. A origem da cidade explica o declínio que sofreu durante décadas, mas com o advento do turismo e novas perspectivas econômicas da região, os tempos estão melhorando. Seu território é atravessado de sul a norte pela cordilheira do espinhaço ou Serra Geral. A cidade esta situada no dorso da serra que lhe deu nome, com diversas elevações superiores a 1550 metros. De forma justa cognominada “Cidade presépio”, tem nas suas antiguidades e no seu clima ameno motivos de atração para os visitantes.

BREJO DAS ALMAS

............Por volta de 1704, Antônio Gonçalves Figueira, proprietário das fazendas Olhos D’Água, Jaíba e Colônia Montes Claros, com a intenção de ligar essas fazendas ao Gorutuba e aos currais da Bahia, promoveu uma expedição rumando para o nordeste.

............Naquele mesmo ano, no dia 2 de novembro, a expedição arma acampamento às margens da Lagoa das Pedras, nas proximidades da Serra do Catuni. Como era dia de finados, nomeou-se o local Cruz das Almas das Caatingas do Rio Verde, erigindo no local um cruzeiro.

............Também se referiam ao local como Brejo das Almas, devido às lagoas existentes na região e onde eram lançados os corpos de viajantes e garimpeiros vitimas de salteadores que infestavam o lugar. Posteriormente, erguem no local uma capela em homenagem a São Gonçalo.


Igreja de S. Geraldo e atual prédio da prefeitura

............Outra versão para os primórdios do surgimento da localidade se refere à instalação de um cruzeiro, por um frei chamado Clemente. Desse local, nasceu o núcleo da povoação, por onde passava a estrada em direção a serra do Catuni.

............Em 1769, chegam à localidade o major Antônio Gonçalves da Silva e sua esposa Maria Pereira de Figueiredo. De posse de uma Carta de Sesmaria, concedida pelo Governador da Capitania de Minas Gerais, o Conde de Bobadela, tomam posse das terras do arraial que então já se denominava Brejo das Almas da Caatinga do Rio Verde. Em 1768, constroem a Igreja Matriz.

............Também para o arraial partiram influentes famílias do Serro do Frio, como a de Joaquim Benedito do Amaral (1764), Manuel Pereira e sua esposa Joaquina Pereira de Jesus (1806), o Capitão Joaquim da Silveira (1810), todas comprando terras e construindo casas de fazenda.

............A localidade de Cruz das Almas, de acordo com o alvará de 23 de março de 1823, fazia parte da freguesia de Itacambira, que por sua vez foi anexada ao município de Minas Novas, fundado em 2 de outubro de 1730. Minas Novas e Itacambira pertenciam à comarca de Conceição de Jacobina, na então Capitania de Porto Seguro, Bahia. Em 01 de maio de 1757, essas regiões foram incorporadas a Capitania de Minas Gerais, criada em 1720.

............Em 1839, o curato de Brejo das Almas das Caatingas do Rio Verde foi elevado a distrito, anexado à paróquia de São José do Gorutuba, município de Grão Mogol, que foi desmembrado em 1852 de Montes Claros. Em 5 de outubro de 1870, o distrito de Brejo das Almas foi separado de Grão Mogol e incorporado ao de Montes Claros.

............O distrito foi transformado em Município de Brejo das Almas pela Lei 843, de 07 de setembro de 1923, desmembrando de Montes Claros e a sua instalação ocorreu 01 ano depois.

............O topônimo de Brejo das Almas foi mudado para Francisco Sá em 17 de dezembro de 1938, conforme decreto-lei estadual no. 148. A escolha do atual nome se deve a homenagear ao Dr. Francisco Sá, engenheiro que exerceu a função de Ministro da Viação e Obras Públicas.

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Bibliografia: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros - I.B.G.E. Ed. 1958 - Rio de Janeiro.
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O VELHO MERCADO

Ronaldo José de Almeida
Cadeira N. 25
Patrono: Corbiniano R. Aquino

............Por decreto municipal, nos idos de 1896, o senhor João dos Anjos Fróis recebeu a incumbência de construir o primeiro mercado municipal de Montes Claros; tratava-se de pessoa altamente gabaritada para tal mister.

............A planta e o projeto, moderníssimos, foram rigorosamente elaborados e executados depois de muita negociação pelo engenheiro do Estado, Frederico Gâmbara.

............João Fróis, o encarregado da construção, não se sabe o motivo, discordou do projeto do engenheiro Gâmbara e, assim sendo, por sua própria iniciativa, decidiu alterar as suas bases da construção e substituiu pedras por peças de aroeira.

............No início da tarde de 16 de novembro de 1897, poucos dias restavam para a inauguração, quando então se ouviu um grande estrondo, que colocou a população da então sossegada Montes Claros em polvorosa. Várias paredes do prédio, enfraquecidas devido à mudança das bases da construção, ruíram. Alguns operários se machucaram e um carneirinho morreu; felizmente foi a única vítima fatal; o prejuízo com o desabamento foi enorme.

............O construtor João Fróis assumiu a culpa e, no propósito de não se desviar mais do projeto original, a partir de então, seguiu à risca as especificações do engenheiro.

............O mercado foi inaugurado sem a torre, que foi construída tempos depois. Após ser erguida a torre, a senhora Carlota dos Anjos doou um grande relógio para ali ser instalado. Para tanto, o prefeito contratou na cidade de Curvelo o relojoeiro Cândido Mena Barreto, profissional de enorme prestígio. A chegada do relojoeiro foi precedida de grande ansiedade e expectativa; era o assunto do dia.

............Não se tinha notícia de nenhuma cidade do interior que ostentasse um relógio de tal dimensão. Faziam comparações com relógios públicos de cidades da Europa. Mesmo ainda sem ser colocado na torre, o relógio já causava orgulho nos moradores de Montes Claros.

............O relojoeiro Mena Barreto trabalhava sob enorme pressão da população, que exigia a brevidade do serviço, ignorando que a atividade do expert obedecia rigorosamente ao prazo firmado no contrato de trabalho.

............Cândido Mena Barreto levantava-se cedo e dava início à lida, sequer ia a casa para almoçar ou tomar café. Quem lhe levava o lanche matinal e o almoço era sua mulher, Miloca. A esposa do relojoeiro era uma mulher jovem, de corpo escultural, cabelos longos e andar de gazela; despertava olhares cobiçosos dos homens, por onde passava.

............O vestido que trajava deixava à mostra, mesmo que pequena parte, as suas pernas bem torneadas e grossas. Isso começou a atrair os homens desocupados que plantavam-se ao pé da escada e ficavam a olhar para cima, enquanto a zelosa mulher fazia a dificultosa ascensão da escada, para entregar, no topo, a marmita ao marido trabalhador.

............Alertada para o fato, a dedicada esposa revoltou-se e passou a usar calças masculinas na hora em que levava a comida ou café para o marido. Vestida a rigor, caminhava até o local de trabalho do marido, causando revolta à assistência que protestava inutilmente.

............Miloca, sempre austera, embora ciente da sua beleza e do efeito que causava nos homens, atravessava as ruas da cidade, sempre de cabeça baixa e sem olhar para os lados; mesmo vestida com o traje masculino a sua beleza imperava.

............Era de uma integridade a toda prova; chegando ao mercado, galgava a escada e sentava-se no último degrau, enquanto esperava o seu marido almoçar e ou lanchar. Em seguida, descia os degraus e tomava o caminho de casa, altiva como sempre. Não tomava conhecimento da plateia mândria.

............Mesmo sem querer, o fato de Miloca usar “calças de homem” e transitar pelas ruas da cidade assim vestida provocava nas “senhoras” da sociedade local, um espécie de revolta; afinal, Montes Claros era uma cidade de férreas tradições.

............As senhoras da sociedade elaboraram, então, um severo manifesto de protesto contra Miloca, pela a “falta de decoro”, afronta à moral e aos bons costumes”.

............Para solucioonar o problema, a jovem senhora abdicou da calça de homem, voltando a usar os vestidos antigos; contudo, contou com a compreensão de marido, que se dispôs a fazer suas refeições ao pé da escada, evitando, assim, que a sua bela esposa fizesse exposição da sua linda figura subindo a escada para a alegria dos aficcionados de plantão.

............Após a sua instalação, o grande relógio tornou-se uma espécie de atalaia dos habitantes da cidade; muitos organizavam sua rotina norteando-se pelas badaladas sonolentas que dele evolavam-se de hora em hora.

............Hoje o velho mercado já não existe mais; foi demolido no ano de 1967, por decreto do então prefeito municipal, Antonio Lafetá Rebelo, em nome do progresso. Quanto ao velho relógio, hoje se encontra instalado e mudo na torre da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida. Seus carrilhões já não emitem mais nenhum som, certamente vencido pelo banzo, dizimado pela inânia e fastio. Não tem mais nenhuma valia.


DESCOBERTAS INDÍGENAS
EM MONTES CLAROS

Simeão Ribeiro Pires
Patrono da Cadeira N. 93

............Por curiosa coincidência, quase próxima à data do centenário da cidade de nossa Montes Claros, foi-nos agradável encontrar peças curiosas indígenas, que remontam a recuados anos do passado.

............A nossa curiosidade era mais que natural, pois, até então, nada sabíamos de utensílios indígenas em nossa cidade.

............Em pedreira próxima à cidade (6 km.) na Fazenda do Cedro, em pequenas lapas formadas pela erosão do calcário, foram encontrados
um pilão, ou almofariz, bem como uma ardósia polida destinado à moagem no referido pilão.

............Embora já conhecêssemos e até possuíssemos alguns machados de pedra indígenas feito no granito e de outras procedências distantes, achamos perfeitamente explicável e natural, que os nossos antepassados, pela ausência entre nós do granito ou gnaisse, se utilizassem de material de menor dureza em seus utensílios, como no caso, o calcário e a ardósia.

