dsgfs
curricilo
 
 

 


COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007


Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Jornalista LUIS RIBEIRO
Dr. WANDERLINO ARRUDA


DIRETORIA 2010- 2011

PRESIDENTE DE HONRA Dr. LUIZ DE PAULA FERREIRA
PRESIDENTE Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
1º VICE - PRESIDENTE Dr. WANDERLINO ARRUDA
2º VICE - PRESIDENTE Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
DIRETORA EXECUTIVA ROBERTO CARLOS M. SANTIAGO
DIRETOR-SECRETÁRIO Dr. PETRÔNIO BRAZ
DIRETOR-SECRETÁRIO ADJUNTO Profa. MARTA VERÔNICA V. LEITE
DIRETOR DE FINANÇAS Coronel LÁZARO FRANCISCO SENA
DIRETOR DE FINANÇAS ADJUNTO Profa. KARLA CELENE CAMPOS
DIRETORA DE PROTOCOLO Dra. MARIA DA GLÓRIA C. MAMELUQUE
DIRETORA CULTURAL Profa. FELICIDADE PATROCÍNIO
DIRETORA DE BIBLIOTECA Profa. RUTH TUPINAMBÁ GRAÇA
DIRETORA DE MUSEU Profa. MARIA LUÍZA SILVEIRA TELLES
DIRETOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS Jornalista REGINAURO R. DA SILVA
DIRETORIA DE JORNALISMO Jornalista BENEDITO DE PAULA SAID
DIRETORA DE CURSOS Profa. MARIA GERALDA DE SENA SOUZA

CONSELHO CONSULTIVO

Dr. JOSÉ GERALDO DE FREITAS DRUMOND
Dr. WALDYR DE SENA BATISTA
Profa. YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA

COMISSÃO DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA

Prof. IVO DAS CHAGAS
Profa. ANETE MARÍLIA PEREIRA
Profa. MARIA APARECIDA COSTA


COMISSÃO DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA

Profa. MARTA VERÔNICA VASCONCELOS LEITE
Prof. CÉSAR HENRIQUE DE QUEIROZ PORTO
Profa. FELICIDADE PATROCÍNIO

COMISSÃO DE ANTROPOLOGIA, ETNOGRAFIA
E SOCIOLOGIA

Prof. GY REIS GOMES BRITO
Profa. CLÁUDIA REGINA ALMEIDA

COMISSÃO DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIO
S

Jornalista MAGNOS DENNER MEDEIROS
Profa. MIRIAM CARVALHO
Dra. FELICIDADE VASCONCELOS TUPINAMBÁ
Profa. ZORAIDE GUERRA DAVID
Dr. WANDERLINO ARRUDA
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

COMISSÃO DA REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO

Dr. PETRÔNIO BRAZ - coordenador
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. ITAMAURY TELLES DE OLIVEIRA
Dr. WANDERLINO ARRUDA
Prof. JUVENAL CALDEIRA DURÃES
Profa. MARTA VERÔNICA VASCONCELOS LEITE
Jornalista LUIS CARLOS NOVAES


COMISSÃO REVISORA DA REVISTA

Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Coronel LÁZARO FRANCISCO SENA
Dr. WANDERLINO ARRUDA


LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC

CD
Sócios
Patronos
01
Dr José Santos Rameta Alpheu Gonçalves de Quadros
02
Escritora Milene A. Coutinho Maurício Alfredo de Souza Coutinho
03
Padre Antônio Alvimar Souza Antônio Augusto Teixeira
04
Professora Claúdia Regina Almeida Antônio Augusto Veloso (Desemb.)
05
Profª Yvonne de Oliveira Silveira Antônio Ferreira de Oliveira
06
Prof Marcos Fábio Martins Oliveira Antônio Gonçalves Chaves
07
Professora Maria Aparecida Costa Antônio Gonçalves Figueira
08
Professora Anete Marilia Pereira Antônio Jorge
09
Professora Isabel Rebelo de Paula Antônio Lafetá Rebelo
10
Professora Maria Florinda Ramos Pina Antônio Loureiro Ramos
11
Jornalista Reginauro Rodrigues da Silva Ary Oliveira
12
Dr Antônio Augusto Pereira Moura Antônio Teixeira de Carvalho
13
Dr Cesar Henrique Queiroz Porto Ângelo Soares Neto
14
Professora Karla Celene Campos Arthur Jardim Castro Gomes
15
Jornalista Magnus Denner Medeiros Ataliba Machado
16
Dr Waldir de Senna Batista Athos Braga
17
Profa. Marta Verônica Vasconcelos Leite Auguste de Saint Hillaire
18
Dr Petrônio Braz Brasiliano Braz
19
Dr Luiz de Paula Ferreira Caio Mário Lafetá
20
Professora Felicidade Patrocínio Camilo Prates
21
VAGA Cândido Canela
22
Professora Lygia dos Anjos Braga Carlos Gomes da Mota
23
Historiador Hélio de Morais Carlos José Versiani
24
Dr João Carlos Rodrigues Oliveira Celestino Soares da Cruz
25
VAGA Corbiniano R Aquino
26
VAGA Cyro dos Anjos
27
Professora Regina Maria Barroca Peres Dalva Dias de Paula
28
Escritora Amelina Chaves Darcy Ribeiro
29
Professora Filomena Luciene Cordeiro Demóstenes Rockert
30
VAGA Dona Tirbutina
31
Professora Clarice Sarmento Dulce Sarmento
32
Dr Edgar Antunes Pereira Edgar Martins Pereira
33
Dr Wanderlino Arruda Enéas Mineiro de Souza
34
Profa. Geralda Magela de Sena e Souza Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
35
Dr. Antônio Ferreira Cabral Ezequiel Pereira
36
Dra. Felicidade Vasconcelos Tupinambá Felicidade Perpétua Tupinambá
37
VAGA Francisco Barbosa Cursino
38
Professora Maria Inês Silveira Carlos Francisco Sá
39
Professor Ivo das Chagas Gentil Gonzaga
40
Drª Maria da Glória Caxito Mameluque Georgino Jorge de Souza
41
Dr Reinine Simões de Souza Geraldo Athayde
42
Professora Maria Luiza Silveira Teles Geraldo Tito da Silveira
43
Professor Benedito de Paula Said Godofredo Guedes
44
Hist. Roberto Carlos Morais Santiago Heloisa V. dos Anjos Sarmento
45
Jornalista Angelina de Oliveira Antunes Henrique Oliva Brasil
46
Professora Eliane Maria F Ribeiro Herbert de Souza – Betinho
47
Jornalista Paulo César Narciso Soares Hermenegildo Chaves
48
Professora Raquel Veloso de Mendonça Hermes Augusto de Paula
49
Dra. Maria Fernanda M. Brito Ramos Irmã Beata
50
VAGA Jair Oliveira
51
Dr José Carlos Vale de Lima João Alencar Athayde
52
Profa. Maria Isabel M. F. Sobreira João Chaves
53
Dr João Carlos M. Sobreira de Carvalho João Batista de Paula
54
VAGA João José Alves
55
Cel. Lázaro Francisco Sena João Luiz de Almeida
56
Escritor João Aroldo Pereira João Luiz Lafetá
57
Jornalista Luiz Carlos Novaes João Novaes Avelins
58
Professor Necésio de Morais João Souto
59
Jornalista Luiz Ribeiro dos Santos João Vale Maurício
60
VAGA Jorge Tadeu Guimarães
61
Jornalista Girleno Alencar Soares José Alves de Macedo
62
Profº José Geraldo de Freitas Drumond José Esteves Rodrigues
63
Historiador Pedro de Oliveira José Gomes Machado
64
Professora Palmyra Santos Oliveira José Gomes de Oliveira
65
Dra. Maria de Lourdes Chaves José Gonçalves de Ulhôa
66
Arqueólogo Fabiano Lopes de Paula José Lopes de Carvalho
67
Dr Elias Siuffi José Monteiro Fonseca
68
Professora Rejane Meireles Amaral José Nunes Mourão
69
VAGA José (Juca) Rodrigues Prates Júnior
70
Jornalista Márcia Sá José Tomaz Oliveira
71
Dr João Caetano Canela Júlio César de Melo Franco
72
Jornalista Theodomiro Paulino Correa Lazinho Pimenta
73
Dra. Maria das Mercês Paixão Guedes Lilia Câmara
74
Professor Laurindo Mekie Pereira Luiz Milton Prates
75
VAGA Manoel Ambrósio
76
VAGA Manoel Esteves
77
Profª Maria Jacy de Oliveira Ribeiro Mário Ribeiro da Silveira
78
Jornalista Américo Martins Filho Mário Versiani Veloso
79
Professora Maria José Colares Moreira Mauro de Araújo Moreira
80
Jornalista Hélio Machado Miguel Braga
81
Prof. Juvenal Caldeira Durães Nathércio França
82
Dr Haroldo Lívio de Oliveira Nelson Viana
83
Historiador Paulo Costa Newton Caetano d’Angelis
84
Dr Itamaury Telles de Oliveira Newton Prates
85
VAGA Armênio Veloso
86
Professora Zoraide Guerra David Patrício Guerra
87
Profa. Marta Edith Sayago M Marques Pedro Martins de Sant’Anna
88
Professora Miriam Carvalho Plínio Ribeiro dos Santos
89
Jornalista Rosângela Silveira Robson Costa
90
Hostoriador José Henrique Brandão Romeu Barcelos Costa
91
Dr Wesley Caldeira Sebastião Sobreira Carvalho
92
Professor Roberto Pinto Fonseca Sebastião Tupinambá
93
Dr Dário Teixeira Cotrim Simeão Ribeiro Pires
94
Dr Luiz Pires Filho Teófilo Ribeiro Filho
95
VAGA Terezinha Vasquez
96
Professora Ruth Tupinambá Graça Tobias Leal Tupinambá
97
Professor Gy Reis Gomes Brito Urbino Vianna
98
Jornalista Rafael Freitas Reis Virgilio Abreu de Paula
99
VAGA Waldemar Versiani dos Anjos
100
Professora Maria Clara Lage Vieira Wan-dick Dumont

Sócios Correspondentes

Dr.André Kohene Caetité -BA
Prof. Regente Armênio Graça Filho Rio de Janeiro- RJ
Dr. Ático Vilas-Boas da Mota Macaúbas - BA
Dr. Augusto José Vieira Neto Belo Horizonte - MG
Dr. Avay Miranda Brasilia - DF
Jornalista Carlos Lindenberg Spínola Castro Belo Horizonte - MG
Escritora Carmem Netto Victória Belo Horizonte - MG
Historiadora Célia do Nascimento Coutinho Belo Horizonte - MG
Historiador Daniel Antunes Júnior Espinosas - MG
Dr. Enock Sacramento
São Paulo - SP
Dr. Fernando Antônio Xavier Brandão Belo Horizonte MG
Dr. Eustáquio Wagnar Guimarães Gomes Belo Horizonte - MG
Escritor Flávio Henrique Ferreira Pinto Belo Horizonte - MG
Jornalista Geraldo Henriques (Riky Tereze) New York - USA
Prof. Herbet Sardinha Pinto Belo Horizonte - MG
Jornalista Jeremias Macário Vitória da Conquista - BA
Jornalista João Martins Guanambi - BA
Dr. Jorge Lasmar Belo Horizonte MG
Prof. José Eustáquio Machado Coelho Belo Horizonte MG
Prof. Dr. Jorge Ponciano Ribeiro Brasília - DF
Dr. Marco Aurélio Baggio Belo Horizonte MG
Profa. Dra. Maria da Consolação M. Figueiredo Cowen London - England
Prof. Moisés Vieira Neto Várzea da Palma - MG
Jornalista Paulo César Oliveira Belo Horizonte - MG
Jornalista Paulo César Oliveira Belo Horizonte - MG
Escritor Reynaldo Veloso Souto Belo Horizonte - MG
Prof.Thiago Carvalho Makiyama Gunma-Ken - Japão
Prof. Wellington Caldeira Gomes Belo Horizonte - MG
Historiador Zanoni Eustáquio Roque Neves
Belo Horizonte - MG

NOTAS DOS COORDENADORES DA EDIÇÃO

A ordem de publicação dos trabalhos dos sócios efetivos obedeceu à seqüência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos sócios correspondentes; A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados; A revisão dos disquetes originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.


HOMENAGENS


Historiador João Botelho Neto

Cônego Adherbal Murta de Almeida

Poeta Reivaldo Canela

Escritor
Olyntho da Silveira

EPITÁFIO

Para um túmulo de amigo

“A morte vem de manso, em dia incerto
e fecha os olhos dos que têm mais sono...”.

(Alphonsus de Guimaraens – ossa mea, I.)


FINS DO IHGMC

Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade a promoção de estudos e a difusão de conhecimentos de história, geografia e ciências afins, do município de Montes Claros e da região Norte de Minas, assim como o fomento da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural.


APRESENTAÇÃO

Estamos agora folheando mais um volume da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Elas se fazem necessárias para que possamos divulgar os nossos projetos que visam o conhecimento humano; o resgate da memória histórica e a preservação do patrimônio público e privado. Nota-se, contudo, que não houve nenhuma mudança significativa no layout gráfico de seu miolo e nem de sua capa. Mas, por outro lado, o leitor certamente continuará a encontrar nesta coletânea, uma série de pesquisas sobre a nossa terra, a nossa gente e os nossos costumes, com textos repletos de gravuras e ilustrações, os quais apresentam uma visão geral de um passado glorioso e que merece maior atenção dos geógrafos e historiadores do nosso Instituto.

Portanto, recomendamos todos os leitores para que leiam mais uma Revista do nosso Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Pode-se dizer que ela foi escrita com carinho extremoso e, em sendo assim, é licito afirmar que não há, aqui, nenhuma
ambição científica ou filosófica por parte de seus editores, porque é dever dos nossos ilustres confrades a valorização da nossa história com a divulgação de artigos que complementam os fatos ainda poucos conhecidos. Não queremos com isso dizer que tenhamos realizados plenamente a nossa tarefa de editor/historiador e não o fizemos por uma simples razão: é que estamos apenas iniciando os primeiros passos na busca da história antiga de nossa terra.

Pode e devem ter ocorridos lapsos e senões durante a sua formatação. Não creiamos que isso seja evitável quando se trata de uma obra que abrange nada menos que três ciências especializadas: a história, a geografia e a genealogia. Neste caso seremos gratos ao leitor competente por qualquer correção que se fizer necessária. Sendo assim, é chegado o momento em que é preciso resgatar o passado do nosso povo com o fito de por em evidência as nossas origens. O presente apenas nos oferece a oportunidade de se fazer tudo isso. Portanto, para tudo dizer com poucas palavras, que estamos concluindo com honestidade e competência mais uma Revista do Instituto, esperando que as próximas gerações possam se sentir orgulhosos de tudo do que hoje produzimos.

Finalmente devemos agradecer a todos os confrades que nos ajudaram na confecção desta empolgante Revista. Também queremos agradecer penhoradamente, a comissão de revisão dos textos, que teve a gentileza de rever todos os manuscritos com o máximo de esmero, objetivando fazer da nossa Revista o melhor documentário histórico e geográfico de Montes Claros e, também, do Norte de Minas. Não devemos tampouco, esquecer de registrar aqui o nosso reconhecimento de gratidão aos diretores da Millennium por terem eles incumbidos, com um profissionalismo inquestionável, do melhor propósito na publicação desta obra e de outras tantas referentes ao nosso Instituto Histórico e Geográfico. Em poucas palavras podemos dizer que esta antologia trata-se de uma obra essencial, altamente instrutiva e certamente de valor artisticamente incontestável para todos nós.

Dário Teixeira Cotrim
Presidente do IHGMC


 

 

 

Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros
Fundado em 27 de Dezembro de 2006

 

 


UMA VIAGEM NO DORSO DE EROS

Amelina Chaves
Cadeira N. 28
Patrono: Darcy Ribeiro

Texto de Domingos Diniz

 

Minha prezada Amelina Chaves.

A chegada de um livro, seja qual for, é sempre bem-vinda, para quem ama a literatura. Um livro de contos da escritora Amelina chaves é muito mais que bem-vindo é festejado. Recebo com incontida alegria, foguetes e banda de música.

Li-o de um fôlego só.

Você Amelina, mostra, no livro, uma outra Amelina.

Deixou um pouco de lado os textos e fatos folclóricos ou biográficos para trilhar em outra vertente literária, a história com histórias curtas, o conto, a narrativa ficcional.

Em PRIAPO DE ÉBANO, você ousadamente rompe os interditos da repressão a Eros e abre as porteiras por onde o prazer e o gozo total vão fazer parte de suas personagens em condições inusitadas. É bom lembrar que Eros não significa pornografia. É enorme a diferença. Como a diferença entre um pé de pequi e
um pé de buriti.

Lendo o livro, montei no dorso de Eros e viajei nos prazeres e no gozo, vivendo as angústias e os amores, ideal do ego de suas personagens. As tramas dos contos são bem urdidas. O alinhavo verbal se dá em boa técnica e estilo leve As ilações e o derramamento narrativo que ocorrem não chegam a comprometer a qualidade literária da obra às vezes agem no sentido de prolongar o desfecho da trama e, com isso, aguçar ainda mais a curiosidade do leitor. Outras vezes com o vezo de denúncias sociais.

Você não encerra os contos com o clássico anticlímax. Deixa porém uma brecha para o leitor, que se faz de co-autor, continuar a trama e dar o final que mais lhe aprouver. Aliás, toda obra literária sobrevive e se torna atemporal na interpretação e recriação
do leitor. Donde os grandes mestres da literatura universal estão vivos até hoje.

Amelina, esta palavras são apenas de apreciação de um leitor, nunca de um especialista, ou de um crítico literário, longe de mim querer exercer tal função.

Cara amiga, fiquei muito feliz em receber o seu PRIAPO DE ÉBANO. Demorei agradecer-lhe pelo fato de eu estar aqui às voltas com a edição do álbum de fotografias dos vapores do São Francisco. Estou na fase de redação e revisão finais. Creio, que até o fim deste ano, ou no principio de 2010, estarei com este trabalho pronto, para lançar em Montes claros.

Continuo contra a transposição das águas do São Francisco.

Atenciosamente. Barranqueiramente.


Domingos Diniz e Amelina Chaves.


100 ANOS DO INESQUECÍVEL HERMES
AUGUSTO DE PAULA

Amelina Chaves
Cadeira N. 28
Patrono: Darcy Ribeiro

Texto de Amélia Prates Barbosa Souto

Honor e glórias a Dr. Hermes pelos cem anos de nascimento e pelo muito que fez por amor a nossa terra, na dedicação, na preservação da história, no trazer o desenvolvimento em todos os segmentos sociais, polivalente que era. Filho do digníssimo e conceituado funcionário da Prefeitura por longos anos, o senhor Basílio de Paula, e da prendada e inteligente Dona Joaquina Mendonça de Paula, ambos de famílias tradicionais da nossa região. Teve como irmãos o artista plástico João de Paula, o escritor Antônio de Paula, as irmãs Maria e Helena, todas pessoas de destaque, promovedoras, contribuintes para o desenvolvimento político social da cidade.

Hermes de Paula nasceu em 06/12/1909 e foi chamado por Deus em junho de 1983, deixando nossa terra natal que veio a amar com todas as forças desde muito jovem. Inteligente, brilhante, se dedicou aos estudos sobre nossa adorada terra, que o fez contar de maneira magnífica com detalhes, dados comprovadamente fidedignos e reais, os mais variados atos e assuntos, como ninguém até então o fez, minuciosamente relatados os fatos históricos, políticos, folclóricos, no seu livro, que é sem dúvida o melhor e maior ponto de referência para se conhecer a cidade de Montes Claros desde os seus primeiros tempos.

Nas primeiras páginas do livro em pauta, em texto denominado “Um Retrato”, o escritor mostra importante e significativa referência feita pelo ilustre amigo da cidade, o Ministro Francisco Sá, transcrito: “Um milagre do Sertão”. Foi assim que o notável estadista chamou um dia a cidade acolhedora, generosa e forte que brotou da terra morena, como um presente do céu.

E o nosso muito querido, inteligente e brilhante Newton Prates comenta: Quem nela viveu, nunca a esquecerá. Se está distante, a lembrança da cidade querida permanecerá sempre ao seu lado, carinhosa e fiel. E cita: “Já no seu fim diante de Virgília, Brás Cubas assistiu à volta de outros tempos mais felizes. Sentiuse não como era, mas como fora. A terra interrompera a sua marcha em torno do sol. Voltara para trás, em busca de seu tempo perdido. Tempo alegre e descuidado”. Continua: “assim é como você Montes Claros”.

Seus filhos que vivem longe, ao reverem a cidade amiga, sentem o rejuvenescimento da alma e do espírito. Repete-se então, aquilo que Machado de Assis põe no coração de Brás Cubas ao colocá-lo diante de Virgília, numa hora de desencanto.

A vida se torna mais bela. Há claridade no céu. É este o sortilégio da sua presença, Montes Claros. Visão do amante que estimulou e dividiu seu sentimento com os que o conheceram e com os que leram sua obra. Teve papel de grande importância para nossa terra quando desbravador de iniciativas do mais alto gabarito, com presença forte, lutador, guerreiro pelas causas justas e necessárias. Presente em comissões para se criar, fazer funcionar instituições em benefícios do povo. Com valores pouco comuns a muitos, lutou, venceu junto a conterrâneos que o admiravam e apoiavam. Graças ao seu imensurável trabalho, muitas conquistas

se realizaram. Podemos citar: a criação da primeira Universidade, do Colégio São José, da última reabertura da Escola Normal, da Academia Montesclarense de Letras, do retorno das festas de Agosto, preservação do folclore e história da terra. Criador do primeiro clube campestre, o Pentáurea. Amigo de todos importantes e simples, a quem tratava de uma mesma forma. Recebia personalidades de vários segmentos que se hospedavam em sua casa. Aliás diga-se de passagem, uma casa também de todos. Se envolvia entusiasmando na prática do esporte. Sua piscina era freqüentada por jovens e adultos que se encontravam na famosa chacrinha sua residência. Talentoso às raias de genialidade, amava a arte, muito especialmente a música. Criou o famoso grupo de seresta João Chaves que até os nossos dias representa gloriosamente aqui e alhures, a nossa cidade, onde sempre se apresenta com muito sucesso. Hermes de Paula, um homem muito especial.

Cedo, jovem e recém formado em medicina, de volta à cidade, se casou com sua linda prima Josefina que encantou aos convidados, na festa da celebração do casamento, tendo sido por muitos anos considerada a mais bela noiva da terra. A primeira noiva vestida de rosa, com grande sucesso.

Tiveram os filhos Walmor, também médico, casado com Maria Walderez Costa, que lhes deram os netos: Maria Clara, Maria Tereza e João Bazílio. Virgilio, jornalista e historiador, casado com Gláucia Leão que lhes deram a neta Patrícia. As filhas Valéria casada com Mauro Cardoso, que também lhes deram os netos Marcelo Marcone, Érica e Ana Maria. Virgínia sua filha mais nova, apaixonada e envolvida com a história dos montes, com apreciadas crônicas. Pessoas do mais alto gabarito de dignidade, solidariedade social, também contribuidores em beneficio de um mundo melhor. Estes os seus descendentes que de acordo com o ditado popular: Quem sai aos seus não degenera. Amam e abrilhantam a cidade, a região, como o Dr. Hermes de Paula, um dos grandes da terra, que amou e se deu de corpo e alma em favor do seu desenvolvimento, da preservação da sua história. Neste ano de 2009 se comemora o centenário do nobre e ilustre conterrâneo, a quem os montesclarenses devem maior respeito e admiração, pela caminhada dedicada a todos na realização de grandes e vultuosos atos de cidadania, e sobretudo de amor à terra, aos irmãos aqui residentes. Benefícios extensivos a toda região no atendimento a necessidades prioritárias na saúde, na educação, onde tive o privilégio de ser sua aluna, com muita alegria, satisfação, e orgulho. Conheci-o na minha casa, quando por acasião das suas pesquisas esteve por várias vezes com minha mãe, que lhe passou fatos muitos dos quais presenciou. Ela o admirava e com muita alegria o recebia, orgulhosa de ser por ele lembrada. Repetindo, quem sai aos seus não degenera, como diz o ditado popular.
Sua genética dos dois lados é rica em dotes de generosidade, dignidade e arte na escrita, na pintura, arte cênica musical, onde vários parentes se destacaram e se destacam, irmãos, sobrinhos, parentes mais próximos. Homem voltado para ações de alto valor material e pelas causas nobres era também um místico. Na sua última hora se despediu dos familiares anunciando ter sido chamado pelo “General” que o premiara chamando antes da ida de algum dos filhos, coisa que pedia a Deus e que se sentiu ouvido. Dr. Hermes, astro da constelação do norte de Minas, nunca será esquecido. Sempre louvado, admirado, e seguido nas pegadas da luta, do almejar e fazer realizar coisas úteis voltadas para se viver um tempo melhor. Amemos nossa terra e, imitando o centenário inesquecível, a façamos cada vez melhor. Onde estiver, parabéns pelos seus cem anos de chegada ao nosso planeta, onde passou deixando marcas indeléveis, Deus o tenha em bom lugar para rezar e olhar pela nossa cidade que tanto amou. A paz e a luz eterna.


MONTES CLAROS NO CENÁRIO DAS ARTES
PLÁSTICAS BRASILEIRAS

Felicidade Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates

Para aqueles que objetivam um conhecimento completo das artes plásticas brasileiras, contextualizadas a partir do séc. XX até a contemporaneidade, será necessário incluir no roteiro uma passagem pelas expressões artísticas de Montes Claros.

Podemos explicar. Montes Claros localiza-se no estado de Minas Gerais, e este é reconhecido como o berço da identidade artística brasileira, desde quando o mestre escultor e arquiteto Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, o pintor Ataíde e outros,
marcaram, de maneira definitiva, as paisagens montanhosas das Minas, com as suas obras estéticas. Foi através dessas primeiras expressões artísticas genuinamente brasileiras, contornadas pela plástica do Barroco, que alvoreceu o Brasil.

Da mistura de etnias divergentes fermentadas no “caldeirão” dos tempos de colônia, com mais intensidade no solo aurífero das Minas, foi surgindo o que poderíamos denominar de “brasilidade”, uma nova identidade que recolhia nas marcas ancestrais o que havia de mais forte e belo e atualizava na influência do novo contexto. E a resposta brasileira a essa simbiose cabocla, cafusa, mameluca e mulata, resultou num sincretismo cultural de rara beleza.

A partir dessa estreita familiaridade com o Belo, no seu jeito introspectivo, mas sensível, o mineiro permaneceu antenado, com pés no chão, mas olhos no mundo, captando as mudanças de rumo deste com os seus conseqüentes reflexos nas artes. Assim transplantou as influências do modernismo que já invadira São Paulo, a partir do movimento de modernização das artes no ano de 1922, marcado pela Semana de Arte Moderna. Absorvendo aquela manifestação que “transtornou” e transformou a atmosfera pictórica do país, Minas reinventou a sua modernidade, acrescentando nesse cenário, através das mãos do então governador Juscelino Kubitschek, a doce e forte figura do pintor e professor de arte Alberto da Veiga Guingnard, cujos traços, cores e lirismo, invadiram para sempre as Minas, levando reflexos e influências aos Gerais mais distantes.

Por tudo isso e mais, ontem e hoje, a vasta região de Minas é um canteiro de artes sem limites, mas, como as Minas e os Gerais perfazem uma vasta região, necessário se faz estreitar o foco para uma percepção introdutória. Vemos aí, então, a possibilidade de priorizarmos a nossa terra, Montes Claros, “Cidade da Arte e da Cultura”, já que neste cenário fermenta e é fecunda a semente da mais legítima intelectualidade.
Esta cidade, que se localiza num ponto distante nos gerais, bem ao norte das minas, destaca-se no cenário nacional por vários fatores como: a riqueza e diversidade de suas manifestações artísticas; um folclore vivo e contagiante, é sede do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, que tem o maior número de matrícula entre os Conservatórios da América Latina; é sede de uma grande universidade pública e de inúmeras faculdades particulares, tornando-se, desde a última década, em
importante polo universitário brasileiro. É, também, o segundo entroncamento rodoviário do país, o que sinaliza o trâmite de influências culturais, mas, principalmente, tem uma vocação ímpar para as artes em todas as suas modalidades, sustentando desde o ano de 1984 o título de “Cidade da Arte e da Cultura”. Por isso, dentre os muitos nomes da terra, que bem poderiam representar este slogan, escolhemos três para um primeiro registro pelo que conseguiram no cenário das artes plásticas: Raymundo Colares, Konstantin Christoff e Yara Tupynambá, nomes que são referências do que há de mais legítimo e elevado na pintura brasileira, com reconhecimento em todo o território nacional e até no exterior.

Há muito, tínhamos a curiosidade de conhecer por inteiro estes mitos. O propósito deste estudo ofereceu-nos a oportunidade. Diante da extensão e beleza das suas obras, da complexidade de suas histórias, exigimo-nos esforço e minucioso cuidado na
tarefa de selecionar e restringir ao máximo, para atender às particularidades deste específico espaço. Apresentamos então uma síntese ainda mínima, mas elucidativa de suas personalidades e obras. Mesmo assim, será necessário dividir o conteúdo em três
capítulos, publicando-os separadamente nas revistas número 5, 6 e 7, devido ao perfil desta publicação, cuja totalidade inclui artigos de autores diferentes. Escolhemos o artista Raymundo Colares para iniciar este percurso.

RAYMUNDO COLARES

Raymundo Colares é considerado por unanimidade como um dos mais expressivos artistas da geração 60/70 do país. Sua arte é considerada absolutamente única no cenário brasileiro. Colares surge num momento de transição e sua arte se apresenta como mescla e síntese de múltiplas fontes: construtivismo, pop, futurismo, minimal arte, cubismo, geometrismo, o que a classifica como contemporânea.

De acordo com a especialista em arte, Lígia Canongia, “Colares é intelecto, é emoção, clareza e caos, consegue fazer conviver os domínios excludentes e confluir os opostos”1. Sua vida inicia-se entre Grão Mogol/MG onde nasce, e Montes Claros, para onde se transfere aos 6 anos de idade, cidade que amou e adotou como sua, onde construiu a sua memória e o seu imaginário criativo. Nascido aos 25 de Abril de 1944, quinto entre os nove filhos de Felicíssimo Colares e Joana, Raimundo Felicíssimo Colares passou a infância numa casa no centro da cidade, numa esquina da rua Dr. Santos com Dom Pedro II, cujo espaço retangular era o espaço sobrante de uma grande construção em forma de L, o maior e mais moderno cinema de Montes Claros; o Cine Fátima. Do seu quintal podia-se ouvir a música e os diálogos dos filmes que Raimundo acabava assistindo no grande salão auditório. Colares amou a arte do cinema e com ela conviveu estreitamente. Fazia álbuns de cinema e colecionava fotos de artistas. Adorava ler histórias em quadrinhos, os gibis, colecionava-os. Era um menino introspectivo, algumas vezes brincalhão. Lia exageradamente, muito cedo se tornou culto.

Tinha uma boa relação com os irmãos e, pela mãe, adoração. Admirava-a na sua força e doçura. Separada do marido regia a prole sozinha.

Colares fez o curso primário no Colégio Imaculada Conceição, colégio de freiras católicas e continuou como seminarista no Seminário Diocesano Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, a principal escola de formação de padres da cidade. No Seminário ficou pouco tempo, apenas 2 anos, de lá seguiu para o Colégio Estadual Plínio Ribeiro, a conhecida Escola Normal de Montes Claros, até a segunda série do curso Científico, ao conquistar, através de concurso, o prêmio Bolsa de Estudos da Sudene , para terminar o curso em escola preparatória para o curso superior, na Universidade da Bahia, em Salvador. Raimundo morou em Salvador durante um ano, encantou-se com a cidade, descobriu os seus alagados e os pintou na série do mesmo nome. Foi lá que tomou conhecimento das artes de Piet Mondrian e Paul Klee, figuras estas que irão revolucionar as suas idéias. Ambos, pintores geométricos abstratos. Esses personagens, com suas artes, fascinarão Colares que imediatamente começa a pintar.

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1 CANONGIA, Ligia. Analise das referências in”Raimundo Colares Trajetórias”.
Org. Centro Cultural Light. Rio de Janeiro.1997.Pag15.

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Há relatos que comprovam a atração de Colares para o mundo das artes desde a infância, alem do contato assíduo com o cinema, gostava de desenhar e desenhava bem.

Após os primeiros contatos com a arte moderna em Salvador, pesquisou muito e estreitou os laços de afinidade com Mondrian. Vimos, no acervo dos seus objetos, papéis com traços e escritos, onde lemos, “Mondrian... ainda entenderei este cara”. Raimundo descobre-se artista e decide mudar sua trajetória, dispensa a bolsa de estudos. De Salvador escreve aos pais comunicando a desistência do curso de Engenharia e a pretensão de inserção no mundo das artes. Transfere-se para o Rio de Janeiro.

 

RAYMUNDO NO CENÁRIO DAS ARTES NO RIO DE JANEIRO

A grande metrópole, porta aberta do Brasil para o mundo, o impressiona.

Era o ano de 1965 e Colares tinha entre 20 e 21 anos. O Brasil vivia a ditadura militar, gerada no golpe de 1964. No contato com a grande cidade, Raymundo se depara com o progresso, a velocidade, a nova arquitetura construtivista. O contato com as grandes personalidades artísticas emergentes e a geometria que já se acendera no contato com Mondrian, vão causar a febre criativa de uma arte única. Até então, autodidata, Colares inicia contato com expoentes renomados da arte contemporânea brasileira.

Para sobreviver na grande metrópole e paralelo ao trabalho nas telas, desenvolve um outro que depende também de criatividade; desenha jóias para a H. Stern. Volta a Montes Claros por um tempo, retornando ao Rio no ano seguinte, com a intenção definitiva de desenvolver efetivamente a sua arte. Em 1966 faz vestibular e se matricula na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), que abandona no ano seguinte, devido às aulas não corresponderem à sua expectativa. Continua com suas experiências primordiais como autodidata, em busca de métodos de criação mais livres. Foi nesse período (1966) que tentou pela primeira vez uma seleção no Salão Nacional de Arte Moderna, enviando 2 trabalhos, não sendo aceito.

Já no ano de 1967, em busca de referências essenciais, aproxima-se de Ivan Serpa e frequenta por um tempo os seus cursos livres no MAM, contudo, sem abandonar as suas pesquisas e experimentações pessoais. Neste ano de 1967 já participava de coletivas importantes, por exemplo, a mostra Nova Objetividade Brasileira no Museu de Arte Moderna daquela cidade (MAM-RJ), da qual participou, a convite do artista Antonio Dias. Participa também da V Exposição de Arte Brasileira, no Museu Nacional de Belas Artes do Rio. Participará ainda de mais um Salão de Arte, o Salão de Arte Contemporânea de Campinas. Integra-se à vanguarda brasileira de artes plásticas, ao lado de expoentes como Wanda Pimentel, Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Antônio
Manuel, Lígia Pape, Hélio Oiticica e outros, mas será a partir de 1968 que começará a sua colheita de prêmios.

O montes-clarense afirma-se como artista e passa a vender a sua arte em galerias importantes como as Bonino e Klabin. Por alguns períodos ministrará aulas de arte no Curso de Arte e Atelier Livre do MAM e ensinará desenho num colégio de Niterói. Em 1969 realizará a sua primeira exposição individual no Copacabana Palace no Rio de Janeiro.

No período entre os anos de 1968 a 1980, conquista 11 prêmios, os mais significativos no campo das artes plásticas brasileiras daqueles tempos.

Aqui registramos todos esses prêmios em ordem cronológica:

-1968: Isenção do Júri (Salão Nacional de Arte Moderna (MEC-RJ), 2º Prêmio de Pintura do Salão Esso do Artista Jovem (MAM-RJ); Medalha de Ouro do Salão Paulista de Arte Moderna, Prêmio Aquisição no Salão da Prefeitura de Belo Horizonte.

-1969: Seleção Prévia da Representação Brasileira à Bienal de Paris (MAM-RJ) 1º Prêmio Salão de Transportes (MAM-RJ), Prêmio de Aquisição no Salão de Prefeitura de Belo Horizonte.

-1970: Prêmio Viagem ao Exterior do Salão Nacional de Arte Moderna, Prêmio IBEU na Mostra O Rosto e a Obra, na galeria desse Instituto, com acréscimo de passagem para EUA e convite para expor na Art Gallery of the American Cultural Institute de Whashington.

-1977: Prêmio Aquisição na Exposição Arte Agora 1, promovida pelo Jornal do Brasil e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

-1980: Prêmio Aquisição no Arteboi, Salão de Artes Plásticas de Montes Claros.

-Fala-se também de um primeiro prêmio conquistado aos 23 anos de idade, na V Mostra do Ciclo Retrospectivo de Arte Brasileira, Na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

A partir de 1970, Colares estará produzindo os seus famosos gibis, livros objetos feitos com papel recortado e colados em composições geométricas, que a princípio venderá muito barato. Sua irmã Terezinha, em entrevista à autora, dirá que Raimundo apreciava muito a música e interpretação de Roberto Carlos. Então ficava muito feliz, quando, com o dinheiro da venda de um gibi, comprava duas fitas cassetes de Roberto Carlos. Esses gibis, arte objeto, hoje requisitados, procurados e pesquisados, são reconhecidos como valiosos no cenário da arte contemporânea. Através do seu manuseio o artista conseguia a participação e interação do espectador, aspecto que o preocupava.

Hoje, esses pequenos gibis são comercializados por mais de R$ 50.000,00 cada.

Outra expressão que Colares experimentou com originalidade foi a literatura. Compôs poemas neoconcretos com os quais presenteava amigos, ou os abandonava nos próprios espaços em que nasciam. Alguns eram recolhidos num caderno que sempre perdia.

No entanto, alguns dos que foram salvos estão presentes no
livro editado pelo Centro Cultural Light.

 

A ARTE GEOMÉTRICA DE RAYMUNDO

Todos os críticos brasileiros de arte, de expressão dessa época, sentem-se motivados a uma observação mais apurada dessa genuína arte geométrica e tentam classificá-la. Buscam nela alguma justificativa pop, já que no momento a pop art explodia nos Estados Unidos. No entanto, a estudiosa da arte de Colares, Ligia Canongia, refutará essa possibilidade, ao conferir nos diferentes espaços culturais e políticos, momentos antagônicos, enquanto a pop arte norte americana brotava da dinâmica do mundo moderno, onde é imensa a neutralização do homem como sujeito, transformado em massa, sem identidade, apenas número e coisa, paralelamente, aqui no Brasil em meio a plena ditadura, a luta pela vida começava literalmente no corpo a corpo, homem versus homem, uma luta em primeiro lugar pela sobrevivência física num contexto repressor de muita vigilância e controle.

Em relação à pop art reconhecerá “apenas a mediação de alguns elementos formais semelhantes”. Justifica Ligia Canongiaque, ”Se a obra de Raimundo Colares é uma mescla, uma síntese de múltiplas fontes, que vão da arte construtiva ao pop, do futurismo à arte minimal, do cubismo ao cinema ou aos comics, é porque ela é, antes de tudo, uma obra contemporânea, através e malgrado suas influências modernas”2. Para maior entendimento lembramos que a arte contemporânea, muitas vezes, traz elementos da arte moderna, só que mais voltados ao conceito, o que aconteceu a partir dos anos 60, obrigando-nos a busca desse conceito até mesmo nas pinturas figurativas e construtivas. No caso de Raimundo, devido ao tema dos ônibus somos remetidos ao conceito velocidade e, por extensão, à “fragmentação do espaço e do tempo do próprio homem urbano das grandes cidades”3.

Mas será o próprio Raimundo que se verá influenciado pelo futurismo italiano e o cinema, tentando sínteses a partir da influência dos fotogramas da sétima arte e as histórias em quadrinhos com as quais conviveu estreitamente desde criança, paralelo às sensações de impacto vividas diante da velocidade urbana nos grandes centros e o desconcerto do homem no tempo, a partir da vida moderna.

Colares tinha uma preocupação interessante, “queria ampliar a escala da sua pintura através de processos mecânicos como o silk screen, processo de reprodutibilidade técnica, aspecto que indiretamente remete à linguagem pop”. De acordo com relato
de sua irmã Terezinha Colares, ele queria democratizar a sua arte, propiciar a todo o tipo de público o acesso à sua pintura. Por isso através de sua técnica e fala, não só sugeria, mas propunha espaço e condições para que qualquer pessoa, através de manuseio pessoal, pudesse fazer uma cópia do seu trabalho, em vários tamanhos e ou materiais, fato inédito no meio dos artistas.

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2 Idem.Pág. 14
3 CANONGIA, Ligia. Sobre o Artista e a Exposição in “Raimundo Colares Trajetórias”.
Org. Centro Cultural Light. Rio de Janeiro. 1997. Pag 09.

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Ele disse: “Com isso eu pretendo tirar a minha arte exclusivamente das mãos do burguês colecionador. Uma pessoa que tenha quadro meu vai ter porque gosta e sabendo ainda que qualquer outra pessoa pode, se quiser, ter o mesmo quadro. Pois qualquer quadro meu pode ser reproduzido, sem perder sua autenticidade. Nos meus quadros não há pincelada solta nem o chamado toque artístico. Por isso qualquer pessoa que os copie obedecendo a sua estrutura, não estará alterando em nada o trabalho, que continuará a ser tão meu quanto antes. A minha principal preocupação
é que o quadro não fique preso apenas a um colecionador ou a um só trabalho. A única coisa que se gasta é o material. Esse negócio de direito autoral não existe para mim. Existe, isso sim, o prazer que alguém se interesse pelo meu trabalho, o reproduza
ele mesmo, e o coloque lá na sua parede, pendure no seu teto, ou simplesmente pose-o no seu chão. Agora, eu cobro por essa reprodução, afinal eu vivo disso”4. De acordo com o dito, vê-se que o artista pode perder a autoria artesanal da obra, sem prejudicar a sua autoria intelectual, aspecto bastante discutido na área artística ao longo do século XX. E como descrito acima sua arte apresenta original figuração de ônibus com cortes e fragmentações denotando velocidade, e tem colorido vibrante e atraente, com predomínio do vermelho e amarelo.

Desde o início de sua estadia no Rio de Janeiro, Raimundo conquistara a companhia de artistas ligados à linguagem construtivista, com os quais descobrirá afinidades, no entanto, sua figuração exclusiva denunciará lances futuristas na forma de captação
“dos ritmos de uma urbanidade atual onde a interpenetração dos ritmos visuais essencializam os movimentos de veículos automóveis no trânsito de uma cidade grande”5. A sua forma de representação denota “um sufocamento e reflete o assombro de alguém que viera de sua pequena cidade de origem para enfrentar a rea-


Sem título, 1968 - Esmalte sobre madeira - enamel on wood –
160 x 160 cm - coleção João Leão Sattamini - MAC/Niterói


Ultrapassagem - pista livre II, 1969 - Esmalte sobre madeira – enamel on
wood - 160 x 160 cm - coleção João Leão Sattamini - MAC/Niterói

lidade espasmódica de um centro urbano de pleno ritmo, o Rio de Janeiro”6. Na introdução de uma dimensão orgânica ou humanista em estruturas originalmente tão rígidas, Colares, em oposição à ortodoxia concretista, agrega elementos expressionistas. Há quem defenda que “a emoção é sempre o ponto de partida de suas trajetórias”7. E não poderia ser diferente a conclusão para todos aqueles que conheceram Colares pessoalmente, a pessoa Raimundo transparecia uma sensibilidade quase que comovente, “um misto de paixão e candura”8, que parecia buscar “um pouco de ternura ou de compreensão”9. Confrontamos alguns textos técnicos e científicos desses críticos de arte com relatos de alunas dos Cursos de Decoração e Artes Plásticas do Conservatório de Música Lorenzo Fernandez de Montes Claros. Em um artigo de Marluce Ramos, (recebemos uma cópia da própria autora) publicado em jornal da cidade após a sua morte, lemos: “Seus problemas existenciais pareciam maiores que ele próprio. Recusava-se a aceitar os padrões de vida que a sociedade impusera para todos. Era-lhe difícil submeter-se a conceitos tradicionais, e aceitar um mundo cheio de preconceitos e repressões” e então concordamos com aqueles que o chamaram de “James Dean desglamourizado e de herói-suicida.” Vê-se que não só visual-plástico, mas também psicologicamente, “ele sempre esteve em trânsito, a caminho, está sempre saindo, sempre chegando. Um bólido no espaço”10. Daí, concluímos, os flashes/fragmentos dos ônibus em movimento.

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6 Idem.
7 MORAIS. Frederico de. O Sonho não Acabou, de Volta à Estrada, Colares
Busca Novos Caminhos in”Raimundo Colares Trajetórias”.Org. Centro Cultural
Light. Rio de Janeiro. 1997. Pág 62.
8 Idem.
9 Idem. Pág. 63
10 MORAIS, Frederico de. O globo, 1983.

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RAYMUNDO PROFESSOR DE ARTE

Após gozar o prêmio Salão Nacional MEC-RJ de Viagem ao Exterior, que o levou a residir nos EUA por seis meses e depois na Itália por 18 meses, Colares retorna ao Brasil, especificamente à sua “aldeia” Montes Claros. Sentia saudades e desejo de rever os amigos e a paisagem da infância e adolescência.No ano de 1972, colaborou para a criação do curso de Decoração no Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, então dirigido por D. Marina Helena Fernandez Silva. Montes Claros vivia naquela época um momento especial no que se refere às artes. O movimento artístico do Conservatório que viria a ser por muitos anos o primeiro em número de alunos no Brasil devido ao dinamismo da sua diretora e à resposta positiva da população, contaminava a todos e a cidade respirava os novos ares da arte. A força e o prestígio de D. Marina, filha do compositor Oscar Lorenzo Fernandez, que viera do Rio de Janeiro, trazia para a cidade artistas importantes no cenário nacional para apresentações e cursos, ocasionando um bom intercâmbio artístico com outras metrópoles. Montes Claros era mesmo um “point” da cultura. Convidado a emprestar o seu talento e conhecimento artísticos, Raimundo se infiltrou no meio de tudo isso disponibilizando a sua genialidade e inteligência, contribuindo para o excelente nível do curso de Decoração, nos seus primeiros anos, apesar de já ser usuário de drogas, em avançado grau de dependência. De acordo com depoimento de algumas alunas das primeiras turmas do referido curso, Raimundo lecionava várias disciplinas em um mesmo período; Desenho, Pintura, História da arte e Composição Artística. As suas viagens e permanências nos Estados Unidos e na Europa, paralelo à sua experiência gloriosa no cenário das artes brasileiras, alargaram a sua dimensão intelectual, que desde jovem se mostrara plena de profundidade e erudição. Tornara-se poliglota, traduzindo em aula simultaneamente ao ler, vários textos de livros europeus e americanos. Conseguia transmitir com lealdade tudo que aprendera (depoimento das alunas Marluce Ramos e Lúcia Becatini).

Apesar da simplicidade, tinha personalidade forte e marcante e os alunos que o adoravam, nos momentos difíceis de crise, o protegiam. Durante os anos de magistério, Colares precisou interromper esse exercício várias vezes para atividades e participações no Rio de Janeiro e as vezes, para proceder a tratamentos contra a dependência das drogas. Internou-se algumas vezes, em São Paulo e mesmo em Montes Claros, apesar da cidade não possuir, ainda, espaço de saúde especializado na área em que o seu problema requeria. De acordo com depoimentos de alunos a sua contribuição como professor foi imensurável para as suas formações de estetas.


TRAJETÓRIA INTERROMPIDA

A dependência das drogas intensificou-se, levando Raymundo à ruína.

Após várias tentativas de desintoxicação e cura, em março de 1986, Raymundo por vontade própria se internou no Prontomente de Montes Claros, instituição ainda precária, mas paliativa, para tratamento de doenças mentais. Buscava alívio para a sua dependência das drogas.

Após alguns dias, amarrado à cama que se incendiou, não se sabe como (fala-se em cigarros) queimou-se vivo quase que na completude física. Seu corpo apresentou o que na medicina se classifica como “grande queimado”. Transladado para o CTI do Hospital São Lucas, onde resistiu por 3 dias, faleceu no dia 28 de março, uma sexta-feira da paixão, deixando em estado de choque a cidade de Montes Claros e, transtornado, o mundo artístico do Brasil.

O nome de Raymundo se fez sinônimo de grande arte e é reverenciado como presença marcante na história da arte brasileira. O colecionador de arte, dono de um dos maiores acervos privados do Brasil, João Sattamini, que adquirira grande parte da obra de Colares, hoje a disponibiliza eventualmente para mostras de peso. Elas são expostas, eventualmente, no MAC /Niterói, onde eu tive o orgulho e a satisfação de contemplá-las reunidas, o que propiciou a mim uma visão do conjunto da obra. Fiquei impressionada, pude então perceber a dimensão, a força e originalidade
desta criação.

O Centro Cultural Light no Rio de Janeiro, no ano de 1997 o homenageou com a edição de um livro de arte com textos de Ligia Canongia, Paulo Venâncio Filho, com transcrições de textos dos críticos Roberto Pontual, Frederico Morais, Wilson Coutinho,
Reynaldo Roels, Jayme Maurício, além da carta-poesia-diálogo de Hélio Oiticica, paralelo a uma monumental exposição retrospectiva no período de 9 de julho a 24 de agosto, ambos os eventos denominados de “Raymundo Colares Trajetórias.”

Foram filmados bons roteiros sobre o seu percurso. Um deles, ao qual assistimos e nos emocionamos, se intitula: “Colares”, sob a direção do cineasta Sérgio Bernardes, foi patrocinado pela Prefeitura de Montes Claros, gestão Mário Ribeiro e a Secretaria da Cultura do Estado de Minas Gerais.

Como se vê, pode-se fazer um paralelismo da figura do ônibus, tão presente em sua imagética, a induzir e explorar a idéia de velocidade e ultrapassagens rápidas da vida moderna, com a trajetória da sua vida. Colares, após 20 anos de atividade artística ininterrupta, morreu jovem e de maneira trágica, deixando para o mundo o legado de uma imagética única e levando o nome de Montes Claros ao podium mundial das artes.

Como vimos, grandeza é a medida destes mitos que homenageamos com o nosso trabalho. Necessário se faz lembrálos, reverenciá-los, registrá-los para o conhecimento das gerações futuras, pois o passado daqueles que transcendem não se apaga, torna-se história, e esta é parte do presente e do futuro.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- “Raimundo Colares Trajetórias”. Org. Centro Cultural Light. Rio de Janeiro. 1997.

RAMOS, Marluce. Relembrando Ray-Saudades de Ray. Diário de Montes Claros, maio de 1986.

MORAIS, Frederico. Panorama das artes plásticas. Séculos XIX e XX. Inst. Cultural Itaú. São Paulo. 1989.

ARRUDA, Wanderlino. Artes em Montes Claros in Tempos de Montes Claros. Belo Horizonte. 1978.

www.macniteroi.com.br

www.art-bonobo.com

Entrevista gravada com sua irmã Terezinha Colares.


SOBRE GERALDA MAGELA

Felicidade Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates

Texto biográfico lido durante o lançamento do livro “LABOR CLUBE
INTERNACIONAL DE MONTES CLAROS,” da escritora
Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa, ex - laboriana.

Aconteceu no auditório da ACI de M.Claros, onde compareceu grande público, formado por autoridades, ex-laborianas, ex-orbianos, integrantes do Instituto Histórico e Geográfico de M.Claros, da Academia Feminina de Letras de M.Claros, da Academia Montesclarense de Letras, da Pró-Reitoria de Extensão da Unimontes, do Rotary Clube Norte, amigos e convidados em geral.

Foi abrilhantado com o hino de Montes Claros e do Labor Clube pelo coral da AABB/FUNADE, sob a regência da maestrina Clarice Sarmento. A Sra. Carmen Lúcia Antunes Rosa, uma das suas ex-presidentes, falou conceituando o Labor Clube Internacional. Em seguida, a Sra. Yvone de Oliveira Silveira, presidente da Academia Montesclarense de Letras, fez a apresentação do
livro.

Após se ouvir a declamação de um poema e uma canção da autora, dedicados a Montes Claros, e as suas palavras de agradecimento, o Sr. Wanderlino Arruda, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, falou e, encerrando a sessão, convidou para um coquetel que foi servido a seguir.

No transcurso da cerimônia um telão à frente, lançava fotos com imagens de locais importantes de Montes Claros da época e registrava ações sociais, reuniões festivas e de companheirismo do Labor Clube Internacional de Montes Claros, no período do seu funcionamento: 1963 a 1980.


Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa

A apresentação da autora foi feita pela ex-laboriana e amiga, a artista plástica Felicidade Patrocínio cujo texto, na íntegra, segue abaixo.

SOBRE GERALDA MAGELA

Difícil transformar em palavras uma realidade tão ampla e complexa, como o é uma pessoa.

No entanto, confesso, fascina-me essa possibilidade. Acostumada ao contato da argila que me oferece a plasticidade apropriada ao domínio da materialização da forma idealizada, transcendendo a pura coisidade em idéia, vejo-me, agora, diante de um novo desafio que motiva a minha inspiração.

E este consiste em transpor, num desenho abstrato, uma figuração que em si já é imaterial, já que me disponho a esculpir, no conceito, o perfil da pessoalidade de Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa.

Tarefa que me honra de maneira especial.

E tratando-se de conceito, o que possuo para auxiliar-me nesta sublime tarefa?

Por um lado, a palavra, e por outro, a beleza, em forma de pessoa: Magela.

O receio de incompletudes leva o meu senso crítico, inquieto, a questionar: poderá esse processo sofisticado de abstração, traduzido em simples sinais escritos e sons significantes, totalmente arbitrários, mas combinados e aceitos pelo grupo, trazer a compreensão de realidades tão complexas, como uma subjetividade pessoal, um modo de sentir e ver o mundo?

A história das letras sinaliza de forma positiva. Sendo assim, solicito a atenção de todos, para que sejam levados a ver a beleza de alguns quadros da vida de uma mulher exuberante que desde sempre fez um pacto com a vida, vivê-la de maneira virtuosa e produtiva.

Nossos primeiros contatos se deram, quando, ainda crianças, brincávamos nas portas das casas, dela, da minha, onde entrávamos e saíamos alegres e cantantes.

Nos vôos imaginários nos galhos das goiabeiras imitando passarinhos. Nos folguedos de roda, de circo, e nos barulhentos recreios da primeira escola, o Grupo Escolar Francisco Sá.

Como filha, única mulher, Magela reinava em sua casa com direitos de princesa, rodeada por seus pais amorosos, Cypriano Almeida, famoso agrimensor, D. Ambrosina, a gentileza em pessoa, e pelos seus 4 irmãos.

Cabelos longos da cor do mel, sorriso meigo que ao longo do tempo foi adquirindo um charme encantador.

Era linda de dar gosto. E continua como podem ver.

Magela se destacava dentre outras crianças e, mais à frente, dentre as jovens, devido a sua precoce personalidade.

Aos meus olhos de menina curiosa, acostumada à multidão de 12 irmãos e quartos cheios de camas, o quarto de Magela era um deslumbramento: bonecas de louça de face rosada, guardaroupa farto e criativo, tapetes no chão e almofadas sobre uma
cama só.

Sempre vestida de forma primorosa, laços, babados e bordados e coisas mais para o encantamento das amigas. Tudo naquela casa nos encantava, mas a marca maior, gravada para sempre na minha mente, vem de um sorriso, este sim, indescritível, sem linguagem capaz de apreendê-lo e transmiti-lo na sua totalidade.

Era o sorriso da mãe Ambrosina, quando punha os olhos sobre Magela. Era a expressão do AMOR, na sua perfeição.

Magela descreve esse sorriso no seu texto; “No colo da mãe, a vida se aprende”, publicado na revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, n.4/2009.

Foi lá que li também:...”eu canto, porque ouvia minha mãe cantar. E me arremedo poeta, porque com ela aprendi os primeiros poemas.Ainda muito pequena, me lembro, ficávamos estendidas sobre sua cama, fundidas nas dimensões da beleza e dos sentimentos. Ela declamava para mim”...... “nossos saraus aconteciam ali, no aconchego do ninho. Ela declamava e eu percebia a minha mãe transformar-se: um rubor de emoção, um brilho de estrelas nos olhos verdes, ondas de arrepios enquanto repetia a história dos poetas e transmitia lições de sensibilidade, emoção e vida.” “Lembranças inesquecíveis! Riquezas acumuladas na alma!”

Essa influência materna direcionada à literatura levou Magela, desde tenra idade, a compor versos e, com freqüência, vestida de papel crepom, subir aos palcos dos auditórios escolares, onde dançava, cantava e declamava lindos poemas.

O tempo foi passando e nós crescemos.

Tornamo-nos parte da geração anos dourados, década de 60.

Aquela década prometia. Chegara a vez dos jovens.

Na explosão dessa juventude via-se latente a determinação da conquista da liberdade. Essa febre atingiu todo o planeta e o nosso contato com o mundo tornou-se consciente e participativo.

Amávamos a humanidade e queríamos transformá-la. Agenciamos atitudes e, até onde foi possível, traduzimos esse desejo.

Na música, nas roupas, nos discursos, nas ações sociais, no comportamento como um todo, cantamos com os Beatlles, com os Tropicalistas, vibramos com os festivais da MPB, dançamos o Twist.

Surgiu o Movimento Hippie, os avanços da Ciência levaram à conquista do espaço, a medicina trocou num peito ainda pulsante um coração doente, a TV iniciou a transmissão ao vivo, via satélite.

Ainda aí, nos anos 60, começa a sair da fôrma o computador com promessas de internet. Surge a pílula anticoncepcional e a mulher domina e controla o seu corpo de fêmea, o que propicia a sua infiltração no mercado competitivo do trabalho, paralelo ao homem. Aturdidas, víamos tudo isso acontecer e nós próprias protagonizávamos o acontecer e, confesso, se não fossem os resíduos de uma formação vigorosa, os nossos pés teriam saltado do chão, sem retorno à normalidade.

Os reflexos dessas mudanças impactantes e irreversíveis fizeram-se sentir nos quarteirões sul (hoje centro) da cidade de M. Claros onde morávamos.

Magela, assim como e eu e as nossas amigas e amigos, assumimos um novo modo de estar no mundo.

Magela, que desde criança se encantara com as cores da primeira caixa de lápis coloridos, já nos cursos ginasial e Magistério, no Colégio Imaculada Conceição apresenta forte tendência para as atividades artísticas.

Naturalmente motivada à vida ativa e participativa, durante o curso Normal, ingressou na JEC, movimento da juventude católica, onde experienciou (de acordo com suas próprias palavras) o ”agir no mundo através da religiosidade e da relação com Deus”

Ingressou no Tabatoriba “grupo de dança folclórica que possibilitava sua relação c/ a música,” fazendo abrir em sua consciência mais um canal para a expressão do belo que já pressentia.

Participou de Concursos de Poesia, buscando, na declamação, uma comunicação literária, através da combinação da entonação de voz, silêncios e gestos.

Aqui quero abrir um parêntese para um registro que considero importante: trata-se dos cadernos de poemas de sua autoria que se multiplicavam em pouco tempo. Era uma alegria, para nós, as amigas, ouvi-la na leitura desses poemas tão lindos, com expressões bem articuladas, onde se percebia, subjacente, sentimentos nobres e mais forte do que todos, aquela emoção que denunciava a descoberta do amor.

Era já o prenúncio de uma escritora bem sucedida que viria honrar a Academia Feminina de Letras desta cidade. Ingressou também no “Labor Clube de Montes Claros, franquia do Labor Internacional, clube feminino, de serviço onde, diz ela, “vivenciava
a relação com a sociedade e com o outro através da consciência de Mundo, de Ser Humano, de fraternidade e serviço”. Tive a alegria de ser sua colega também no Labor e, dentro daquele espaço de fraternidade, agenciamos transformações valiosas de vidas através do trabalho social e de palestras dirigidas aos jovens, sobre formas saudáveis de estar e participar do mundo.

Magela relata de forma primorosa, neste livro que lança agora, a história desse clube em Montes Claros.

Após a formatura e já consciente da importância da sua presença no mundo, ela se viu preparada para o que se propusera: colaborar efetivamente na evolução da sociedade, através do mister mais sublime, a educação, o que se efetivou a princípio no Pré-primário e Primário.

Na busca de aperfeiçoamento, estreitou os laços com a arte através do curso de Pedagogia Musical feito no Conservatório Lorenzo Fernandez.

Em pouco tempo, estende o seu labor ao magistério de 2º grau e a partir de 1972 amplia seus horizontes produtivos com um trabalho muito especial com adultos da zona rural (agricultores, fazendeiros e cooperados).

Aí que ela pode lembrar-se do companheirismo que já conhecera no Labor Clube, e mais uma vez admirou-se da força que emana da união e da cooperação.

É que, desta vez, Magela se tornara, por acréscimo, Técnica em Educação Cooperativista através da Ercoop/Sudene.

Em 74 faz novo curso, Pós-graduação em Orientação Educacional- FAE/UFMG F e através das Escolas Polivalentes/PREMEM dá um novo salto.

Desenvolve no Triângulo Mineiro, precisamente na cidade de Ituiutaba, durante 3 anos, aquilo que define como a experiência mais organizada e satisfatória que conhecera na educação formal: as Escolas Polivalentes.

No final de 76, de volta a Montes Claros, participa do Centro Integrado de Atendimento ao Menor - o CIAME cuja estrutura e processo educativo era ligado à FUNABEM/FEBEM.

Magela relata em seu texto “Arte Vida, Vida Arte” que foram “sete anos de maravilhosa experiência na ação social em campo aberto e educação informal”.

Em 82, já casada com Hugo César de Sousa e com 2 filhos, William César e Túlio César, muda-se p/ BH acompanhando o marido.

Lá trabalhou na 1ª Delegacia Estadual de Ensino, Colégio Estadual “ Olegario Maciel”, nas E.E. “Dep. Antonio Martins Canedo” e “Diogo de Vasconcelos”, e no Colégio Pitágoras-Cidade Jardim.

Em 91, já em Montes Claros passa a coordenar as Atividades Especiais no Instituto Educacional da Criança e a partir de 93 enfrenta os desafios da educação à distância, através da Escola Técnica, somando aos seus atributos mais esse avanço da tecnologia.

Capacitou-se adequadamente nesta área, através de outra Pós-Graduação com especialização em Educação Continuada e a Distancia, na Universidade Nacional de Brasília, passando a trabalhar nessa demanda no norte de Minas através da Pró-Reitoria de Ensino, da Unimontes, onde permanece.

Durante essa escalada, a arte às vezes se escondia, mas na realidade nunca a abandonou.

Nas práticas da sua docência, ela foi se tornando consistente e direcionando sua vertente para o campo da linguagem, por isso, nos trabalhos dos últimos tempos, produziu vídeos, com roteiros de sua autoria, e, mesmo que o foco fosse pedagógico, percebia-se nuances literárias.

No momento atual, dedica boa parte do seu tempo às letras. Definiu e decidiu que este será o seu campo artístico e será através dos meandros da palavra que continuará contribuindo para o entendimento entre as pessoas, para a melhoria da vida e o engrandecimento das manifestações do mundo, no tempo.

Conhecendo a sua capacidade e determinação, aposto no seu sucesso e esta festa o comprova.

Parabéns Magela.


O QUE SERÁ TABATORIBA?

Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa
Cadeira N. 34
Patrono: Eva Bárbara Teixeira de Carvalho

Tudo começou nas cabecinhas inquietas e alegres de um grupo de estudantes de magistério do Colégio Imaculada Conceição, em Montes Claros.

Fazíamos o 2º ano normal e devíamos preparar a tradicional Festa de Despedida para a turma do 3º normal que iria se formar.

Era o ano de 1962, setembro, por aí. Na turma de cinqüenta alunas - 2º Normal B - um grupo, especialmente barulhento, irrequieto, alegre e amigo formava a “turma do Lairô”.

Comandávamos as brincadeiras em sala e fora dela. As novidades, o agito, as festas sempre tinham o dedo de algumas das meninas do Lairô.

Essa turma possuía alguns subgrupos formados por maior afinidade, vizinhança, conhecimento anterior, etc. Éramos: Conceição Tolentino, Yole Nunes, Lúcia Idalina Narciso, Glória Fagundes, Terezinha Massière, Mercês Madureira, Ismar Aquino,
Miriam Milo, Magna Jeanine Félix e eu.

Entusiasmadas, urdíamos planos para a festa. Costumeiramente, após as aulas de Educação Física, à tarde ou após algum horário vago no final da manhã, nos reuníamos para conversar sobre os Lairôs, os flexs, comentar sobre os fatos interessantes ocorridos nas aulas da semana, cantar e rir, rir com vontade.

A alegria era a tônica do grupo. A alegria e o canto ao som do violão, que sempre estava por perto e ao som do qual sempre eram finalizadas as nossas reuniões. A verdade é que sempre estávamos juntas ou nos encontrávamos por aí.

A sede do Lairôs Clube ficava situada exatamente no amplo quarto de Magna Félix, num sobrado localizado na esquina da Rua Carlos Gomes com a Rua Lafetá.

A janela do quarto que se abria para a Rua Carlos Gomes era nossa janela para o mundo e o nosso ponto de observação das lambretas, carros e os flexs que passavam por ali por “ pura coincidência”.

Além de nós também apareciam pelo clube, ainda que com menor freqüência, a Mirtes Lopes, Isabel Nunes,Maria de Jesus Rabelo, Maria da Consolação Rabelo, Zenilda Araújo Gomes, Ismar Aquino, Marta Brasil, Josefina Pereira de Carvalho, Mércia Beatriz Pereira e outras, cujos nomes não me ocorrem agora.

Com certeza, foi numa destas manhãs ou tardes que a idéia para a festa surgiu e imediatamente tomou corpo. Faríamos uma festa diferente, “estrordeler”, inesquecível! Formaríamos um conjunto para cantar e dançar.

Imediatamente a data do primeiro ensaio foi marcada. E na hora certa estávamos lá com mil idéias na cabeça e querendo dançar. Mas não foi fácil colocar e entender as idéias apresentadas diante da algazarra e brincadeiras de cada uma. Não se chegava
a nenhum acordo. Cada uma queria falar, rir e gritar mais do que a outra.

Segundo Josefina, ela não se esquece de como eu, séria, “brigava” e me empenhava para botar ordem na confusão generalizada. No final tudo dava certo e acabava em riso.

A festa aconteceu no Pentáurea Clube e foi um sucesso!

Apresentamos a Bandinha do 2º Normal B que ficou assim na sua formação original:

Violão - Zenilda Gomes e Ismar Aquino
Atabaque - Elizabeth Lücher Castro e Carmem Lúcia Tupinambá
Cocos - Mercês Madureira e Neusa Gonçalves Dias
Maraca e triângulo - Teresinha Massière e Iole Nunes,
Josefina Pereira e Lúcia Idalina Narciso,
Pandeiros - Conceição Tolentino, Glória Fagundes, Odete
Queiroz, Joelita Noronha Nassau, Miriam Veloso Milo e Geralda
Magela de Sena Almeida.

O melhor é que o grupo fez tanto sucesso que no ano seguinte, diante da necessidade de levantar recursos para as festas da nossa formatura, não pensamos duas vezes: - a Bandinha do 2°B vai ser o show!

Mas seria necessário um repertório diferente, melhorar nossa apresentação. Precisávamos buscar ajuda. Mas onde buscar? Quem poderia ser?

Não se podia falar em música naquela época sem imediatamente ver surgir em destaque o nome de Dona Marina Lorenzo Fernandes Silva.

Dona Marina??!! Será que ela atenderia o convite de um ”grupinho de alunas” sem relevância?

Fomos lá verificar. Uma colocando a outra na frente, sem saber bem como dizer do nosso desejo, rindo do nosso próprio acanhamento e pretensão, tocamos a campainha da casa dela. Nessa época D.Marina morava à Rua Dr. Veloso, ao lado da casa de D. Natália Peixoto, quase esquina com a rua Dom. Pedro II.

Parecia que a porta não ia se abrir. A gente tinha vontade de sair correndo com a desculpa de que ninguém atendeu. Assim não teríamos que passar pela vergonha de “fazer feio” diante dela.

Mas a porta se abriu. E a luz de um sorriso amigo, cordial iluminou o ambiente e correu com todo medo. Quando vimos, já estávamos na sala da casa de D. Marina à vontade, conversando com ela, contando sobre nossas idéias e admiradas de vê-la já parte do grupo dando sugestões e marcando nosso primeiro ensaio.

A festa teria o nome de “Chá... Chá... Chá... na Bahia” e a divulgação que a precedeu merece uma crônica à parte. Criou um suspense geral.

– O que será Tabatoriba? Na cidade só se falava disso. As Colunas Sociais especulavam. Todos queriam saber o que seria a tal TABATORIBA proclamada em cartazes espalhados pelos principais pontos do centro da cidade.

E chegou o dia. Vestidas de baiana estilizada em vermelho, branco e com muitas bolas, argolas grandes no turbante em laço, mal conseguíamos esperar para entrar no salão de festa do Clube Montes Claros.