............Como, entretanto, o sílex ocorre em grande quantidade na região em torno de Montes Claros, achamos que não será surpre sa, encontrarmos peças indígenas feitas com o referido material, que é de grande dureza.


Utencílios encontrados na Fazenda do Cedro - Montes Claros/Mg.
Um machado de pedra dos índios Botocudos, encontrado nas margens do rio Verde Grande, no ano de 1975. Oferecimento de Geraldo Alcântara.

............Mesmo dentro da nossa cidade, em terrenos da fábrica de tecidos, logo ao inicio de uma escavação interna, que ali realizamos, encontramos um pedaço de ardósia polida, que demonstra pelo seu desgaste o seu uso pelos indígenas.

............Posteriormente temos sido informados de outros achados indígenas em nosso meio.

............Seria interessante que se concentrassem tais descobertas para o museu da cidade, obra de relevo que já tarda e que será, se bem conduzida, expressão de cultura do nosso povo.

............Aos estudiosos do assunto podemos afirmar que existe entre nós farto material para um estudo sério de pinturas rupestres de curiosas interpretações, cemitérios de índios e objeto de cerâmica indígena.

............Igualmente interessantes seriam os estudos que se fizessem para determinação dos índios que habitavam a nossa região.

............Seriam os Carijós, Botocudos, os mesmos que no dizer do historiador Diogo de Vasconcelos habitavam a região de Belo Horizonte?

............Que tenham a palavra os entendidos no assunto.

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Revista Montes Claros em Foco, nº 5, Setembro de 1957.
O pilão de pedra, citado neste texto por Simeão Ribeiro Pires, encontra-se
hoje na sede provisória do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros,
uma vez que foi doado ao Instituto pela família do Dr. Simeão Ribeiro Pires.

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KONSTANTIN CHRISTOFF e
SAMUEL FIGUEIRA

Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineira de Souza

............Leio o bonito e completo texto do meu amigo e irmão Samuel Figueira sobre o nosso amigo Konstantin Christoff, que acabou nos deixando pela força dos 88 anos de vida, e me lembro perfeitamente da primeira exposição de pintura do Samuca, no prédio da Rua Justino Câmara com Padre Teixeira, e da apresentação que fiz, com palavras que soam até hoje na minha consciência, como se aquele julgamento fosse eterno. Afinal, era a história de um menino genial, que, adulto, se tornava mais genial ainda. Abaixo, um pouco do que escrevi sobre o artista, a sua vida e a sua arte:

............Um dia o garoto toma coragem, veste a sua melhor roupinha, põe na cara o melhor dos sorrisos, e corre pressuroso em busca do elogio e do incentivo do já famoso futuro colega Konstantin Christoff. Leva o mais trabalhado dos quadros, aquele mais acadêmico, mais certinho, de pinceladas bem cuidadosas. Pede a opinião e baixa a vista, modesto, temendo, antecipadamente, as palavras de louvor. Mas tudo sai ao contrário, Konstantin, jovem e fogoso, não sabe mascarar a verdade. Não gostando, diz sinceramente ao menino que não gostou. Faz mais: mando-o ir embora, esquecer o entusiasmo, jogar fora os pincéis e as tintas e tentar fazer outra coisa mais condizente coma sua vocação, que, de natural, pelo que via, não seria a de pintor. O menino revolta-se, fica com o espírito em brasa, assustado, coça a cabeça e, em princípio, resolve aceitar o conselho, a sugestão por mais terrível que ela seja. Chateado, chateadíssimo, sai e volta para casa. Triste e meditativo, raciocina melhor e conclui que está diante de um grande desafio, o que até pode ter sido o desejo de Konstantin. Analisa o passado, entrevê o futuro, e toma uma decisão: nem Konstantin nem ninguém pode ou vai sufocar o seu destino, sua vontade de ser artista. Se com aquelas palavras Konstantin estava mesmo é querendo despertá-lo, desafiá-lo, provocá-lo, ele iria ver, iria conhecer a sua reação de menino-homem, um grito de luta em busca de novo mérito. E quem sabe, até de elogios!

............O que fez então o menino? Voltou a sua energia em direção ao próprio Konstantin, crítico ou conselheiro, produzindo, de súbito, a sua primeira e revolucionária composição moderna, uma mescla de variações geométricas e instrumentais, em cores robustas e enérgicas, pinceladas marcantes. Para compor o rosto, desenhou uma chave inglesa, representando todo o conjunto facial; para traduzir o cachimbo, enfiou-lhe um machado bem tosco na boca. Resultado: uma figura chocante, mas de grande efeito. O crítico Konstantin gostou. Gostou tanto, que o aconselhou agora a buscar de novo, e com muito amor, os velhos pincéis baratos. E que o garoto partisse para a realização de novas e muitas tentativas. Procurasse ser menos Godofredo e muito mais Samuel.

............Data daí a nova fase da vida do artista Samuel. Pouca produção, muito cuidado, mais procura de melhor qualidade. Ideias sobre ideias. Formas sobre formas, transparências e coloridos novos. Entusiasmo comedido, decidida concentração, firmeza no ideal. Sem favor nenhum, pode-se considerar, em face do tempo, que Samuel Figueira, também meu mestre e crítico, é e será sempre um excepcional desenhista e pintor, artista de primeiríssima linha. Graças à inteligência, força de vontade e talento, dos melhores da história de Montes Claros. Sempre ele agradeceu isso ao amigo e colega Konstantin Christoff. Eu também!


DOUTOR RAMETA E
“OS MENINOS DO SAPÉ”

Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineira de Souza

............Nascido em São Paulo, mas transmudado de vida e vivências para a velha vila do Sapé, meio de mata e canteiro de construção ferroviária, José Rameta enriqueceu-se de realismo mágico e purificou-se de simplicidade interiorana, qualidades endereçadas à sua futura atividade literária. Acompanhando Salvador, pai, no trabalho, e D. Lia, mãe, no trato com as coisas de Deus e da casa, fez escola de humanismo, preparou-se para conferir às pessoas e aos assuntos, existência de eternidade. Observador sensível, dotado de bondade e finura, nem a timidez lhe tira a capacidade de construção do bem.Escrever, contar “causos” tem sido um complemento das horas de trabalho do doutor ginecologista, sempre muito ocupado, trabalhador que trabalha em área de diversão de muitos, segundo poderia dizer a fala alegre dos humoristas. O contista, é espelho refletindo universos do consultório médico, das salas de parto ou de cirurgia, que podem estar em qualquer parte do mundo. Tem bom poder de enredar, criar, construir ambientes, sugerir dramas, despertar emoções. Nele é sempre perceptível a busca e a espera do clímax.Em “Os Meninos do Sapé”, Rameta demonstra-se um saudosista que sabe evocar cenas de encantamento tipo primeira noite de um homem, recordos do garoto e do rapaz estudante. Muitas são as visões que circulam entre o cômico e o trágico, sempre temperadas de malícia comedida, com doses de místico fatalismo. Um misterioso, muitas vezes saudado pela maestria do balanço das frases e das palavras, todas tão simples como o seu modo de ser e de viver. Estas são as facetas que vão despertar o leitor para uma leitura gostosa, transparente como as águas do Rio Verde, que inspiraram o escritor, a exemplo do rio da antiga Arcádia.Os lugares criados pela escrita de Doutor Rameta são geográficos e reais, embora universais e universalizantes, no ponto em que estão isentos de fronteiras da política ou da ideologia, uma contida cosmovisão da nossa pequena humanidade. Seus dramas nunca constituem flagelos ou catástrofes, porque, aí, a miséria e as fraquezas nunca se mostram em clima de fratura exposta. A dor maior é acidental e não causa gritos de estertor nem nos partos difíceis, já que, com amor, quase religioso, anestesiado. A dor menor, esta vem de fininho, matreira, solerte, bem comportada, nunca ferindo nem corpo nem alma. Rameta trabalha bem com as suas personagens, convive com elas, alegra-se e sofre em fraterno companheirismo. Da-lhes foco de luz e boa movimentação. Envolve-as com o toque cuidadoso, escuta-lhes o coração, deixa-as em atmosfera de confiança, sem barulho, sem pressões, cobrindo com branco lençol as partes de maior pudor. Seu espaço médico/poético/literário tanto pode ser um hospital de estudantes em Belo Horizonte como a clínica que divide com a doutora Maria de Jesus, sua mulher e colega. Seu tempo/espaço pode ser também Montes Claros ou as ruas poeirentas do Sapé, o bairrinho antigo de onde nasceu Burarama, a cidade filha do Capitão Enéas e de Salvador Rameta.Assim, não precisa nosso contista criar um mundo fictício, não tem necessidade de formar, inventar, machucar as palavras, para delas extrair verdades ou meras ilusões. Filho de Dona Lia Rameta, de suave misticismo, ele, sacerdote simpático de corpo e alma, sabe mostrar fotografias mentais dos acontecimentos sugestivos de sua profissão. Em torno dele, os fatos simplesmente acontecem, encantados ou não, nem sempre com sangue, os envoltos com placentas e cordões umbilicais. Vindo à luz como artista da palavra e do bisturi, o doutor José Rameta é, sobretudo, um doador de existências, com choros e com sorrisos. Um agente de felicidades. Os leitores de “Os Meninos do Sapé” - ao contrário dos antigos romanos - dizem e poderão dizer sempre: Salve, nobre Amigo, os que vão viver te saúdam.


PREITO AO PADRE MURTA

Zoraide Guerra David
Cadeira N. 86
Patrono: Patrício Guerra

............Dentre as lições dos evangelhos, analiso a que Jesus reprova seus discípulos por sua falta de fé, e se deixarem levar pela ansiedade e medo.

............Concluo: esse ensinamento é dirigido ao cristão, alertando-o a não vacilar diante das dificuldades que possam surgir. Em suma, confiar em Cristo.

............Coloco-o em prática, vencendo o desafio de resgatar sinteticamente uma longa e rica história de vida.

Desafio, ante a imensidão do mar de amor e cultura em que navegou o caro confrade

............CÔNEGO ADHERBAL MURTA DE ALMEIDA - o saudoso PADRE MURTA.

............Sem conhecer o valor dos construtores da cultura montes-clarense, torna- se difícil fazer – lhes justiça, e seguir seus exemplos. Por isso, necessário se faz propiciar-se um meio que revigore a memória, porque se sabe que a memória humana pode ser comparada a um arquivo fabuloso, que guarda muitos fatos e conhecimentos, mas, com o passar do tempo, ao envelhecer, pode relegá-los ao esquecimento.

............Na década de 50, como interna no Colégio Imaculada Conceição, de Montes Claros, conheci o Padre Murta, capelão daquele educandário, graças à celebração de missas diárias, e à convivência com sua irmã Miriam, que ali também estudava.

............Ao longo do tempo, oportunidades variadas aconteceram, para selarem uma amizade profunda, na qual circulava a confiança em nossos diálogos.

............Confirma essa referência a forma como ele se dirigia à minha pessoa ao me cumprimentar ou até mesmo ao apresentar-me a alguém, cognominando –me “capioa de Mortugaba” . Mortugaba é meu berço amado! Cidade do sertão baiano, na fronteira com Minas Gerais.

............Tive o privilégio de, a seu convite, viajarmos juntos para sua terra natal. Acredito que assim lançara mão de um meio para despertar-me o desejo de escrever a monografia histórica que exporia o valor de sua terra e sua gente, estimulado, talvez, por ter prefaciado uma obra de minha autoria, honrando –me sobremaneira com sua análise/ estímulo:

............“Parabéns, Zoraide Guerra David, pelo seu trabalho - JACARACI ONTEM E HOJE -, onde você registra para todos nós a rica história construída pelos engenheiros que tão sabiamente materializaram os sonhos dos filósofos jacaracienses.Cumpre-nos, hoje, no lançamento da história desta Jacaraci, (...) bater continência para os filósofos Gasparino David e Francisco David, bater continência para os engenheiros Mozart David e Antônio Evangelista Alves de Souza.

............Mas, diante da historiadora Zoraide Guerra David, nós somos obrigados a nos ajoelhar.”

............Realmente, chegou a revelar-me seu desejo, e acalentou seu sonho durante muito tempo. Lamentável seu ideal não ter encontrado acolhida pelo poder executivo daquele município, para que seu desejo se tornasse realidade, embora eu me tenha manifestado oficialmente, dispondo – me a escrevê-lo. Infelizmente, não houve respaldo.

............A realidade política brasileira, no tocante a iniciativas literárias históricas por particulares, sobressai-se pela falta de apoio.

Sempre que me era possível, visitava o Padre Murta, para confirmar-lhe amizade e sorver suas lições de vida.

............Por entre espaços ornados com ricas e belas peças de arte em sua residência, ele transitava descalço. Era a simplicidade personificada, alegre e brincalhão. Delirava ao dar cocorotes nas cabeças dos amigos, os quais perseguia, sorridente.

............Nas paredes de sua residência, expunha quadros portando poesia, diplomas, mensagens e homenagens recebidas.

............Em sua biblioteca, rico arquivo através de pastas contendo recortes de jornais, excelente fonte para pesquisa. Acolhia calorosamente os amigos que o visitavam, e os conduzia até a cozinha para brindar-lhes com farto e variado lanche, servido pela fiel e zelosa Coló.

............Padre Murta nasceu em Rubelita- MG, aos 8 de março de 1921. Estudou em Salinas- MG. Em 1935, matriculou-se no Seminário Menor Metropolitano de Pirapora do Bom Jesus –SP. A Antologia da Academia Montesclarense de Letras- Vol. II – Edição comemorativa dos vinte anos de sua fundação 13.09.66 – 13.09.86, registra o campo de atuação cultural do Padre Murta:

............“Pertence à Ordem dos Premonstratenses, tendo realizado o curso de Filosofia Pura em São Paulo.

............Dedicando - se à Educação, tem sido professor de Francês, Latim, Filosofia da Educação, Psicologia da Educação, Moral e Cívica e Problemas Filosóficos, em diversos Colégios, Seminários e Faculdades.

............No mesmo setor, já dirigiu o Ginásio Brasil e o Colégio Faria Tavares, em Ervália – MG, o Colégio Padre Chico, e atualmente é o diretor do Colégio São Norberto de Montes Claros, função que exerce desde 1973.

............Grande orador dedicou- se também às letras, colaborando nos diversos jornais de Montes Claros.”

............Na década de 90, o JORNAL DE NOTÍCIAS colocou à minha disposição um espaço para publicar trabalhos literários. Batizei-o com significativo título: VITRINE DA AML.

............AML - Academia Montesclarense de Letras, constelação a brilhar no setentrião mineiro, caminha através do tempo, traçando um rastro de luz, clareando a treva da desinformação, elevando o espírito. Vivenciei vibração total, pois nele eram expostas as joias literárias que ornam aquele sodalício. Inaugurei o referido espaço cultural ,expondo Cônego Adherbal Murta de Almeida, com a mensagem por mim proferida no Centro Cultural Hermes de Paula , ao ensejo das comemorações dos 90 anos de atuação benéfica da Ordem Premonstratense, na Arquidiocese de Montes Claros:

............“Meu querido Padre Murta:

............Considerando que esta noite é uma noite de ternura (...). Considerando que a criança e o jovem representam de fato um campo onde, plantada a semente através da educação, far-se-á uma colheita farta para o futuro; considerando que o senhor é um semeador, dada a existência do Colégio São Norberto, com suas edificantes formaturas e da “Escolinha Pé no Chão”; considerando que as manhãs montesclarenses acolhem nosso espírito em prece se madrugarmos um pouco, e chegamos juntos na Capela das Irmãs Mercedárias; (...) considerando que o senhor sabe de forma incrível tanta coisa, inclusive a divisão de tempo, é que queremos gravar no coração e na história de Montes Claros, a um só tempo, este momento de glória, de graça e de beleza. E, antes de mais nada, devemos dizer: Obrigada, Senhor!”

............E, para esse registro, lanço mão de um soneto de meu saudoso pai, Patrício Guerra, intitulado:

MÃOS BENDITAS

Bendita seja a mão que a terra sulca e amansa,
E aduba, e fertiliza, e faz a semeadura,
E espera recolher feliz e sem tardança,
Os frutos que hão de vir na eclosão da fartura.
Bendita seja a mão que guia uma criança,
E imprime-lhe o dever como rija armadura;
Bendita seja a mão que grava uma lembrança,
Da prática do bem à geração futura.
Bendita seja a mão da mãe cristã que faz juntar
As mãos de seu filhinho em são recolhimento,
E apontando-lhe o céu ensina-lhe a rezar.
Bendita seja a mão que em solene momento,
Pega a hóstia que benze e eleva sobre o altar,
E às almas distribui como eterno alimento.

............E eu peço permissão a Patrício Guerra, para acrescentar um pouco a seu poema: Bendita seja sua mão, que, empunhando a caneta, deixou gravar no livro de posse da AML, ADHERBAL MURTA DE ALMEIDA, para torná-lo sócio, iluminando nossas almas, e fazendo-nos sequiosos da imensidão do seu saber.

............Que Deus o conserve na terra por muitos anos, para que a religião católica, a educação de Montes Claros, a AML e todos nós, que o amamos, possamos ser felizes. Mas... tenha certeza de que, quando o senhor partir, continuará vivo, como vivos estão S. Norberto, Pe. Chico e tantos outros que o antecederam em sua caminhada apostólica.”

............Padre Murta, na AML, ocupou a cadeira nº 42, Patrono Cônego Carlos Vincart; e, no IHGMC – Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, a cadeira nº- 99, Patrono Waldemar Versiani dos Anjos.

............Brindou a muitos escritores com prólogos, epílogos e apresentações de obras literárias, em sessões de lançamentos.

............Em 2008, seu falecimento causou profundo pesar e foi registrado por inúmeras formas e pessoas. Minha homenagem póstuma, através do acróstico LOUVOR E GRATIDÃO, retratou um pouco de seu imenso valor e da lacuna causada pela falta de sua presença física:

Pela sua presença neste mundo,
A fazer tanto bem a seus irmãos,
Dividindo a fortuna da cultura,
Realizando um plano de amor,
Elevamos nossa voz, em são louvor!
Marejamos a face com saudade,
Unânimes sentindo sua partida.
Respeitando de Deus Sua vontade,
Tecemos louvor com gratidão,
A desejar-lhe só felicidade!
Montes Claros, maio de 2011.

PARABÉNS AO “JORNAL DE LUZ”!

Zoraide Guerra David
Cadeira N. 86
Patrono: Patrício Guerra

............Talvez o leitor surpreso questione: - Jornal de luz? Jornal de papel ou jornal falado, tudo bem. Mas... jornal de luz? E... a gente consegue lê-lo? Será que não ofusca a vista o brilho dessa luz?

............Elucidamos:

............Não. Seu nome é peculiar!Não é apenas indicativo do seu berço, mas de sua atuação espargindo luz, através da seriedade de sua missão informativa.

............Trata-se de um veículo histórico de comunicação, fundado por Cândida Correa Cortes Carvalho – do qual é diretora responsável e guardiã efetiva, para que as notícias por ele divulgadas sejam vacinadas contra matérias abjetas, como a pornografia que infesta o mundo.