Ficou decidido que cantaríamos músicas de folclore brasileiro. Entraríamos cantando “Na Bahia tem...“ e o “pour porri” com músicas folclóricas da nossa região. A seguir passaríamos para a música “Vento” de Dorival Caymi.

Nesta música estava o clímax da apresentação. Embalados pelo som da canção: “...vento que esparrama as palhas do coqueiro, vento que encrespa as ondas do mar...” viam-me levantar e caminhar pelo salão declamando os versos da música, enquanto todo o grupo sentado fazia fundo sussurrando a melodia. Os aplausos eram espontâneos e efusivos. E antes que o público se desse conta a música lânguida e romântica explodia num chá... chá... chá... vibrante que contagiava a todos numa grande animação.

O grupo se levantava e, dançando o novo ritmo da moda, tirava as pessoas mais próximas para dançar. Quando a pista começava a se encher ele saia de mansinho deixando o ar de sua alegria envolvendo a todos. E eram palmas. Muitas palmas.

O Grupo TABATORIBA ficou consagrado desde a sua primeira apresentação. Foi convidado muitas vezes a se apresentar, inclusive, nas cidades vizinhas. E enquanto foi possível nos reunirmos, Tabatoriba partilhou o ar de sua graça.

Eu não disse por que o grupo se chamou TABATORIBA! É que segundo Isabel Rebello, hoje Isabel Rebello de Paula, na época nossa querida professora no Colégio Imaculada Conceição, o nome caia bem para o nosso grupo, pois, segundo ela, TABATORIBA queria dizer em tupi-guarani: grupo alegre, exatamente como éramos.

Assim, ficou: TABATORIBA. Nome de um grupo alegre de jovens normalistas, que dançando marcou a lembrança de todos que puderam vê-lo.

E que ficou tatuado no coração de cada uma de nós, para sempre marcando esse tempo feliz de alegre convivência no Curso Normal do Colégio Imaculada Conceição e no grupo alegre

– TABATORIBA.


Foto 1: Apresentação da bandinha TABATORIBA - Festa ”Chá,chá,chá na
Bahia”. Clube de Montes Claros – Ano 1963

Foto 1 - Da esq. para a direita: De joelhos, Terezinha Massière, Iole Nunes, Lúcia Idalina Narciso.Josefina Pereira de Carvalho. A assentadas no tablado, Zenilda Araújo, Elisabeth Lücher Castro, Marta Brasil, Carmem Lúcia Tupinambá, Ismar Aquino. Assentadas no chão, de frente, Mercês Madureira e Neusa Gonçalves. Assentadas de lado, com pandeiro, Joelita Noronha, Odete Queiroz, Glória Fagundes e Conceição Tolentino.


Foto 2

Foto 2 - As duas integrantes do grupo que estão na foto ao lado, com pandeiros, e não aparecem na foto maior são: (da esquerda para direita) Geralda Magela de Sena Almeida e Miriam


CASOS PITORESCOS DOS ALBORES
DE UMA CIDADE

Itamaury Teles de Oliveira
Cadeira N. 84
Patrono: Newton Prates

Sempre fui muito curioso para saber das pessoas mais velhas o que faziam para ocupar o tempo, nas pequenas cidades, onde as opções de lazer eram mínimas. Invariavelmente, o assunto se concentra nas prosas intermináveis à porta das casas, onde elas se refestelavam a bordo de bancos e cadeiras, deslindando casos pitorescos que ocorreram no nosso sertão norte-mineiro.

Como velho repórter, ando sempre munido de gravador, para colher relatos autênticos e não perder detalhes importantes, capazes de ensejar novas pesquisas.

Pois foi com esse propósito que, em janeiro de 1985, em companhia do meu tio José Gomes de Oliveira, fomos visitar, em Montes Claros, o Sr. Pedro Ladeia. Eu o queria conhecer havia muito tempo. Ele fora citado pelo meu avô Filogônio Teles de Menezes, em entrevista a mim concedida, em 25.12.1975, como sendo o homem que construíra uma casa em Porteirinha, “a muque”, na década de 30, contra a vontade da política de Grão Mogol, que deliberou proibir a construção no distrito, por cinco anos, para que não crescesse mais que a sede do município.


Emancipada de Grão Mogol, em dezembro de 1938, esta é a primeira imagem
da florescente cidade de Porteirinha (Foto: Acervo do Cônego Julião
Arroyo Gallo)

O Sr. Pedro Ladeia disse-me ter nascido em Jacaraci – BA. Mudou-se para Porteirinha em 1917 e ali permaneceu até 1932, quando transferiu residência para Montes Claros. Era tropeiro, como meu avô Filogônio. Recordou, inclusive, de um episódio acontecido com ele, quando viajava com tropa: “Filogônio até começou bem e estava mais ou menos regulado. Ele me contou que comprou uma tropa e começou a negociar e tal. Com pouco pegou: quando ele apanhava um couro, o couro ia lá pra cima. Pegava um arrocho [que era um petrecho utilizado para se apertar a carga] e tomavam da mão dele e botava lá. Tinha um saco – que eles davam o nome de piranga – que era para botar em cima para poder apertar o animal. Tudo que ele pegasse, tomavam da mão dele.”

Nesse ponto, interrompi para indagar se já era uma manifestação do famoso Romãozinho que, em 1927, atazanou a residência do meu avô. E o Sr. Pedro Ladeia não titubeou: “Era. Estava ajudando ele. Mas a tropa sumia. Isso eu vi. Eu saí junto com ele e cheguei 15 dias adiantado. E ele chegava atrasado porque burro sumia, outra hora a carga perdia.” Indagado pelo meu tio se foi nessa época que Filogônio Telles ficara cego, Pedro Ladeia disse que não, pois a vista dele só começou a piorar depois da aparição do Romãozinho.


O tropeiro Filogônio Teles de Menezes passou por maus momentos, supostamente
causados pelo ente Romãozinho (Foto Itamaury Teles)

Mudando de assunto, quis saber do Sr. Pedro Ladeia como era Porteirinha naquela época em que lá morou. Para ele, Porteirinha, embora distrito de Grão Mogol, era bastante movimentada, mas havia poucas casas. “Era um arraialzinho. Tinha aquela casa ali do Major Fidêncio, até uma algodoeira velha, que era onde tinha a casa de Domingos Lima. Zé Gomes foi para lá logo depois.”


O montes-clarense José Gomes de Oliveira participou intensamente dos
acontecimentos sociais e cívicos de Porteirinha. Ao centro, ele aparece tocando
surdo no desfile de sete de setembro de 1942, tendo sua irmã Palmyra
Santos Oliveira como porta-bandeira. (Foto: Acervo do Cônego Julião Arroyo
Gallo)

“Quando fui prá lá – conta José Gomes – Porteirinha já era cidade fazia quase dois anos. Eu inaugurei o telégrafo lá no dia 20 de outubro de 1940. Inaugurei o aparelho Morse. O telefone já havia sido inaugurado no dia 7 de setembro do mesmo ano, por João de Deus, um guarda-fio de Diamantina, que foi lá fazer esse serviço de construção da linha. Quando fui pra lá, o Correio funcionava onde era há pouco tempo a casa de Milton Teles, esquina com o velho Torozó, que era pai de Tarcino. Fiquei em
Porteirinha até 1943, quando me mudei para Montes Claros. Propércio, meu filho mais velho, tinha seis meses.” Pedro Ladeia disse que saiu de Porteirinha em 1932, quando
Natinho - comerciante casado com a sobrinha da minha avó, Guiomar Rosa de Brito (Dona Guigui) - construiu a primeira casa no Cabaçal e lá montou uma venda.


Quando o Sr. Pedro Ladeia saiu de Porteirinha, em 1932, o ainda distrito grãmogolino
tinha este bucólico aspecto.

Ao falar de Natinho, iniciou-se um pequeno desencontro de opiniões entre Pedro Ladeia e José Gomes. Este falava que a casa onde Major Santos morou fora construída por Natinho e Pedro Ladeia dizia ter sido por Nino, irmão de Dona Guigui, ao lado da casa do Major Fidêncio Cangussu. José Gomes disse que Natinho construía e vendia casas em Porteirinha. A última notícia que ele teve de Natinho foi que havia se mudado para Jequitinhonha.


Antiga Praça da Bandeira, em Porteirinha, projetada pelo Dr. Jansen, vendose
ao fundo, à direita, as casas que pertenceram a Major Fidêncio Cangussu
e Major (Alcebino) Santos.

Como não chegaram a um acordo, aproveitei a oportunidade para fazê-los lembrar de casos pitorescos ocorridos em Porteirinha, nos anos 1917 a 1943.

José Gomes lembrou-se de alguns casos ocorridos no Correio. “Eu me lembro de um Fulano de Tal Cardoso de Moura e a mulher dele era Cardosa de Moura.” Além disso, lembrou-se que, aos sábados, fazia chamadas no Correio, às 9, 13 e 15 horas, quando “corria” as cartas. Quando lia um nome ouvia-se sempre alguém dizer “supara”, para separar. A maioria das cartas era dirigida ao Jatobá (hoje, Serranópolis de Minas), aos cuidados de Oscar Antunes ou de Ananias José Alves, “que eram os donos de lá, na época.”

José Gomes disse ter sido muito bom o período em que viveu em Porteirinha. “Fiz boas amizades. Lá para mim era o mesmo que minha casa. Naquele tempo não tinha política ainda e era todo mundo amigo. Depois é que veio a política e atrapalhou tudo.”

Nesse ponto, indaguei quando havia iniciado essa divisão entre Liobas e Gabirobas. “Isso foi mais tarde. Eu já havia mudado para Montes Claros. Começou com Anfrísio Coelho e Dr. Almerindo Brito. Alcides herdou de Dr. Almerindo.”

Segundo José Gomes, “Porteirinha teve um prefeito, Dr. Altivo Fonseca, que era tenente da Polícia e advogado. Ele proibiu as pessoas de amarrar cavalos nas portas das casas. O sujeito chegava a cavalo e o amarrava ali na porta. Tinha até uma argola
própria pra isso. Era um costume. Depois da proibição, o pessoal da zona rural tinha que amarrar os cavalos fora da cidade.” Nessa época, recorda-se José Gomes, morava em Porteirinha um alemão, Dr. Jansen, que era chefe de obras da Prefeitura. Enxergava pouco. Dr. Altivo recomendou a ele para não deixar ninguém atravessar o jardim. “O jardim era um gramado que tinha lá e eles botaram uma cerquinha de arame liso, mas as pessoas saltavamaquilo. Um dia – continua José Gomes – eu estava na casa que era de Natinho e vi o Dr. Altivo atravessando o jardim, saltando a cerquinha. Aí o Dr. Jansen gritou: - Ô, moço! É com você mesmo que eu estou falando! Dr. Altivo olhou pra trás. E Dr. Jansen gritou: - Num pode andar aí, não! Aí Dr. Altivo continuou andando. E Dr. Jansen continuou gritando: - É com você mesmo que olhou pra trás, seu cavalo! Você não sabe que é proibido andar aí dentro? Depois, Dr. Altivo veio, sorriu e disse: - Você está certo. Fui eu quem deu a ordem.”


O primeiro prefeito de Porteirinha, Dr. Altivo Fonseca, proibiu o “estacionamento”
de animais nas ruas da cidade.


José Gomes lembrou-se de que Dr. Jansen só tinha um dente na frente. Como eram muito amigos, um dia perguntou-lhe por que não arrancava aquele dente solitário. E ele, sem pestanejar, respondeu: - Arranco, não! Serve pra chupar umbu...

“Outra vez vi que ele mantinha um apito na cabeceira da cama: - Dr. Jansen, para quê este apito? E ele respondeu: - Eu moro sozinho. Se eu sentir mal de noite eu apito e a vizinhança sabe que estou querendo alguma coisa e vem me ver.”

Quis saber o que se fazia em Porteirnha naquela época. Pedro Ladeia recordou que, por não ter nada para se fazer, ficava sentado na porta. “Botava as cadeiras na porta da casa para uma prosa... A gente também jogava marimbo, uma espécie de jogo de baralho. Jogava muito com o Major Fidêncio.

José Gomes manifestou-se sobre o Major Fidêncio, da Guarda Nacional. “Era uma pessoa muito austera. Fácil de lidar com ele, muito educado, reto demais da conta. Muito direito. Ele e Dona Naninha.”

Sobre o que fazia naquela época, recordou: “Naquele tempo a gente jogava muito bilhar, tinha muita melancia [risos], muita fartura... Quando andei por lá, Porteirinha era conhecida como o maior produtor de mamona do País. Anteriormente, era um grande exportador de suínos também. Tinha muito carro por lá. Mas em Mato Verde tinha mais carro que Porteirinha. Em Monte Azul tinha o carro do Sr. Telles. Aos sábados, tinha aquele monte de carro vindo para Montes Claros. A gente tinha que combinar a boléia com antecedência. Se tivesse com a mulher, não tinha vez pra gente. Por uma questão de delicadeza, a gente tinha de ceder a boléia para a mulher. A gente ia em cima da carroceria...”

Para mim, os casos pitorescos são rara especiaria que tempera e dá sabor a normalmente insípida e muitas vezes desinteressante história oficial. Por isso, minha curiosidade continua...


COISAS DO PASSADO

Juvenal Caldeira Durães
Cadeira N. 81
Patrono: Nathércio França

Na década de 30, Montes Claros era uma cidadezinha modesta, plantada no sertão mineiro e longe de tudo. Era servida pela “Estrada de Ferro Central do Brasil” (EFCB), meio de transporte que ligava a nossa comunidade aos grandes centros e às localidades por onde passavam os seus trilhos. As outras partes da região, ligadas com estradas precárias, eram servidas pelas tropas de burros e carros - de - bois.

O povo da cidade era simples, solidário e vivia como se fosse uma grande família e os camponeses da redondeza não eram diferentes. Todos juntos formavam uma sociedade tranqüila, com raros casos de violência e de desavenças.

Naquela época, eu era criança e morava na fazenda “Cantinho”, com meus pais, irmãos e agregados prestativos. Ali, era um paraíso com paisagens verdejantes e floridas, aves exóticas banhando nas águas tranqüilas das lagoas ou pousando nos galhos das árvores frondosas que cobriam a região.

Chovia muito e as colheitas na redondeza de produtos agrícolas e de frutas eram abundantes e suficientes para o sustento da população, apesar da falta de conhecimentos tecnológicos e de recursos da nossa modernidade. O povo vivia satisfeito e alegre, sem nada reclamar.

A alimentação era sadia e saborosa. Os produtos químicos não eram conhecidos na região e tudo era natural. No lugar dos agrotóxicos, usavam-se o “toá” moído no pilão (rocha amarela e macia) para imunizar o feijão contra o caruncho. O arroz era conservado em casca, para evitar as pequeninas lagartas e socado no pilão à medida que fosse usado na semana. O toucinho e a carne de porco eram fritos e transformados em conservas enlatadas para o uso diário. As abóboras e morangas eram conservadas no meio das espigas de milho do paiol, para o uso do ano. A lenha destinada aos fogões era armazenada no galpão para evitar o aguaceiro das chuvas torrenciais. As rapaduras eram empilhadas e a farinha ensacada, depositadas na dispensa. E assim, sem geladeiras e recursos modernos de hoje, procediam na conservação dos alimentos para passar os períodos chuvosos do fim de ano, chamados impropriamente de “inverno”, que se dava sempre em novembro e dezembro, deixando a região alagada com rios cheios e estradas intransitáveis.

Com o passar do tempo, tudo mudou radicalmente. Surge a tecnologia avançada e cheia de novidades modificando as coisas e os costumes para melhor ou para pior, de acordo com as circunstâncias do momento e das tendências das pessoas modernas. Ao lado das inovações benéficas apareceram os males da época, como o mau uso da internet, da televisão e o abuso das drogas e da liberdade exagerada, o que aniquila cruelmente o potencial da juventude e faz gerar a violência. Todavia, esses vírus contagiosos não conseguem atingir pessoas de boa índole, previdentes e que sabem evitar esses flagelos e aproveitarem das vantagens oferecidas pelo progresso para prosperarem a bem de si mesmas e da sociedade.

Na década de trinta, a vizinhança vivia como em colônia, uns ajudando aos outros, harmoniosamente. Ali, havia pouca ambição e as pessoas não se preocupavam com estudos e nem pensavam em concursos públicos ou coisas semelhantes. Não tinham
pressa e viviam com tranqüilidade e despreocupadas. Se aparecessem algumas desavenças entre elas, eram resolvidas a contento por familiares e amigos. Nada de Polícia ou Justiça. A primeira era violenta, portanto evitada. A segunda era cara e fora
do alcance das pessoas comuns. Além disso, aquelas instituições não eram simpáticas e nem inspiravam confiança entre aqueles habitantes. Eles acreditavam mais nas intermediações de familiares e de vizinhos amigos.

O povo era simples, sem formalidade e vaidade. Era arredio e desconfiado quando se tratava de desconhecidos. Era confiante quando lidava com conhecidos. Eles cultivavam a prática de visitas para manterem a amizade. Nos encontros, falavam da
política e do regime rigoroso da ditadura de Getúlio Vargas. Criticavam as “temidas” Leis Trabalhistas instituídas pelo ditador. Os fazendeiros achavam que aquelas inovações sociais vinham inviabilizar a produção do campo. Tinham-nas como entrave à produção e a falência das fazendas. Queixavam-se das atitudes dos governantes da época, preocupava-se com o rigor do tempo e de outros assuntos limitados aos seus parcos conhecimentos e pequeno universo.

Apesar de chover muito, o veranico de janeiro era constante. Minha mãe reunia as famílias mais próximas e organizava o movimento das penitências para chover. Saíamos ao meio-dia com o sol a pino, durante nove dias, com pedra na cabeça, litro d’água em uma mão e ramos verdes na outra. No trajeto da sede da fazenda ao cruzeiro da igreja de Santo Antônio, nós, em duas colunas, íamos cantando hinos religiosos em intenção ao santo padroeiro, pedindo chuvas. Quase sempre, o santo nos “atendia”, até mesmo antes de terminar a novena.

Além dessas penitências entre vizinhos, faziam-se mutirões nas épocas de plantas e de capinas das roças, numa espécie de consócios adotados na vizinhança. A solidariedade e confiança entre uns e outros eram uma constante. A criação de filhos era rígida e o diálogo entre pais e filhos era raro ou não existia. A nossa família era liberal, amiga dos filhos, dos empregados e dos vizinhos. Gostava de fazer e receber visitas. Eu, apesar de minha pouca idade, participava sempre daquelas visitas.

Uma vez, eu acompanhei o meu pai numa visita ao Seu Vitório. Ele era baixinho, falante, já beirando os setenta anos de idade e com bons hábitos, determinado e firme nas suas decisões.

A janela da “sala de fora” (sala de visitas) da casa era baixa e a soleira era seu lugar preferido para assentar-se quando recebia visitas. Ele sentava sempre de lado, escorava as costas num dos portais e colocava os pés no chão já corroído e fundo com a freqüência de seus movimentos constantes. Ali postado e acomodado naquela posição, ele tinha a visão do terreiro e do interior da sala, sem dificuldade. Então, ele começava a contar suas interessantes histórias do passado.

Naquele dia de nossa visita, ele falou sobre o seu curioso casamento. Contou-nos, com ar jocoso, que certo dia seu pai lhe ordenou para acompanhá-lo numa visita ao seu vizinho mais distante para combinar o dia de seu casamento. Ele, surpreso e até assustado com a revelação do seu genitor, não tinha como desobedecer ou protestar. Tomou um banho apressado, procurou sua melhor roupa para vestir, calçou suas botinas que encontrava no baú e arreou os dois melhores cavalos e partiram em direção à fazenda de seu futuro sogro. Ele sempre atrás do pai, sem comentários. Na sua família não usava o diálogo entre pai e filhos, a não ser no caso de uma ordem a cumprir ou de um assunto simples intermediado pela mãe.

Depois de algum tempo de viagem e de suspense, eles chegaram à casa da noiva desconhecida. Foram bem recebidose convidados a entrarem na “sala de fora”. Tomaram assentos e os velhos, já conhecidos e até amigos, travaram na conversa.
Falaram das chuvas, das roças, dos animais, da crise, das “repudiadas” Leis Trabalhistas a serem colocadas em práticas e suas conseqüências danosas na produtividade do campo. Ele só ouvia sem dizer nada e sem ser notado, pelos velhos entretidos nas conversas. Então, entra a suposta futura sogra com um bule de café
e uma bandeja de xícaras de porcelanas e atrás dela uma linda moça com belas tranças jogadas nas costas e portando uma travessa de bolos finos e outra de biscoitos apetitosos. Vitório com seus vinte e poucos anos de idade, sem nunca ter namorado e visto uma moça tão bela na sua frente, fitou os olhos na donzela e por pouco não desmaiou de tanta emoção. Elas colocaram as coisas na mesa e cumprimentaram cerimoniosamente os visitantes. Ficaram poucos minutos escoradas nos portais da porta que dava para o corredor de entrada à cozinha, depois entraram sem dizer nada e não apareceram mais. Eles tomaram o café com os deliciosos quitutes e os velhos fizeram seus costumeiros cigarros de palha e fumaram com satisfação, soltando baforadas. Conversaram um pouco mais e então, eles, sem a participação das mães e dos futuros noivos, abordaram o assunto e acertaram a data e os pormenores da cerimônia do casamento. Despediram e regressaram a sua casa sem comentários. Vitório não esquecia a fisionomia da suposta noiva e estava deslumbrado com aquela beleza nunca vista pelos seus olhos.

Em casa, ele não parava de comentar com seus irmãos e amigos, sobre a formosura da jovem que em breve deveria ser sua esposa amada. O tempo corre e chega o dia do sonhado casamento. Ele entra com seus genitores na igreja cheia de parentes e amigos de um lado e de outro. Não demorou entram os pais e a noiva. Para a sua surpresa, a moça não era a que ele havia visto. A primeira era alta, de cabelos negros e longos, bela e nova. A moça apresentada no momento da cerimônia era baixa, de cabelos castanhos e curtos, não tinha a mesma beleza e bem mais velha. Ele como não podia manifestar e muito menos contestar, casou-se, sem reclamar.

Tempo depois, ele voltou a ver Maria, a donzela que lhe fizera sonhar por algum tempo. Ela casou-se com o vizinho chamado Joca Contendas e tiveram muitos filhos e viviam juntos naquela época, como também, Seu Vitório vivia com a D. Joana e seus doze filhos e netos.

Seu Vitório não queixava da sorte. Estava contando como eram feitos os casamentos de sua época, com graça, contente e orgulhoso com sua família e nada a reclamar. Pois, nenhuma moça foi-lhe apresentada como sua noiva no dia do noivado. A Maria estava ajudando sua mãe a servir o café e não sendo apresentada como noiva, o que descarta qualquer ato de má fé, que poderia comprometer a seriedade do velho sogro.

Anos depois, Nenzinho casou-se com Maria, viúva de Mirão e Antônio, com a jovem Carmelita. Os dois rapazes eram filhos do casal Joca e Maria e as duas moças, filhas de Vitório e D. Joana, todos vivendo na vizinhança e amigos solidários.

Ouvi esta história numa tarde chuvosa de novembro do ano de 1935, nas vésperas de meu aniversário de oito anos. Depois disto, o mundo transformou-se com o tempo, as pessoas mudaram seus costumes e as coisas foram sofisticadamente substituídas dentro da tecnologia moderna e engenhosa. Há quem chore os tempos passados. Eu também tenho saudades indeléveis daquelas épocas douradas, mas jamais me habituaria àquelas condições, se comparando com as atuais.

Nossa fazenda e toda a vizinhança, anos depois e já nas mãos de outras pessoas, foram desapropriadas para a construção do quartel do 55º Batalhão de Infantaria do Exército. Aquelas pessoas e seus movimentos de outrora só existem na lembrança. E as construções naquele rincão de tantas recordações foram abandonadas e acabaram com o passar do tempo. Ainda hoje, avisto ao longe os morros que ainda estão lá inertes e no mesmo lugar circundando aqueles lugares saudosos, hoje retomados e transformados pela ação da natureza. Quem diria!

Os nomes dos personagens foram substituídos por outros, para evitar possíveis constrangimentos de seus descendentes, se por ventura ainda existam alguns, mas a história é verdadeira.


ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA TIRADENTES

Lázaro Francisco Sena
Cadeira nº 55
Patrono: João Luiz de Almeida


Em 1956, quando o 10º Batalhão da Polícia Militar se instalou em Montes Claros, o futebol amador era, sem dúvida alguma, o esporte de maior apelo popular na cidade, capaz de mobilizar toda a sociedade, através dos clubes representativos dos diversos segmentos comunitários. Para contrapor a uma Associação Desportiva Ateneu, que apresentava um viés elitista, cujo estádio dispunha de arquibancadas divididas por grades metálicas para se evitar o contato físico de torcedores adversários, criou-se uma Associação Atlética Cassimiro de Abreu, que galvanizava as camadas populares daquela época, ao ponto de ter sido apelidado de “o mais querido”. Entidades representativas de categorias profissionais se projetavam através de suas equipes de futebol, como foram o Ferroviário Esporte Clube, da Estrada de Ferro Central do Brasil, e a Associação Desportiva Bancária, que congregava os profissionais daquele setor, dentre algumas outras vertentes comunitárias. E a Polícia Militar, ficaria de fora dessa “festa”? Nem pensar, pois os seus comandantes sempre entenderam que a Corporação deveria estar onde estivesse o povo. Era preciso, portanto, organizar a sua própria
equipe de futebol, para não se passar por um intruso, ou um convidado trapalhão.

O primeiro registro de atividades esportivas no 10º Batalhão foi publicado no boletim interno da Unidade em 25-02-1958, com a criação da Caixa de Esportes, “com a finalidade de proporcionar aos Oficiais e Praças da Corporação facilidade para a prática dos diferentes esportes”. A diretoria era constituída de um Presidente, um Diretor, um Secretário e um Tesoureiro, sendo que o Presidente seria sempre o Comandante do Batalhão e os demais cargos seriam ocupados por Oficiais designados por ele próprio. Todos os Oficiais e Praças do Batalhão poderiam ser sócios da Caixa de Esportes, para o que contribuíam com uma mensalidade no valor de Cr$10,00 (dez cruzeiros), para qualquer posto ou graduação.

O Comandante do Batalhão, Maj José Geraldo de Oliveira, como Presidente natural, em 07-03-1958 designou os demais membros da Diretoria, que ficou assim constituída:

- Diretor..................... 1º Ten Altivo Gomes da Silva;
- Secretário................. 1º Ten Raymundo Wanderley Dias;
- Tesoureiro................ 2º Ten Adm João Lopes de Oliveira.

Em 11-06-1958, foram designados, como “membros do Departamento de Esportes da Unidade”, os seguintes policiaismilitares:

- Diretor de Esportes.......... 2º Ten Smith Alves Valentino;
- Técnico de Futebol.......... 2º Sgt Manoel Pacheco;

- Representante na Liga de Futebol. 1º Sgt Eletácio Francisco
de Souza;
- Encarregado de Material.. 1º Sgt Clárissom da Rocha;
- Massagista....................... 3º Sgt Jarbas Gonçalves;
- Roupeiro......................... Sd José Guilherme.

Com a designação desse pessoal naquela data, entendemos que foi criada oficialmente a equipe de futebol que passaria a representar o Batalhão nas competições da cidade, nascendo assim, ainda sem nome, o que seria a Associação Desportiva Tiradentes.
Já no dia 28-07-1958, por ocasião do segundo aniversário de instalação da Unidade em Montes Claros, consta uma partida de futebol entre as equipes do Tiradentes (do 10º BI) e do Almirante Barroso (do Serviço de Saúde da PM). Vale ressaltar que, nessa
mesma data, foi inaugurado o Gabinete Dentário do Batalhão, um fato de grande relevância para a época, daí a presença do pessoal do Serviço de Saúde da Polícia Militar. Essa partida de futebol certamente foi a primeira disputada oficialmente pela Associação Desportiva Tiradentes. A propósito da denominação da equipe, vamos encontrar, no programa comemorativo ao Dia do Soldado, em 25-08-1959, uma partida de futebol entre a Associação “Atlética” Tiradentes (10º BI) e o Tiro de Guerra 87. Todavia, em 19-09-1959, foi designado o Conselho Fiscal da Associação “Desportiva” Tiradentes, que ficou assim constituído:

- Cap Mário Simões Soares de Souza;
- 2º Ten Tomás dos Santos Rodrigues;
- Sub Ten Aristides da Silva.

De acordo com informações prestadas pelo Cel Smith Alves Valentino, do quadro de Oficiais da Reserva e hoje residente na cidade de Itaúna-MG, durante entrevista com o autor destas notas, desde a instalação da Unidade em Montes Claros, era pensamento do Comandante Geraldo Batista criar um time de futebol vinculado ao Batalhão, como forma de integração comunitária. Para isso, inclusive, designou o então Aspirante José Hirton Melo para providenciar os estatutos da agremiação e manter os contatos iniciais com a Liga Montes-clarense de Desportos-LMD, tendo havido, de início, alguma resistência dessa entidade para aceitação da equipe, sob a alegação de dispositivos regulamentares que proibiam a participação de militares nesse tipo de atividades. Mas a resistência foi diplomaticamente vencida e a equipe foi aceita, com a condição de disputar o campeonato de acesso. Superada essa etapa, o Tiradentes juntou-se à elite futebolística de Montes Claros, integrada por Ateneu, Cassimiro de Abreu, Ferroviário, A. D. Bancária e Vera Cruz. É preciso lembrar que Montes Claros, àquela época, não tinha televisão e, por isso mesmo, tinha no esporte o seu principal entretenimento, de modo especial o futebol. As tardes esportivas dominicais despertavam a atenção das massas e, após o término da rodada, outro assunto não havia, nos bares e nas esquinas, que não fossem os resultados das partidas.

O Cel Smith, em seu tempo de Tenente, prestou relevantes serviços ao esporte do Batalhão, sendo um dos fundadores da Associação Desportiva Tiradentes, tendo integrado a equipe inclusive como atleta. Sua dedicação ao futebol era reconhecida por todos os desportistas de Montes Claros, mesmo antes do Tiradentes, quando ele exerceu cargo de destaque na direção do Ferroviário e até chefiou excursão do Ateneu à cidade de Januária, conforme aparece na fotografia seguinte:


Tenente Smith, à direita, com o Ateneu, em excursão a Januária.

Como prova do bom relacionamento do Batalhão na cidade, transcrevemos a “parte esportiva” das festividades comemorativas do dia 21-04-1958:

- 14:30 h, no Estádio João Rebelo, Bola Militar entre as equipes do 10º BI e Tiro de Guerra 87;

- 16:00 h, ainda no Estádio João Rebelo, demonstração de “ordem unida” pelos Recrutas recém-incorporados, seguida de uma partida de futebol pela equipe do Ateneu, em homenagem aos mesmos Recrutas, não sendo citada a equipe adversária;

- 19:00 h, na Praça de Esportes, volibol feminino entre as equipes da Escola Normal e o Colégio Imaculada;

- 20:00 h, ainda na Praça de Esportes, futebol de salão entre as equipes do 10º BI e do Tiro de Guerra 87.

A fotografia seguinte mostra uma das primeiras equipes básicas do Tiradentes, em 1959:


Da esquerda para a direita, de pé: Manoel Pacheco (Técnico), Walter, Piloto,
Smith, Moacir e Zé Guilherme; agachados: Mamão, Camilo, João Francisco,
Eli Costa e Plácido. Não conseguimos identificar o goleiro da equipe.

No início do ano de 1960, foi publicada, em boletim interno, uma determinação do Comandante da Unidade, Ten Cel Armindo Pereira Fernandes, sob o título ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA TIRADENTES, nos seguintes termos: “Estando a nossa Entidade Esportiva necessitando de recursos financeiros para as obras de sua praça de esportes, não tendo outra fonte de renda que não as mensalidades de seu quadro social, determino, por não haver outra solução, que se inscrevam todos os elementos desta Unidade como sócios da Associação Desportiva Tiradentes (Caixa de Esportes), a partir do corrente mês, continuando a vigorar a contribuição mensal CR$ 10,00 (dez cruzeiros). Este Comando espera que todos compreendam o alcance desta medida, que visa unicamente o engrandecimento de nossa Associação, dotando-a de um estádio à altura de seu progresso sempre crescente. O nosso Quadro está intimamente ligado às atividades do Batalhão e, assim, prestigiá-lo será uma demonstração de espírito de corpo e de real interesse para os assuntos relacionados com o 10º BI.”

Percebe-se, na determinação acima, o entusiasmo do Comando com as atividades do Tiradentes, fazendo crer na importância da equipe de futebol para o bom relacionamento do Batalhão na sociedade montes-clarense. Outro fato notável é a referência à necessidade de um estádio próprio para a Associação, o que já se iniciava com a construção de um campo de terra batida, no terreno que fora há pouco tempo adquirido para a atual sede da Unidade. O Tiradentes, assim, começava a adquirir visibilidade dentro do próprio Batalhão, despertando o interesse de Oficiais e Praças pela sua direção. Um fato, todavia, que de início parecia irrelevante, começou a adquirir proporções preocupantes: a necessidade de filiação à Liga Montes-clarense de Desportos, perante a qual a Associação tinha caráter civil, inclusive com uma diretoria
em formato próprio, onde alguns cargos não se adequavam necessariamente ao modelo funcional do esporte no Batalhão. Era preciso, portanto, eleger uma diretoria, mesmo que, de acordo com as normas em vigor, o Comandante já fosse o seu presidente efetivo. O que poderia ter sido resolvido na base do entendimen
to terminou por criar uma situação constrangedora para o regime disciplinar da época, com o Comandante, Ten Cel Armindo Pereira Fernandes, na iminência de disputar uma eleição e perdê-la para um seu subordinado. Diante do impasse surgido e não solucionado, prevaleceu o regulamento disciplinar, terminando com a intervenção do Comandante Geral, que determinou a suspensão das atividades da Associação Desportiva Tiradentes e a sua desfiliaçao da Liga Montes-clarense de Desportos, até que novos dispositivos fossem introduzidos em seus Estatutos, de forma que a equipe pudesse participar das competições daquela entidade, sem ferir os princípios elementares da disciplina.

 

UMA NOVA FASE

Quando, ao final de 1964, chegamos ao 10º Batalhão, aí encontramos um Tiradentes já reintegrado à Liga e disputando o campeonato amador da cidade com mais quatro equipes: Ateneu, Cassimiro, Ferroviário e Ipê. Naquele tempo não existia qualquer equipe profissional por aqui. Quando se falava “amador” era mais para confirmar a elite futebolística, em destaque perante o futebol da várzea, que já ensaiava os primeiros passos na periferia de Montes Claros. Era ainda o tempo da grande rivalidade entre Ateneu e Cassimiro, restando às demais equipes o papel de coadjuvantes. Até mesmo os principais jogadores da primeira fase do Tiradentes estavam atuando pelo Ateneu. É que o Comando do Batalhão, àquela época, ainda não tinha reassumido o entusiasmo
anterior com a sua equipe de futebol; apenas permitia o desenvolvimento de suas atividades.