............Seu expediente expõe dados que demonstram seu valor imensurável:


“JORNAL DE LUZ
Comunicação e Cultura
A VOZ DO ALTO SÃO FRANCISCO
Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Municipal
nº 553/85 de 03/12/85”

............O editorial do nº- 1120, de 22 de abril de 2011, deixa explícita sua estrutura, bem como objetivos, através de interessante
texto intitulado UMA HISTÓRIA DE AMOR,

............Cândida se expressa:

............“Informar, registrar fatos e eventos, cultuar a língua portuguesa, a história de nossa gente, os valores do município e da região, manter o luzense ausente, o amigo de Luz, em sintonia com a nossa Terra. Deixar em cada edição uma lição de vida. (...) Chegamos, hoje, no 30º- ano de circulação, com o mesmo entusiasmo e amor pela nossa missão. Feliz por ter a honra e alegria de dizer: jamais nos deixamos corromper. Chegamos a recusar promessas vantajosas, mas falou mais alto a voz da nossa consciência. Dividimos com os leitores, amigos, colaboradores e parceiros, a alegria de comemorar o 30º- ano de circulação do Jornal de Luz, jornal da Terra, até no nome – igual a mim.”

............Na década de 50, Cândida e eu estudávamos no Colégio Imaculada Conceição de Montes Claros. Retornamos a nossos pontos de origem: ela, para Cruzeiro da Fortaleza – MG, e eu, para Mortugaba - BA. O correio teve importância capital na sedimentação de nossa amizade, transportando notícias e presentes.

............Mais tarde, passamos a residir nas cidades mineiras de Montes Claros e Luz, permanecendo, porém, um marco de identidade comum em nossa vida: AMIZADE SINCERA.

............Cândida é membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.

............Na edição nº- 1048 do Jornal de Luz, contemplamos, com vibração, sua imagem feliz, com discreta alegria, ao ser condecorada com a Medalha Santos Dumont, em 26 de outubro de 2009.

............E o escritor Osório Couto, seu confrade, registra:

............“-Assim é a Medalha Santos Dumont, concedida pelo Governo de Minas Gerais, àquelas pessoas que fizeram pelo Estado e sobressaíram na vida profissional.”

............O escritor Ronaldo Costa Couto, em substanciosa crônica (Jornal de Luz, nº 971, de 25/4/2008, faz seu perfil: - “generosa, criativa, ativa, incansável, uma guerreira do bem.”

............Sou agraciada com sua leitura. Consta em meu arquivo uma pasta com significativo título: “RETALHOS DE LUZ”. São vários recortes que de fato iluminam o leitor.

............Graças ao conteúdo dos fascículos da história luzense, amplo leque informativo e cultural, considero-o parâmetro para órgãos publicitários similares, para informarem, fundamentando-se na verdade e respeito ao tempo e à mente do leitor, perpetuando fatos e pessoas.

............Ronaldo Costa Couto foi muito feliz ao perfilar a Diretora Responsável do JORNAL DE LUZ:

“Cândida é uma fada disfarçada de jornalista.
Sua magia é que dá vida e encanto ao Jornal de LUZ”.

............Referendando seu pronunciamento, asseguro o porquê: ética, justiça, coragem, espiritualidade e amor são o quinteto responsável pela vitória que ela experimenta.

............Parabéns Cândida! Avante!


A
CONDECORADO UM MEMBRO
DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
DE MONTES CLAROS

Ático Vilas Boas da Mota
Sócio Correspondente
Macaúbas/BA

............Reportagem de Alécio Brandão, diretor de imprensa da Fundação Cultural Prof. Mota (Macaúbas).

............A Embaixada Romena em Brasília realizou uma expressiva solenidade de condecoração, quando foi agraciado, no dia 18 de março do corrente ano, às 18 horas, o Prof.Dr. Ático Vilas-Boas da Mota, veterano animador cultural em Macaúbas, além de especialista em assuntos culturais romenos. Ele recebeu a grande comenda intitulada A Ordem Nacional, O Serviço Dedicado, no grau de Comendador, o mais alto grau nessa matéria. A comenda foi entregue pelo Embaixador e escritor Mihai Zamfir, após uma alocução explicativa do alto gesto do seu país, levando em conta o trabalho desenvolvido, no campo cultural,ao longo da vida do homenageado, culminando com a recente publicação do seu livro Brasil e Romênia, pontes culturais (1200 páginas), recentemente lançado na Academia Brasileira de Letras (RJ).

............Vários diplomatas, escritores e artistas compareceram àquela memorável solenidade, destacando-se, entre outros, o Embaixador Gilberto Vergne Saboia (Presidente da Fundação Alexandre Gusmão / Itamarati), os embaixadores do Equador e do Timor-Leste, escritores, artistas plásticos, o ministro do STJ e escritor Fontes de Alencar, presidente da Associação Nacional de Escritores (ANE), o editor Victor Alegria e sua esposa Dona Isis, dedicada bibliotecária, o Sr. Constantin Rusei, Ministro Conselheiro para assuntos culturais da Embaixada Romena, acompanhado de sua descontraída esposa Dona Tinca, o jovem Tagore Alegria, Superintendente técnico da Thesaurus, além da presença honrosa do renomado poeta João Carlos Taveira, membro da Academia Brasiliense de Letras e do ilustre jornalista e escritor Dílson Ribeiro, confrade do homenageado e representante da Academia de Letras de Brasília, acompanhado de sua dileta esposa Dona Gracinha.

............Da Bahia vieram participar daquela reunião o magistrado Joaquim Coutinho, outro animador cultural de Andaraí (BA), acompanhado de sua esposa a educadora Tereza Coutinho, além do Prof. Alécio Brandão, diretor de Imprensa da Fundação Cultural Prof. Mota (Macaúbas - BA), que deu cobertura ao evento.

............O condecorado usou da palavra e fez uma espécie de declaração de seu incondicional apreço pela Romênia, tomando como pontos de referência os seguintes valores históricos que muito dignificam aquele país:

1) Os geto-dácios, antepassados dos romenos, nunca adotaram a escravidão. Muito pelo contrário, abominavam-na, enquanto todos os seu vizinhos, ao lado de outros povos em volta do Mediterrâneo, usaram-na sem nenhum constrangimento, bastando lembrar Platão em sua República que a considerava uma prática muito normal;

2) A Romênia nunca fez uma guerra de conquista, sendo todas aquelas que foi abrigada a enfrentar, apenas para a sua própria defesa. Por isso mesmo, talvez somente ela, na Europa, tenha o privilégio de olhar a história sem sentir remorso!

............Em seguida, o editor Victor Alegria usou da palavra para enaltecer a vida e a obra do condecorado.

............Ao finalizar a solenidade, o Prof. Dr. Ático com muita emoção apresentou os agradecimentos ao Governo da Romênia pela concessão de tão honroso titulo, à Embaixada pela realização do evento, a Thesaurus Editora pelo ininterrupto apoio à cultura romena no Brasil, finalizando com palavras de gratidão ao Ex-Embaixador na Romênia, Sua Excelência Jerônimo Moscardo, cuja interferência junto ao Itamarati foi decisiva para que o homenageado fosse nomeado Professor de Cultura Brasileira junto àquela Embaixada e outras instituições bucarestinas, permitindo-lhe, dessa forma, o prolongamento de sua permanência na Romênia a fim de concluir as pesquisas naquele país.


Prof. Ático Vilas Boas da Mota e o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, Dr. Dário Teixeira Cotrim.

............Encerrou-se a cerimônia com um jantar constituído somente de saborosas iguarias romenas, sendo os convivas sempre orientados pela embaixatriz Micaela Zamfir, uma inflação de simpatia, pois ela é natural de Iasi, uma bela e fidalga cidade romena, província de Mihai Eminescu, o poeta nacional romeno!


COMEMORANDO AS BODAS DE CARVALHO
(80 ANOS) AOS 100 ANOS DE IDADE

Avay Miranda*
Sócio-Correspondente
Brasília/DF

............O casal Isalino Miranda Costa e Elvira Mendes, de Taiobeiras terá três eventos inéditos para comemorar, com os familiares e amigos, entre os meses de dezembro de 2011 e abril de 2012. Ele completará 100 anos de idade, no dia 2 de dezembro. Ela completará a mesma idade no dia 17 de abril de 2012 e ambos completarão 80 anos de casados, no dia 31 de janeiro de 2012. Portanto, Irão comemorar as
bodas de carvalho.

............A história do casal começou com o nascimento de Isalino Miranda Costa, no dia 2 de dezembro de 1911, num sábado, às 9:00 da manhã, na fazenda Riinho, de propriedade de seus avós paternos, Honorato José da Costa e Maria Babara de Miranda, sendo o terceiro filho de João Miranda Costa e Luíza Rosa de Miranda. Com três meses de idade, foi batizado pelo Padre Salustiano Fernandes dos Anjos, conhecido como Padre Salu, aos 9 dias março de 1912, na Capela do Povoado de Taiobeiras, então Município de Rio Pardo, sendo os padrinhos os avós maternos Francisco Antônio Ferreira e Tereza Maria de Jesus. Foi registrado pelo Escrivão Jéferson Ferreira Soares, no dia 8 de dezembro de 1931, no Cartório de Paz, do Distrito de Taiobeiras.

............Ele faz parte de uma família de dez filhos. Pela ordem: Hermínio, Genoveva, Isalino, Aurino, Alípio, Floripes, Valdivino, Dalva, José e Maria, enquanto na Fazenda Furados, de propriedade de Teodoro Ferreira Marques e Maria Assunção da Cruz, no dia 17 de abril de 1912, nasceu Elvira Mendes, a nona de uma prole de 14 filhos, pela ordem: Deraldino, as gêmeas Maria e Maria Criatura, que faleceram ao nascer, Euclides, Antonino, Plínio, Alcindo, Jesuina, Elvira, Adelcino, Fidelzina, Mário, Idalino e Maria Rita.

............Em julho de 1926, Isalino Miranda perdeu o seu pai, João Miranda Costa, que faleceu numa viagem a Montes Claros, a cavalo, a procura de tratamento de sua saúde. Isalino foi administrar a fazenda com sua mãe, Luíza Rosa de Miranda e seus irmãos menores.

............Em janeiro de 1927, faleceu Maria Assunção da Cruz, ainda jovem com 47 anos de idade, ficando viúvo, Teodoro Ferreira Marques, que não contraiu novas nupcias, foi criar a grande prole.

............Isalino Miranda Costa frequentou a primeira escola de dona Nazinha e seu marido, Agostinho, em 1919. Esta escola funcionou por pouco tempo em Taiobeiras. Depois surgiu outra escola, sendo Professor o Sr. Trajano Rodrigues da Fonseca. Foi o que deixou mais recordações nele, por ser o mais exigente e severo. Entretanto, ele teve pouco estudo, uma vez que esteve na escola apenas por alguns meses.

............Por causa de seus afazeres na roça, Isalino Miranda não continuou com os estudos. Entretanto, como é muito inteligente, interessado e de uma memória prodigiosa, gosta muito de ler jornais, revistas e livros, o que o levou a adquirir uma boa cultura e está bem informado dos acontecimentos nacionais e internacionais.

............Com o falecimento de seu pai e não tendo sua mãe casado outra vez, Isalino Miranda Costa assumiu, juntamente com ela, todas as atividades familiares. Fez várias viagens, às vezes até à localidade de Serra, para acertar as contas que as pessoas deviam para seu pai.

............Nesta ocasião, a sua mãe ainda tinha uma economia de três contos de reis e resolveu propor ao irmão, José Antônio Ferreira, conhecido como Zé Cocá para negociar com este dinheiro e dividir os lucros. Então o Zé Cocá propôs ao seu sobrinho, Isalino, uma sociedade com aquele capital. Ele ficaria com dois contos de reis e Isalino, com um conto de reis, nas mesmas condições, tudo isto na base da confiança, sem qualquer documento.

............Em seguida, ainda em janeiro de 1927, Isalino fez a primeira viagem com seu tio Zé Cocá e Avelino Rocha, ao Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, para fazer compras de miudezas para revender na roça.

COMO NASCEU O CASAMENTO

............Numa das viagens que fazia, Isalino ouviu o senhor José Maurício dizer que se ele não fosse tão novo, queria que se casasse com uma de suas netas. Depois, pela primeira vez, falaram com ele para casar com uma moça de uma casa, onde pousava, nas suas viagens, porém, a recusa foi imediata. Argumentou pela pouca idade e disse que não tinha condições ainda para casamento.

............Logo depois, Isalino Miranda Costa fez um passeio com sua tia Selvina, na Fazenda Estrela, na Matrona e lá ficou sabendo que ia realizar um casamento, dentro de 30 a 60 dias.

............Não sabia o porquê de ter surgido um grande interesse de algumas pessoas para a senhora Selvina participar da festa e que seu sobrinho Isalino deveria estar presente. Eles foram à festa e lá ele dançou com uma moça. Depois apareceu uma irmã da primeira e ele passou a dançar com ela. Uma terceira moça, irmã das outras duas, apareceu em sua frente para dançar. Daí em diante as outras não tiveram mais oportunidade. Entretanto, na sua simplicidade, o jovem preferido pelas moças não percebia nada.

............Dias depois a senhora conhecida por Mariquinha de Valmiral, comunicou ao seu tio Zé Cocá que a terceira moça queria casar-se com ele, Isalino. Porém, ele não voltou lá, pois, ainda não pensava em casamento. Pouco tempo depois, recebeu outro pedido de casamento.

............Não deixou de ser uma surpresa, pois não havia nenhum princípio e nem interesse de namoro. Deste pedido em diante, ele começou a pensar em casamento, porém, passou a analisar a procedência e a igualdade das famílias, pois, nunca teve namorada antes.

............Numa das atividades com sua mãe, indo para a casa do seu tio Zé Cocá, no Riinho, em 1931, em meio do carrasco, onde passavam por um carreiro, que é um desvio, encontraram-se com o senhor Teodoro Marques, na descida da ladeira do Coqueiro para o Córrego de Lages, com destino à sua casa. Como era costume os pais combinar o casamento dos filhos, ele virou para a dona Luíza e disse: “eu ia lá em sua casa.” Ela disse, “então vamos voltar?” Ele respondeu: “o que eu ia falar lá, posso falar aqui mesmo. Quero lhe pedir este filho seu para casar-se com minha filha Elvira.”

............Ao ouvir estas palavras, Isalino tomou um grande susto, pois foi a maior surpresa da sua vida, uma vez que não houve nenhum motivo para pensar em casamento com ela, ou com qualquer outra moça da casa. Porém, o pai da moça continuou a conversa e disse se der certo, esperava realizar o casamento dentro de seis meses. Neste momento, sua mãe o interrompeu e disse: “depende dele”. Consultado, Isalino disse que ia pensar e depois dava a resposta.

............Pensou por alguns dias, consultou o seu tio Zé Cocá e deu resposta positiva, mas, queria construir a casa própria porque não queria morar na casa do sogro e nem com sua mãe. Em seis me ses construiu uma casa com cinco cômodos, perto da casa de sua mãe, na Fazenda Coqueiro, onde residiu até nascer os três primeiros filhos: Delcy, Renay e Avay.

............O casamento foi realizado no dia 31 de janeiro de 1932, na Igrejinha da sede do Distrito de Taiobeiras, município de Salinas, às 17 horas, sendo celebrante o Cônego Gilberto, de Salinas, servindo de testemunhas seu tio José Antônio Ferreira, o Zé Cocá e Trajano Americano Mendes. O casamento civil foi celebrado pelo Juiz de Paz José Ribeiro Guimarães, as testemunhas foram as mesmas e a festa foi realizada em casa de dona Jovita Rêgo, tia da noiva, num dia de domingo. A festa constou de muita comida e bebida e durou três dias.

............Após o casamento, Isalino e Elvira foram residir no Coqueiro, próximo à casa de sua mãe. Mesmo casado, foi cuidar de sua vida, mas, não deixava de colaborar com sua mãe, nas atividades de administrar a fazenda, além de cuidar das terras, localizadas no Córrego de Lages, que a esposa Elvira herdara por falecimento de sua mãe, Maria Assunção da Cruz, enquanto sua esposa cuidava da casa e dos filhos, que começaram nascer no ano seguinte ao do casamento, 1933.

............Deste casamento nasceram 13 filhos: Delcy, Renay, Avay, Doracy, Abias, Nely, Creusa, Nilda, Zélia, Anísio, Luíza Nilza, Leni e Elcy.

............Isalino Miranda Costa sempre se dedicou aos afazeres da Fazenda. Na juventude, trabalhou com sua mãe na Fazenda Coqueiro. Logo depois do casamento, em 1933, sua mulher herdou uma Gleba de terras de seu tio João Mendes Filho, junto com a parte que herdou de sua mãe, no Córrego de Lages. Em 1937 adquiriu uma parte da Fazenda Coqueiro, situada no lado direito do Rio do mesmo nome, limitando-se com as terras de sua mãe. Nesta Fazenda Coqueiro ele construiu uma casa residencial, ampliou um pomar, que produzia as melhores frutas e ali instalou uma fábrica artesanal de cachaça, em 1948, cujo produto é muito apreciado pelos usuários e atualmente a fábrica é dirigida pelo seu filho Dezinho. Em 1954 adquiriu as terras das localidades de Lagoa do Mandacaru e Barreiro Grande, neste Município. Com o falecimento de seu sogro, Teodoro Marques, ele adquiriu as partes dos outros herdeiros e ficou com a sede da Fazenda denominada Furados, ligando todas as Glebas de terras desta fazenda, Córrego de Lages e Coqueiro. Tudo isto foi adquirido com muito sacrifício e economia.

............Em 15.01.1951, ele efetuou o Alistamento Militar, de 3ª Categoria, cujo certificado tomou o número 662.538. Em 25.09.1945, retirou o seu primeiro Título Eleitoral. No dia 27.03.1957 requereu o Título Eleitoral que vinha com a fotografia do eleitor.

............Já estava na política e necessitava de aumentar os seus conhecimentos, frequentou as aulas no Grupo Escolar Deputado Chaves Ribeiro e concluiu o Curso Primário com média 9, tendo recebido a Certificado no dia 08.12.1967.

VIDA PÚBLICA

............Um fato que aconteceu com Isalino Miranda Costa ocorre com poucas pessoas no País, que é servir nos três Poderes, pois, ele foi Juiz de Paz, Vereador, Vice-Prefeito e Prefeito, em Taiobeiras.

............Durante o tempo em que ocupou o cargo de Juiz de Paz, dirimiu muitas dúvidas e resolveu conflitos e as partes ficavam satisfeitas, tanto que ele estabeleceu um conhecimento muito grande das questões jurídicas e foi, por muitos anos, uma espécie de intermediário entre o povo de Taiobeiras e as autoridades judiciárias de Salinas. Ele era procurado pelas partes interessadas e levava as questões para o advogado, Dr. Morais, em Salinas. Depois do falecimento deste advogado, o seu filho, Dr. Ivo Morais, ficou como seu interlocutor. Os advogados encaminhavam os problemas para serem solucionados pela Justiça. Tudo isto, ele fazia sem nada cobrar dos interessados.