A partir de 1966, todavia, uma nova fase se iniciou, com a reintegração dos antigos atletas ao Tiradentes, que passou a competir de forma equilibrada com os outros grandes times da cidade, embora não tenha conseguido sagrar-se campeão até ao final daquela década. Mesmo assim, vale a pena relembrar a equipe básica de então, com os seguintes jogadores: Joaquim (Aílton), Santo Antônio (Tone Câmara), Godofredo, Cachaça e Miguel Butina; Bahiano e Careca; Carinhanha, Zuza, Plácido e Davidson (Expedito Edson). A isso juntou-se também o entusiasmo do Tenente Lázaro Francisco Sena, eleito para a presidência da Associação, que empreendia grande esforço para aumentar a visibilidade da equipe no cenário desportivo local. Dentre outras iniciativas, tais como o início de colocação de grama no campo de futebol, criou-se o departamento de volibol, com times masculino e feminino, cujas apresentações, concorrendo principalmente com o Ateneu, lotavam as arquibancadas do Ginásio Darcy Ribeiro, na Praça de Esportes.


Nesta foto aparecem, de pé, da esquerda para a direita, a partir do segundo:
Ten Lázaro, Sgt Piloto, Sgt Vicente (Macarrão) e Cb Acácio. Dentre os civis,
destaque para o “levantador” Terezino, último à direita.


Nesta foto, além da rainha do Tiradentes (3ª, de pé, a partir da direita), identificamos outras atletas,
tais como Diná, Antonina, Tonhão, Gilda e Íris.

A rivalidade esportiva, assim, ultrapassava os limites do campo e das quadras, para ganhar, inclusive, os salões do Automóvel Clube, onde se elegeu a rainha do futebol, em memorável promoção da Liga Montes-clarense de Desportos, com o Tiradentes apresentando a sua candidata, a Srta. Maria das Graças Queiroz, que não foi a escolhida, mas, curiosamente, pouco tempo depois foi eleita “Mis” Montes Claros, em concurso oficial promovido pelo cronista social Lazinho Pimenta.


Maria das Graças Queiroz, rainha do Tiradentes, exibindo a flâmula da Associação, junto aos troféus até então conquistados.

 

UMA ÉPOCA DE RESULTADOS

A partir de 1969, sob o Comando do Ten Cel Cícero Magalhães, elegeu-se presidente da ADTiradentes o Maj Geraldo Ferreira Diniz, então Sub Comandante do Batalhão, com o objetivo expresso de fazer o time campeão. Com o apoio decidido do Comando, não foi difícil atingir tal objetivo. O Tiradentes conquistou o tricampeonato amador da cidade, nos anos de 1970/1971/1972, além de, paralelamente, conquistar a Taça Montes Claros, versão simplificada do campeonato, nos mesmos três anos seguidos. Em 1972, conquistou ainda o campeonato juvenil de futebol, modalidade obrigatória para todas as equipes que participavam do campeonato amador. Não temos uma fotografia do time tricampeão, mas podemos citar a sua formação básica, com os seguintes atletas: Betinho (Geraldo), Milton Sonso, Godofredo, Alberto (Arílson) e Bahiano Doido (Nélson); Dico e Dante (Gildásio); Dirceu, Ely, Vivaldo e Balduíno (Pastoré e Elísio).

Em l973, um pequeno equívoco de tabela impediu que o Tiradentes fosse campeão, mesmo não tendo perdido qualquer partida. No ano seguinte, por determinação do Comando Geral da Polícia Militar, a equipe foi afastada da competição, retornando em 1975, quando se sagrou campeão amador de Montes Claros pela quarta vez. Foi nesse ano também que o Tiradentes conquistou o Torneio Inconfidência, disputado em Pirapora-MG, além de formar a base da equipe que conquistou o Campeonato Olímpico
da Polícia Militar. Dessa última fase apenas uma “mágoa” restou: não ter ganhado da seleção de Guanambi-Ba, nessa minha terra natal, embora tenhamos empatado lá, por duas vezes, e ganhado deles pelo placar de 3 x 1, em sua única visita a Montes Claros.A fotografia seguinte mostra a equipe básica dessas últimas conquistas.


De pé, da esquerda para a direita: João Dias (Técnico), Periquito, Nego Ro, Gildásio, Betinho e Bahiano; agachados: Dirceu, Elísio, Eli, Dico, Vivaldo e Fredimar (Massagista).

Muitos foram os integrantes do 10º Batalhão, além de alguns abnegados civis, que prestaram inestimáveis serviços à Associação Desportiva Tiradentes, desde a sua criação em 1958, até a sua maioridade, aos vinte e um anos, em 1979. Pena que, nesse último ano, encerrou precocemente as suas atividades. Como representante de tantas pessoas que contribuíram de alguma forma para o Tiradentes, como atletas, dirigentes ou torcedores, citaremos um nome que, temos certeza, traz o consenso de simbolizar essa valente equipe de futebol: Tenente João Dias da Silva Júnior. Esse cidadão, mesmo nunca tendo calçado uma chuteira em sua vida, participou de todas as diretorias da Associação, inclusive como diretor-técnico, em seus últimos onze anos de funcionamento, período em que mais vitórias foram conquistadas.

Aí, vem aquela pergunta que incomoda: Por que o Tiradentes se acabou? O Cel Smith, um dos poucos sobreviventes da sua criação, respondeu com perplexidade e nostalgia: “Sinceramente, não sei a razão do fim do Tiradentes”. Nós, todavia, ainda chocados com o desaparecimento precoce da nossa ADT, ousamos formular algumas razões para esse fim: o surgimento do futebol profissional em Montes Claros, a partir da década de 70 do século passado, o que esvaziou a prática do futebol amador em nossa cidade; o fato de o Tiradentes ter passado a conquistar títulos, deixando de ser um mero participante, gerando insatisfação das equipes e torcidas adversárias, perdendo pois a finalidade essencial de constituir-se em elemento de integração social; a operacionalização da Polícia Militar, que deixou de ser uma tropa aquartelada, para sair às ruas em missão de policiamento ostensivo, dificultando assim a disponibilização de pessoal para a prática de futebol, sem prejuízo para o serviço; finalmente, a diversificação das opções de lazer e entretenimentos públicos, com destaque para a massificação da televisão, o que desmotivou significativa parcela da população para comparecer aos estádios e torcer pelas suas equipes preferidas. Não foi somente a equipe do Tiradentes que desapareceu, dentre as suas contemporâneas. Por onde andam a Bancária, o Vera Cruz, o Ferroviário, o Ipê, o Industrial, o Bahia e o Independente, para não citar outras mais recentes? Ateneu e Cassimiro, depois de fracassadas experiências profissionalizantes, insistem em permanecer vivos, mercê de seu invejável patrimônio nesta cidade. De qualquer forma, fica este pequeno registro para as gerações futuras.


SONHANDO ALTO

Luiz de Paula Ferreira
Cadeira N. 19
Patrono: Caio Mário Lafetá

Um mundo estável está cedendo lugar a uma era de profundas mudanças. Cabe-nos considerar que só temos uma vida e para merecê-la devemos procurar vivê-la pelo menos com um mínimo de compreensão pelo que nos envolve, pelo que nos rodeia.

De outra parte, a vida é dura. Ela nos impõe um sentido aritmético de deve/haver, de pode-não-pode, um compasso binário limitando as opções a uma dicotomia de vence-ou-perde, de vive-ou-morre.

Mas tendo embora os pés firmes na terra – é necessário tê-los e ai de quem não os tenha – urge que para se fazer jus ao prêmio de ter nascido se abram portas e se criem asas em cada um de nós. E se alcem vôos em busca de melhor compreensão da vida.

Nesse sentido, cabe papel importante a instituições como as universidades abertas a pesquisas.

Mas em qualquer instituição, como em tudo, o principal elemento, o componente mais importante é o homem. Que no DEVE-HAVER da vida encontra oportunidades para refletir sobre sua origem e destino. E erguendo os olhos, mais ao alto, possa vislumbrar luminosidades onde entreveja, quem sabe, a própria morada do impossível.


História de atividades sociais e
filantrópicas em Montes Claros
Entidades a serviço da vida

Maria Aparecida Costa
Cadeira N. 7
Patrono: Antônio Gonçalves Figueira

A criação do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros possibilitou-me a participação como sócia efetiva, tendo despertado em mim o interesse em pesquisar o trabalho de entidades sociais e filantrópicas. Sou voluntária, há mais de dez anos, de entidades beneficentes. Fiz o propósito de produzir um texto que relatasse a existência de duas dessas entidades fundada na década de 50. A Legião de Assistência Recuperadora–LAR (1955), conhecida como O Nosso Lar, e o Círculo dos Trabalhadores Cristãos de Montes Claros (1950).muitas vezes conhecida como União Operária de Montes Claros, assunto que vem comprovar a elaboração de Eliot em “ A Tradição e o Talento Individual (1950)”, quando discorre sobre o senso histórico “O senso histórico: implica na percepção não apenas do caráter passado do passado como também de seu caráter presente, o que leva o homem a escrever não apenas de acordo com a geração a que pertence.”

Para melhor conhecermos Montes Claros, torna-se necessário destacar pontos de sua história no que se refere às características políticas, econômicas e sociais, notadamente da década de 1950, sem, contudo, deixar de citar fatos de décadas anteriores.

Historicamente, sabe-se que Montes Claros é retratada na década de 50 como cidade à margem da Política Desenvolvimentista, onde o desemprego a deficiência de serviços básicos, a carestia e o favor dominavam. Políticos da época, médicos e fazendeiros, comerciantes e advogados fizeram com que permanecessem as relações sociais de dominação, vide A Cidade do Favor, de Laurindo Mékie Pereira-2002.

Em 1950, a população urbana de Montes Claros era de 43.097 habitantes, crescera mais de cem por cento na década, conforme Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. É interessante destacar que em 2005, segundo o IBGE, a população de Montes Caros era de 342 mil habitantes demonstrando um acelerado crescimento populacional em decorrência do progresso que se instalou partir da década de 70.Montes Claros passou a ser pólo regional de desenvolvimento, fazendo parte do “Polígono das Secas” dentro das ações da SUDENE, instalando projetos de implantação de novas indústrias, favorecendo a expansão econômica, educacional, cultural e ao mesmo tempo, acelerando a migração populacional e a concentração de famílias de baixa renda, nas periferias da cidade.

Início da década de 50 é inaugurada, a Catedral de Nossa Senhora Aparecida, sendo bispo Dom Antônio de Almeida Morais Júnior. Melhorias e o progresso para a cidade foram reivindicados durante toda a década, porém, explica-se o não atendimento, prioritariamente pelo domínio do setor agropecuário numa área de transição do clima Tropical Semi-árido e Semi-úmido, com escassez de chuvas e longo período seco, e com uma vegetação também de transição: cerrados, mata-seca. O final da década de
50 foi marcado por vigorosos protestos da população sem trabalho e mal remunerada contra a constante elevação dos preços de alimentos, originando Campanha e Associação das Donas de

Casa contra a carestia, quando participaram os Sindicatos do Comércio, Indústria, Associações e Círculo dos trabalhadores. Consta que em 1957 o Círculo Operário através do seu Presidente Oliveiro Barbosa, organizou o movimento Pró-Semana Inglesa. Nesse contexto é que promove-se um movimento de articulação política para inserir Montes Claros e o Norte de Minas nos investimentos públicos, legados pelo plano de metas do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que se esperava rompesse com a exploração e a dependência.

Elites montesclarenses arquitetaram a estratégia do centenário de Montes Claros(1957), com o objetivo de que se voltasse para a cidade a vontade política, na esperança de uma Montes Claros “rejuvenescida”, com a união de todas as forças políticas locais. Diversos festejos foram realizados para se comemorar o centenário da elevação de Montes claros à categoria de cidade.

No processo de desenvolvimento de Montes Claros, o professor Marcos Fábio de Oliveira em sua tese de mestrado - 1996, relata que a mendicância, o desemprego e a violência urbana incomodavam, o que deu origem a entidades filantrópicas que atuavam na assistência às crianças, famílias e idosos, que eram dirigidas por esposas das principais lideranças.

A tensão social era visível e cita-se a instalação do Orfanato Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro, “Lançada a pedra fundamental em 19 de abril de 1941, com a doação de terreno e recursos financeiros para a construção, pelas senhoras Laudelina Ribeiro Maia, Luiza Magalhães e outros” (Maria Celestina de Almeida, 97 anos). Tem o objetivo de receber meninas pobres e ou abandonadas, sendo um fato revelador das dificuldades de muitas famílias para garantir a sobrevivência de seus filhos. Por força do Estatuto da Criança e do Adolescente, a entidade passou a se denominar Lar e Escola Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Hoje essa entidade possui uma diretoria e está sob aos cuidados das Irmãs da Sagrada Família. Situa-se no bairro Todos os Santos,à rua São Carlos, 40, Montes Claros. Em outra época, aqui mesmo em Montes Claros, a caridade misericordiosa também deu origem à Associação das Damas de Caridade “Lar das Velhinhas”, fundada em 31 de dezembro de 1923, em terreno doado pelo Padre Marcos Van In e entregue à Igreja Católica que repassou a obra para um grupo de senhoras que passou a administrá-la com a denominação de “Casa das Pobres”, hoje Associação das Damas de Caridade. Na época a Casa teve aprovação do bispo Dom Antônio de Morais que instituiu a primeira diretoria. Foi nomeada como provedora a senhora Flora Pires Ramos. O Lar das Velhinhas é uma entidade Filantrópica sem fins lucrativos que atende atualmente 50 idosas. Sua finalidade é a proteção da saúde das idosas, dando-lhes assistência alimentar, religiosa, educacional, médico-hospitalar, recreação e abrigo. As mais idosas moradoras são Maria Beatriz Moreira 102 anos, e Angélica com 106 anos. A atual diretoria é composta pelo Presidente Celso Ciríaco Santos, Vice Maria Lúcia V. Maia, compõem também a diretoria as senhoras Zélia Maia de Abreu que foi entrevistada, Dores Lopes Mendes, Jacqueline C. Camelo. O apoio religioso é realizado pelo senhor João Simões e outros. A entidade situa-se a rua Dom João Pimenta, 65, no centro de Montes Claros.

Contextualizar na história de Montes Claros é de fundamental importância para que os leitores possam entender a instalação em nossa cidade de entidades “De Caridade”, hoje entidades de assistência a crianças, adolescentes e família.

“A lei básica do universo não é a competição que divide e exclui, mas a cooperação que soma e inclui.” Leonardo Boff.

 

LEGIÃO DE ASSISTÊNCIA RECUPERADORA-LAR

Frente à realidade social que vitimizava as famílias, surgia a indignação e atitude de idealistas e sonhadores, entre eles, intelectuais, políticos e de pessoas de bom coração - Entidades a Serviço da Vida. A comemoração dos 50 anos da LAR em 2005 e dos Círculo dos Trabalhadores em 2000 foi a celebração do comprometimento. Essas “ongs” continuam hoje seu trabalho, crescendo e apontando caminhos para crianças, adolescentes e famílias empobrecidas. A dedicação, o compromisso, a alegria dos educadores, instrutores e voluntários sustentam a ação e contam com parceiros públicos e privados.

Nos idos de 1950, surgiu a Legião de Assistência Recuperadora – O Nosso Lar, que nasceu do idealizador Doutor Plínio Ribeiro dos Santos, em 16 de outubro de 1955, quando se realizou a primeira reunião da Associação, com a denominação de “Núcleo de Assistência e Orientação”, que tinha o objetivo de atender às crianças, adolescentes e famílias carentes visando sua valorização pessoal e integral, no meio social. A primeira presidente e co-fundadora foi a Sra. Maria de Lourdes Antunes Pimenta, que teve como assessores da diretoria, Dr. Mário Ribeiro da Silveira, Francisco de Paula Prates, Leônidas Miranda, Mércia Beatriz P. Gomes, Valdivia de Carvalho e Dra. Olívia Esteves Peres.

A LAR foi registrada como Associação em 1956, tendo seus estatutos transcritos em cartório em 4 de dezembro de 1956, sob o nº 38 folhas 63-V, com sede em Montes Claros, Minas Gerais. Somente em 1964 instalou-se na Vila Santa Rita, Bairro Morrinhos, hoje Bairro Santa Rita, em funcionamento com o Ensino Infantil, Deputado Antônio Pimenta, atualmente, CEMEI (Centro Municipal Ensino de Infantil), em terreno doado. O patrimônio da sociedade é composto de terrenos doados e adquiridos, dotações federais, estaduais e municipais e de prédios construídos.

Consta que, no ano de 1965, foi iniciada a construção de nova sede no Bairro São Judas Tadeu, em terreno de sete mil e duzentos metros quadrados, parte do terreno doado pela Sra. Maria de Lourdes Antunes Pimenta e outra parte adquirida de dona Laudelina Maia. Neste espaço aconteciam atividades com crianças de 4 à 6 anos e de 7à 16 anos, jovens e adultos, à rua Marcos Plínio Ribeiro, nº 202. Dona Lourdes ,como é mais conhecida, sonhou com a Escola de Artes e Ofícios. Para realizar esta ideia, em 1986 foi construído um galpão de cento e sessenta metros quadrados para funcionamento de multiatividades. Na inauguração foi celebrada a missa e realizada pintura pelas crianças no muro recém construído. A LAR passou a ser conhecida como “O Nosso Lar”, denominação carinhosa, devido a sua importância para os moradores da região. No ano de 1987,quase no termino da construção de novo galpão, aconteceu um temporal que destruiu parte das instalações, porém foi reconstruído. “A entidade, nos seus primeiros anos de existência, limitou-se, exclusivamente, à orientação e ao amparo aos lares menos favorecidos, promovendo empregos, facilitando pequenas indústrias dando assistência médica e material às famílias, providenciando internatos em outros estabelecimentos do Estado, para os menores abandonados.

Na sua segunda fase, foi construído um prédio destinado ao ensino de artesanatos para maiores, após a conclusão do curso primário. Em virtude das dificuldades financeiras, a instalação do curso de artes foi adiado e o prédio foi adaptado para funcionamento de um Jardim de Infância e Lactário, para atender às necessidades daquele meio social desprovido, até então, de outros recursos.


Ultimando a construção, junho de 1988.

O Jardim, hoje CEMEI “O Nosso Lar”, vem funcionando desde maio de 1964, abrigando 325 crianças, também de bairros distantes, alcançando ao final do primeiro ano letivo um índice de aproveitamento social e psicológico formidável, o mesmo acontecendo com a parte de assistência maternal para aqueles que ainda não alcançaram a idade estipulada para freqüência ao Jardim de Infância.

Funciona também, anexo ao Jardim o Clube de Mães, inicialmente pela L.B.A que tem conseguido atingir os nossos objetivos que são melhorar a parte social e cultural das Mães, ”conforme relatório elaborado por dona Lourdes, tendo como inspiração o lema “PARA QUE TODOS SEJAM UM E O MUNDO CREIA (jo,17-21)”.

No ano de 1995, Dona Lourdes se afasta da entidade, entregando-a a diocese de Montes Claros - Bispo Dom Geraldo Majela de Castro. Novo estatuto é elaborado e homens passam e integrar a Diretoria Executiva da LAR, além de destacar como missão o trabalho com crianças e adolescentes (7 à 14 anos) e suas famílias. Foram ainda presidentes da entidade as Sras. Geraldina Maria da Conceição Sarmento Mourão e Josefina Tupinambá. Atuou como secretária executiva Elizabeth Aguiar e orientação religiosa das Irmãs da Divina Providência.

A LAR tem cadastro na Secretaria Especial de Ação Comunitária da Presidência da República com o código MG 112542 (28 de novembro de 1987), reconhecida como de Utilidade Pública Municipal, 17 de Março de 1987, resolução 552 e, Utilidade Pública Estadual em 15 de outubro de 1986, e o titulo de Expressão do Ano de 2005, em 29 de outubro, numa homenagem da sociedade montesclarense, através do repórter social Magnus Medeiros do Jornal de Notícias de Montes Claros.

O espaço com duzentos e oitenta e oito metros quadrados teve construção iniciada em 1989, com entrada pela rua Glaucilândia, nº 175. Foi inaugurado em 23 de Abril de 2003, sob a denominação de Centro de Formação Maria de Lourdes Antunes Pimenta, em homenagem à grande benemérita e co-fundadora, na administração da diretoria os Srs. João Luiz de Vasconcelos, Vicente de Paulo Fernandes Leal, Maria Aparecida Costa e do Arcebispo Dom Geraldo Majela de Castro. Este espaço destina-se à realização de atividades de apoio a adolescentes, jovens e suas famílias, inspirado no objetivo foi escrito na placa. “CONTRUIRMOS JUNTOS COM OUSADIA UM SONHO DE UM NOVO AMANHÔ, anexada no prédio.


Senhora Lourdes Pimenta na inauguração do Novo prédio em Abril de 2003

Na administração dos Srs. Vicente de Paulo Fernandes Leal, João Luiz de Vasconcelos, Hélcio Horta de Oliveira, Maria Aparecida Costa e de Marly Teresinha Guimarães Costa, construiu-se o novo ambiente para funcionamento de diversos cursos, a instalação da Escola de Informática e Cidadania em 2003, com 70 alunos, destes 76% na faixa etária de 12 a 18 anos. Esta escola é uma parceria da LAR com o Comitê de Democratização de Informática e a Pastoral do Menor. Funcionaram os cursos de Corte e Costura, Peças Intimas, o trabalho da horta realizado pelo senhor João Batista de Souza e reforço Escolar.

A Diretoria 2005/2006 foi composta pelos seguintes membros: Diretora Presidente Maria Aparecida Costa, Vice-presidente João Luiz de Vasconcelos, Primeiro secretário Evanildo Teixeira da Silva, Primeiro Tesoureiro Celso Ciríaco dos Santos, Diretor de Patrimônio João Gilberto Durães, Diretor de Promoções Antônio Carlos dos Santos e de Marketing Vicente de Paulo F. Leal. Foi Secretário Executivo Wagner Adriano de Souza. Nesse mandato a Assembléia Geral adequou o Estatuto às novas regras da Assistência Social, foi comemorado o cinquentenário da entidade com diversas atividades, entre elas a construção de cerca viva, de jardim e oratório consagrado à Sagrada Família em16/10/2005, da execução do projeto Horta e a farmacinha medicinal “Farmaviva”, em parceria da LAR com a UFMG e a Pastoral do Menor. A continuidade da Escola de Informática e Cidadania - “EIC”, que une modernidade com solidariedade, promovendo educação, inclusão digital e desenvolvimento social, que a cada ano atende a 140 alunos de curso básico e 30 alunos do curso avançado. Em 17 de agosto de 2006 foi reinaugurado o prédio, com reformas do telhado, pisos banheiros e pintura, onde funciona o CEMEI “O Nosso Lar” em parceria com a Prefeitura Municipal de Montes Claros/Secretaria de Educação. Atende 245 alunos na faixa etária de 3 à 5 anos nos turnos matutino e vespertino para crianças que residem nos bairros São Judas I e 2, Antônio Pimenta, Morrinhos, Santa Rita 2, Canelas 2, Vila Luiza e outros. Diversos cursos e oficinas funcionaram nesse período, como: Corte e costura, Peças íntimas, Biscut, Pintura em tecido, Bijuterias, Serigrafia, Violão, atividades de lazer e esportes, o Karatê e a Capoeira.

O mandato 2007/2008 teve como Diretor Presidente Evanildo Teixeira da Silva, Vice-Presidente Maria Aparecida Costa, Primeiro Secretário Valmir Ferreira Neves,Primeira Tesoureira Ilza Teixeira Duarte, Diretor de Patrimônio João Gilberto Durães, sendo Secretária Executiva Suely Borges Araújo. Foram ações dessa administração: a implantação no curso Produzindo Artes com recursos do FIA, os cursos da Escola de Informática e Cidadania com aquisição de novos computadores, Corte Costura, Peças Intimas, Violão, Biscut, Pintura em Tecido e Reforço Escolar. Continuou o projeto da horta e da Farmaviva, Karatê, Capoeira e introduziu Inglês Básico.


Horta na LAR-2006

O espaço da LAR ainda foi e é utilizado pela comunidade, Pastoral da Criança, Grupo de Alcoólicos Anônimos, Vicentinos, Catequese Infantil, Alfabetização de Jovens e Adultos, Curso Pré-Vestibular Comunitário “Bem Viver” e Pastoral do Menor com o projeto “Dignidade e Paz”. No período 2004 à 2006 a LAR cedeu o espaço para o funcionamento do Programa Liberdade Assistida, parceria com Ministério da Justiça e CNBB/Pastoral do Menor que o executou.


Entrega de certificados do curso de Informática 2004

Em abril de 2009 foram eleitos a nova Diretoria Executiva e os Conselhos Diretor e Fiscal, sendo Arcebispo Dom José Alberto Moura.


Cinquentenário da LAR, evento na Câmara Municipal, LAR-2008 em 14-10-
2005. Diretores e Voluntária: da esquerda para direita, Gilberto Durães, Ilza
Duarte, João Luiz, Fátima Cruz e Maria Aparecida Costa.

O trabalho voluntário e semi-voluntário, com ações individuais ou coletivas, tem dado excelente resultado para os atendidos e a quem os pratica, pois a gente vê no sorriso das crianças, adolescentes e famílias que aprendem, acima de tudo, a acreditar no seu próprio crescimento, encontrando oportunidades e realizando sonhos.


Projeto Produzindo Arte

 

CÍRCULO DOS TRABALHADORES CRISTÃOS
DE MONTES CLAROS

O Círculo dos Trabalhadores Cristãos de Montes Claros é uma das mais antigas entidades não governamentais da cidade e da região, fundada pelo Padre Leopoldo Bretano, em maio de 1950, mentor e fundador do Movimento Circulista no Brasil, antecipando o futuro, há cinco décadas atrás, com a necessidade da criação dos Sindicatos dos Trabalhadores, instalado anos depois, onde se reuniam e discutiam suas reivindicações, sendo Bispo Dom Luiz Vitor Sartori. O Círculo situa-se à avenida Padre Bretano, 102, Bairro Roxo Verde.

A dimensão social da Evangelização devido às condições de exploração dos operários, aos desafios sociais, provocaram a reflexão pontifícia, dando origem à Doutrina Social da Igreja- exigências éticas e problemas que surgem da vida e das relações socais. “Foi elaborada a Encíclica Rerun Novarun - Das Coisas Novas(1891,Papa Leão XIII), oriunda das péssimas condições dos operários, sendo um protesto contra a exploração dos mesmos. Em 1931 a “Quadragésimo Ano” adverte acerca da falta de respeito à liberdade de associação, reafirma os princípios de solidariedade e de colaboração para superar a desigualdade social - Papa Pio XI. A Encíclica Mater et Magistra - Mãe e Mestra, elaborada pelo Papa Pio XII (1961), enfoca a vida comunitária, a socialização, a justiça e a participação, em decorrência do desenvolvimento econômico separado do desenvolvimento social. O Papa João XXIII em “Pacem in Terris” - Paz entre as Nações, dá destaque ao tema da Paz, em consequência da proliferação nuclear.” - Trabalho de Manografia de Cristina Freitas, 2008.

Posteriormente, Padre Colatino Sitário Mesquita foi Presidente do Círculo dos Trabalhadores Cristãos, antes de 1953. Dom José Alves Trindade, Bispo diocesano, deu assistência ao movimento circulista, criado para defesa do operariado. A Diretoria em 1953, com estatuto em discussão era composta por: Presidente Raimundo Dias de Araújo, Vice-presidente Efraim Gonçalves, Tesoureiro Hermelindo José de Carvalho e o Primeiro Secretário, Benjamim Silva Junior. Na presença do então Padre Paulo Emílio Pimenta de Carvalho, em reunião de 16 de agosto de 1953, o Presidente Raimundo Dias de Araújo informa sobre o funcionamento do armazém da Cooperativa, para prestar benefícios aos seus associados.

Em 1954, sendo Presidente Padre Paulo Emílio P. de Carvalho, a entidade possuía 45 circulistas, Ambulatório Médico e Serviço Dentário. Em agosto desse mesmo ano, toma posse o Presidente Oliveiro Barbosa, ferroviário e criador de programa na rádio ZYD7. Nessa época o Senhor Avair Miranda fazia apresentação na rádio, articulando o movimento circulista. Da Confederação dos Círculos Operários foram doados livros sobre Iniciação Social, Manual do Círculo Operário, O Clero e Ação Social e outros. Esse manual apresentava: Porque Pertencer ao Círculo de Trabalhadores Cristãos, Os Princípios Básicos ,Os Objetivos e Finalidades, O Programa Circulista “Operário, ATENÇÃO! vêde, lêde, refleti e agi! 1- Então para viver bem precisa de uma habilitação, alimentação e divertimentos. O Círculo faz campanhas para aquisição destas necessidades pelo salário justo. 2 - Então o homem trabalhador encontrará no Círculo: - Cooperativas - Consultas médicas e Dentárias. 3 - Mas o operário é também um ser humano composto de corpo e espírito. Então no Círculo encontrará ele: Escola-alfabetização, primária noturna, livros editados, jornais-boletins, cinema e outros. 4 - O operário deve ganhar honestamente o pão. Então encontrará no Círculo: Serviços domésticos, Escolas profissionais, Escola de corte e costura e Escola de Formação de Lideres. A GRANDEZA DA PÁTRIA ESTÁ, EM PARTE, NO VALOR DOS TRABALHADORES. O trabalhador brasileiro no Círculo procura: Cristianizar-se, Orientar-se e Dignificar-se.” Essa formação de lideres era realizada em Belo Horizonte e dentre os enviados para o curso citamos: Ezequiel Felipe Pereira, Eduardo Figueiredo e outros.

Os senhores Francisco Corsino e Afonso Avelar se tornaram circulistas; o Padre Agostinho Bekhauser, em setembro do mesmo ano, torna-se assistente eclesiástico.

Em 1956 foi adquirido o terreno para a sede, no valor de CR$86,000,00 mil cruzeiros, onde funciona, hoje o Círculo dos Trabalhadores Cristãos de Montes Claros. Foram paraninfos da pedra fundamental os Drs. Geraldo Correa Machado, Moacir Lopes, Mário Viana e Capitão Enéas. Nessa época foi criado um jornalzinho “O Circulista” com atuação dos jovens Carlos Monção, Benedito e Ricardino Soares. A entidade recebeu subvenção dos Drs. Plínio Ribeiro e José Esteves Rodrigues. Atuaram como presidentes
em diversas épocas: Malaquias Pimenta, Zeferino Guedes, João Amaral, Geraldo Alcides Teixeira, José Acácio da Silva, Paulo Roberto Amorim Neto, e Janete do Perpétuo do Socorro.

Há mais de 40 anos a entidade está sob a orientação Católica do Padre Henrique Munaiz que, com sua simplicidade e exemplo de dedicação cristã, vem conquistando a todos. Em 14/07/2007, o Jornal Norte de Minas publicou: Círculo Operário: 57 anos fazendo história e formando vencedores. Falou da história da entidade, da sua finalidade, dos recursos para o funcionamento e entrevistou o senhor José Acácio da Silva, 77 anos, participante há 50 anos das atividades do Círculo Operário, como é conhecido o Círculo dos Trabalhadores Cristãos, onde já foi presidente. “Feliz de ver a satisfação com que os voluntários estão dando novo impulso às atividades profissionalizantes, educativas e sociais da entidade.” À frente do Círculo, como presidente, o Sr. Ezequiel Felipe Pereira e a secretária Deonilia do Rosário Oliveira, continuam e inovam os trabalhos do Círculo.


Cartilha utilizada pelo Circulo dos Trabalhadores Cristãos. No inicio das
Atividades.

O Círculo está desenvolvendo esforços, no sentido de aglutinar novas perspectivas, com projetos novos para proporcionar à comunidade o desenvolvimento humano, independente da orientação religiosa, mas cristão. A entidade desenvolve ainda o Ensino Infantil, do Maternal ou Pré-Escolar, tendo 84 alunos, em convênio com a Secretaria Municipal de Educação. Os diversos cursos oferecidos são: Cabeleireiro, Manicura, Depilação, Massagem e Informática Básica e outros. Funcionam também Escolinha de Futsal ,Grupo de Oração, AA - Alcoólicos Anônimos, Jogo de Truco, Missa Dominical que é celebrada pelo Padre Henrique, na capela própria, uma turma de Pró-Jovem e Velório. A voluntária Rita de Cássia Rodrigues Santos conclama a todos com aptidões a virem somar, compartilhando conhecimentos em toda e qualquer área.

Estar com a consciência voltada para o outro, e não somente para nós, é levar nossa solidariedade às pessoas e dar significado a nossas vidas; é reconhecer o privilégio que nos é dado, pelo milagre do existir. Celebrar a vida e tudo de bom que ela pode nos trazer, apenas como passageiros desta vida terrena. Seja solidário e voluntário ,basta aprender a ver. “Mire e veja” como no relato da obra de Guimarães Rosa.

Quero deixar um convite a todos que lerem este artigo. O de fazerem fermentar suas ações, de seguir adiante com a consciência de que juntos podemos gerar mudanças. Veja o poema Sal da Terra ,do montesclarense Beto Guedes.

“Vamos precisar de todo mundo para banir a opressão. Para construir a vida nova, vamos precisar de muito amor. A felicidade mora ao lado e quem não é tolo pode ver.”...

Montes Claros, abril de 2009.


FONTES E BIBLIOGRAFIA

Enciclopédia dos Municípios Brasileiros - RJ: IBGE,1959.

Censo Demográfico / Minas Gerais-IBGE,2000.

Jornal de Notícias-Montes Claros, outubro de 2007.

Atas e Relatórios da LAR e do Círculo dos Trabalhadores Cristãos-Montes Claros,1950 - 2008.

VIANNA, Nelson. Efeméderes Montesclarenses - 1707-1912 RJ: Pongetti,1964.

BIBLIOGRAFIA

FREITAS, Cristina. A criança e o adolescente. Trabalho de Monografia do Curso Serviço Social - 2008.

T. S. Eliot - Essais Choisis - In a Tradição e o Talento Individual -Du Seuil - Paris - 1950.

PEREIRA, Laurindo Mékie. A cidade do Favor - Montes Claros em meados do século XX - Montes Claros: Unimontes - 2002.

OLIVEIRA, Marcos Fábio Martins. O Processo de Desenvolvimento de Montes Claros (MG) sob a Orientação da SUDENE.