............Assim, Isalino Miranda Costa contribuiu para resolver muitos problemas de terras, inventários, arrolamentos, atritos de vizinhos e outras questões, pois, naquela época não havia advogado em Taiobeiras e ele era o intermediário entre as partes e os advogados em Salinas.

............Ele entrou na vida pública, por causa de seu dinamismo e honestidade. Em 1945 Ageu e Sidney Almeida resolveram construir um campo de pouso de avião, com uma pista de 400 metros de comprimento por 100 metros de largura em Taiobeiras, porque Natércio França, do Aeroclube de Montes Claros, havia prometido se houvesse uma pista daquela dimensão, ele desceria de avião teco-teco para inaugurar o campo.

............Isalino Miranda Costa foi procurado por Ageu e Sidney, que propuseram para ele administrar o serviço, o que foi aceito. Eles foram procurar o local e o terreno escolhido foi por sua sugestão. Logo em seguida começou o serviço, no mês de março de 1945. Um dia de serviço valia na época 5 mil reis e ele propôs pagar um mil reis por hora trabalhada, de segunda a sexta-feira e apareceu tanta gente que dentro de 60 dias a pista estava pronta, não de 400 metros, como programada, mas de 800 metros de comprimento por 100 metros de largura. A nova extensão do campo foi resolvida no decorrer de sua construção.

............No mês de maio a pista foi inaugurada pelo avião Teco-teco de Natércio França e outro, do mesmo tipo, dirigido pelo piloto conhecido por Pontual.

............Durante o tempo em que trabalhava na construção do campo, Isalino teve algumas aulas de Português e Matemática, ministradas por Ageu e Sidney Almeida.

............Logo depois da construção do campo de aviação, ele foi procurado pelo Sr. Arquimedes Moreira de Almeida, que era o chefe político do Distrito de Taiobeiras, que disse: “Olhe Isalino, eu quero que você seja o meu substituto na política. Já estou ficando velho e não aguento mais. Você fica conosco, que terá apoio total e na primeira eleição você vai ser candidato a segundo suplente de Juiz de Paz, pelo PSD”. Sem pensar, Isalino Miranda respondeu que aceitava, porém, com uma condição, que na primeira revisão do Estado, fosse feita a emancipação política de Taiobeiras. Arquimedes Moreira, com sua característica respondeu: “Por Nossa Senhora, com você não há obstáculo”. Naquele momento foi selado o acordo com um aperto de mão.


1 - Foto do casal Elvira e Isalino Miranda.
2 - Fotografia da família em formação. Da esquerda para a direita:
Teodoro Marques, sua filha Elvira Mendes, com seu 3º filho no colo Avay, a 2ª filha Renay, Isalino Miranda e sua mãe Luiza Rosa, tendo no meio o 1º filho Delcy.
3 - Uma reunião em Belo Horizonte, de Isalino Miranda Costa e Francisco Vieira dos Santos, com autoridades de Salinas e o Deputado José Chaves Ribeiro, tratando da criação das Escolas Reunidas em Taiobeiras, antes de sua emancipação.


4 - Isalino Miranda, quando era prefeito, com o Deputado Cícero Dumont numa
reunião da CODEVALE em fevereiro de 1972.
5 - Foto das quatro gerações: Assentada, Tereza Rosa de Jesus, à direita Luíza Rosa
de Miranda, Isalino Miranda, ao lado do filho Delcy e com o neto Avani.
6 - As quatro gerações, começando à esquerda, por Luíza Rosa de Miranda, Isalino, seu filho Delcy, o neto Avani e a bisneta Alba Valéria.


7 - Quatro gerações, começando à esquerda, pelo patriarca Isalino, o filho Delcy, o neto Avani, a bisneta Alba Valéria e o trineto João Vitor.
8 - Foto do casal e os filhos, por ocasião das Comemorações das Bodas de Prata, em 1957.
9 - Foto do casal e dos 12 filhos, por ocasião da Comemoração das Bodas de Ouro, em 1982.


10 - Foto da família reunida: o casal com filhos, noras, genros, netos e bisnetos, por ocasião das comemorações das Bodas de Platina, 65 anos de casados, em 1997.
11 - Foto de parte da família reunida, por ocasião das comemorações das Bodas de Brilhante, 75 anos de casamento, em 2007.
Fotos deste Álbum de Avay Miranda.

............Veio a eleição de 23 de novembro de 1947 e Isalino foi eleito segundo suplente de Juiz de Paz, com 237 votos, tomando posse no dia 12.12.1947 e em menos de um ano, já estava bem relacionado com todas as autoridades do Município de Salinas. Como não tinha prática, pegava orientação com as autoridades, especialmente o advogado, Dr. Morais e o Juiz, Dr. Pessoa. Este lhe sugeriu adquirir o livro “Justiça de Paz”, onde aprendeu tudo sobre Juiz de Paz.

............Na eleição de 3 de outubro de 1950, foi eleito Juiz de Paz, com 452 votos, na mesma legenda do PSD. Naquele período fez tudo que um Juiz de Paz podia fazer. Celebrava casamento, conciliava as partes em litígio, acertava questões de limites de terras, problemas familiares, questões de animais, serviu como Delegado de Polícia e ficou responsável até pelos Correios e Telégrafos. Era a autoridade constituída do Distrito de Taiobeiras. Tinha apoio total, tanto da situação, como da oposição.

............Entre 1951 e 1952, um deputado conseguiu uma verba Estadual para ampliar a pista, sinalizar e cercar o campo de aviação. Ele foi procurado pelo Engenheiro, Dr. Gilberto de Almeida, encarregado de executar a obra para administrar o serviço. Aceito o desafio e depois de receber as instruções, ele enfrentou de novo o serviço do campo.

............Quando terminou o serviço, foi fazer a prestação de contas, tendo sobrado um pouco de dinheiro da verba e o Dr. Gilberto de Almeida disse: “É a primeira vez que vejo sobrar dinheiro de serviço público”.

............Veio o processo de emancipação política de Taiobeiras e ele tomou parte em todas as discussões. Na última reunião na casa de Idalino Ribeiro, com a presença do Deputado Federal Clemente Medrado, do Deputado Estadual José Chaves Ribeiro, de Albino Teixeira e Conrado Veríssimo de Oliveira, representando Berizal, em Salinas para definir os limites do novo Município, somente ele de Taiobeiras que estava presente. Berizal pertencia a Águas Vermelhas, ainda não era emancipada. Como Salinas não abria mão de uma parte da Matrona, ficou acertado que Berizal e a Serra ficariam para Taiobeiras.

............Conrado Veríssimo de Oliveira e Albino Teixeira não aceitaram os novos limites e começaram a construir um Grupo Escolar na Serra, como se fosse no Município de Salinas. Foi necessário ir um engenheiro para aviventar os limites do Município para resolver a questão.

............Com a emancipação, em 1953, Isalino sugeriu mudar o nome de Praça Cel. Idalino Ribeiro para Avenida da Liberdade, como é conhecida atualmente. A instalação do Município se verificou em 1º de janeiro de 1954, com a nomeação do primeiro intendente Lídio Ituaçu e depois do segundo, Osvaldo Costa. Aí houve muitas dificuldades até eleição do primeiro Prefeito do novo Município.

............Em 3 de outubro de 1954, ele foi candidato a vereador, ainda na legenda do PSD, que só fez quatro vereadores, sendo ele o mais votado, com 114 votos. Ficaram na oposição, porque a facção contrária ganhou a eleição para Prefeito, com Lúcio Miranda da UDN/PR, mas Isalino mantinha um bom relacionamento tanto na oposição, como na situação. Sabia dos segredos de ambas as facções, mas, não podia revelar a ninguém. Por sua sugestão, o PSD lançou o candidato Francisco Vieira dos Santos, porque era vereador e foi o mais votado do Município de Salinas, no pleito anterior, ficando Dezinho David na chapa como Vice-Prefeito.

............Na eleição de 3 de outubro de 1958 foi novamente candidato a vereador pela mesma legenda, sendo eleito com 74 votos, o mais votado do Partido. No fim deste mandato, um dia o Dr. Uilton Costa Mendes o chamou para um passeio. Saíram como se fosse para a localidade do Mestre. Porém, foram parar próximo a ponte de madeira do Rio Pardo. Lá, então, o Dr. Uilton o convidou para passar para o seu grupo, informando que ele seria, inicialmente, candidato ao cargo de Juiz de Paz pela UDN. A proposta foi aceita e na eleição de 7 de outubro de 1962 foi candidato a Juiz de Paz. Como Jonas Tiago de Oliveira foi o mais votado, ele ficou na suplência, com 476 votos, mas exerceu o cargo de novo.

............Por ter mudado de facção política, foi muito criticado pelos seus antigos companheiros do PSD, mas, ele tinha mais apoio e era valorizado pelo pessoal da UDN e PR. No fim do mandato, a UDN passou a ser ARENA. Na escolha de candidatos, Isalino foi escolhido para Vice-Prefeito na chapa de Uilton Costa Mendes. Naquela época o vice era votado normalmente e Isalino foi eleito, com 1.580 votos, em 15 de novembro de 1966, pela ARENA.

............No fim deste mandato, em 1970, surgiu o mandato de dois anos para Prefeito, sendo ele o candidato único, tendo como vice, Renato Almeida. Foi eleito com 1.753 votos. Com esta eleição completou sete eleições consecutivas: duas vezes como Juiz de Paz, duas vezes como vereador, outra vez como Juiz de Paz, uma vez como Vice-Prefeito e uma vez como Prefeito, encerrando aí a sua carreira política, ao finalizar o mandato de Prefeito em 1972.