São Paulo: USP, 1996. Dissertação de Mestrado.


DONA BENZINHA

Maria Clara Lage Vieira
Cadeira n. 100
Patrono: Wan-Dyck Dumont

O grande valor da História são as lições de vida que ela nos oferece. Adquirimos cultura, costumes, experiências através do conhecimento da vida de nossos antepassados, de seu modo de ser, dos seus feitos, do mundo que construíram para nós. Muitas vezes aprendemos a cultivar valores essenciais a nossa vida, sem saber quem, no passado, despertou a sociedade para esses valores. Daí ser importante, necessário - imprescindível até - registrar a lembrança de personagens que viveram entre nós e que deixaram marcas em nossas vidas e na vida de nossa cidade. As gerações futuras carecem conhecer as suas raizes, as suas verdadeiras, autênticas tradições.

As raizes de um povo, como as de uma árvore, é que fazem o povo vicejar, florescer e dar frutos.

É por isto que vamos registrando a memória de pessoas que já se foram e que contribuíram na construção da História de Bocaiúva.


Waldemar e Benzinha no lançamento da pedra fundamental do Hospital dos
Tuberculosos, hoje creche Nova Esperança (ao lado do Estádio Municipal) -
1974.


Valdemar, Dona Benzinha e membros do Asilo São Vicente de Paula - 1970.


Dona Benzinha com filhos, netos, noras e genro em sua residência na rua
José B. Filho - 1976.

Washington Drummond foi filho de família tradicional da sociedade bocaiuvense, tendo se casado com Rita Martins, constituiu com ela uma família sempre presente nos eventos da cidade.

Geralda Drummond foi uma das filhas do casal. Nasceu em Bocaiúva, no dia 5 de agosto de 1912. Além dela, são também filhos do casal: Luíza, Lizaura, Joaquim, Sérvulo e Manoel.

Geralda, desde cedo, mostrou pendores artísticos e uma grande disponibilidade para ajudar as pessoas, principalmente aquelas mais carentes. Era tão prestativa que sua irmã Lizaura a chamava de “Benzinha”. E o apelido pegou.

Ainda muito jovem, casou-se com Waldemar Valle de Menezes, passando a assinar Geralda Drummond Menezes.

Teve nove filhos: Idalmo, Francisco Washington, Maria Carmem, Reinaldo, Paulo Ricardo, Marcos Túlio, Regina Helena, Waldemar e Eduardo.

Mulher de formação cristã, sempre teve sua vida dedicada à família e à comunidade. Mãe zelosa, procurou educar seus filhos dentro de princípios éticos, ensinando-os a se colocarem a serviço das pessoas.

O marido, mais conhecido pelo apelido de “Dema”, admirava e apoiava todos os seus planos no sentido de proporcionar melhoria de vida à população.

De espírito decidido, Benzinha sonhava alguma coisa e logo se punha a arquitetar uma maneira de realizá-la.

Foi assim que pensou em fundar o Asilo São Vicente de Paula. Algumas pessoas tentaram dissuadí-la do intento, achando muito difícil, mas ela procurou ajuda de pessoas influentes e políticos da região e conseguiu que se construísse um prédio e se
fundasse o asilo.

Da mesma forma, conseguiu criar um hospital para doentes do pulmão, que chegou a funcionar por muito tempo, recebendo pacientes até de outras comunidades. Quando a procura diminuiu, o hospital se fechou e o local foi e é aproveitado hoje para funcionamento da Creche Esperança, que abriga crianças carentes cujos pais trabalham durante todo o dia.

Na Igreja Católica, Benzinha foi, de tudo um muito. Foi zeladora do Apostolado do Sagrado Coração de Jesus e colaborou na construção da atual igreja matriz do Senhor do Bonfim, pedindo ajuda ao povo em geral a a políticos. Assim, conseguiu a doação de portas, janelas, bancos, piso, parte elétrica, etc. Ela foi a primeira ministra extraordinária da Sagrada Comunhão e uma das primeiras pessoas na paróquia a participar do Cursilho de Cristandade, um movimento cristão de avivamento da fé e de
reflexão, de origem espanhola e que se desenvolveu com muito sucesso no Brasil, na década de 70.

Sempre incansável e empreendedora, incentivou os jovens a participar de movimentos filantrópicos. Criou o primeiro grupo de jovens católicos e organizou com eles, durante a festa do padroeiro, os quadros vivos que ornamentavam a procissão e que visavam relembrar passagens da vida de Cristo, transmitindo a sua mensagem de serviço, de paz, de amor.

No Natal, com ajuda de outras senhoras da sociedade, reunia as crianças que se vestiam de anjinhos durante o mês de maio e organizou com elas o grupo de pastorinhas. Elas se vestiam a caráter e, anunciando o nascimento de Jesus, iam cantando, de casa em casa, enfeitando e alegrando as noites , no período natalino. Também angariavam fundos para ajudar o serviço da Igreja, adquirindo velas e outros materiais que se fizessem necessários.

Além do cunho religioso, as pastorinhas também eram uma manifestação folclórica interessante e atraente. Trata-se de uma tradição herdada de nossos colonizadores e que D. Benzinha soube adaptar com maestria ao jeito bocaiuvense.

Como já dissemos, desde a infância, ela mostrou gosto pela arte. Gostava de decoração, não só nos ambientes, como também em pratos culinários. Por isto, era procurada sempre. Ornamentava, com carinho e bom gosto, a igreja para qualquer cerimônia, principalmente casamentos, missas de quinze anos, etc.

Decorava também, com beleza e requinte, salões de festas para bailes, jantares, banquetes, recepções a autoridades e inaugurações de obras do prefeito da época.

Como tinha muito amor por tudo o que fazia, era exímia na confecção de doces, salgados, bolos, tortas confeitadas, licores finos e bandejas ornadas com flores artificiais que ela mesma fazia..

E ela não se importava de passar seus conhecimentos e sua arte para quem quisesse. Ensinava as receitas e ensinava também noções de etiqueta. Quando alguém precisava saber como receber autoridades ou como arrumar uma mesa de jantar, recorria a ela, que atendia a todos com boa vontade e presteza.

Em suma, D. Benzinha pensou em cada tipo de pessoa: prestigiou e ajudou cada fase da vida. Criou, ao mesmo tempo, trabalho e lazer para crianças, oportunidade de serviço comunitário para jovens, ajudou, como voluntária, a Casa da Amizade, associação filantrópica formada pelas esposas dos rotarianos, deu um bom impulso na criação, implantação e desenvolvimento do Asilo São Vicente de Paula. Pensou sempre nos pobres, nos doentes, procurando agir de maneira que pudessem enfrentar e resolver seus problemas, seus anseios, minorando-lhes o sofrimento.

Até conselheira, ela foi. Pessoas de qualquer idade ou condição procuravam-na para uma palavra amiga, para um conselho, uma orientação e mesmo uma admoestação.

Faleceu aos trinta de julho de 1979, como morrem os justos, aqueles que têm a consciência do dever cumprido.

Ela havia organizado uma celebração comemorando o aniversário de um seu companheiro de ministério da comunhão, o senhor Joaquim Neri, que era também um grande homem, por sua disponibilidade e espírito de serviço.

A celebração, que foi presidida por Monsenhor Ozanan, significou muito para o aniversariante e para a assembleia que participou.

Terminada a cerimônia, ela saiu da igreja sentindo uma ligeira tontura. Chegando em casa, sentiu-se mal. Chegou ao hospital já inconsciente. Um aneurisma repentino tolheu-lhe a vida.

Mas o seu trabalho, o seu carisma, a sua presteza em realizar o bem, isto ficou para sempre na memória de quem a conheceu e é isto que queremos registrar porque gostaríamos de que a juventude de hoje tomasse conhecimento e reverenciasse ,pois a figura de D. Benzinha deve ficar gravada na mente e no coração dos bocaiuvenses de todos os tempos. Ela é um exemplo de grandeza, determinação, coragem e amor para com todas as pessoas, seja qual for a idade. Podemos afirmar que ela se tornou uma das personagens marcantes que construíram a História de Bocaiúva.


HENRIQUE SAPORI NETO
um construtor do progresso

Maria da Glória Caxito Mameluque
Cadeira N. 40
Patrono: Georgino Jorge de Souza

Ano de 1887: a nação brasileira estava passando por um período de ebulição com as idéias abolicionistas. Membros do Partido Liberal e do Conservador defendiam a libertação dos escravos, também defendida por intelectuais e jornalistas da época. Em 1850, a Lei Eusébio de Queiroz já proibia o tráfico de negros e começava a surgir a falta de mão de obra nas zonas cafeeiras. Ao mesmo tempo surge um grupo de fazendeiros que defende o uso de mão de obra livre nas plantações de café. A Lei do Ventre Livre em 1871 e a Lei dos Sexagenários em 1885 anunciavam que não demoraria o fim da escravidão.

Na mesma época, a Itália passava pelas guerras da Unificação Italiana e, após o fim dessas, a economia italiana se encontrava debilitada, associada a problemas de alta taxa demográfica e desempregos. Os Estados Unidos passaram a criar barreiras para a
entrada de estrangeiros. Tais fatores levaram ao início de maciça imigração de italianos para o Brasil, já iniciada a partir de 1870.


Henrique Sapori Neto

 

Os primeiros imigrantes vindos da Itália instalaram-se no sul do Brasil, onde agruparam-se em colônias agrícolas, muitas vezes compostas exclusivamente por italianos. Dessa maneira, o doloroso fato de abandonar sua terra natal se tornava mais ameno, a partir do momento em que o imigrante tentava recriar em terras brasileiras características de seu país de origem.

Embora tenha sido a região sul a pioneira na imigração italiana, foi a região Sudeste que recebeu o maior número de imigrantes, por causa da expansão das lavouras de café em São Paulo. Com o fim do tráfico de negros e o sucesso da colonização italiana no Sul, o Governo Paulista passa a incentivar a imigração italiana para trabalho nos cafezais. A imigração subsidiada de italianos começou na década de 1880. Os próprios donos das fazendas de café tratavam de atrair imigrantes italianos para as suas propriedades. Os proprietários de terras pagavam a viagem e o imigrante tinha que se propor a trabalhar nas fazendas para devolver o valor da passagem paga.

Dessa forma, atraídos por benefícios anunciados pelo governo brasileiro, grande número de italianos aportaram no Brasil, para substituírem os negros na lavoura cafeeira, notadamente após a abolição da escravidão. São Paulo concentrava a maior
parte das lavouras, mas Minas Gerais tornou-se um dos maiores redutos da colônia italiana do Brasil, sendo que colonos agricultores foram atraídos para os arredores de Belo Horizonte e trabalhadores para o café, atraídos para o sul de Minas.

Os imigrantes italianos, na sua maioria, imigravam para o Brasil em famílias e eram chamados de colonos. Os fazendeiros, acostumados a trabalhar com escravos africanos, passaram a lidar com trabalhadores europeus livres e assalariados. No entanto, muitos italianos nas fazendas de café foram submetidos a jornadas de trabalho maçantes como as enfrentadas pelos escravos e muitos eram tratados como se o fossem. Essa situação gerou muitos conflitos entre os imigrantes italianos e os fazendeiros brasileiros, causando rebeliões e revoltas. As notícias do trabalho semiescravo chegaram à Itália, e o governo italiano passou a dificultar a imigração para o Brasil.

São Paulo recebeu 70% dos imigrantes italianos e muitos conseguiram escapar das abusivas fazendas de café e se instalaram nos centros urbanos. O imigrante italiano participou ativamente do desenvolvimento do comércio e de atividades urbanas. Em 1900, 81% dos operários fabris de São Paulo eram italianos. Assim, membros da comunidade italiana passaram a compor a elite paulista.

O imigrante italiano normalmente vinha para Minas Gerais acompanhado de sua família (com uma média de 3 a 7 pessoas), oriundos do norte da Itália. Houve um ligeiro predomínio de homens e de pessoas solteiras seguidas por casadas. Ao contrário do que sucedeu no resto do país, onde predominou o imigrante miserável e analfabeto, o italiano em Minas Gerais era melhor instruído e mais rico, de forma que permanecia uma média de dez anos no campo e depois migrava para os centros urbanos, como Belo Horizonte e Juiz de Fora, em busca de melhores condições.

Os imigrantes e seus descendentes contribuíram ativamente para o desenvolvimento da agricultura, urbanização, da indústria, do comércio e da identidade cultural do Estado, inclusive sendo fundadores do Cruzeiro Esporte Clube, antigo Palestra Itália.

E foi nesse cenário que apinhados em navios que saiam da Itália em direção ao Brasil, muitas famílias italianas chegavam, na esperança de conseguirem trabalho, atraídas por promessas de melhores dias e alimentando o sonho de encontrar no Brasil a terra onde poderiam reconstruir suas vidas.

O COLOMBO era um dos navios que fez por muitas vezes a rota Gênova/Santos. Construído na Inglaterra em 1873, servia como cargueiro sob o nome BRAZIL, até ser adquirido pelo italiano Giácomo Cresta em 1888. Após sofrer uma reforma que o transformou em navio misto, foi rebatizado como COLOMBO e em setembro de 1888, comandado pelo capitão Antônio Mangini, fez sua primeira viagem transportando imigrantes para o Brasil.

O COLOMBO tinha capacidade para transportar cerca de 700 passageiros em acomodações comuns e 80 a 100 em classe cabina (alojamento individual) e não obstante dispusesse de instalações frigoríficas para armazenar víveres frescos – no que foi pioneiro – o transporte dos imigrantes era feito em precaríssimas condições.

Em uma dessas viagens, no ano de 1897, encontravam-se entre centenas de famílias, relacionados nas listas de passageiros as seguintes:

Evangelista Sapori , sua esposa Rosa Sapori e os filhos; Domenico Demaria, sua esposa Teresa e filhos; Eugênio Gibellini, sua esposa Luigia e filhos e em outro navio Lorenzo Faluba, sua esposa Modesta e filhos. As quatro famílias foram acolhidas na Hospedaria de Imigrantes em Juiz de Fora de 1897, procedentes de Gênova, na Itália, constando no registro, de profissão: agricultores, de religião católica. Contratante: José de Figueiredo Neves e destino: Fazenda das Pedras, município de Sete Lagoas, em Minas Gerais. Natureza da lavoura: café.

De Sete Lagoas, depois foram para a Fazenda Monjolos, nas proximidades de Ribeirão das Neves, de propriedade de João Gonçalves, onde começaram a trabalhar.

Entre os filhos do casal Evangelista e Rosa Sapori, encontrava-se o menino Enrico de dez anos de idade. Cresceu trabalhando com o dono da Fazenda que gostava muito dele. Toda a família trabalhava na lavoura do café.

O menino Enrico, anos mais tarde casa-se com Ida Gibellini, cuja família veio no mesmo navio. Dessa união vieram seus filhos e entre eles, Luiz, que casou-se com Maria, também de família italiana .

08 de abril de 1939 : era sábado de Aleluia. Havia uma movimentação diferente na casa do casal Luiz e Maria, na Fazenda Monjolos. Luiz, que pertencia à Sociedade São Vicente de Paulo andava sempre às voltas com pessoas carentes que ele cuidava, aplicando injeção e providenciando o que elas precisassem. Era um homem educado e muito fino, mas um pouco fechado. Talvez por isso os netos tivessem mais liberdade com o Avô Enrico, mais conversador, alegre, festeiro. Todos tinham adoração por ele.

O casal já tinha três filhos: Maria, José Luiz e Antônio. E naquele dia a casa estava em festa pela chegada do quarto filho, outro homem. É fácil imaginar aquele bebê rechonchudo, carinha vermelha, tentando abrir os olhos na penumbra do quarto da Fazenda, onde uma lamparina de azeite iluminava o ambiente. Envolto em muitos panos, ornados com rendas e o rostinho protegido pela touca de cambraia, era alvo da curiosidade dos irmãos e dos parentes que vinham visitar a nova mamãe no quarto cheirando a alfazema. Na pia batismal recebe o nome do avô: Henrique.

Assim como o avô Enrico , que vindo com 10 anos da Itália, corria pelos campos da Fazenda Monjolos, é fácil imaginar o neto Henrique , subindo em árvores, correndo pelos campos, nadando no córrego ou acompanhando o seu pai e seu avô nas lides da
Fazenda.

Anos mais tarde, trabalhando na Empresa de ônibus Viação Nossa Senhora das Neves, em Ribeirão das Neves, Henrique casa-se com Maria da Conceição (Nenzinha)

Tempos depois, já em 1971, a família veio para Montes Claros,onde adquiriu a Empresa Tolentino e montou a Transnorte. Passados cinco anos, o transporte urbano era feito em Kombis velhas. Henrique Sapori comprou a empresa “Faixa Branca”que fazia o transporte urbano, transformando-a na Transmoc. Na opinião de muitos que o conheceram, Henrique Sapori tinha uma visão futurista, não pensava no hoje, pensava sempre na frente. E assim, em 1977 começou a negociação para adquirir a concessionária Fiat – Polígono, inaugurada em 1978.

Henrique Sapori Neto nasceu em 08 de abril de 1939 e faleceu em 17 de agosto de 1985 com apenas 46 anos, deixando três empresas bem estruturadas: a Transnorte, que iniciou suas atividades em 25 de março de 1971, contando com apenas dezessete
carros e atualmente conta com cento e oitenta veículos; a Transmoc, adquirida em 1972, com oito ônibus e hoje conta com uma frota de setenta lotações que atendem a cidade de Montes Claros e a Polígono- Fiat Automóveis, inaugurada em 1978.

Henrique Sapori Neto recebeu o título de Cidadão Honorário de Montes Claros, em março de 1981, por seus serviços prestados à comunidade, como empresário do serviço de transporte coletivo urbano e interurbano, sendo reconhecido como um dos
construtores do progresso norte-mineiro e ainda pelo seu brilho pessoal, enquanto pessoa humana. Recebeu ainda a Medalha Urbis do Sesquicentenário de Montes Claros (in memoriam), em 03 de julho de 2007, por relevantes serviços prestados à cidade de Montes Claros.

A respeito dele, várias pessoas assim se referiram: “Era um homem à frente do tempo, com um inconformismo social muito grande, lutava pelas transformações sociais, tendo como principal objetivo garantir direitos e deveres aos mais humildes. Odiava a injustiça.” (Artur Leite)

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(Extraido do livro Henrique Sapori Neto- um homem à frente do seu tempo)


“ETERNO INSTANTE”

Maria Luiza Silveira Telles
Cadeira N. 42
Patrono: Coronel Geraldo Tito da Silveira

Gosto de gente assim, que mergulha de cabeça no amor, sem medo da dor; que abraça a Vida com paixão, vive com intensidade, caindo e levantando; mora no Parnaso, sem tirar os pés do chão; usa sempre a palavra para edificar, expressar sentimentos nobres, fazer jorrar a emoção e jamais para ferir ou aviltar.

Amo pessoas que transcendem o corriqueiro, o medíocre, o rasteiro. Pessoas que ainda acreditam na bondade, na criatividade e no poder de superação do ser humano; que fazem parte de um movimento que se alastra pelo planeta, movimento este composto por aqueles que crêem no Bem, no Amor, na Justiça, preocupadas com o seu crescimento pessoal e da humanidade.

Amo pessoas que compreendem a dor, porque já passaram por esse processo e procuram minimizá-lo no próximo, transformando-o em Beleza, Arte e Compaixão. Pessoas que buscam a Verdade, mas nunca se arvoram em donos dela, porque sabem
que a Verdade é o próprio Deus e estamos todos, por caminhos


Miriam Carvalho

retos ou tortos, indo em direção a Ele. Pessoas cheias de Amor, cujas lágrimas são sempre de deslumbramento e gratidão diante da misericórdia do Pai. Nelas a Vida pulsa sempre vibrante e suas vozes de esperança e fé se elevam e se ajuntam a tantas outras que acreditam no eterno recomeçar.

Amo pessoas como a minha amiga, Miriam Carvalho, que, no “eterno instante”, sabem tecer e bordar a Vida, bebendo a taça da Alegria e da Dor, brindando sempre a Graça e o Dom.

Miriam é o amor, a poesia, a filosofia, a solidariedade encarnados em uma só criatura, que espalha com a palavra escrita ou falada apenas a beleza e o mistério da vida. Talvez muitos não a compreendam, nem tampouco sua poesia, pois estão longe de sua nobreza e de seu brilho. Mas a verdadeira estrela não se sente incomodada com o brilho de outras, pois, tem seu brilho próprio. Só quer cumprir a sua função de estrela: brilhar juntamente com suas irmãs, enfeitando o céu.

O humano e o divino se misturam e se desnudam de uma forma incrível na poesia desta criatura. O carnal e o místico se abraçam amorosamente no “eterno instante”.

Ah, quão pobres seriam nossas vidas se não existissem pessoas como Miriam! Sua poesia sabe transformar a dor em beleza, o cotidiano em beleza, o corriqueiro em sublimação. Seus olhos sabem enxergar com amor e compaixão os nossos montes que já não são tão claros e seu coração guarda como relíquias as belas lembranças de um tempo, em que vivemos juntas, e os ventos “nos elevavam, sem receio de perigo, (...) aos cimos dos claros montes”.

Seus olhos contemplaram mágoas, misérias, desterros “de um amor sem cordeiros, de um amor sem bezerros” e soube transmutar tudo em “beleza, sabedoria e esperança”.

Miriam é muito mais que poeta, é um ser humano de uma riqueza incomensurável, que sabe, mesmo com os pés sangrando, caminhar sobre pedras, com o olhar sempre posto na glória eterna dos Céus. Para ela o importante é viver plenamente, sempre aberta, convidando o próximo a se levantar, a caminhar a seu lado, a beber de sua taça, a comer de seu pão, a participar com ela da Festa da Vida, pois para Miriam não apenas “escrever poemas traz um sabor de festa”, mas tudo tem o doce sabor de uma festa eterna.

Miriam consegue de uma forma magistral descrever toda a beleza e o mistério do “tempo, da morte, da esperança, da perda, do encontro e desencontro, da ventura e desventura, da dor e da visão universal da existência com seus antagonismos”.

Ela nos arrasta aos abismos de possibilidades que a vida nos oferece e busca na sua escritura, como ela mesma confessa, “a integração intersubjetiva do trabalho poético, que descreve um percurso do racional ao afetivo”.

Sua poesia não é apenas a emoção que jorra, mas um delicado trabalho de artesã caprichosa. Ela se diz camoniana, mas seus versos não nos remetem apenas a Camões, nas suas analogias, mas nos fazem lembrar todos os grandes poetas que souberam deixar talhados na Pedra da Existência o mundo insondável e abissal dos belos e contraditórios sentimentos que tomaram suas almas.

Miriam mostra a sua intimidade não só com a própria vida, com seus movimentos que lembram o vai-e-vem das ondas, nem apenas com os sentimentos que impulsionam os humanos e com o inconsciente coletivo, mas, também, a sua intimidade com a escritura e a alma daqueles que souberam “poetar”.

Vejamos:

“Com certeza
um amanhã benigno
para além dos nossos afetos
aferidos em cada ser
vai certeiro, vai levando
o movimento da vida...”.

Eu me curvo, humilde, diante da grande poetisa, da grande literata, que sabe traçar com delicadeza e maestria cada palavra de seus poemas.

Seu nome, no futuro, certamente, estará ao lado de Göethe, Elizabeth Browning, Florbela Espanca, Drummond, Quintana, Neruda e tantos outros, porque ninguém foge à peneira do Tempo, que sabe eliminar os cascalhos inúteis e separar as pedras preciosas.

Sintamos a beleza e o sentido da voz da poetisa:

“Nossas vidas já sorriem para outra vida,
para aquelas portas celestes de porcelana
que se abrem ao convite de domingo
num tempo de alva luz e manhãs livres
num bloco de estrelas sem noite,
no espelho translúcido do dia sem dia
num espaço sideral sem fronteiras,
onde o tempo infinito grava eternamente
com adaga de ouro e luz
o aberto amor do Pai”.

O homem comum diria: “Morremos e vamos para o céu”. Mas para Miriam estas são palavras mui pobres que não expressam a maravilha de nunca morrer e ser acolhida nos braços do Pai...

Meu Deus, quanta beleza em expressões como “tempo de alva luz e manhãs livres”, “estrelas sem noites”, “dia sem dia”!...

Só mesmo uma alma superior, uma mente rica e uma formação acadêmica ampla e profunda para dar condições a alguém para dizer algo tão simples de modo tão belo e singular.

A poesia de Miriam nos desperta, nos sacode, nos sacia. A gente voa na beleza de seus versos e, ao mesmo tempo, mergulhamos em abismos profundos e andamos por desertos sem fim... Mas a esperança nos enche a alma:

“Luzeiros pensamentos
como lindas peças raras
hão de luzir um dia
na mais leve e pura essência
cheirando a malva do céu
nos vazios espaciais,
nas superfícies alvas
hão de luzir um dia”.

Miriam nos empolga e nos leva às lágrimas. A riqueza de suas figuras de linguagem nos povoam a mente e a alma com sentimentos que nem conseguimos expressar...

“Eterno Instante” talvez seja um dos mais belos presentes que uma alma nobre e um talento incrível deixam como herança para Montes Claros, para Minas e para o mundo.

E eu fico por aqui

“num coração que não cabe
um olhar de esquecimento
e uma alma sem intento”.


Sobre o poeta Olintho da Silveira

Miriam Carvalho
Cadeira N. 88
Patrono: Plínio Ribeiro dos Santo

 

Falar do poeta Olintho da Silveira não é apenas falar de sua poesia, inserida no contexto do século xx, mas, é, também, falar de uma personalidade que amava profundamente a leitura e se entregava à poesia de um Drumond, de um Bandeira, de um Musset, de um Edgar Alan Poe, e tantos outros, num diálogo não isento de vaidade, segundo o seu depoimento que precede os poemas publicados, Cantos e Desencantos, em 1963, pela gráfica Santa Maria, Belo Horizonte. São quarenta poemas regidos pela lógica do poeta contemplador, mergulhado em diversas facetas da vida: do amor à morte, da Serra do Catuni ao Paraíso Perdido, do universo infinito à terra sertaneja, da lua ao sol, no seu contato com a natureza, procurando com ela uma relação direta, com base na linguagem dos sentidos, expressando tudo o que vê, ouve e sente. É sobre esta obra poética que o pensamento bucólico, telúrico, sertanejo, contemplativo, do homem Olintho, se agrega como valor adicional à sua vida, extasiado com a criação do Universo. O ritmo da poesia, nesta obra, observa o compasso da natureza e suas transformações: as manhãs, pela luz do sol-nascente, a chuva no sertão, vestida de um verde encantador, ou a estiagem no Norte esquecido, com a presença da lua, vista como “um lago do seu sonho, com toda beleza nua” e por isso é “lua bendita”, segundo o poeta. Vale a pena determo-nos nesta estrofe: “Direi apenas que és bonita/ lua bendita/ Noiva imaculada e inatingível/ dos poetas sem noivados”. Até que ponto esta poesia quer resgatar a natureza? Ora, aqui, a palavra de Cantos e Desencantos põe em destaque o ideal da poesia, como força, harmonia e representação do mundo que parece reduzir o particular ao universal, o vivo ao conceito, em momentos de contemplação. Consideremos estas idéias numa estrofe típica do poema Sempre Viva que revela uma identidade entre poesia e natureza: “a poesia há de viver/ em toda natureza/ da qual só ela canta/ Toda imensa beleza!” Como se cantaria/ Os céus, a luz, os sons,/ As cascatas, os rios, as sombras, o silêncio/ e os pássaros em hamonia?” A idéia da poesia permanecer Sempre Viva, “nos remete às palavras e as palavras dão o significado e o sentido da vida. Viver é estar nas palavras, nos símbolos, nas significações... (conceito de Ramon Xirau em seus Ensaios Críticos e Filosóficos). Em Cantos e Desencantos, o poeta não está longe de uma visão do mundo manifestada a partir de uma reflexão crítica, e também de um estado de meditação. Desta forma, o mistério do universo é o mistério de Deus, conforme a expressão destes versos: “Contemplador impotente/ do mistério universal;/ sinto a angústia metafísica/ do pensar que eles tem gente/ Que nos olha e verifica,/ Praticando bem a física.” Por entendermos que a escrita poética se faz em rede, fundamentada em vários textos que se entrecruzam, ao longo dos tempos, é que nos parece oportuno avaliar a verdade, o saber e a crença da poesia de Olintho Silveira, ligada à natureza e bem enquadrada numa concepção de vida simples, de acordo com o poema Transfiguração: “Quero banharme na tua luz/ Fecunda e pura, Ó sol ardente do sertão/ Sem ti, ó sol do meu sertão/ sem teu calor,/ Nenhum valor/ ”Outras vezes,
o poeta busca fixar a amada, nas páginas do livro, de forma sensorial, gravando a canção dos sentidos desejados, através de Linguagens, nome do poema: “Vem!/ Olha-me bem nos olhos tristes./ Faze deles o teu espelho. Viste-te? Sim. Como não hás de
ver-te,/ Se vivo sempre dentro deles? Os meus olhos só vêem a ti / a minha boca só fala em ti. / Meu coração só pulsa por ti./ A notação visual é um procedimento artístico que sempre foi utilizado pela poesia, sobretudo, quando se une olho no olho: amador e amada. Em Olhos Negros, um dado memorialista capta a nossa atenção: o jovem casal Silveira está em lua de mel. O amado cria, em forma fixa o seu poema, um soneto, metaforicamente desenhando os olhos de sua alma gêmea como “negros, veludosos,” “qual um lago em tardes de frescura,” “ternos como os cantos maviosos”
“belos como as estrelas prateadas,” “profundos como o mar em doce calma.”Belo soneto, que contempla a contemplação de si mesmo uma vez que o amado presencia a sua imagem nos olhos da mulher amada: “Olha-me bem nos olhos tristes”/ Faze deles o teu espelho”/Vem’/ Deixa que me veja nos teus olhos”/ Já em Ausência, a dor da separação se faz presente. Novamente, há uma referência à natureza: assim como retorna a Aurora, a amada também pode voltar.“Será que você volta um belo dia,/” Como retorna a aurora?”/ Mas é preciso ter Alma de Vento, é preciso conhecer em Francisco Sá a Serra do Catuni “para lhe transpor o dorso ondulado” e no Paraíso Perdido encontrar Regiões onde não há sofrimento nenhum, pois os sonhos de um tempo franciscano se prendem “na raia loira da madrugada”, palavras de Canto e Desencanto. Em Metamorfose, a chuva no sertão adquire uma dimensão expressiva das populares canções, cantadas pelo homem do campo quando a natureza começa a sua transformação Eis o que diz esta estrofe: “Está chovendo no sertão/ E esta chuva
que cai/ E pelo chão/ Espalhando se vai,/ Respinga saudade/ No meu coração/” Se alguns poemas traduzem a alegria diante da existência, outros, em retrospecção, ganham um tom melancólico, segundo estes versos: “As horas passam lentas neste dia”/E as coisas todas se enchem de tristeza”/ Antes de ser um poeta (que dirige o seu clamor para o mundo e para Deus,) ele se apresenta também como um trovador. O trovador, na verdade, é um vassalo, vassalo de amor e vassalo de seu senhor, cultivando o gênero da canção amorosa. No poema, Epístola, as quadras dão o tom a esse estilo, tipicamente trovadoresco: “Muitas vezes disse-lhe
eu/ Que o amor fere sem dó.” Mas você só compreendeu/ ”Agora que ficou só. “Naquele dia tristonho”, “Você se foi eu fiquei”. Seu semblante era risonho”. Eu penso até que chorei.” Eis uma obra capaz de transformar a realidade em graus de beleza com dados da sensibilidade e imaginação. Diria, portanto, que Olintho é um poeta contemplador e visual. O mundo penetra os seus olhos e esses fazem o caminho de regresso à natureza. Por isso, ele
pergunta: Quem está isento de vaidade? O poeta não! Descobre o mundo e o invade, e assombra-se, e goza no primeiro instante de contemplação, porém o mundo descoberto, por sua vez, situa o poeta, invade-o e outorga-lhe presença e vida. Duas epifanias necessárias e complementares: olho e luz. O olho, o do poeta, a luz, a da poesia. Ato de verdadeira graça, entregue à gratidão generosa do amor à vida.


Gênese do São Francisco

Petrônio Braz
Cadeira N. 18
Patrono: Brasiliano Braz

Na Eupana1 por erro foi formado,
na legendária terra de riqueza
onde bugres bramiam com destreza
grande disco de ouro fabricado.
Ao dourado metal nobilitado,
que nos Andes havia, com certeza,
a busca encetaram com firmeza,
com fervor, com arrojo denodado.

Com a ambição tomada como guia
bandeirantes prodigiosamente
pejaram em ondas o continente
à cata da miragem fugidia.
Sem rumo a seguir em tal porfia
foram ter em terra de brutal gente,
que Deus forjou com sua mão clemente,
em hora de lazer e fantasia.

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1 – EUPANA – A Eupana ou El Dorado seria uma grande lagoa, supostamente localizada nas proximidades dos Andes, onde pensavam inicialmente os portugueses nascia o rio São Francisco. Nas margens da Eupana ficava a cidade de Manoa, cujos habitantes portavam ornamentos de ouro e diamantes (N. do A).
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As terras que a todos extasiam,
aos bravos Guaíbas, Natus, Crixás,
Xacriabás, Caiapós e Goianás,
do país do São Francisco2 pertenciam.
Seus límpidos destinos definiam
os Caetés, Tuschás, Amoipirás,
Tamoios, Catolés, Abatirás,
na liberdade natural que conheciam.

No linguajar impuro que usava,
o rio pelo índio era chamado
Pará ou Opará. Foi batizado
co’o nome do santo que celebrava
na grande fé cristã que professava
o descobridor recém-aportado.
O nome, do santo originado,
a um novo país se destinava.

Que eu possa contar em verso impuro
em tosca rima, mas contar honesto,
as glórias do gentio e do modesto
caboclo; do branco buscando ouro
ou nas margens do rio curtindo couro;3
na conquista, no pelejar funesto
ali ficando p’ra fazer de resto
do vastíssimo vale o seu tesouro.

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2 – PAÍS DO SÃO FRANCISCO – O Vale do rio São Francisco (N. do A).
3 – CICLO DO COURO – Uma das fases da evolução do Vale do rio São Francisco (N. do A).
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Como o Spinoza4 bandeirantes intrépidos,
que os índios indômitos combateram,
sua história desde cedo escreveram
em lutas, glórias e crimes cometidos.
Sem amor, impios e desalmados,
a cruz pelo Navarro5 transportaram
e a ela impunemente atrelaram
os bandos de escravos dominados.

O Fernão,6 que viagem empreendeu
em busca da Serra Resplandecente,
em missão heroica, quase imprudente,
no Guaicuí em delírios feneceu.
Morreu sem forças, andando ao léu,
na terra de Tupã, que dominante
mostrou por ilusão pedra brilhante,
que o levou do inferno ao céu.

Cardoso,7 do São Francisco regente,
com o poder d’El Rei assaz cingido
de herói, em máscara revestido,
fez bramir sua espada ingente.
Impõe, pela força de sua gente,
o poder pela espada urdido,
para que seu nome fosse temido
no sertão todo como inclemente.

_________________________________________
5 – NAVARRO – Pe. Aspilcueta Navarro. Foi o capelão da bandeira Spinoza (N do A).
6 - FERNÃO – Fernão Dias Paes, o Caçador das Esmeraldas (N do A).
7 – CARDOSO – Januário Cardoso de Almeida, Regente do São Francisco (N. do A).
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Pela força a região conquistou,
E a límpida areia da praia,
Que ao longo do rio se espraia,
com o sangue dos bravos se manchou.8
O índio na mata se ocultou,
recuando com mostras de agonia,
em busca da vingança, quase pia,
que o emboaba inepto provocou.
A vingança os índios proclamaram
no ritual que a todos desafia,
em fastidiosa coreografia
a dança da guerra eles dançaram.
Aos duendes celestes invocaram
ao som no maracá, em polirritmia,
com o pagé servindo-lhes de guia,
as forças p’ra vingança que clamaram.9
Como turba valente, exortada,
do fundo do sertão eles desceram
e com todas as forças combateram
aos brancos em última emboscada.
Vencidos os caiapós n’ssa contenda,
Com perdas que as partes detiveram,
a sede de vingança contiveram
e a paz finalmente foi firmada.

_________________________________________
8 – Por ordem de Januário Cardoso, Manoel Pires Maciel guiou as tropas comandadas
pelo Cap. Manoel Francisco Toledo para a conquista da ilha de São Romão, em
Minas Gerais. Foi uma matança impiedosa. A Igreja celebrava, no dia, a festa de São
Romão, 23 de outubro. Daí veio o nome da ilha e da futura cidade, segundo Diogo
de Vasconcelos. Morto o cacique, após um dia e uma noite de luta, muitos indígenas
fugiram e foram concitar vingança aos parentes e demais tribos da raça. Organizaram
a Confederação dos Caiapós, de que muito esporadicamente falam os livros de história
(N do A).
9 – CONFEDERAÇÃO DOS CAIAPÓS – Os índios derrotados em lutas isoladas conclamaram
para a vingança todas as tribos da nação Caiapó. Diogo de Vasconcelos afirma
que foi geral a sublevação dos selvagens. “Do vão do Paraná ao alto Tocantins, e do
Carinhanha ao Paracatu ecoou o grito de guerra” (N do A).
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Por Helena os gregos mais ousados
contra Troia em guerra pelejaram,
e os feitos das vitórias que tiveram
foram pelo Homero celebrados.
Na guerra aos guaíbas10 celerados
Catarina11 os bugres seqüestraram
E p’ra mata das origens a levaram
Em desonra dos brancos revoltados.

Na glória de seus bélicos tambores
os gregos os seus feitos memoráveis,
em escritos e versos tão notáveis,
aos pósteros legaram seus valores.
Pela mão de seus clássicos autores,
em obras ‘inda hoje inesgotáveis,
em essências de vida formidáveis,
cultuaram seus imortais amores.

Ao alvedrio de dúplices temores,
De estranhos guelfos e gibelinos,12
Sofreando os brancos libertinos
e suportando bárbaros horrores,
nutrindo de amor as suas dores,
Catarina sem versos cristalinos,
sem poetas p’ra cantar esses destinos,
ingressou na história sem louvores.

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10 – Os GUAÍBAS eram uma tribo da nação Caiapó. Habitavam a ilha de São Romão,
no rio São Francisco, em Minas Gerais (N do A).
11 – CATARINA – Índia, mulher de Manoel Pires Maciel, o conquistador da ilha de
São Romão. Era filha do cacique caiapó do Brejo do Amparo (Januária-MG). Foi seqüestrada,
juntamente com o filho, pelos caiapós, após a luta pela conquista da ilha
de São Romão, mas fugiu e, com sua volta, negociou a paz na região entre índios e
brancos. Foi a grande pacificadora (N do A).
12 – GUELFOS E GIBELINOS – Os guelfos eram os partidários dos imperadores suábios
durante a questão entre esses e o Papa, e os gibelinos eram os partidários do Papa.
História italiana dos Séculos XII a XV (N do A).
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Da Paraguaçu13 a mesma ventura
não teve, nem a sorte da Moema,
que o mar revolto rugindo toma
como ornamento em sepultura.
Sua alma foi nobre e sempre pura;
sendo índia houve-se como dama
e a todos o seu amor derrama,
como se santa fosse a criatura.14

Como Iracema não teve a fama
que o Alencar em páginas brilhantes
deu ao conhecimento às doutas gentes.
Não foi gentil, bela, nem culta dama,
que na vil alcova o amante chama.
Não recebeu adornos, nem presentes,
mas evitou que o sangue de inocentes
se perdesse no chão formando lama.

Foi sincera, heroica e prudente.
Ao branco ousado impôs respeito,
como o filho a sugar-lhe o peito,
mostrando a todos que o inocente,
mestiça cria, modesto infante,
era o futuro, de pronto efeito,
que do amálgama quase perfeito,
formaria outra raça dominante.15

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13 – PARAGUAÇU - Mulher de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, batizada com o nome de Catarina, em homenagem à rainha Catarina de Médici, sua madrinha. Não confundi-la com a mulher de Manoel Pires Maciel (N do A).
14 – CORRENTE FILOSÓFICA – Montaigne e Rousseau pertenciam à corrente filosófica que considera o selvagem sempre bom (N do A).
15 – CRUZAMENTO DAS RAÇAS – O cruzamento das raças deu origem ao povo brasileiro (N do A).
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No sertão restrita a seu terreiro
uma raça de homens foi forjada
e u’a nova riqueza foi criada
no aboio dolente do vaqueiro.16
Amante do rio, o barranqueiro
trabalha de sol a sol co’a enxada
a espera da chuva que sempre tarda,
mas enche de esperanças o seu celeiro.

Desprovido do ouro procurado
o ciclo do couro, com firmeza,
implantaram em forma de riqueza
e houveram de pronto resultado.
Na solidão total lhes foi deixado
escolher, com alegria ou com tristeza,
o próprio caminho que a natureza
mãe lhes apontava como seu fado.

Prelibando futuro invejável
seus filhos, em projeto cerebrino,
no Vale um Estado paladino
aventaram em plano memorável.17
Hoje, como reserva formidável,
suas águas – glorioso destino –
nas represas marulham belo hino,
procriando força inesgotável.
Com a força que um Estado planejou
nos barranqueiros ‘inda estão patentes
a mesma força e sangue ardentes

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16 – Ver Nota nº 3.
17 – ESTADO DO SÃO FRANCISCO – Vários projetos já foram apresentados com vistas à formação do Estrado do São Francisco (N do A).

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que a viril conjuração deflagrou.18
Os seus feitos a história registrou
E miríades de feitos são presentes,
Com glórias ainda hoje onipotentes
Na história que Licínio nos contou.

 

OPINIÕES

“Gênese do São Francisco” é uma página brilhante, antologia que marcará tempo na vida do Velho Chico. O poema é um retrato falado do São Francisco. É sua vida, suas lutas, seu vigor, seu passado e seu eterno futuro. Li, mais de uma vez, o poema que me empolgou. Com “Gênese do São Francisco”, o Velho Chico se liberta, tornando-se um rio com vida e história. É verdade que inúmeros barranqueiros falaram dele, quais sejam: Saul Martins, Anfrísio Lima, José Gonçalves (este um apaixonado pelo rio: conversava com ele e beijava suas águas), o talentoso Fernando Rubinger (meu dileto amigo), o velho e culto escritor Manoel Ambrósio, autor das magníficas obras, de fundo regional, “Brasil Interior”, “Os Laras”, etc., e Manoel Ambrósio Júnior, autor do belo romance “Iaiá Quitéria”. Mas, na verdade, não disseram tudo do Velho Chico, como, em versos, disse Petrônio Braz”.

Cândido Canela

O Rio da Integração Nacional vem, num abraço amoroso, unir o “irmão do Norte” e o “irmão do Sul”. Petrônio Braz, o poeta barranqueiro, sente a beleza e conta a história do rio. “Gênese do São Francisco”, poema do El Dorado, dos Caiapós valentes, de Catarina, a medianeira da paz. Como Luiz Vaz de Camões cantou as glórias lusitanas, Petrônio Braz, em versos cheios de força e lirismo, canta a epopeia do sertão banhado por um rio belo e generoso.

Maria de Lourdes Reis
Presidente da Casa do Poeta do Brasil - DF

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18 – CONJURAÇÃO - Conjuração do São Francisco de 1736 (N do A).


O TREM DO SERTÃO

Roberto Pinto da Fonseca
Cadeira N. 92
Patrono: Sebastião Tupinambá

Antigamente, / Na chegada e na partida, /
Largo no peito, / Coração batia assim: /
Café com pão... / Café com pão ... / Café com pão ...
Montes Claros, / Monte Azul, / Café com pão .../
Estação de Canacy, / Café com pão.../
Burarama, / Uratinga, / Uratinga, / Burarama./
Hoje sem café com pão, / Coração bate estreito,
Sem ritmo, / Fora dos trilhos, / Coração bate sem jeito.

KARLA CELENE CAMPOS

No norte de Minas, era comum ouvir as expressões “Trem do Sertão” , “Trem Baiano”. Hoje essas palavras são sinônimos de saudades para os mais velhos e praticamente desconhecidas para as novas gerações. O tempo das locomotivas, quando o apito estridente das máquinas fumegantes reunia as pessoas em torno da estação, já passou. Foram tempos de glória, conquistas, desbravamentos de terras e distâncias. O trem não apita mais, mas ficou a história.

O primeiro protótipo de uma máquina a vapor colocada a operar sobre trilhos, ainda que de madeira, pouco parecida ainda a uma locomotiva, rodou no país de Gales, Inglaterra, em 1804, percorrendo em 4 horas aproximadamente 14 kms e deslocando uma carga de 25 toneladas. Esse modelo original, desenvolvido por Richard Trevithick e rejeitado na época, é o marco inicial para um dos maiores fenômenos dos meios de transporte da humanidade.

Em 1814, o também inglês George Stephenson apresenta a primeira locomotiva a vapor, a Blucher, que foi utilizada para transportar carvão entre Killinsworth e Hetton. Percorreu 13 kms a uma velocidade de 6,5 kms/h, transportando 30 toneladas de carga.

A fábrica Robert Stephenson & Co., fundada em 1822 na Inglaterra, produz, em 27 de setembro de 1825, a máquina a vapor denominada “Locomotion”. Percorreu um trecho de 15 kms, entre Stockton e Darlington, transportando aproximadamente 500 passageiros, 80 toneladas de carvão e puxando 21 vagões. Iniciase definitivamente a era das ferrovias - no Brasil, por analogia, todas as máquinas seriam denominadas locomotivas.

Em setembro de 1830 é inaugurado o primeiro trecho de linha férrea entre Liverpool e Manchester, com 50 kms de extensão. Nesse mesmo ano é inaugurada nos Estados Unidos da América a linha entre as cidades de Charleston e Hamburg, na Carolina do Sul.

No Brasil, graças ao espírito empreendedor de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o Barão de Mauá, um ex-caixeiro, foi inaugurada a primeira ferrovia, no dia 30 de abril de 1854, a Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro Petrópolis, ou Estrada de Ferro Mauá. Com a presença do imperador D. Pedro II, percorre-se um trecho de 14,5 kms, em apenas 23 minutos, entre as localidades de Porto de Estrela e Parada Fragoso, no Rio de Janeiro. A locomotiva foi fabricada na cidade de Manchester, Inglaterra, pela firma William Fairbain & Sons e, no ato da inauguração, recebeu o nome de Baronesa, em homenagem a Maria Joaquina, esposa de Irineu Evangelista, que nesse dia foi também agraciado pelo imperador com o título de barão.

A segunda a ser inaugurada, no dia nove de fevereiro de 1858, foi a Estrada de Ferro Recife ao São Francisco, percorrendo inicialmente 31,7 kms de linhas. Em 29 de março de l858 entra em operação a Companhia de Ferro Dom Pedro II, que percorre uma distância de 48 kms entre Campo de Santana e Nova Iguaçu.

O desenvolvimento e o expansionismo do sistema ferroviário ocorreram sobretudo em função da cultura do café no Vale do Paraíba. Era política do governo imperial interligar, via trilhos, o Rio de janeiro a Barra do Piraí e, a partir desse ponto, estabelecer bifurcações para o Estado de São Paulo e de Minas Gerais.

Em 1867, a ferrovia Dom Pedro II chega à região de Paraíba do Sul e Três Rios, na divisa dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, e em 1875 os trilhos chegam a Juiz de Fora. Adentrando mais no território mineiro, alcança a cidade de Santos Dumont em 1877, Barbacena em 1880 e Conselheiro Lafaiete em 1883. A partir desta cidade, muda-se a bitola dos trilhos até então construídos com uma distância de 1.60 m, e passa a ser utilizada a bitola de 1 metro. Essa mudança de parâmetros técnicos em relação ao tipo de bitola a ser utilizada gerou muitas polêmicas, mas a bitola de 1 metro proporcionava uma maior economia de custos e prazos e, nesse contexto, os trilhos seguiam firmes em direção ao Vale do Rio das Velhas e às margens do Rio São Francisco, pois o objetivo era chegar a Belém do Pará.

Ouro Preto, então capital da província mineira, foi atendida em 1888. Esse trecho ferroviário, denominado Linha do Centro, chegou em 1887 a Itabirito e as obras seguiram em direção a Sabará, quando ocorreu a Proclamação da República.

Com o advento da República, a 15 de novembro de 1889, a estrada de Ferro Pedro II passa a denominar-se Estrada de Ferro Central do Brasil. Por prestar grandes serviços à nação, integrando vastos territórios, em 2008 foram merecidamente comemorados seus 150 anos de fundação.

Em 1893 é inaugurado o ramal de Belo Horizonte a partir do terminal de General Carneiro, próximo a Sabará, visando a possibilitar as obras da construção da nova capital mineira, conforme estabelecido pela Constituição de 1891.

Dando continuidade ao expansionismo da Linha do Centro em direção ao norte de Minas, via Rio das Velhas e São Francisco, os trilhos chegam a Sete Lagoas em 1896, Cordisburgo (l903), Curvelo (l904), Corinto (l906) e Pirapora (l910).


Construção da Ponte Marechal Hermes, sobre o Rio São Francisco em
Pirapora, década de 1920.(RFFSA)


Malha ferroviária da Estrada de Ferro Central do Brasil (1969), que a partir
do litoral possibilitou a integração do norte de Minas.

Como se pretendia alcançar a cidade de Belém, a EFCB concluiu na década de 1920 a Ponte Marechal Hermes, sobre o Rio São Francisco, mas como o plano de integração do território nacional através dos trilhos foi perdendo estímulos políticos e econômicos, a ferrovia para na cidade de Buritizeiro em 1922.

Nesse período, a localidade de Curralinho, atual cidade de Corinto, torna-se o mais importante entroncamento ferroviário da região, favorecendo rapidamente a interligação da região. Os trilhos chegaram a Diamantina em 1914 e em 1924 são iniciados, a partir de Bocaiuva, os serviços de construção da linha, que chega finalmente a Montes Claros no dia 1º. de setembro de 1926, tendo a frente das festividades de inauguração da Estação da EFCB o Ministro da Viação, o Sr. Francisco Sá. Em 1947, a cidade de Monte Azul foi interligada à rede ferroviária, totalizando 1354 kms até a Estação do Rio de Janeiro, o marco zero dessa obra pioneira.


Estação de Curralinho, atual cidade de Corinto. (RFFSA)

Com a crescente importância do norte de Minas e da malha viária da EFCB, em l950 a Viação Férrea Federal Leste-Brasileiro, a ferrovia do Nordeste, interligou Monte Azul às regiões Nordeste e Sudeste.

Milhares de pessoas passaram a utilizar esses trilhos em busca de melhores condições de vida em outras regiões do país, até a desativação desse ramal em 1996, fato até hoje lamentado pela população. Carinhosamente chamados de “Trem Baiano” e “Trem do Sertão”, ainda vivem no imaginário das pessoas.


As regiões por onde passavam os trilhos tiveram o seu crescimento econômico favorecido. Muitas comunidades e manufaturas se desenvolveram ao redor das estações. Viajava-se de primeira, segunda ou terceira classe e, no tempo do império, para facilitar a locomoção da população carente, bastava apresentarse descalço na estação que o acesso ao embarque era gratuito. Essa medida pitoresca, no entanto, foi revogada em pouco tempo, porque pessoas de classes sociais mais elevadas, mesmo bem vestidas, chegavam às estações descalças, para desfrutarem do privilégio.

Outras importantes ferrovias também contribuíram para o desenvolvimento do país, como a Estrada de Ferro Leopoldina, surgida em 1872, a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro, formada a partir da junção de diversas pequenas companhias nordestinas, que em 1938 foi a primeira empresa nacional a utilizar locomotivas diesel-elétricas; a Viação Férrea Centro-Oeste, que a partir de Angra dos Reis integrou o sul e o Triângulo Mineiro, chegando a Brasília; a Vitória-Minas, que possibilitou o desenvolvimento do Vale do Rio Doce e de regiões adjacentes.

No dia 30 de setembro de 1957, sob o governo de Juscelino Kubitschek, é fundada a Rede Ferroviária Federal S.A. RFFSA, englobando a Estrada de Ferro Central do Brasil e 22 outras empresas, tornando-se a maior empresa ferroviária do país.

Entretanto, a partir de 1960 o sistema ferroviário nacional começa a perder fôlego, fato que viria a agravar-se nos anos vindouros. Mudanças radicais passaram a contribuir para o enfraquecimento da rede ferroviária, como o incremento da indústria automobilística, o crescimento da população e o consequente aumento demográfico nas principais capitais nacionais, a ênfase aos investimentos nas rodovias, siderurgia e mineração. A partir dos anos 80, com as novas tendências econômicas, a globalização e, sobretudo com novas políticas com o intuito de reduzir a participação do estado na economia, o setor ferroviário perde cada vez mais importância.

Com o crescente aumento do transporte de mercadorias e de passageiros, buscam-se preferencialmente as rodovias, que encurtam distâncias e tempo. As ferrovias, então, passam a atender aos interesses das grande empresas, sobretudo nas áreas de mineração e siderurgia. Muitos ramais passam a não mais transportarem passageiros. O tempo romântico do apito do trem, a chamar para o embarque, passou.

Em Minas Gerais, principalmente , a rede ferroviária terá como prioridade o transporte de minério.


Travessia do Rio Curimatai – Trecho Corinto – Montes Claros (RFFSA)

É inegável a rapidez dos transportes rodoviários. O custo, porém, é elevado, o que afeta sensivelmente populações economicamente carentes. Assim, a população de baixa renda viu-se prejudicada com a paralisação do transporte ferroviário.

Hoje restam poucas linhas disponíveis para transportes de passageiros. A prioridade se dá para o transporte de cargas. Restam, também, curtos ramais utilizados apenas com fins turísticos.


Obras de construção de um viaduto em Montes Claros (l948) (RFFSA)

Em 1969, a Rede Ferroviária Federal sofre uma grande reestruturação com a criação de quatro sistemas regionais. Assim, a área atendida pela Central do Brasil fica pertencendo ao Sistema Regional Centro. As ferrovias são classificadas como Divisões
Operacionais, perdendo as antigas denominações de Estradas de Ferro.

Em março de l996, a Rede Ferroviária Federal é privatizada e dividida em quatro empresas: Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), para atender o transporte suburbano de São Paulo; a MRS Logística, que opera com bitola de 1,60 m; a Super-Via, no sistema suburbano do Rio de Janeiro, e a FCA – Ferrovia Centro Atlântida, para o sistema com bitola de l,00 m.

Atualmente as ferrovias brasileiras atendem essencialmente as atividades da iniciativa privada.


Construção do trecho Montes Claros a Monte Azul (l948) (RFFSA)


Estação Ferroviária de Montes Claros em 1926 (Facella)


Monumento a Francisco Sá – Praça Raul Soares – Montes Claros


A inesquecível
Felicidade Perpétua Tupynambá

Ruth Tupinambá Graça
Cadeira N. 96
Patrono: Tobias Leal Tupinambá

A data 20 de Junho de 1909 é sagrada para mim. Nesse dia, no sobrado numero 18, (que ainda existe) na Praça Dr. Chaves, ao lado do Centro Cultural Dr. Hermes de Paula, nasceu numa hora feliz, Felicidade Perpétua Tupynambá, filha do casal Josefina Mendonça Tupynambá e Tobias Leal Tupynambá.

Começou sua vida escolar no Grupo Escolar Gonçalves Chaves, onde fez o primário e mais tarde diplomou-se normalista na Escola Normal Oficial Melo Viana, de Montes Claros. Era estudiosa, perspicaz, e apesar de dificuldades de transporte e comunicação da nossa cidade, com grande força de vontade, ela conseguiu fazer vários cursos em Belo Horizonte e São Paulo: Arte na Educação, Psicologia da Arte em função de Recreação, vários cursos de psicologia infantil que lhes proporcionaram cultura, talento, experiências das quais ela soube aproveitar transmitindo às nossas escolas no esforço de bem servir.

Com o diploma em mãos, lecionou na Escola Estadual Professor Plínio Ribeiro, Colégio Imaculada Conceição, Instituto Norte Mineiro, Colégio Diocesano, aulas de Educação Física, Artes, Sociologia e Psicologia, aposentando-se depois de 30 anos de magistério.

Sua caminhada foi um rastro de luz deixando, por onde passava, seus raios incandescentes de amor. Naquele coração só existia espaço para a ternura, tinha sempre uma palavra amiga para acalentar o coração dos que sofriam.

Fely (como carinhosamente a chamávamos) deixou uma maravilhosa obra literária. Da sua mente prodigiosa passaram para a posteridade muitos livros de contos e poesias e durante muitos anos seus poemas e crônicas abrilhantaram as paginas de diversos jornais de nossa terra, com tanta sensibilidade que levou o escritor Nelson Viana chamá-la de “A Pérola de Montes Claros”.

Foi ela quem, com sua experiência e vontade de servir implantou, juntamente com Marina Fernandez Silva, o Conservatório Estadual Lorenzo Fernandez, que tantos benefícios vem prestando a juventude montesclarense e de toda nossa região.


Felicidade Perpétua recebendo titulo de Personalidade do Ano no Automóvel
Clube de Montes Claros no dia 25 de maio de 1985.

Implantou o Curso de Pedagogia (Normal) no Colégio Imaculada Conceição. Também o Centro Cultural de Moc deve a Fely a sua fundação.

Como artista plástica de reconhecida capacidade criativa, na década de 40, juntamente com Godofredo Guedes, organizou a primeira exposição” Salão de Artes Plásticas em Montes Claros.


Pertencia à Academia Montesclarense de Letras como sócia efetiva e secretária, ao lado da Presidente Professora Yvonne Silveira que até hoje se lastima pela sua ausência e a falta da sua eficiente colaboração.

Fely era uma mulher extremamente bonita, educadíssima, elegante, uma perfeita “Lady”. Era alegre gostava de cantar, dançar, declamava muito bem, tanto que era solicitada em todas as reuniões e festas em que ela estivesse presente e o fazia com tamanha sensibilidade e perfeição que muitos assistentes não conseguiam conter as lágrimas...

A característica principal da sua personalidade era ajudar a quem precisasse.

Para ela não havia diferença entre ricos e pobres, pretos ou brancos. Era afável com qualquer um e amiga de todos.

Nunca se casou embora tenha sido muito cortejada. Teve muitos namorados e até noivo, mas ela queria mesmo era ser livre.

Mas os seus feitos não se restringiram só à área cultural. Era decidida, enérgica e firme nos seus objetivos, valores que impulsionavam suas atitudes. Por isto ela foi a primeira mulher que, enfrentando os preconceitos da nossa sociedade (e os “tabus” daquela época) aceitou o cargo numa repartição pública. Admitida na Prefeitura Municipal de Montes Claros (gestão do

Dr. Santos) permanecendo no cargo de Chefe de Gabinete por 30 anos. Passou por onze Prefeitos, ocupando, por duas vezes, o cargo de Vice-Prefeito (por afastamento dos titulares) governando a nossa cidade.

Podemos afirmar que entre os filhos de Montes Claros, nos últimos 60 anos ninguém tenha exercido ou ocupado maior espaço político e cultural na vida da cidade do que esta abnegada professora.

Sua cultura emoldurada pelas pesquisas se eternizou como autora da preciosa obra “O Mundo Interior da Criança”.

Numa linguagem clara, precisa e objetiva, a autora torna possível, através da arte e do desenho, penetrar na alma infantil de uma maneira mais delicada e mais agradável.

Com sua experiência adquirida na Escolinha de Artes (fundada por ela) e como professora de Artes Plásticas e Psicologia, a autora oferece aos pais, educadores e alunos do Curso de Especialização, Pós graduação, Pré-primário uma oportunidade para
grandes descobertas e válidas experiências.

Nesta comemoração do centenário de vida de Felicidade Perpétua Tupynambá, ela marcará com esse livro sua passagem por esta Montes Claros que ela tanto amou e tanto beneficiou. Que ele seja bem aproveitado, fazendo jus ao que sua autora tanto almejou.

Que o exemplo de Felicidade Perpétua Tupynambá seja uma bandeira para seguirmos. Que todos os montesclarenses perpetuem a memória desta inesquecível professora que dedicou sua vida inteiramente, a Montes Claros, durante os 90 anos de sua existência.


UM SONHO NA MADRUGADA

Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineira de Souza

Normalmente, chegávamos à casa do professor José Oliveira Fonseca, na Rua Carlos Pereira, às cinco da manhã. Todos os dias, de segunda a sábado, lá estávamos para a aula de análise sintática e de outras questões mais objetivas da língua portuguesa. Não éramos muitos, mas, éramos bastante curiosos e interessados, principalmente o Mauro Lafetá, o Corbiniano Aquino, o Afrânio Nogueira, o Adil Oliveira e eu. Eles, candidatos ao vestibular de Direito em Pouso Alegre ou Niterói; eu, estudante do curso de Letras, aproveitando a maestria do professor Fonseca, o melhor que passou pela matéria em Montes Claros.

Era um tempo excelente, alegre, pleno de maduro entusiasmo, sonhos de pessoas que, a certa altura da vida, sabem o que fazer e com que se ocupar. O Afrânio acabava de deixar as aulas de primeiro estágio do madureza e já cursava, à noite, as últimas unidades para enfrentar o segundo grau, num esforço tremendo de ano e meio entre a escola primária e a universidade. O Mauro, com toda aquela pose que Deus lhe deu, sério, compenetrado, sonhador, quase já exigia que o tratássemos de Doutor. Era tudo
uma beleza, embora o professor nunca nos tenha dado um cafezinho para espantar o sono do levantar tão cedo...

Foi por aí, madrugadas em transformação de aurora, manhãs de gostoso friozinho para pouco agasalho, que o professor e nós fizemos as primeiras propostas para a fundação da Faculdade de Direito. Entre uma análise e outra, entre um verbo e um substantivo, uma nova observação sobre o futuro da segunda faculdade de Montes Claros. Quem estaria disposto a colaborar? Com quais advogados poderíamos contar para a formação do corpo docente? Quem poderia ser o primeiro diretor? Onde funcionar? Onde buscar apoio financeiro? Eram perguntas e mais perguntas, tão constantes e tão assíduas como os próprios formuladores. Não durou muito tempo a temporada de sonhos e cogitações e, em menos de um mês, já estávamos, na rua, buscando apoio, tendo-o
encontrado no deputado Euler Lafetá, tio do Mauro e homem próximo ao governo, e no Inspetor Zezinho Fonseca, que ficou mais entusiasmado do que nós próprios. A luta tomara corpo, criava-se do espírito de séria decisão. O Mauro cada vez mais encantado e, antecipadamente, vitorioso.

Iniciamos as primeiras consultas aos principais advogados, através de uma comissão - Mauro, Afrânio e eu - num desdobramento de trabalho feito antes por Francolino Santos e Corby. Ninguém pode imaginar nem prever as reações humanas e profissionais diante de um desafio. Quem poderia calcular onde estaria o interesse pessoal, o desprendimento, o entusiasmo ou, ao contrário, o medo de futura concorrência? Quem poderia acreditar naqueles sonhadores, querendo fazer as coisas de baixo para cima, invertendo toda a lógica aceitável?

Realmente, diante da proposta, futuros mestres mostraramse ora alegres, ora tristes, na maioria das vezes terrivelmente irônicos. “Quem” era mesmo que queria fundar uma faculdade de Direito em Montes Claros? Que saberiam aqueles três sobre espírito universitário? Loucos, era o que pensavam que éramos... Por que não iam estudar por correspondência como fizeram tantos outros, passeando de vez em quando? Seria mais fácil do que criar uma escola...

Dois fatores tornaram-se importantíssimos em nossa luta: O Jornal de Montes Claros ficou contra, afirmando a não necessidade de formação de novos bacharéis, o mundo já estava muito cheio de advogados; apareceram interessados em nosso trabalho o professor João Luiz de Almeida e os deputados Francelino Pereira e Cícero Dumont. Doutor João cedeu-nos as instalações do Instituto para funcionamento da escola e se dispôs a ser o primeiro diretor; Francelino levou as idéias e os planos ao governador Magalhães Pinto; Cícero organizou os estatutos da Fundação.

Ninguém poderia segurar mais. O contra e o a favor estimularam ainda mais nossa frente de batalha. A reação da imprensa provocou um desafio, a ajuda dos amigos poderosos deu o tempero que faltava.

Quase cinqüenta anos depois, o curso de Direito continua mais do que vitorioso, um dos mais importantes da Universidade Estadual de Montes Claros! Tenho bem guardadas as gravações do dia definitivo da fundação, reunião realizada na Rua S. Francisco, na Delegacia de Ensino, sala de trabalho de José Monteiro Fonseca!


A GRANDE NOITE DA CÂMARA

Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineira de Souza

Podia ter sido uma reunião como qualquer outra, mas não foi. Era a noite de uma sexta-feira dezessete, com apenas um assunto na pauta, sem presença obrigatória. A ordem do dia era a entrega de um diploma de cidadania como já fora feito às centenas nos últimos anos, a todo tipo de gente de muito ou de algum mérito, mas nunca de nenhum. Presentes uma maioria pequena de vereadores, toda administração e bom número de funcionários do Banco do Brasil, o secretário da administração municipal, o presidente do Sindicato dos Bancários, o padre Aderbal Murta, uma boa vizinhança da
Rua Cairo, filhos e genros do cidadão empossado Roque Ferreira Barreto. Um auditório, para bem da verdade, lotado, todas as cadeiras ocupadas, muita assistência de pé. De jornalista só um, mas muito ilustre: Haroldo Lívio de Oliveira. Um bom cenário para um grande acontecimento.

E entrega de diploma de cidadão honorário de Montes Claros dá sessão importante? A resposta lógica é que não, tantas vezes a cerimônia foi repetida, tantos foram os discursos de agradecimento, sempre a mesma retórica, tantas as saudações de autores dos projetos, constantes os mesmos argumentos biográficos. A imprensa nem mais dá atenção, não vai lá, não noticia, parece até num pacto de esquecimento deliberado. Será que ser cidadão de Montes Claros já nada mais acrescenta? Será que o “honorário” não mais é uma questão de muita honra? É uma incógnita para os matemáticos das pesquisas de opinião, pois quando um assunto não mais dá ibope é preciso pesquisá-lo mesmo que seja por curiosidade. Ou há uma campanha surda e silenciosa contra as homenagens da Câmara?

Veja o leitor que tenho razão de estar escrevendo, aqui, sobre o assunto. É que a reunião do diploma do Roque Barreto não foi uma sessão comum, foi uma apoteose, a que esteve presente até o meu amigo Jair Caldeira, por sinal um dos mais entusiasmados. Tudo preparado em matéria de promoção - louve-se mais uma vez o Roque como o relações-públicas do ano - não faltou um só detalhe da parte do público, já que a Câmara nem poderia suspeitar do banquete cívico que convocara. É que os amigos e colegas do novo cidadão não foram lá de brincadeira, levaram o assunto a sério, começando pela pontualidade. Na hora marcada, a casa já estava cheia, com Roque sem saber se ficava sentado ou de pé, tanto convidado havia para receber, para dar tapinhas nas costas.

Do lado pessoal, é bom explicar que o discurso do Roque já estava pronto há dois meses, datilografado em espaço três, fita nova na máquina para ficar mais visível, letra grande, vocabulário escolhido, frases curtas, pontuação equilibrada, lugares marcados para gesticulação, tempo cronometrado, tudo planejado como se fosse a fala do trono da Inglaterra. Um capricho na minha vida de redator. A indumentária do dono da festa foi o nosso assunto mais importante do último mês: a cor do terno, um azul entre o cinza e o chumbo, a camisa, a gravata de crochê com matizes de ultramar, as meias com baguetes em relevo, os sapatos de pelica negra novinhos e bem polidos, tudo novo até o lenço e a cueca...

O nó da gravata e o colarinho foram objeto de muito cuidado até à última hora, segundos antes de ser recebido pela comissão introdutória composta dos vereadores Cláudio e Pimentel.

As presenças do padre Murta, representante do poder espiritual; de Luiz Modesto e José Lúcio, do poder econômico; de José Maria, do poder executivo; de Juarez Antunes, do poder sindical; dos vizinhos e familiares, do poder do amor; da própria Câmara, como poder legislativo; e nossa - falo em nome de quase uma centena de funcionários do Banco do Brasil - o maior poder de apoio e de aplausos que um baiano de Amargosa pode receber na vida. Nada faltou, ou quase nada, notada apenas a ausência de Ildeu Gonzaga, que poderia ter dado um show à parte. Foi uma noite de glória, de emoção nunca vista, nunca ouvida ou apalpada. Foi como se cada um estivesse ligado a uma antena de sensibilidade.

Só para terminar, sem exagero: da tribuna, até o lugar que lhe foi destinado, Roque Barreto levou dez minutos para chegar, pois Câmara e Mesa se derramaram em cima dele de abraços que nunca acabavam. O Haroldo quase chorou, ele é o descobridor do Roque como carnavalesco dos anos sessenta (Carnaval em Moc só na base do Roque). Do plenário até a porta da rua, vinte minutos. Já ia me esquecendo: o Roque foi levado à Câmara pelo Jadir Colares Duarte, melhor motorista e dono do mais lindo e rico automóvel da classe bancária: um Del-Rey metálico prateado, novinho, zero e pouco! A Globo não sabe o que perdeu: já pensou se ela tivesse televisionado tudo, assim com quatro ou cinco câmaras, buscando cada detalhe?