............Embora tenha ficado apenas dois anos na Prefeitura e recebeu o Município com um débito muito alto. A Prefeitura estava com as prestações da Patrol atrasada, assim como várias prestações do Trator. O orçamento da Prefeitura era muito pequeno, apenas de Cr$-400.000,00 para o ano de 1971, mas, o novo Prefeito passou a pagar todo o débito, pagou todas as prestações atrasadas e quitou a conta da balança.

............Sua administração foi das mais progressistas, tendo conseguido muitas obras para o Município, inclusive, começou a construção do Hospital Santo Antônio e iniciou a colocação de meio-fio e implantar o calçamento das ruas centrais da cidade.

............Encaminhou o projeto de convênio com o Departamento de Água e Energia Elétrica - DAE, um Órgão do Estado, para transferir a responsabilidade da eletrificação do Município para aquele Departamento. O projeto foi aprovado e foi ele quem firmou o convênio, somente a execução do serviço que se verificou no mandato seguinte, de Dr. Uilton Costa Mendes. No seu mandato, ele pediu a encampação do serviço de Água pela Companhia Mineira de Água e Esgotos - COMAG, o Órgão estadual antecessor da Companhia de Saneamento de Minas Gerais - COPASA, criada pela Lei Estadual nº 6.475, de 14 de novembro de 1974.

............Foi o Prefeito Isalino Miranda Costa que iniciou a arborização das ruas de Taiobeiras e plantou as primeiras mudas em frente ao mercado Municipal, numa solenidade, tendo ele plantado a primeira muda e cada vereador presente plantou uma muda de árvore. Dona Santa estava presente e também planou uma muda. Ele conseguiu as mudas em Belo Horizonte e trouxe no fundo da Rural que a Prefeitura tinha na sua administração. Foram plantadas, naquela época, as mudas na Avenida da Liberdade, na Praça José Americano Mendes e na Praça da Matriz. As palmeiras imperiais da Praça da Matriz foram plantadas na sua administração.

............Na sua administração ele mandou desmanchar o Jardim da Praça da Matriz, construído na época de Osvaldo Costa, para construir ali o Jardim previsto no Plano de Engenharia, do Plano Diretor da cidade.

............Na sua gestão, a Prefeitura adquiriu uma gleba de terras, dos herdeiros do senhor Elpídio Martins, onde ainda havia uma reserva de mata virgem natural, abaixo da Escola Estadual Tancredo Neves e próximo da Vila Cruz. Prosseguiu na construção de estradas Municipais e na ligação com Rio Pardo de Minas, construção de prédios para as escolas municipais, entregou a Prefeitura sem débito e com saldo em caixa.

............Depois de ter sido Prefeito, assumiu a direção do Diretório Municipal da ARENA, transformado em PDS. Continuou dirigindo o Diretório Municipal, enquanto durou a união dos compa nheiros. Logo que houve desentendimento entre eles, deu por encerrada a sua carreira política, ficando somente a amizade entre todos, especialmente com o Dr. Uilton Costa Mendes e com o Dr. Geraldo Rodrigues de Oliveira, este último taiobeirense e Juiz de Direito.

............Isalino Miranda foi presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Taiobeiras, do Sindicato Rural de Taiobeiras, foi Presidente do Mobral Municipal, da Comissão de Educação Municipal e presidiu o Conselho Particular São Sebastião da Sociedade de São Vicente de Paulo.

............É católico praticante, muito ligado à Igreja, foi auxiliar direto do Frei Jucundiano Kok e depois do Frei Constâncio. É fundador da Liga Católica Jesus Maria José e da primeira Conferência vicentina, ambas em 1938.

............Além dos cargos enumerados acima, foi o Tesoureiro e praticamente o dirigente da Liga Católica Jesus, Maria e José, desde a sua fundação, em 1938, durante 52 anos. Foi Presidente do Apostolado da Oração, por alguns anos. Foi Ministro Extraordinário da Eucaristia, no tempo do Frei Jucundiano e nos últimos dias de sua vida, foi um dos principais auxiliares daquele sacerdote, durante sua doença.

............Na ausência do Frei Juca, celebrava culto na Igreja, juntamente com Elísio Valter dos Santos, Sizino Araújo dos Santos e Sinvaldo Mendes Rocha. Foi auxiliar direto do Frei Constâncio Malles, durante o tempo em que ele atendeu a Paróquia de Taiobeiras e ficava hospedado em sua casa. Continuou Ministro Extraordinário da Eucaristia durante alguns anos com o Frei Salésio Heskes.

............Em 24.12.1971 recebeu o Diploma de Honra ao Mérito, pelo Ministério da Educação e Cultura, por ter, como Prefeito, participado do processo de erradicação do analfabetismo, pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização - Fundação MOBRAL.

............O Grupo de Jovens Beija Flor, de Taiobeiras, outorgou-lhe um Diploma de Honra ao Mérito, em 01.05.1979, em decorrênde sua colaboração na construção da sede própria, situada na Rua Bom Jardim.

............Recebeu homenagem da 50ª Festa de Maio, em 11.05.2006,
prestada pela Prefeitura Municipal de Taiobeiras.

............Em 27.05.2006, recebeu homenagem da Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil de Taiobeiras, pelos serviços prestados ao Município para a criação e instalação da Comarca em Taiobeiras.

............Foi homenageado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, em 01.12.2007, com a Medalha Desembargador Hélio Costa, pelos serviços prestados à Justiça de Minas Gerais para a aprovação e instalação da Comarca de Taiobeiras.

............Em 29.06.2008 recebeu homenagem da Federação das Ligas Católicas Jesus, Maria e José, pelos 70 anos de fundação daquela Liga em Taiobeiras.

............A família comemorou as Bodas de Casamento mais importantes, como Bodas de Prata (25 anos), Bodas de Ouro (50 anos), Bodas de Diamante (60 anos), Bodas de Platina (65 anos), Bodas de Vinho (70 anos), Bodas de Brilhante (75 anos) e está na expectativa de comemorar as Bodas de Carvalho, 80 anos de casamento, em janeiro de 2012, juntamente com as comemorações de 100 anos de idade de Isalino Miranda Costa, em 2.12.2011 e de Elvira Mendes, em 17.04.2012.

............Da união do casal, nasceram 13 filhos, sendo que 11 deles estão vivos. Compõem a família, atualmente mais quatro noras, dois genros, 30 netos, 33 bisnetos, 3 trinetos, doze noretas e sete genretes e chegou-se à 4ª geração, com o nascimento do trineto, João Vitor Batista Magalhães, em abril de 2000, filho da bisneta Alba Valéria Batista Miranda Magalhães, casada com Roberval Rodrigues Magalhães Filho, que já tem outra filha, Lara Vitória Batista Magalhães e o terceiro trineto, João Gabriel Veríssimo Both, que é filho da bisneta Marusa Batista Miranda e seu marido Nilmário Pereira Both.

............O casal possui descendentes espalhados por várias cidades do país, além de Taiobeiras, Belo Horizonte, Diamantina, Governador Valadares, Montes Claros, Teófilo Otoni, Uberlândia, Petrolina-Pe e Brasília. Entre os filhos, netos e bisnetos, vários fizeram o curso superior, como pedagogia, advocacia, enfermagem, agronomia, línguas, arquitetura, desenho industrial, comunicação, biologia, administração de empresa, farmácia, educação física, ciência da informática, entre outras.

CONCLUSÃO

............Estes são os traços biográficos do casal que comemorará as Bodas de Carvalho, em janeiro próximo e 100 anos de vida de cada um, sendo que ele comemorará no dia 2.12.2011 e ela completará no dia 17.04.2012. Os filhos e netos, procuram beber nesta rica fonte os ensinamentos de honradez, honestidade e moralidade. Foi esta linha de atuação que eles transmitiram aos seus descendentes.

............A família unida resolveu eleger o período de abril de 2011 a abril de 2012, como o ano do centenário, durante o qual haverá diversas comemorações, culminando com uma reunião da família, parentes e convidados, nos dias 6, 7 e 8 de janeiro, em Taiobeiras para comemorar os três eventos.

___________________
*Avay Miranda é taiobeirense, Juiz aposentado e sócio correspondente do
IHGMC.


JOÃO EVANGELISTA NETO DA SILVA
JOÃO PINTOR

Terezinha Teixeira Santos
Sócia Correspondente
Guanambi/Bahia

............Guanambi ganhou brilho, colorido e alegria quando recebeu de braços abertos o grande pintor e escultor João Evangelista Neto da Silva, o famoso João Pintor.

............Com ele veio sua esposa Georgina Maria de Jesus e seus dois filhos Rosalvo Evangelista da Silva, também um exímio pintor e Carmelita Evangelista da Silva, que quando criança foi para Salvador levada por um casal.

............João Pintor, natural do distrito de Brejinho das Ametistas, município de Caetité – Bahia nasceu em 1908, filho de Joaquim Evangelista da Silva, o seu Quinzinho. Sempre viveu na sua terra natal, onde tirou proveito de sua infância e juventude. Mas o destino um dia o fez filho de coração da nossa Guanambi.

............Desde cedo, João Pintor revelou suas características de homem inteligente e sua vocação pela pintura e pela escultura, desenhando com traços firmes, figuras com expressões definidas, criadas no seu interior. Seu trabalho ainda em fase inicial impressionou o Padre Luiz Pinto Bastos (Monsenhor Bastos) quando o pai do pintor deu-lhe de presente uma imagem de Santa Terezinha, esculpida hum bloco de tabatinga. O Padre, encantado com a perfeição da obra, divulgou o trabalho em diversas paróquias e, com a ajuda do Bispo da Diocese de Caetité, Dom Juvêncio de Brito, João Pintor foi levado para Salvador, sendo matriculado na Escola de Artes Plásticas, onde permaneceu pouco tempo.


Guanambi no tempo de João Pintor.
João Evangelista da Silva João Pintor.
Pintura de parede - Casa de Dona Dedé - feita por João Pintor.

............Manifestando o seu espírito bucólico, preferiu retornar para a sua terra natal, viver à maneira do sertanejo, buscar inspiração nas coisas do sertão, dando asas a sua imaginação.

............Era João Pintor dono de mãos hábeis, nas quais prendia um pincel, que levemente deslizava sobre papel, tecido, parede ou qualquer outra configuração que lhe oferecesse condição de registrar a sua criação, quase sempre rebuscando a natureza, de aspecto inerte ou vivaz, com todos os seus delicados detalhes. Em cada canto de nossa cidade, via-se um pedacinho da arte do saudoso pintor.

............Eram de relevante beleza seus quadros, painéis ou faixas para as festas religiosas ou profanas. O seu trabalho na preparação de cartazes anunciando a exibição de um novo filme foi proeminente e marcante na vida de Guanambi de ontem, carente de outros meios de comunicações. Eram realmente convidativos e atraentes, distribuídos e atados nos troncos de algumas árvores que embelezavam a cidade.

............Até hoje temos a glória de contemplar lindos quadros pintados a óleo pelo nobre pintor na grande sala do sobrado, pertencente à família Joaquim Domingues de Souza, situado na Praça da Bandeira, nesta cidade, o que constitui uma exímia e verdadeira obra prima.

............A sua habilidade e sua maneira simples de viver eram retratados na beleza dos seus trabalhos e na perfeição de suas obras.

............João Pintor apreciava as cores fortes, e nos seus trabalhos dava preferência às variedades de flores.

............Assim que enviuvou, deixava transparecer a sua grande paixão e sua eterna saudade da mulher amada, demonstrando na própria fisionomia o desencanto pela vida. Tornou-se uma pessoa triste e deprimida, procurando aliviar sua dor nas baforadas do seu inseparável cigarro denso e tosco.

............Além da pintura, passava horas esculpindo pedaços de madeira, transformando-os em figuras de vultos importantes ou de imagens de santos protetores, trabalhos que o imortalizaram no mundo das Artes Plásticas.

............Uma manhã chuvosa, dia 4 de novembro de 1993, lhe trouxe a morte. Partiu o velho pintor ao encontro de sua musa.


Oscar Lorenzo Fernândez - Patrono

............Oscar Lorenzo Fenândez nasceu no Rio de Janeiro em 04 de novembro de 1.897, vindo a falecer no dia 27 de agosto 1948, aos 50 anos. Filho de pais espanhóis, ainda rapaz começou a tocar nas festas dançantes do centro galego. Deixou a faculdade de medicina para seguir o seu impulso criador musical, tendo ingressado na escola nacional de música (Universidade Federal) em 1917. Após um curso de raro brilhantismo em 1923, substituia seu mestre na catedra de harmonia, contraponto e fuga e composição. Aos 20 anos estréia no cenário artístico internacional, tirando o 1º prêmio com a sua composição “Trio Brasileiro” que mereceu de Mário de Andrade a seguinte crítica. O trio brasileiro revela um artista em plena posse e emprego de sua personalidade poderosa. Nele, Lorenzo Fernândez, inteiramente convertido nos tipos melódicos e ritmicos nacionais, criou uma obra de suma importância que não só marca a etapa definitiva de sua carreira como serve para marcar uma data na evolução musical brasileira. É vastissimo o catálago de suas obras, sinfônicas, camerísticas e para canto, piano, etc. Representou o Brasil várias vezes no exterior como regente à frente de várias orquestras e como conferencista. Sempre esteve na liderança de associações coletivas como a sociedade de cultura musical, acadêmia brasileira de música. Foi fundador da revista ilustração musical. Foi com Villa Lobos fundador do Conservatório Brasileiro de Música no Rio de Janeiro, onde imprimiu com sua força, dianamismo e brilho o êxito dessa instituição educacional que se mantém na liderança artística nacional há mais de 50 anos. Pelo Conservatório Brasileiro de Música passaram grandes nomes de compositores e interpretes fazem a história da música brasileira dos nossos dias. Lorenzo Fernândez casou-se com Irene Sotto e deixou dois filhos, Oscar e Marina. Seu sucesso maior foi o do reisado do pastoreio suíte em três partes que contém o famoso batuque que encantou Toscanini e Koussevitzky. O Conservatório Estadual de Música Lorenzo Lornândez, inaugurado em 14 de março de 1961, foi nomeado em sua homenagem. Como professor e educador deixou saudades. Como criador permanece vivo. Marina Lorenzo Fernandez é filha de Orcar Lorenzo Fernandez.


BIBLIOTECA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

LIVROS RECEBIDOS

- O Sertão Norte-Mineiro - Antônio Ferreira Cabral. Editora Polígono.
Montes Claros. 1985.

- Capitão Enéas: um Mauá no Norte de Minas - Antônio Ferreira
Cabral. Ed. Litterra Maciel Ltda. Belo Horizonte. 1985.

- A Injusta Justiça - Antônio Ferreira Cabral. Ed. Polígono. Montes
Claros. 1996.

- O Poder Feminino - Antônio Ferreira Cabral. Ed. Millennium. Montes Claros. 2008.

- Um Poema Para Eulina - Dário Teixeira Cotrim. Ed Cotrim/Millennium.
Montes Claros. 2011.

- O Cemitério das Loucas - Dário Teixeira Cotrim. Ed otrim/Millennium.
Montes Claros. 2010.

- Além do Plenário - Presidentes da Câmara Municipal de Belo Horizonte - 1936 a 2008.

- Rio São Francisco: vapores & vapozeiros - Domingos Diniz/ Ivan
Passos Bandeira da Mota e Mariângela Diniz. Pirapora - MG.

- Ciclones e Macaréus: o parlamentar na história de Belo Horizonte.

- As Dores da Seca - Terezinha Teixeira Santos. Ed. Giordani. Guanambi - Bahia. 2010.

REVISTAS RECEBIDAS

- Revista Integração - oferecimento do confrade João Martins.
Guanambi - Bahia

- Revista Imagem - oferecimento do editor. Caetité - Bahia.

- Revista da Arcádia de Minas Gerais. Volume V - novembro de
2009. Oferecimento do confrade Daniel Antunes Junior.

- Revista da Arcádia de Minas Gerais. Volume VI - novembro de
2010. Oferecimento do confrade Daniel Antunes Junior.

- Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Volume
XXXII - maio de 2009. Oferecimento do confrade Daniel Antunes Junior.

- Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Volume
XXXIII - dezembro de 2009. Oferecimento do confrade Daniel Antunes Junior.

- Revista da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Lei Orgânica
20 anos.

OBJETOS RECEBIDOS

- Um machado de pedra dos índios Botocudos, encontrado nas margens do rio Verde Grande, no ano de 1975. Oferecimento de Geraldo Alcântara.


- Um pilão de pedra dos índios (Conforme texto de Simeão Ribeiro Pires, nesta Revista).

- Um canhão de guerra, doação da família do Dr. Simeão Ribeiro Pires.


ÍNDICE

Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - 3
Lista de Sócios Efetivos do IHGMC - 5
Apresentação - 9
Homenagens - 10
Dário Teixeira Cotrim
Memória de Montes Claros – 13
Dário Teixeira Cotrim
Canhão de Guerra - 18
Fabiano Lopes de Paula
Dois Construtores do Futuro - 21
Felicidade Patrocínio
Yara Tupynambá – 28
Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa
História Repetida num Dia da Pátria – 39
Haroldo Lívio
O Fundador de Jornais – 43
Haroldo Lívio
Esboço de Konstantin – 46
Itamaury Teles de Oliveira
Ao Mestre Konsta, com Carinho – 49
Juvenal Caldeira Durães
Coisas do Passado III – 54
Karla Celene Campos
Homenagem a Konstantin:
O Doce Sabor da Stevia e o Canivete Suíço – 60
Lázaro Francisco Sena
A Banda de Música do 10º Batalhão – 62
Maria da Glória Caxito Mameluque
A Célebre Justiça da Vila Risonha de São Romão – 71
Marilene Veloso Tófolo
Terezinha Vasquez – 77
Marta Verônica Vasconcelos Leite
O Turismo e o Patrimônio Arqueológico:
Uma Possibilidade de Desenvolvimento Sustentável – 82
Milene Coutinho Maurício
Doutor Coutinho – 106
Miriam Carvalho
A Menina Clarice - 113
Petrônio Braz
Análise de Comportamento em “Tutameia” – 117
Reginauro Silva
Encontro Cadavérico – 122
Roberto Pinto da Fonseca
Histórico dos Municípios do Norte de Minas – 124
Ronaldo José de Almeida
O Velho Mercado – 142
Simeão Ribeiro Pires
Descobertas Indígenas em Montes Claros – 146
Wanderlino Arruda
Konstantin Christoff e Samuel Figueira – 149
Wanderlino Arruda
Doutor Rameta e “Os Meninos do Sapé” – 151
Zoraide Guerra David
Preito ao Padre Murta – 154
Zoraide Guerra David
Parabéns ao “Jornal De Luz”! – 160
Ático Vilas Boas da Mota
Condecorado um Membro do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros – 163
Avay Miranda
Comemorando as Bodas de Carvalho (80 Anos)
Aos 100 Anos de Idade – 166
Terezinha Teixeira Santos
João Evangelista Neto da Silva - João Pintor – 184
Homenagem ao Conservatório Estadual de Música
Lorenzo Fernândez – 188
Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - 190


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Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
39.400-057 - Montes Claros - MG
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Telefax: (38) 3221-6790
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e Geográfico de Montes Claros,
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39400-000 - Montes Claros - Minas Gerais
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