Parabéns ao Vereador Milton Cruz por ter inventado o projeto.


COMPANHEIRO

Yvonne de Oliveira Silveira
Cadeira N.5
Patrono: Antônio Ferreira de Oliveira

Tu foste o companheiro, o escolhido,
Para comigo andar pelo viver.
E, por longos anos, nosso amor vivido
Amparou-me com a força do teu ser.

Sem o amor a união teria ido
Para o abismo letal, sem se deter,
E eu não poderia ter sentido
A felicidade de te pertencer.

Companheiro, de ti me orgulhei,
Do teu caráter, da dignidade
A dirigir-te no labor constante.

Partiste, porém, e nesta soledade,
A dor me consumindo, já bem sei
Que irei encontrar-te a qualquer instante.

Dezembro de 2009.


Yvonne de Oliveira Silveira e Olyntho Silveira


SÍTIO AZEDO

Yvonne de Oliveira Silveira
Cadeira N.5
Patrono: Antônio Ferreira de Oliveira

Quando o prof. Juvenal Caldeira Durães, meu colega de magistério na E. E. Prof. Plínio Ribeiro e na Faculdade de Filosofia, publicou o livro Experiências de uma Vida, surpreendeu a todos nós.

Professor de matemática, ciência que não admite especulações sem base teórica, muito menos fantasias, dedicado e competente, depois de aposentado, surge escrevendo livros. As memórias, bem escrito, sem saudosismos cansativos, texto interagindo com o autor, homem equilibrado e correto. E aí estão as Experiências de uma Vida na prateleira dos memorialistas da Literatura Montes-clarence, guardando as recordações do prof. Juvenal Durães, em espaço e tempo da historia de Montes Claros.

Causando nova surpresa, eis outro livro, o Sitio Azedo, que apresentamos nesta noite, vindo revelar-nos que, ao lado do estudo das ciências exatas, também, se dedicou à literatura dos poetas, romancistas, filósofos e sociólogos, pelas citações que faz, narrando a historia de Fátima, personagem que provoca o libelo do prof. Juvenal Durães.

O Sítio Azedo não é romance nem memória ou nenhuma das espécies do gênero literário narrativo, embora uma narrativa.

Isto, porém, não importa e, sim, o seu valor, o interesse que desperta no leitor, interligando-o ao libelo do autor contra a situação de contrastes do nosso País, riqueza e miséria, belezas naturais e construídas nas capitais, e secas e abandono, no sertão.

O confrade Petrônio Braz, no Prefacio, é menos categórico e, em vez de libelo, considera o Sítio Azedo um retrato fiel das desigualdades sociais, um alerta, uma crítica.

Já o outro confrade, Dário Cotrim, também prefaciando, classifica-o de “análise dos absurdos da política brasileira”.

Concluímos, por estas ponderações, que o autor, aproveitase da história de Fátima para mostrar os abusos do poder, e protestar.

Fátima, real ou fictícia, é natural do Sítio Azedo, um dos muitos espaços de aglomerados humanos do Brasil, diz o autor: “Um lugar desprovido dos mais elementares recursos e de meios propícios para a sobrevivência digna do ser humano”.
É o espaço onde vive a família de José e Antônia, escolhida, assim esclarece-se “... para que eu pudesse relatar, com fidelidade a realidade vigente..”. Com esta afirmativa está clara sua intencionalidade.

Se o Sítio Azedo, José, Antônia e Maria de Fátima existem ou não, o leitor fica entre o estado intermediário de realidade e ficção, angustiado com o sofrimento de muitos brasileiros, ou admirando a produção inteligente do autor.

Assim, a técnica narrativa do Sítio Azedo, para nos mostrar a “realidade vigente”, é um ir e vir entre as duas realidades: a história de Fátima, de miséria e sofrimento e as descrições da beleza e riqueza das capitais dos Estados do Norte e Nordeste.

A miséria vem do abandono dos que governam com a corrupção e abusos do poder.

Neste ir e vir, as citações de poetas, filósofos e autores reforçam as reflexões do autor e revelam as fontes em que vem bebendo conhecimentos e inspiração.

A narrativa do Sítio Azedo é construída através das realidades, predominando a vida da personagem central, pois é desta vida, no espaço sem moral, de promiscuidade, fome, doenças, vidas sem Deus, mas alimentadas pelo fanatismo do milagroso padre Cícero, que o autor faz um interessante tecido, deixando o leitor revoltado com a existência do Sítio Azedo, e atraído pela leitura até o final, quando Fátima, depois de abandonar pais, marido brutamontes e filhos, alcança a libertação, o bem estar, a felicidade.

É possível? Sim, pois a miséria não é espaço para o amor de mãe, para nenhum amor.

Inteligentemente, o autor Juvenal Durães usou a técnica narrativa de lançar o seu libelo contra uma realidade dolorosa de injustiças sociais centralizando a vida de uma personagem daquele ambiente, em vez de uma simples explanação, em texto discursivo.

Cria um universo dietético fascinante, para colocar o leitor revoltado e, ao mesmo tempo preocupado com a impossibilidade de nada poder fazer para melhorar a situação.

A reconstituição da história de Fátima sem diálogos, apenas com algum monólogo interior - ou inventada - é cristalizada a partir do encontro do autor com ela – personagem do universo


Petrônio Braz, Wanderlino Arruda, Yvonne Silveira, Dario Cotrim, Juvenal
Caldeira e dona Rosa

dietético de chagas impiedosas e incuráveis, nos deserdados, é a essência do libelo de Juvenal Durães no Sítio Azedo.

A força da tensão da narrativa está subentendida no sofrimento de um brasileiro – o meu colega Juvenal - com realidade vigente – cito-o novamente.

Ao apresentar o seu livro, atendendo, prazerosamente, o seu convite, afirmo que você deixa a frieza do cálculo para o calor da fantasia literária, usando a palavra – precioso dom de Deus - em vez dos números, a fim de produzir textos de valor e encantamento para os que os lerem.

Apresento-lhe, com minha admiração e felicitações, os aplausos da Academia Montesclarense de Letras, desejando-lhe sucesso na nossa caminhada, a que nos dá o prazer de produzir e encantar: a caminhada do lutador com a palavra, bem mais fácil e encantatória do que com os números.

Parabéns, Juvenal.

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Apresentação do livro “Sítio Azedo”, no Centro Cultural Hermes de Paula, lançamento do referido livro, pela Profa. Yvonne de Oliveira Silveira. Presidente da Academia Montesclarense de Letras; Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros / IHGMC. Em 05/02/2010.
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RETALHOS HISTÓRICOS

Zoraide Guerra David
Cadeira N. 86
Patrono: Patrício Guerra

Tentando organizar meu acervo literário, dentre pilhas de papel, deparo-me com um soneto, datado na década de 80, autoria do poeta Mariano Félix Goes:

Educadora

À emérita Profª Zoraide Guerra David

Alcandorada e excelsa educadora
Da Escola Normal de Montes Claros,
Levas à juventude sonhadora,
No idioma português, teus dons aos avaros...

Educas com visão supervisora
Pelos teus dotes culturais e raros,
Que te fazem feliz, na redentora
Trajetória dos teus ideais preclaros.

Prossigas teu caminho enflorescido,
Rumo ao solar da glória além erguido
A espargir o tesouro da cultura...

Legar à juventude o ideal saber,
È ser Pátria, é ser Mãe, é Tudo ser
- É ser divinizada criatura!

A emoção impulsionou-me a localizar um acróstico que teci homenageando a Escola Normal. Datado de 21 de setembro de 1971, em cópia mimeografada, publicado num jornal daquele educandário, eis sua mensagem:

 

MENSAGEM DE CONFRATERNIZAÇÃO

Zoraide Guerra David

Aos caros colegas e alunos do Colégio Estadual Prof. Plínio Ribeiro, pela comemoração do seu 92º aniversário.

Companheiros, marchemos corajosos,
Olhar sereno e puro o coração,
Limiando a estrada esperançosa
E enobrecendo tão árdua missão.
Galgar os cimos e sentir a glória
Infinita de dar-se ajuda ao irmão
O que mais poderia premiar-nos?

E dar certeza de uma boa ação?
Se a nós compete cultivar com esmero,
Ter que lutar e ser heróico e forte,
Aangústia, o cansaço, o desespero,
De nós que se afastem a qualquer sorte.
União faz a força. Eis a verdade,
A pontada na vida a cada instante.
Levando-nos a ser: REALIDADE

Pelo elo entre o mestre e o estudante
Ressurgir confiante a cada tombo
Ou esmagar o egoísmo vil.
Fluidificar a dor, erguer do escombro
E lutar honestamente com armas mil,
Sentir que a energia recobrou-se,
Sorrir quando o desejo é só chorar,
Olhar e perceber que realizou-se
Rico trabalho: ensinou-se a amar.
Pelos festejos do nosso Colégio,
Leais, felizes, com ardor e fé,
Ivestidos do nobre privilégio,
Não neguemos ação. Prontos! De pé!
Incentivemos nosso aluno a ser,
O homem ou a mulher do amanhã,
Reafirmando que estudar é ter
Infinda recompensa; nunca vã.
Buscai caros alunos compreender:
Estudar é preparar Brasil seguro.
Investir contra o mal é proceder
Renhida luta em busca do futuro.
O tempo é ouro e belo é o saber !

Gratificante usar da memória para reviver e aquilatar o valor da missão de educadora naquele conceituado educandário.

Dentre tantos colegas dignos, destaco o responsável, educado e competente professor Simeão Ribeiro Pires. Ele que já galgara o cimo do destaque social, político, econômico e literário, deixava extravasar em seus bate-papos na Sala dos Professores uma simplicidade cativante.

A 27 de dezembro de 2007, surge um momento marcante para Montes Claros.

Foi criado o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, com a “missão de pesquisar, interpretar e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos, arqueológicos, genealógicos, assim como fomentar a cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural de Montes Claros e do Norte de Minas”.

Ao transcrever esse excerto da apresentação da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros – Volume I, página 09, referendo seus objetivos, enfocando esses dois patrimônios históricos: a Escola Estadual Professor Plínio Ribeiro – Escola Normal de Montes Claros e o historiador Simeão Ribeiro Pires - patrono da cadeira 93, da referida agremiação cultural, ocupada pelo atual presidente e reconhecido historiador Dário Teixeira Cotrim.

A corrida do tempo não apagou a lembrança dos momentos vividos naquele educandário. Porque: aqueles estudantes que ajudamos a formar na Escola Normal são profissionais hoje prestando serviço a comunidade norte-mineira e o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - Casa de Simeão Ribeiro Pires -, ao prestar-lhe essa homenagem de resgate histórico, está a afirmar-nos seu senso de justiça norteando sua dinâmica de trabalho, enquanto estimula-nos a darmos nossa contribuição tão necessária.


VIDA DE SACRIFÍCIOS E DE VITÓRIAS

Avay Miranda
Sócio Correspondente
Brasília/DF

Normalmente uma pessoa que teve vida pública, somente depois da morte que os fatos de sua existência são destacados. Aí os jornais e outros meios de comunicação dão a sua biografia, narrando as passagens principais de sua família e os feitos de sua vida.

Nesta matéria, a pedido de parentes e amigos, quero deixar registradas algumas passagens de minha vida, que, como está no título, é cheia de sacrifícios, porém, com muitas vitórias, até não esperadas, além de registrar passagens especiais na minha vida profissional.

Nasci na Fazenda Coqueiro, em Taiobeiras, em 21 de junho de 1937. Sou o terceiro filho de Isalino Miranda Costa e de Elvira Mendes, cujo casal gerou uma grande prole, de 13 filhos, dos quais, 11 estão vivos. Quando criança, eu era muito raquítico, sentia indisposição até para brincar e minha família achava que não tinha condições de sobreviver. Porém, fui crescendo e adquiri uma boa saúde, que até hoje não faço uso contínuo de qualquer medicamento.

Aprendi as primeiras letras em escola particular, com a Professora Joana Rodrigues de Souza, na Fazenda Coqueiro. Executei todo serviço de roça, que está a altura de uma criança. Meu pai fazia moagem de cana, fabricava rapadura e tinha tenda de farinha, além de criar gado leiteiro, porcos e galinha. Eu guiava os bois carreiros, era o encarregado de cuidar dos animais, conduzia as vacas para as mangas e para o curral, apartava os bezerros, alimentava os animais pequenos.

Posteriormente, meu pai instalou uma fábrica de cachaça e eu era o alambiqueiro.

O meu pai possuía um grande pomar, próximo da casa. Na sexta-feira eu colhia e no sábado ia vender frutas na feira de Taiobeiras, conduzidas num carro de boi, como laranja, tangerina, manga, carambola, figo, banana, mamão, abacate, pêssego e outras.

Fico admirado quando os Congressistas criam leis proibindo o trabalho de menores, limitando a idade de 16 anos para começar trabalhar. Não sou a favor do trabalho análogo ao escravo, mas, trabalho não é negativo para ninguém. Quando o jovem passou dos 16 anos, ele já está com sua personalidade formada, querendo namorar, não tem condições de aprender a trabalhar.

Comecei a trabalhar muito cedo e acho que isto apenas me fez bem. Gosto do trabalho. Tanto que me aposentei e continuo trabalhando, por prazer.

Em fevereiro de 1952, como eu e meus irmãos estávamos em idade escolar, meus pais transferiram residência para Taiobeiras, onde frequentei a escola da Professora Elizabeth Rodrigues de Souza e a partir de agosto de 1952 e em 1953, fiz o 2º e o 3º anos primários com o Professor Péricles de Araújo Passos.

Este professor notou que eu era dedicado aos estudos e com facilidade de aprender os ensinamentos, passou a me incentivar a sair de Taiobeiras para continuar os estudos em outras cidades. Nos domingos, ele me convidava para almoçar com ele, quando me narrava as vantagens de continuar os estudos e de minhas possibilidades futuras. Posteriormente, ele procurou o meu pai e disse que ele deveria aproveitar o potencial que existia em mim e me enviar para outra cidade para continuar a estudar.

Meu pai disse que me daria todo o apoio moral, mas, financeiro, por causa da quantidade de filhos, ele não tinha condições de me dar. Então decidi que eu teria que trabalhar durante o dia e frequentar à noite. Resolvi ir para Montes Claros, a cidade mais próxima que oferecia condições.

No dia 20 de janeiro de 1954 saí de Taiobeiras, com destino a Montes Claros. O transporte foi um caminhão e eu, juntamente com outros passageiros, viajamos sobre a carga daquele veículo. Demoramos dois dias, por estradas de terra, para percorrer pouco menos de 300 quilômetros. Em períodos de chuva já viajei três dias de caminhão para fazer o percurso de Montes Claros a Taiobeiras. Hoje, com a estrada asfaltada, se gasta três horas para fazer o percurso de 260 km.

Chegando em Montes Claros, fui hospedar-me numa pensão de uma conterrânea, que ficava na Rua Dom João Pimenta.

Montes Claros, em 1954, tinha uma população em torno de 100 mil habitantes. A cidade era composta pelo centro e os bairros principais eram: Roxo Verde, Cintra, Santo Expedido, Alto São João, Santos Reis, Morrinhos e Vila Brasília. Como Montes Claros atraía muita gente de fora, estavam em implantação, os Bairros São José, Todos os Santos, Cândida Câmara, Santa Rita, Ipê, hoje denominado Edgar Pereira, e o Bairro de Lourdes.

A luz era gerada em uma usina tocada a motores a diesel, instalados num lote de terreno da esquina das ruas Grão Mogol e Padre Augusto, onde é a sede da CEMIG, atualmente.

Comecei a trabalhar na Indústria de Laticínio São José, depois transformada na Cooperativa Agro Pecuária de Montes Claros. Em cinco meses, trabalhei em todos os setores do Laticínio, exceto o Laboratório e o Escritório.

Submeti-me ao concurso de Admissão, fui classificado e comecei a fazer o curso ginasial. Não fiz o 4° ano primário. Tinha o 3° ano e passei no curso de admissão.

Como o salário que recebia não dava para as minhas despesas, tive que mudar para um pensionato, na rua São Francisco, acima da linha férrea, pagando um valor menor para alimentação e dormida. Depois residi numa pensão na Rua Carlos Pereira, outra na Rua Rui Barbosa e, finalmente, fui residir no Hotel Glória, na Rua São Francisco.

Fiz o curso Ginasial, entre 1954 e 1957 e, em seguida, o Curso Técnico em Contabilidade, entre 1958 e 1960, no Instituto Norte Mineiro de Educação, todos no turno noturno.


Turma do Curso Técnico em Contabilidade no INME

A partir de agosto de 1954 fui trabalhar na loja de tecidos, denominada Casa Mato Verde, instalada na Rua Coronel Antônio dos Anjos. Por orientação de meu pai, em fevereiro de 1955 fui para Belo Horizonte para continuar os estudos naquela capital. Matriculei-me num curso noturno e comecei a frequentar as aulas. Entretanto, a exemplo do que aconteceu em Montes Claros, precisava trabalhar para sustentar-me e manter os estudos.

Não consegui um emprego fixo. Fui ser vendedor de uma casa atacadista. Foi muito bom, porque conheci vários bairros de Belo Horizonte, daquela época. Como a renda não estava dando para a minha manutenção, tive que regressar para Montes Claros.

Em de março de 1955, fui trabalhar no Bazar Queiroz, situado na Rua Rui Barbosa, nas lojas da Prefeitura Municipal, que foram demolidas, onde hoje existe o Shopping Popular. Em janeiro de 1959, casei-me com uma montes-clarense, Maria de Lourdes Mendes, tendo com ela seis filhos, montes-clarenses: Ireny, Avay Júnior, Denir, Ely Renê, Cláudio Amaury e Hernani Leonardo.

Trabalhei no Bazar Queiroz de 1955 até o final de 1959. Em 1960 coloquei uma loja de tecidos, confecções e calçados, em sociedade com meu sogro, na Rua Coronel Antônio dos Anjos, também, numa das lojas da Prefeitura Municipal, que foi demolida, posteriormente.

Anos depois vendi a loja da Rua Coronel Antônio dos Anjos e coloquei uma loja de brinquedos e confecções para crianças, na Rua Simeão Ribeiro.

Fiz o vestibular e iniciei o curso de Direito em 1965, fazendo parte da primeira turma da Faculdade de Direito do Norte de Minas - FADIR, de Montes Claros, colei grau no dia 8 de dezembro de 1969. Fui o primeiro aluno daquela Faculdade a conseguir a inscrição na OAB-MG, sob o nº 19.201, porque já trabalhava no Setor Jurídico do Banco do Nordeste do Brasil S/A.


Colação de Grau em Direito, em 08/12/1969

Em 1966 fui candidato a Vereador, em Montes Claros, pela ARENA-2, recebi 401 votos. Não fui eleito, porque faltaram 15 votos na minha legenda, então fiquei na primeira suplência. Por causa da legenda, tomou posse, como o 15° vereador, um candidato do MDB, menos votado.

A minha vida em Montes Claros foi muito sofrida. No início senti muito a minha separação da família, uma vez que nunca havia saído da companhia de meus pais e irmãos. Lutei com dificuldade para criar os filhos. Não tinha condições nem de comprar um veículo velho. Meu meio de transporte era a bicicleta. Somente no final de 1968 que comprei o primeiro veículo, um Jeep Willys. A minha vida começou a melhorar, depois que fui para o Banco do Nordeste do Brasil S/A.

Fiz concurso para Escriturário no Banco do Nordeste do Brasil S/A, sendo classificado, vendi a loja da Rua Simeão Ribeiro e fiquei aguardando a chamada do Banco. Fui nomeado para a agência de Guanambi-BA, onde tomei posse, ficando naquela agência de outubro de 1967 a agosto do ano seguinte.

Em Guanambi entrosei-me bem com a sociedade local, criei a Associação Comercial e Industrial de Guanambi e fundei um jornal com o nome de “O Jornal de Guanambi”. Nesta cidade fui admitido como sócio do Lions Club de Guanambi. Quando voltei para Montes Claros, transferi minha filiação para o Lions Club de Montes Claros.

Voltando para Montes Claros, apesar do tempo em que fiquei em Guanambi, no início de 1968, fui a Montes Claros e fiz as provas finais do ano anterior, na Faculdade de Direito. Com o meu regresso a Montes Claros, continuei no 4° ano da FADIR, cursando mais duas matérias do 3° ano, porque não havia frequência suficiente para ser aprovado no ano anterior e terminei o curso de Direito, junto com a primeira turma, em dezembro de 1969.

O Banco do Nordeste do Brasil S/A necessitava de um Advogado para assumir o serviço na Agência de Montes Claros. Por indicação do gerente Cecílio de Souza Barbosa Júnior, em 1970 fui chamado para fazer um estágio no Departamento Jurídico do Banco, em Fortaleza – Ce, onde passei quatro meses.

Depois daquele estágio, voltei para Montes Claros e fui trabalhar como advogado do Banco em todo o Norte de Minas e em Belo Horizonte. Como Solicitador, não podia assinar as petições iniciais, então eu elaborava as peças, enviava para o Departamento Jurídico do Banco, em Fortaleza, lá eram assinadas por um advogado e devolvidas para eu encaminhar ao Juiz e acompanhar até o final.

A direção da Faculdade e os formandos lutaram muito para conseguir o seu reconhecimento pelo Ministério da Educação.

Fui um dos que empenharam nisto, indo até o Rio de Janeiro entrar em contato com membros do Conselho Nacional de Educação, pedindo prioridade.

Como a FADIR foi reconhecida pelo Ministério da Educação, peguei uma declaração do Banco de que eu necessitava do registro na Ordem para ocupar o cargo, a OAB-MG me concedeu prioridade no registro, que foi o primeiro dos formados da FADIR, como registrado acima.

Como advogado do BNB, participei de diversos seminários promovidos pelo referido Banco, em Salvador, Recife e Fortaleza-Ce. Exerci o cargo de Advogado do Banco do Nordeste no Norte de Minas, atendia a todas as agências então existentes em Minas, como Montes Claros, Brasília de Minas, Januária, Porteirinha e Salinas, atuando em todas as Comarcas da Região.

Em 1976 fiz concurso para Juiz de Direito do Estado de Minas Gerais. Fui classificado, mas, não quis ser nomeado inicialmente, porque, como advogado do BNB, ganhava mais do que um Juiz. Morei em Montes Claros 23 anos e cinco meses, com uma pequena interrupção de 10 meses que residi em Guanambi-Ba.

Presidente do Tribunal do Júri, em Janaúba, em 02/04/1979.

Em 1977, aceitei a nomeação, depois da reforma do Judiciário e que os vencimentos do Juiz em Minas ficaram mais compatíveis com a responsabilidade do cargo. No dia 31 de julho de 1977, tomei posse como Juiz de Direito da Comarca de São Francisco. Ali permanecendo até março de 1978, quando fui removido, a pedido, para a Comarca de Janaúba.

Permaneci em Janaúba até março de 1980, quando fui promovido, por merecimento, para a Comarca de Francisco Sá, então de segunda entrância.

No mês de junho de 1980 submeti-me ao concurso para Juiz de Direito Substituto da Justiça do Distrito Federal, tendo êxito, fui nomeado e tomei posse em 15 de setembro de 1980. Como Juiz Substituto, atuei em quase todas as Varas de Brasília, inclusive o Tribunal do Júri e fui promovido para Juiz de Direito, sendo o primeiro titular da 3ª Vara Cível de Taguatinga.


Prestando compromisso na posso no Cargo de Juiz de Direito Substituto, no
dia 15/09/1980, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

Como Juiz titular, fui convocado para atuar no Tribunal de Justiça como Desembargador Substituto. Participei de vários Congressos de Magistrados, de âmbito nacional, especialmente em Belo Horizonte, Campo Grande, Goiânia e Recife. Completando meu tempo, aposentei-me em abril de 1988.

Em setembro de 1984 contraí segundas núpcias com Lúcia Miranda Brito, com quem não tenho filhos.

O filho Avay Miranda Júnior casou-se com Anágela Silveira de Sá, também montes-clarense e teve os filhos: Pedro Henrique, casado com Mariana Melo Machado; Maria Clara, Giovani e Luíza Mariana; Denir Mendes Miranda casou-se com Maria Cristina Gouveia Paranhos Miranda e tem os filhos: Rafael e Luiz Filipe; Ely Renê Mendes Miranda, casou-se com a peruana Êmiko Karina Arrunategui Miranda e tem as filhas Natália e Cecília; Cláudio Amaury Mendes Miranda, casou-se com montes-clarense Symone Rodrigues Jardim e tem os filhos Tiago e Lucas; e o caçula, Hernani Leonardo Mendes Miranda, em 23.01.2010, casou-se com Patrícia Teixeira Casela.

 

UM POUCO DA VIDA PÚBLICA

Ao longo da minha vida, fui agricultor, industriário, comerciário,
comerciante, bancário, advogado e Juiz de Direito em três
Comarcas do Estado de Minas Gerais e no Distrito Federal.

Em 1956, fui servir ao Tiro de Guerra. Frequentava as instruções a partir da 6 horas da manhã, trabalhava durante o dia na loja Bazar Queiroz, estudava à noite e ainda sobrava tempo para namorar. Mesmo com todas estas incumbências, dava conta de tudo. Terminei a prestação de serviço ao Tiro de Guerra com zero ponto perdido. Não cometi nenhuma falta naquele ano e somente assim consegui esta condição. Nunca fui reprovado nos estudos.


A Família de Isalino Miranda Costa e D. Elvira Mendes.


Quando prestava Serviço Militar, em 1956.

Em Montes Claros participei de vários movimentos sociais e fiz parte de diversas entidades. Como estudante, participei do Diretório Central dos Estudantes Secundaristas de Montes Claros.

O Rotariano Idelbrando Mendes arregimentou uma plêiade de jovens, entre eles, eu fazia parte e fundamos o Orbis Clube de Montes Claros, em 01.05.1960. Orbis Clube é um clube de serviço, composto por jovens de 18 a 26 anos de idade. Fui Tesoureiro, Diretor de Protocolo e Presidente deste clube e, Governador, para os Estados de Minas Gerais e Goiás.

Em 1962, passei a ser sócio do Circulo de Trabalhadores Cristãos de Montes Claros, do qual ocupei o cargo de Secretário Geral, por vários anos, porque, mesmo na alternância do poder, o novo presidente me mantinha no cargo.

Com o apoio da diretoria, criei um programa radiofônico e fui seu apresentador durante 10 anos, na Rádio Sociedade Norte de Minas, de prefixo ZYD-7. Participei de vários seminários regionais e congressos nacionais dessa organização, especialmente em Salvador, Belo Horizonte e São Paulo.

Além de apresentar o programa na ZYD-7, eu passei a transmitir notícias rápidas das ruas. Fui o locutor da solenidade de instalação do Escritório da SUDENE em Montes Claros e transmiti alguns comícios da política local e de candidatos ao governo do Estado.

Concomitantemente, eu era comerciante e ocupei o cargo de Secretário-Geral da Associação Comercial e Industrial de Montes Claros – ACI. Numa de suas reuniões semanais, sugeri a criação de uma associação para congregar todos os Municípios Mineiros da área de atuação da SUDENE, que foi a ideia geradora da AMAMS. A sugestão foi criando corpo, o Prefeito da época, Dr. Pedro Santos apoiou e, posteriormente virou esta potência que é hoje, de suma importância para todos os Municípios do Norte de Minas que fazem parte da área da SUDENE.

Quando era Secretário-Geral da ACI, no mandato do Presidente Alberto Celestino Ferreira, aconteceram coisas engraçadas. Como exemplo, era Prefeito de Montes Claros o Dr. Pedro Santos. Como ele não tinha apoio político suficiente, todas as iniciativas para melhoramentos de Montes Claros eram encabeçadas pela ACI, chegou ao ponto de numa reunião ordinária, quando a Diretoria estava discutindo uma ideia para reivindicar melhoramentos dos governos Estadual e Federal, o Presidente Alberto Celestino Ferreira desabafou: “parece que a ACI virou o Legislativo e o Executivo de Montes Claros.”

Foi graças à atuação da ACI, nas décadas de sessenta e setenta, que Montes Claros conseguiu o início do asfaltamento da estrada para Belo Horizonte, o aeroporto asfaltado, a transmissão da energia elétrica de Três-Marias, a ligação do interurbano, a transmissão da televisão de Belo Horizonte, a instalação do Distrito Industrial, a instalação do Escritório da SUDENE, a ligação asfáltica com a BR-116, a Rio-Bahia e muitos outros melhoramentos.

Como Secretário-Geral da ACI, juntamente com a Secretaria Executiva da entidade, elaborei uma monografia sobre Montes Claros, denominada “A SUDENE COMEÇA EM MINAS”, na qual demonstrava seus aspectos físicos, climáticos, turísticos, econômicos e mostrava a infraestrutura existente para o progresso. Este documento foi de grande importância para Montes Claros, porque nele demonstrei o potencial que a cidade possuía para implantar o Distrito Industrial.

Com alguns colegas de Escola, criamos um Jornalizinho para dar notícia sobre as atividades de nossa turma e do Instituto Note Mineiro de Educação. Waldyr Senna Batista era o redator de “O Jornal de Montes Claros” e estudava na mesma escola. Ele tomou conhecimento de nosso Jornalzinho, então me convidou para ser colaborador daquele Jornal. Passei a escrever crônicas, fazer pequenas reportagens e depois o Waldyr Senna Batista me passava incumbências maiores, como cobrir um encontro de Prefeitos que se realizou em Januária, o encontro de investidores, realizado em Pirapora, visita de autoridades a Montes Claros e muitos outros.

Naquela época a Delegacia de Polícia de Montes Claros era ocupada, geralmente, por Policiais Militares reformados. Waldir Senna Batista e eu sustentamos uma campanha, pelo Jornal, com notícias e entrevistas com as autoridades locais, sobre a necessidade de designação de Delegado, Bacharel em Direito, para ocupar o cargo, ou seja, que a Delegacia de Polícia fosse ocupado por um membro da Polícia Civil. Logo em seguida, a campanha obteve êxito, com a designação pelo Governador do Estado de um Delegado, Bacharel em Direito.

Nesta época passei a ser o correspondente em Montes Claros, do “Diário de Minas”, de Belo Horizonte, onde consegui várias manchetes de notícias interessantes, sendo uma delas, uma grande notícia que enviei sobre o fenômeno da água quente natural, existente no Distrito de Água Quente, do Município de Rio Pardo de Minas, que não era conhecida fora da região. Na época havia poucas casas residenciais no local.

Em 1972, era Prefeito de Taiobeiras o meu pai, Isalino Miranda Costa. Em determinado dia, chegou em Taiobeiras um Diretor do DER com o jornal que publicou a notícia e perguntou onde ficava aquela localidade. O meu pai disse que a reportagem fora feita pelo filho dele e cedeu o transporte para o Diretor do DER ir à localidade no Município de Rio Pardo de Minas.

O DER interessou pelo assunto, construiu uma casa no local, melhorou o estado das estradas, incentivou o pessoal de Belo Horizonte e de outras cidades a visitar a localidade para desfrutar do fenômeno da água quente natural. Outras casas foram construídas, a população aumentou, dando condições para o Distrito se emancipar politicamente de Rio Pardo de Minas, em 1° de janeiro de 1993 e tornou-se no Município de Montezuma.

A minha passagem pelo jornalismo foi uma boa escola. O sistema de redação que aprendi para escrever as notícias e os artigos me serviu para todos os concursos que fiz, depois disto.

Waldir Senna Batista teve a ideia de se criar as associações dos moradores dos bairros. Convidou-me para participar do movimento e, juntamente com ele, elaboramos o estatuto, fundamos as primeiras associações dos moradores de Bairros em Montes Claros e criamos a UNAB – União das Associações de Moradores de Bairros de Montes Claros.

Naquela época, como Montes Claros passava por uma fase de prefeitos inoperantes e ruins, o Orbis Clube, do qual eu fazia parte, resolveu lançar uma campanha de esclarecimento politico. Em parceria com a direção de “O Jornal de Montes Claros” criamos uma coluna semanal, denominada “Coluna de Debates” e eu fui encarregado de escrever as matérias. Durante vários meses o Orbis Clube abordou os temas relacionados com a Administração Municipal, criticando os erros e indicando os caminhos que achava corretos.

Pode ter sido coincidência, mas, as facções políticas de Montes Claros, compostas pela ARENA-1, ARENA-2 e o MDB, resolveram lançar candidato único e com o apoio de toda a sociedade, foi eleito o Sr. Antônio Lafetá Rebelo, que fez uma ótima administração. Por ser ele Rotariano, assimilou todas as ideias dos jovens componentes do Orbis Clube e transformou Montes
Claros. Portanto, temos a história da Administração de Montes Claros dividida em duas partes: antes e depois da gestão Antônio Lafetá Rebelo.

Eu já havia vendido a loja da Rua Simeão Ribeiro e estava esperando ser chamado pelo BNB para tomar posse do cargo de Escriturário, quando o Prefeito Antônio Lafetá Rebelo me convidou para ocupar o cargo de Auxiliar de Gabinete, cujo cargo exerci até o mês de outubro de 1967, quando fui tomar posse no BNB em Guanambi - BA.

Quando Antônio Lafetá Rebelo foi candidato a Prefeito, em 1966, fui candidato a vereador, ficando na primeira suplência da ARENA-2. O titular, Vereador Jonas Alves de Almeida entrou de licença por 4 meses, em 1969, como primeiro suplente, exerci o cargo por igual tempo.

Não sou daqueles que medem a atividade do vereador pela quantidade de projetos de leis apresentados. Acho que o país já possui muitas leis, falta é o cumprimento delas, por isto, não apresentei nenhum projeto de lei, mas, ofereci várias sugestões por meio de requerimentos, proposições e pedidos de envio de ofícios a autoridades e de fiscalização das atividades da Administração Municipal.

Exerci o meu tempo de vereador em Montes Claros, tendo como companheiros pessoas dignas e conceituadas, como Dr. Simeão Ribeiro Pires, Dr. Sidney Chaves, Dr. Francisco José Pereira, Wanderlino Arruda, Pedro Narciso, Dr. José da Conceição Santos, Neco Santa Maria e muitos outros.

Quando saiu a estatística anual da Câmara de Vereadores, no fim de 1969, fui surpreendido com a informação de que eu fui o Vereador que mais apresentou requerimentos e proposições naquele ano, tendo exercício a vereança apenas três meses, porque um mês foi de recesso.

Em 1962 ingressei na Conferência Bom Jesus da Lapa, da Sociedade de São Vicente de Paulo. Fui secretário, Tesoureiro, Vice-Presidente e Presidente da referida Conferência. Fui Presidente do Conselho Particular de Montes Claros, fui o primeiro Presidente do Conselho Regional de Montes Claros e depois primeiro Presidente do Conselho Central de Montes Claros, ocupando, ainda, a Vice-Presidência do Conselho Metropolitano de Diamantina, da SSVP.

Juntamente com outros confrades, fundei o Curso de Formação Vicentina, o que possibilitou a preparação de vicentinos para a expansão do movimento em todo o Norte de Minas (a respeito da minha atuação na SSVP, a Revista n° IV, do IHGMC publicou uma matéria mais ampla).

Indicado pelo Padre Geraldo Majela de Castro, antes de ser Bispo da Diocese de Montes Claros, fui um dos três primeiros leigos (com Geraldo Avelar e Mauro de Carvalho Lafetá), a fazer o Cursilho de Cristandade, em Belo Horizonte, em maio de 1970. Depois o Cursilho foi criado na Diocese de Montes Claros e proferi palestras em vários cursos.

Sou sócio-fundador da Academia Montes-clarense de Letras, sócio correspondente da Academia Anapolina de Letras, Ciências e Arte, de Anápolis-Go e da Academia Taguatinguense de Letras, do Distrito Federal. Sou cidadão honorário de Buenópolis e Janaúba, em Minas Gerais e de Taguatinga, no Distrito Federal e sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Por indicação do Deputado Cleuber Carneio, fui agraciado com a Comenda do Mérito Legislativo, pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, tendo recebido a Comenda em sessão solene, realizada no dia 15 de setembro de 1998, em Belo Horizonte.

Em 1968 fui admitido como sócio do Lions Club de Guanambi-BA. Quando voltei para Montes Claros, fui transferido para o Lions Club de Montes Claros. Algum tempo depois pedi demissão do Lions e desde 1988, com a retirada do limite de idade para ser orbiano, que faço parte do quadro social do Orbis Clube de Brasília, tendo ocupado o cargo de Diretor de Protocolo e, por vários anos, o cargo de Diretor Regional para o Centro Oeste, de Orbis do Brasil. Participei de várias Plenárias do Orbis Clube. Fui escolhido como “Orbiano Padrão” na 30ª Plenária de Caratinga-MG, em 1988, na 46ª Plenária de Guaíra-SP, em 2004 e na 51ª Plenária, de Brasília-DF, em 2009.

Em 1986 lancei um livro de crônicas em Montes Claros, Taiobeiras e em Taguatinga-DF, denominado “CRÔNICAS: Desenvolvimento, Política e Folclore”, tendo no apenso uma Monografia sobre a história de Taiobeiras. Estas crônicas foram publicadas em “O Jornal de Montes Claros” ao longo de diversos anos.

Depois de aposentado, como Juiz de Direito, voltei para minha terra natal, Taiobeiras, filiei-me ao Partido Democrata Cristão – PDC e fui candidato a Prefeito, em 1988, apoiado pelo Prefeito Geraldo Sarmento de Sena. Não fui eleito, mas, entre quatros candidatos, fiquei no segundo lugar.

Restabeleci a inscrição da OAB-MG e instalei um escritório de Advocacia em Taiobeiras, tendo advogado durante o ano de 1989. Transferi meu Escritório de advocacia, em 1990 para Brasília-DF. Em 1991 fui convidado pelo hoje Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Ferreira Mendes, para ocupar o cargo de Assessor Jurídico da Presidência da República, servindo aos Presidentes Fernando Collor de Melo e Itamar Franco.

No Governo de Itamar Franco, eu fui nomeado substituto do Chefe da Assessoria Jurídica da Presidência da República. Quando o Chefe assumiu o cargo de Ministro da Casa Civil, eu exerci a Chefia daquela Assessoria Jurídica, por vários meses.

Em 31 de dezembro de 1993, pedi exoneração do cargo, para ser candidato a Deputado Estadual em Minas Gerais, em 1994, pelo PFL, mas, não consegui me eleger, embora tivesse expressiva votação, recebendo votos em 132 Municípios de Minas Gerais.

Anteriormente, só se referia aos Municípios do Norte de Minas, individualmente. Atendendo a sugestões de amigos de Taiobeiras, adotei a ideia de se cunhar a expressão “Vale do Alto Rio Pardo”, como meio para os Municípios daquela região criar uma consciência coletiva de reivindicação. Depois de muita luta, na minha campanha, com entrevistas e pedidos aos Órgãos Públicos, o nome pegou, que hoje é conhecido em todo o país.

Reativei o meu Escritório de Advocacia em Brasília, onde exerço a profissão até hoje, em sociedade com o advogado Léo Sebastião David.

Estando filiado ao PFL, ocupei o cargo de Delegado junto ao Diretório Regional de Minas Gerais. Em 1996, sai candidato a Prefeito de Taiobeiras, numa coligação de meu Partido com o PPB e o PSB, com a denominação de “Frente Viva Taiobeiras”. Não fui eleito, mas, fiquei em segundo lugar, entre os candidatos. Logo depois desfiliei-me do PFL e filiei-me ao Partido Social

Cristão – PSC, exercendo o cargo de Delegado junto ao Diretório Regional de Minas Gerais. Em 1988 elaborei um programa de governo para sustentar minha campanha. Em 1996, atualizei o programa. Várias de minhas ideias, sobre a administração, foram adotadas pelo Sr. Denerval Germano da Cruz na sua primeira campanha e sendo eleito na segunda campanha, associadas às ideias próprias dele, colocou aquelas ideias em prática o que contribuiu para Taiobeiras despontar como o Município de maior desenvolvimento no Vale do Alto Rio Pardo.

Em 1997 editei um livro da história de Taiobeiras, com a denominado de “Taiobeiras, seus Fatos Históricos”, tendo sido lançado em Taiobeiras, Berizal, Montes Claros e Belo Horizonte, com grande repercussão na cidade, na região e em Minas Gerais, uma vez que Taiobeiras se tornou a quarta cidade do Norte de Minas a ter sua história contada em livro. No apenso ao livro, foi publicada a história de Berizal, então Distrito do Município, escrita por Maria Antônia Gomes dos Santos, professora naquela localidade.

Tenho muita preocupação em preservar a cultura, especialmente as tradições e o folclore, proporcionar meio para o desenvolvimento do artesanato e da manutenção dos marcos históricos de Taiobeiras, tendo reunido alguns artistas e artesãos e fundado a Sociedade dos Amigos das Tradições de Taiobeiras (SOATA), infelizmente, ela está inativa e com os comerciantes e industriais, fundei a Associação Comercial e Industrial de Taiobeiras (ACIT), muito atuante.

 

FATOS MARCANTES

Passo a narrar alguns fatos que aconteceram na minha vida profissional, especialmente de advogado e de Juiz de Direito. Deixo de mencionar os nomes de alguns participantes dos fatos referidos, por motivos óbvios.

EM MONTES CLAROS. Registro dois fatos marcantes, em Montes Claros. O primeiro. Um fato que aconteceu comigo na Câmara de Vereadores. Naquele tempo vereador não tinha vencimento e nem qualquer outro benefício. Houve uma proposição de um vereador para que a Câmara de Vereadores de Montes Claros enviasse uma moção ao Presidente da República e ao Ministro da Justiça, pedindo que se instituísse uma remuneração para os Vereadores.

Na hora da votação, cada Vereador manifestava o voto, de acordo com seu pensamento e alguns encaminhavam o voto, justificando sua posição. No encaminhamento do meu voto, aleguei que eu achava que o Vereador não devia ganhar nada para exercer esta função pública e que eu já vinha trabalhando pela comunidade como voluntário e nada recebia. Além disto, aleguei que em 1966 nós, candidatos a vereador, informamos aos eleitores que queríamos trabalhar pelo povo sem nenhuma pretensão pessoal, portanto, o meu voto foi contra aquela proposição.

Foi o único voto contrário à proposição. Portanto eu fui minoria absoluta e foi o voto que muito me honrou. Tive orgulho daquele único voto, porque até hoje penso que a vereança deve ser exercita gratuitamente, por pessoas de espírito público, como eram todos os candidatos de 1966.

O segundo fato. Em 1976, eu era advogado do Banco do Nordeste do Brasil S/A e concursado para Juiz de Direito de Minas Gerias. Naquela época o concursado somente era nomeado quando manifestasse interesse ao Presidente do Tribunal. Fui classificado no concurso, mas não aceitei a nomeação inicialmente.

Fazia parte do corpo de jurados da Comarca de Montes Claros. Num julgamento de um crime considerado bárbaro, eu fui sorteado e aceita a minha atuação, o Juiz que presidia o Júri instalou o julgamento. Atuei com bastante atenção, tomando nota de todas as fases do Júri. Depois elaborei um roteiro que me serviu de orientação como Juiz. Por isto não tive nenhuma dificuldade em presidir os Júris, na minha vida de Juiz. Quando vim para Brasília, atuei no Tribunal do Júri, passei este roteiro para os colegas, que foi oficializado no Júri do Distrito Federal.

O Juiz que presidia o Júri em Montes Claros mandou o Escrivão ler várias peças do processo e uma delas era o depoimento de uma criança que disse que seu pai estava viajando e chegou um homem, dirigindo um trator, para abrir uma rua num Bairro de Montes Claros. Quando chegou próximo à sua casa, o tratorista informou à sua mãe que tinha que derrubar aquela casa.

Sua mãe argumentou para o tratorista que não tinha para onde ir e que seu marido estava viajando, que esperasse quando ele chegar para resolver esta questão. Mas, o tratorista não aceitou e então começou uma discussão entre a mãe da criança e o tratorista.

Num determinado momento da discussão, o tratorista muito nervoso disse para a mãe da criança: “sai da frente sua égua, senão eu vou passar o trator entre as suas pernas”.

Nisto, juntou muita gente e convenceu o tratorista a não derrubar a casa. Quando o marido chegou de viagem, ficou sabendo do acontecido, pegou uma espingarda procurou o tratorista e o matou. Era este homem que estava sendo julgado.

O Promotor de Justiça era muito bom de serviço e fez uma acusação arrasadora. O Advogado que defendeu o réu foi meu professor na Faculdade, fez uma defesa muito fraca, que deixou muito a desejar, eu mesmo não estava convencido do meu voto. No final da instrução, o Juiz perguntou se algum jurado queria que lesse alguma peça do processo. Então eu pedi para repetir a leitura do depoimento da criança.

Naquele tempo as pessoas gostavam muito de assistir os julgamentos e o auditório do Fórum Gonçalves Chaves estava lotado. Durante a leitura da peça eu ouvi um zum zum zum no auditório, por causa do impacto da leitura. O Réu foi absolvido e eu fui para casa.

No dia seguinte, estava eu na minha sala de trabalho, no BNB, quando a secretária veio me avisar que duas pessoas queriam falar comigo. Pedi para entrar e para minha surpresa, era o Advogado com o seu cliente e ao entrarem na minha sala, o Advogado me disse: “eis aqui o homem que você livrou ontem da cadeia, estamos aqui para lhe agradecer.”

EM SÃO FRANCISCO. Tomei posse como Juiz de Direito da Comarca de São Francisco, no dia 31 de julho de 1977. No mês de novembro do mesmo ano, aquela cidade comemorou o seu centenário de emancipação política. Houve uma grande festa e eu fui o Juiz do Centenário, com direito a discursar na solenidade e ter uma foto na contra capa do livro do Sr. Brasiliano Braz.

Certo dia veio à minha mesa de trabalho, uma Ação de Reintegração de Posse, com pedido de liminar. Examinei o processo e verifiquei que o Sr. João Teixeira Lima, por meio de um procurador, vendeu uma fazenda no Município de São Francisco para uma pessoa física e esta pessoa vendeu o imóvel para uma empresa reflorestadora.

Algum tempo depois, João Teixeira Lima chegou no local e ocupou a casa sede da fazenda. O gerente da Fazenda procurou o invasor e disse que aquela fazenda pertencia à reflorestadora, mas, o vendedor afirmava que ele tinha autorizado a vender apenas uma parte da fazenda.

Eu não tive dúvida, concedi a liminar e determinei a expedição do Mandado de Reintegração de Posse. No prazo concedido, o Oficial de Justiça devolveu o Mandado cumprido. Aquela foi mais uma ação que passou pelas minhas mãos.

No fim de 2009, José Geraldo Aguiar, de São Francisco lançou um livro, com o título: LAMPIÃO, o invencível, duas vidas e duas mortes. Esta minha decisão está registrada no referido livro, sabem por que? João Teixeira Lima, segundo José Geraldo Aguiar, é o próprio Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, o Cangaceiro, que não foi morto na emboscada de 1938, mas, ele havia renunciado ao cangaço fugiu do Nordeste, depois de vários anos chegou ao Norte de Minas Gerais, tendo residido em vários Municípios e, em cada um deles, ele adotou um nome diferente. Residiu no Município de São Francisco por vários anos e faleceu em Buritis, em 1993.

EM JANAÚBA. Em Janaúba houve dois episódios relacionados com a Barragem do Bico da Pedra. Em 1978, a meu pedido, eu fui removido da Comarca de São Francisco para a Comarca de Janaúba. O governo Federal estava construindo a Barragem do Bico da Pedra, cuja Barragem fica acima da cidade de Janaúba. Terminada a construção, aguardou-se o período chuvoso, que
começou no início de 1979. Os Engenheiros calculavam que somente depois de dois anos de chuva que a Barragem encheria. Mas, o início de 1979 foi bastante chuvoso, tendo a Barragem enchido e sangrado em apenas 20 dias de chuvas constantes, o que levou muita apreensão aos moradores da cidade, que temiam a quebra da Barragem e a inundação da cidade.

Quando a Barragem estava enchendo, a mídia passou a dar notícias espalhafatosas e muitos amigos meus de Montes Claros telefonavam, sugerindo que eu retirasse a minha família daquela cidade, por causa da possibilidade da quebra da Barragem.

Além disto, fiquei sabendo que muitas pessoas perguntavam nas ruas se o Juiz permanecia na cidade e frequentando o Fórum. Com a resposta positiva, estas pessoas falavam que se o Juiz continuava em Janaúba é porque não havia perigo.

Com isto, vi minha responsabilidade aumentar. Então pedi um encontro com o Engenheiro responsável pela construção da Barragem e perguntei se ela era segura. O Engenheiro me levou até a Barragem e demonstrou que não havia perigo da Barragem quebrar, porque o maior volume de água era retido por uma serra. Fiquei tranquilo e nada houve.

O segundo episódio. Tão logo anunciou o término da construção da Barragem, os pequenos proprietários, que tiveram suas terras desapropriadas passaram a me procurar para informar que não receberam o valor da indenização de suas terras, querendo uma solução. Eu explicava para eles que eu era Juiz da Justiça do Estado e o problema deles seria resolvido na Justiça Federal, em Belo Horizonte.

Como eles não entendiam deste assunto e achavam que procurar o Juiz da Comarca era o suficiente, determinei a um funcionário da Justiça que tomasse nota do nome e endereço de todos aqueles que iam ao Fórum reclamar que não receberam a sua indenização.

Antes da inauguração, um Engenheiro do Órgão Federal que construía a Barragem, o DNOCS ou a CODEVASF pediu ao Prefeito Vildemar Maximino da Cruz para convocar uma reunião com as autoridades de Janaúba e o povo em geral, que ia explicar as vantagens da Barragem.

Eu fui convidado e levei comigo uma relação de mais de 100 pequenos proprietários que não receberam a indenização.

Na reunião, realizada no Automóvel Clube, o Engenheiro falou das vantagens da Barragem, da irrigação que seria implantado às margens do Rio Gurutuba, da geração do emprego e renda, do tempo que gastou para a construção da Barragem e outros detalhes, se colocou à disposição dos presentes para tirar as dúvidas.

Depois de muitas perguntas dos presentes e resposta do Engenheiro, eu pedi a palavra e perguntei sobre a indenização dos desapropriados. O Engenheiro informou que tudo estava certo e que o Governo não devia a ninguém mais. Eu ainda perguntei

se ele tinha certeza disto e recebi a resposta positiva. Então eu disse que a informação dele não correspondia com a realidade local, porque os prejudicados estavam procurando o Fórum para reclamar que não receberam as indenizações e entreguei a ele a relação de mais de 100 pessoas.

O Engenheiro ficou sem ambiente e disse que era outro setor que tratava deste assunto, mas, ele ia levar a relação dos prejudicados para tomar providências. Este fato causou grande repercussão na comunidade janaubense e foi relembrado em várias oportunidades.

EM BRASÍLIA. No início de 1980, fui promovido para a Comarca de Francisco Sá. Fiz o concurso para Juiz de Direito Substituto do Distrito Federal, fui classificado e tomei posse no dia 15 de setembro daquele ano.

Atuei em várias Varas de Brasília. Meses depois fui designado para a 3ª Vara Cível e Família de Taguatinga. Eu sempre fui um Juiz muito aberto e democrático. As pessoas falavam comigo, quando queriam.

Estava em meu Gabinete, quando a Secretária veio me avisar que havia uma comissão de pessoas querendo falar comigo. Pedi para que eles entrassem na minha sala.

Tratava-se de uma comissão de pessoas da SSVP – Sociedade de São Vicente de Paulo e me disseram que sabiam que eu era um Juiz muito humano e não tolerava injustiça. Informaram que uma senhora idosa, moradora na Ceilândia que, de parente, tinha apenas uma neta. Então a idosa resolveu doar a sua casa residencial para a neta com o compromisso da neta deixá-la residir na casa durante vida tiver. É o que chamamos na linguagem jurídica de “usufruto vitalício”, mas, que esta condição não constou da escritura de doação.

Informaram que a neta entrou na Justiça, com uma ação de despejo e o Mandado já estava com o Oficial de Justiça para ser cumprido e o processo tramitava naquela Vara que eu estava respondendo. Pedi para vir o processo à minha mesa e verifiquei que a informação tinha procedência. Perguntei se a idosa tinha testemunha de que a combinação foi como eles disseram. Com a resposta positiva, pedi para que eles voltassem no dia seguinte, que eu teria uma solução.

Peguei o processo e levei para casa e não achava uma solução, porque se tratava de uma sentença judicial, já transitada em julgado, isto é, não podia ser modificada.

A única solução que encontrei foi suspender o cumprimento do Mandado de Despejo, por motivos humanitários e determinei que as partes negociassem um acordo. No dia seguinte informei à comissão de vicentinos e dias depois eles me avisaram que a neta resolveu cumprir o combinado e deixou a avó residindo na casa, durante vida tivesse.

 

CONCLUSÃO

Assim, minha vida é cheia de sacrifícios e vitórias. Hoje estou satisfeito com o que sou. Ocupei cargos que nunca pensei que aquele filho de agricultor pudesse alcançar. Tive a graça de dar uma boa formação moral e cultural aos meus filhos. A Ireny é enfermeira e trabalha na Secretaria de Saúde do Distrito Federal; Avay Miranda Júnior é Agrônomo e trabalha na Apex-Brasil, uma Agência do Governo Federal, destinada a promover as exportações de produtos brasileiros; Denir Mendes Miranda, cursou Línguas e trabalha na Direção Geral do Banco Central; Ely Renê Mendes Miranda é Arquiteto, tem suas atividades inerentes ao curso, em Petrolina-Pe.; Cláudio Amaury Mendes Miranda fez o curso de Desenho Industrial e trabalha na Direção Geral do Banco do Brasil S/A, em Brasília; e Hernani Leonardo Mendes Miranda, cursou Relações Púbicas e trabalha no setor compatível, na Petrobras, no Rio de Janeiro.

Continuo na luta, animado como antes, dando valor à vida, ajudando a quem precisa, na medida de minhas possibilidades.

_________________________________________
*Avay Miranda é taiobeirense, Juiz aposentado e sócio correspondente do IHGMC


LUTA CONTRA OS ÍNDIOS DUROU

100 ANOS
Jeremias Macário
Sócio Correspondente
Vitória da Conquista/BA

Milhares de nativos foram dizimados pelos portugueses, mas a luta durou mais de um século até que os colonizadores conquistassem definitivamente o território do Sertão da Ressaca. As emboscadas, as traições e as armas de fogo marcaram uma era sangrenta contra as tribos. Antes, os Camacans, os Mongoiós, Imborés e os Pataxós já guerreavam entre si com arcos e flechas pela disputa das terras.

Naquela vastidão de território viviam os índios em suas aldeias, armando suas tendas de lugar em lugar, se sustentando da caça e da pesca. Depois da ocupação do litoral, o homem branco voltou-se para o interior do sertão na busca do ouro e de pedras preciosas. O governo custeava os bandeirantes e ordenava a ocupação das terras dos nativos com o uso da força, provocando
matanças.

João Gonçalves da Costa tinha a incumbência de ocupar todo território e criar condições de povoamento. Alguns estudiosos do assunto citam que os índios que habitavam nas terras atuais de Conquista só foram vencidos pelos colonizadores depois de muitas armadilhas enganosas, inclusive com a disseminação de doenças.

 

AS TRIBOS

A tribo Camacan se caracterizava pela permanência num local, enquanto os outros eram nômades e se deslocavam. A etnia Camacan habitava o sul da Bahia e entre os rios Pardo e das Contas, no sudoeste. Calcula-se que essa tribo de cerca de cinco mil índios, que confeccionava bolsas e sacolas e andava nu, morava no Sertão da Ressaca. A paz, muitas vezes era interrompida com as lutas contra os Pataxós e Imborés quando se tratava de delimitação territorial.

Já os Imborés e Pataxós não se fixavam num único local, mas todos eles pertenciam ao tronco Macro-Gês. Os Imborés eram morenos, cabelos e peles mais grossos, e usavam botoque de madeira nas orelhas e lábios. Por isso, eram também chamados de Botocudos e pintavam o corpo com urucum e jenipapo.

Os Pataxós, ainda encontrados na região de Porto Seguro, não pintavam seus corpos. Eles chegaram a se movimentar até a região do Planalto de Conquista, guerreando com os Mongoiós.

Os Mongoiós gostavam de dançar ao som dos chocalhos e maracás, feitos com cabaças, cascos de veado ou anta. Tinham respeito aos mortos e os funerais se prolongavam por dias. Para curar as doenças usavam fumaça de tabaco soprada sobre as doenças. Como se fixavam num território, os Mongoiós terminaram ocupando extensas áreas onde hoje é Vitória da Conquista.

 

“VALENTES FILHOS DESTE PAÍS”

Na Bahia, os primeiros colonizadores tiveram que se confrontar com os nativos Tupis, Tupinambás, os Gês, integrados pelos Camacãs ou Camacans, os Pataxós, Mongoiós, os Imborés (Botocudos) e os Cariris.

Os Mongoiós, Pataxós e os Imborés habitavam o centrosul da Bahia, especialmente na área compreendida entre os rios Pardo e das Contas. Essas tribos foram vítimas de ataques e destruição sob o comando do capitão-mor João Gonçalves da Costa. Nas suas memórias chegou a revelar que quando avistava as aldeias “me pulava o coração com o desejo de os conquistar”.

Dentre as tribos, os Aimorés, Amburés ou Ymborés (Botocudos) ofereceram maiores resistências e reagiam com bravura e coragem. Eles cruzavam o Espírito Santo com Ilhéus. Do litoral foram expulsos pelos colonizadores. Com os conflitos, se embrenharam nas matas, mas sempre retornavampara se vingar e atacar os engenhos e roças dos brancos.

Em visita a Belmonte e Ilhéus, por volta de 1815, o príncipe alemão Maximiliano ficou impressionado com o vigor físico desses índios e chegou a levar um Botocudo para a Alemanha. Esse grupo era hostil e muito temido pelos colonos e jesuítas. Para se ter uma idéia, o engenheiro José Antônio Caldas, em visita à região, destacou que eles destruíam tudo por vingança e ódio. Braz do Amaral foi mais incisivo ao declarar que do São Francisco ao rio Doce eram os principais inimigos dos invasores, os mais fortes defensores da terra e os mais valentes filhos deste país.

Já os Mongoiós, Mongoioz, Mongoyós ou Monxocós, subgrupo dos Camacãs, apesar de também defensores de suas terras, desconfiados e discretos, eram mais dóceis e fáceis de serem manipulados. Sobre eles, os colonizadores disseminaram germes de doenças e praticaram atos de traição.

Esses índios eram inimigos ferozes dos Pataxós e dos Imborés e ainda por vezes, eram encurralados pelos brancos. Os Mongoiós eram agricultores e se juntavam em aldeias e rancharias entre os rios Pardo e o das Contas. Em suas conquistas, o capitão-mor chegou a cruzar com cinco aldeias de duas mil almas. Segundo o príncipe Maximiliano, eles possuíam organização socioeconômica mais desenvolvida que os Pataxós e não se fixavam num mesmo lugar.

O certo é que todos pereceram diante dos métodos truculentos dos desbravadores sertanistas como João Gonçalves. Os Mongoiós, por exemplo, foram escravizados, se embrenharam nas matas e até se aliaram ao invasor para combater outras tribos inimigas. De acordo com os historiadores, essa gente foi obrigada a lutar contra os Pataxós e os Botocudos e não se beneficiaram dessa aliança. O príncipe Maximiliano, em seus escritos, testemunhou a tirania praticada pelo invasor contra os Mongoiós.

Em sua Memória sobre a Conquista do Rio Pardo, o próprio capitão, em 1807, confirmou a utilização do índio como escravo. Por serem mais fácil de extermínio, João Gonçalves chegou a demonstrar que não queria confronto e até deixava que a etnia permanecesse na terra. Mesmo assim, os conflitos sempre existiam. Ele mesmo lembra a hospitalidade recebida pela tropa de 70 soldados comandada pelos filhos Antônio Dias Miranda e Raymundo Gonçalves da Costa no reconhecimento de uma aldeia de Mongoiós.

O Capitão aproveitou muito das disputas que esses índios tinham
com os Pataxós e, juntamente com os filhos, chegou a presenciar
lutas de muitas mortes entre eles. Paz e animosidade marcavam
a convivência entre os colonos e essa tribo mongoió. Mas,
os conflitos se acirraram no início do século XIX, entre 1803/06,
quando aconteceu o que chamaram de “Banquete da Morte”.

Depois de fazerem um acordo, os índios começaram a atrair os homens do capitão para as matas e iam eliminando-os aos poucos. João Gonçalves, então, resolveu fazer uma festa e convidou os índios. Quando todos estavam no local, comendo e bebendo, os Mongoiós foram cercados por todos os lados e dizimados.


SÍTIO DO SÃO ROMÃO

Cônego Newton Caetano d’Ângelis
Patrono da Cadeira N. 83 do IHGMC

No desempenho do múnus paroquial em Rio Pardo de Minas, durante mais de três décadas, transitando pela atual rodagem térrea, que é o novo caminho da margem esquerda do rio Pardo, via-se, ao longe, a casa sede da fazenda do São Romão. Hoje, tiveram (Dr. Paulo Costa, Dr. Dário Teixeira Cotrim e eu) a oportunidade de visitá-la, já abandonada pelos atuais herdeiros; ainda desafiam o perpassar do tempo a frente e os respectivos cômodos, mas em ruínas estão varias dependências internas; da senzala, depois de transformada em Casa de Engenho e desativada, resta apenas uma parede. O primitivismo da construção, de quase nenhum conforto doméstico, deficiente até da própria luz natural e ventilação, leva-nos a crer que tenha sido o Capitão Mor Salvador Cardoso de Sá, falecido em maio de 1755, e nosso mais antigo ancestral, que a tenha edificado. Ignorando-se a procedência da fazenda residiu este primeiro vigia no Destacamento de número sete do Distrito Diamantino, nas margens do rio Pardo, deixando doze filhos legítimos e numerosíssima descendência. Já no final do século XVIII, ali residia o senhor Silvério Soares Bandeira, com vários escravos, dos quais ainda conheci quatro; Verônica, Valéria, Daniel e Ana, irmã deste. Seguramente incompletos, recordome proprietários da mesma fazenda: Armindo Moraes, Tibério Ferreira Neves, José Néri de Souza e finalmente Maximino Pedro dos Santos. (Este texto foi escrito pelo Cônego Newton Caetano d’Ângelis no dia seis de setembro de 1997).


LIVROS RECEBIDOS

- Constituição da República Federativa do Brasil – Produção do Senado Federal.
- Poesia Sempre (Angola – Moçambique) nº 23. Ano 13 - 2006
- Poesia Sempre (Portugal) nº 26. Ano 14 – 2007
- Poesia Sempre (China) nº 27. Ano 14 – 2007
- Poesia Sempre (Sérvia) nº 29. Ano 15 – 2008
- Poesia Sempre (Polônia) nº 30. Ano 15 – 2008
- Guia Curt-Lange – Acervo
- Códice Costa Matoso – Coleção das notícias dos primeiros descobrimentos das Minas na Américas que fez o doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor-geral das do Ouro Preto, de que tomou posse em fevereiro de 1749 – Volume 1
- Códice Costa Matoso – Coleção das notícias dos primeiros descobrimentos das Minas na Américas que fez o doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor-geral das do Ouro Preto, de que tomou posse em fevereiro de 1749 – Volume 2
- Barroco Mineiro: Glossário da Arquitetura e Ornamentação – Affonso Ávila, João Marcos Machado Gontijo e Reinaldo Guedes Machado.
- Resgate Bibliográfico de Minas Gerais – Volume 1 – Hélio Gravatá
- Resgate Bibliográfico de Minas Gerais – Volume 2 – Hélio Gravatá
- Viagens na América do Sul – Alexandre Caldcleugh
- Inventário dos Manuscritos Avulsos Relativos a Minas Gerais
Existentes no Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa) – Caio C. Boschi - Volume 1
- Inventário dos Manuscritos Avulsos Relativos a Minas Gerais Existentes no Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa) – Caio C. Boschi - Volume 2
- Inventário dos Manuscritos Avulsos Relativos a Minas Gerais Existentes no Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa) – Caio C. Boschi – Índices organizado por Júnia Ferreira Furtado – Volume 3
- Efemérides Mineiras (1664 – 1897) José Pedro Xavier da Veiga
– Volumes 1 e 2.
- Efemérides Mineiras (1664 – 1897) José Pedro Xavier da Veiga
– Volumes 3 e 4
- Efemérides Mineiras (1664 – 1897) José Pedro Xavier da Veiga – Índice
- O Piano e a Estrada – Arthur Moreira Lima
- 1ª Conferencia Nacional de Cultura 2005/2006 – Brasília – DF
- Quilombolas: Tradições e Culturas da Resistência.
- Manual Prático da Administração Pública – Petrônio Braz
- Processo de Licitação: Contrato Administrativo e Sanções Penais
– Petrônio Braz
- Direito Municipal na Constituição – Petrônio Braz
- Eleições Municipais 2008 – Petrônio Braz
- Manual do Assessor Jurídico de Município – Petrônio Braz
- O Vereador – atribuições, direitos e deveres – Petrônio Braz
- Tratado de Direito Municipal – Volumes 1, 2, 3, 4 e 5 – Petrônio
Braz.

REVISTAS

Revista da História da Biblioteca Nacional / Ano 1 – nº 11 – Agosto
de 2006 / Ano 2 – nº 14 – Novembro de 2006 / Ano 2 – nº 15
– Dezembro de 2006 / Ano 2 – nº 17 – Fevereiro de 2007 / Ano
2 – nº 19 – Abril de 2007 / Ano 2 – nº 20 – Maio de 2007 / Ano
2 – nº 21 – Junho de 2007 / Ano 2 – nº 22 – Julho de 2007 / Ano
2 – nº 23 – Agosto de 2007 / Ano 2 – nº 24 – Setembro de 2007
/ Ano 3 – nº 25 – Outubro de 2007 / Ano 3 – nº 26 – Novembro
de 2007 / Ano 3 – nº 27 – Dezembro de 2007 / Ano 3 – nº 28 –
Janeiro de 2008 / Ano 3 – nº 29 – Fevereiro de 2008 / Ano 3 – nº
30 – Março de 2008 / Ano 3 – nº 35 – Agosto de 2008 / Ano 3
– nº 36 – Setembro de 2008 / Ano 3 – nº 37 – Outubro de 2008
/ Ano 4 – nº 41 – Fevereiro de 2009 / Ano 4 – nº 42 – Março de
2009 / Ano 4 – nº 43 – Abril de 2009 / Ano 4 – nº 44 – Maio de
2009 / Ano 4 – nº 47 – Agosto de 2009 / Ano 4 – nº 48 – Setembro
de 2009. / Revista Integração (vários números) – Guanambi
– Bahia / Revista Imagem (vários números) – Caetité - Bahia.


ÍNDICE

Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - 3
Lista de Sócios Efetivos do IHGMC - 5
Homenagens - 8
Apresentação - 9
Amelina Chaves
Uma Viagem no Dorso de Eros - 13
Amelina Chaves
100 anos do inesquecível Hermes Augusto de Paula - 16
Felicidade Patrocínio
Montes Claros no Cenário das Artes Plásticas Brasileiras - 20
Felicidade Patrocínio
Sobre Geralda Magela - 37
Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa
O que será Tabatoriba? - 46
Itamaury Telles de Oliveira
Casos Pitorescos dos Albores de uma Cidade - 53
Juvenal Caldeira Durães
Coisas do Passado - 61
Lázaro Francisco Sena
Associação Desportiva Tiradentes - 68
Luiz de Paula Ferreira
Sonhado Alto - 79
Maria Aparecida Costa
História de Atividades Sociais e Filantrópicas em Montes Claros
Entidade a Serviço da Vida - 81
Maria Clara Lage Vieira
Dona Benzinha - 99

Maria da Glória Caxito Mameluque
Henrique Sapori Neto - Um Construtor do Progresso - 106
Maria Luiza Silveira Telles
“Eterno Instante” - 113
Miriam Carvalho
Sobre o Poeta Olintho da Silveira - 119
Petrônio Braz
Gênese do São Francisco - 123
Roberto Pinto da Fonseca
O Trem do Sertão - 131
Ruth Tupinambá Graça
A Inesquecível Felicidade Perpétua Tupynambá - 142
Wanderlino Arruda
Um Sonho na Madrugada - 146
Wanderlino Arruda
A Grande Noite da Câmara - 149
Yvonne de Oliveira Silveira
Companheiro - 152
Yvonne de Oliveira Silveira
Sítio Azedo - 154
Zoraide Guerra David
Retalhos Históricos - 158
Avay Miranda
Vida de Sacrifícios e de Vitórias - 162
Jeremias Macário
Luta Contra Índios Durou 100 Anos - 189
Cônego Newton Caetano d’Ângelis
Sítio do São Romão - 193


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Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
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Telefax: (38) 3221-6790
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Praça Dr. Chaves, 32
E-mail: ihgmc@gmail.com - Site: www.ihgmc.art.br
39400-005 – Montes Claros – Minas Gerais